domingo , 22 dezembro , 2024

Artigo | Se você quer se emocionar neste próximo Natal, ‘Adoráveis Mulheres’ é a pedida certa

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A indústria cinematográfica, desde os seus primórdios, carrega consigo um apreço significativo por dramas de época; tais dramas são ambientados em uma época imortalizada em diversos romances lendários e que são transpostos das mais variadas formas para as telonas – dentro de escopos contemporâneos ou então infundidos com recriações surpreendentes de períodos que não mais voltarão. E, desde sempre, tais produções sempre tiveram um espaço de aclame entre a crítica especializada e o público (não é à toa que obras como Razão e Sensibilidade’ e Orgulho e Preconceito’ estejam entre os favoritos de muita gente). 

E foi partindo desse princípio que a aclamada diretora Greta Gerwig resolvia abraçar sua segunda investida na esfera fílmica com a releitura do clássico Mulherzinhas’, assinado pela transgressora romancista norte-americana Louisa May Alcott. Adoráveis Mulheres, como ficou intitulado o longa-metragem, não apenas trouxe alguns elementos já explorados por Gerwig em Lady Bird – A Hora de Voar’ (principalmente quando se expressa através de uma jornada coming-of-age), mas também aproveitou esse longo espaço cênico e o aplaudível material original para pavimentar um caminho mais sólido, mais sensível e definitivamente mais emocionante – alcançando sucesso em nos arrancar lágrimas de frustração e uma catártica satisfação que se estende até os créditos finais. 



Afastando-se das outras adaptações que o livro já ganhara para os cinemas e para a televisão, a nova perspectiva resolve começar no final da história: a primeira sequência nos apresenta ao grupo de irmãs da família March, abrindo com a tentativa sem sucesso da rebelde Jo (Saoirse Ronan) em publicar suas histórias em uma editora; logo depois, somos transportados à luxuosa vida da outrora mimada Amy (Florence Pugh), que viaja pela Europa ao lado da austera Tia March (Meryl Streep) e almeja se tornar uma artista de grande sucesso enquanto é pressionada a se casar; Meg (Emma Watson), por sua vez, vê-se privada de seus sonhos ao mesmo tempo que entrega-se de corpo e alma para a família; e, por último, Beth (Eliza Scanlen), a caçula, vê sua juventude se esvaindo à medida que contrai uma doença incurável. 

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Porém, esse escopo quase trágico se isola num presente ainda inexplicado, cuja cronologia retorna três anos, para um feliz Natal em que toda a família permanecia estava junta sob o mesmo teto e supervisionada pelos protetores braços de Marmee March (Laura Dern em uma de suas melhores e mais cândidas performances). Marmee casou-se por amor com um soldado estadunidense (interpretado por Bob Odenkirk) e trouxe ressentimento para os membros restantes da família, mas nunca esteve mais feliz – e, mesmo sendo constantemente relembrada de que é pobre, não deixa de fazer o máximo que pode para que todos tenham tudo o que precisam. 

Desde o princípio, percebemos que a essência da obra de Alcott é transportada do modo mais fluido para o filme: a sequência tradicionalista optada pela autora é transmutada em uma linha temporal dupla, marcada sutilmente pelas diferenças artísticas que expandem-se desde a simetria técnica até as escolhas da trilha sonora (comandadas com angustiante beleza por Alexandre Desplat). A primeira, pincelada com tons dourados, nos coloca as nossas heroínas no ápice de seus cotidianos, desde as caridosas festividades de fim de ano até os exuberantes bailes da high society; a segunda, justaposta com perfeição, recua-se em uma atmosfera melancólica que premedita uma dura e necessária queda antes que cada um dos personagens reencontrem-se em seus arcos de amadurecimento. 

Apesar da narrativa seja comandada por mulheres – também partindo de uma estética feminista já conhecida por Gerwig -, temos a presença do charmoso Laurie (Timothée Chalamet), um rico jovem que tem uma personalidade tão irreverente quanto Jo e automaticamente torna-se seu melhor amigo além de ter sido bem-vindo na família como um antigo conhecido. Laurie está presente na vida de cada uma das protagonistas e, por mais que tenha algumas atitudes controversas (por exemplo, quando se declara para Jo e é rejeitado), insurge como uma considerável força para que elas recuperem suas forças mesmo nas situações mais drásticas. 

A obra tem uma estrutura forte o bastante para garantir a envolvência do público em todos os momentos, mergulhando dentro de uma sucessão antológica que apresenta as March como meninas imaturas presas dentro de uma bolha social refletida pela própria construção da casa (isolada em uma zona rural bem diferente do urbanismo exaltado da cidade grande). À medida que vão crescendo, percebem que precisam mudar de atitude, talvez deixando de ser mimadas – principalmente Amy, que explode em um acesso de birra ao não ser convidada para o teatro com Jo e Meg. 

Se a consistência do roteiro é deliciosamente bem temperada, todo o restante do filme tangencia uma perfeição impressionante: a condução da diretora é fluida em todos os momentos, perdendo um pouco do ritmo na conclusão do terceiro ato, além de ser perscrutada por atuações impecáveis, principalmente de Ronan (que volta como foco dos holofotes depois de impressionantes rendições em Brooklyn’ e Duas Rainhas’), da pontual presença de Streep em sua metamorfose teatral e de Pugh e Watson como polos opostos de uma mesma ramificação. 

Adoráveis Mulheres é uma surpresa incondicional e humilde que reflete as habilidades de cada nome da equipe e do elenco – e permite que nos apaixonemos por uma cotidiana aventura recheada com emocionantes peças temáticas pertinentes inclusive nos dias de hoje. 

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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A indústria cinematográfica, desde os seus primórdios, carrega consigo um apreço significativo por dramas de época; tais dramas são ambientados em uma época imortalizada em diversos romances lendários e que são transpostos das mais variadas formas para as telonas – dentro de escopos contemporâneos ou então infundidos com recriações surpreendentes de períodos que não mais voltarão. E, desde sempre, tais produções sempre tiveram um espaço de aclame entre a crítica especializada e o público (não é à toa que obras como Razão e Sensibilidade’ e Orgulho e Preconceito’ estejam entre os favoritos de muita gente). 

E foi partindo desse princípio que a aclamada diretora Greta Gerwig resolvia abraçar sua segunda investida na esfera fílmica com a releitura do clássico Mulherzinhas’, assinado pela transgressora romancista norte-americana Louisa May Alcott. Adoráveis Mulheres, como ficou intitulado o longa-metragem, não apenas trouxe alguns elementos já explorados por Gerwig em Lady Bird – A Hora de Voar’ (principalmente quando se expressa através de uma jornada coming-of-age), mas também aproveitou esse longo espaço cênico e o aplaudível material original para pavimentar um caminho mais sólido, mais sensível e definitivamente mais emocionante – alcançando sucesso em nos arrancar lágrimas de frustração e uma catártica satisfação que se estende até os créditos finais. 

Afastando-se das outras adaptações que o livro já ganhara para os cinemas e para a televisão, a nova perspectiva resolve começar no final da história: a primeira sequência nos apresenta ao grupo de irmãs da família March, abrindo com a tentativa sem sucesso da rebelde Jo (Saoirse Ronan) em publicar suas histórias em uma editora; logo depois, somos transportados à luxuosa vida da outrora mimada Amy (Florence Pugh), que viaja pela Europa ao lado da austera Tia March (Meryl Streep) e almeja se tornar uma artista de grande sucesso enquanto é pressionada a se casar; Meg (Emma Watson), por sua vez, vê-se privada de seus sonhos ao mesmo tempo que entrega-se de corpo e alma para a família; e, por último, Beth (Eliza Scanlen), a caçula, vê sua juventude se esvaindo à medida que contrai uma doença incurável. 

Porém, esse escopo quase trágico se isola num presente ainda inexplicado, cuja cronologia retorna três anos, para um feliz Natal em que toda a família permanecia estava junta sob o mesmo teto e supervisionada pelos protetores braços de Marmee March (Laura Dern em uma de suas melhores e mais cândidas performances). Marmee casou-se por amor com um soldado estadunidense (interpretado por Bob Odenkirk) e trouxe ressentimento para os membros restantes da família, mas nunca esteve mais feliz – e, mesmo sendo constantemente relembrada de que é pobre, não deixa de fazer o máximo que pode para que todos tenham tudo o que precisam. 

Desde o princípio, percebemos que a essência da obra de Alcott é transportada do modo mais fluido para o filme: a sequência tradicionalista optada pela autora é transmutada em uma linha temporal dupla, marcada sutilmente pelas diferenças artísticas que expandem-se desde a simetria técnica até as escolhas da trilha sonora (comandadas com angustiante beleza por Alexandre Desplat). A primeira, pincelada com tons dourados, nos coloca as nossas heroínas no ápice de seus cotidianos, desde as caridosas festividades de fim de ano até os exuberantes bailes da high society; a segunda, justaposta com perfeição, recua-se em uma atmosfera melancólica que premedita uma dura e necessária queda antes que cada um dos personagens reencontrem-se em seus arcos de amadurecimento. 

Apesar da narrativa seja comandada por mulheres – também partindo de uma estética feminista já conhecida por Gerwig -, temos a presença do charmoso Laurie (Timothée Chalamet), um rico jovem que tem uma personalidade tão irreverente quanto Jo e automaticamente torna-se seu melhor amigo além de ter sido bem-vindo na família como um antigo conhecido. Laurie está presente na vida de cada uma das protagonistas e, por mais que tenha algumas atitudes controversas (por exemplo, quando se declara para Jo e é rejeitado), insurge como uma considerável força para que elas recuperem suas forças mesmo nas situações mais drásticas. 

A obra tem uma estrutura forte o bastante para garantir a envolvência do público em todos os momentos, mergulhando dentro de uma sucessão antológica que apresenta as March como meninas imaturas presas dentro de uma bolha social refletida pela própria construção da casa (isolada em uma zona rural bem diferente do urbanismo exaltado da cidade grande). À medida que vão crescendo, percebem que precisam mudar de atitude, talvez deixando de ser mimadas – principalmente Amy, que explode em um acesso de birra ao não ser convidada para o teatro com Jo e Meg. 

Se a consistência do roteiro é deliciosamente bem temperada, todo o restante do filme tangencia uma perfeição impressionante: a condução da diretora é fluida em todos os momentos, perdendo um pouco do ritmo na conclusão do terceiro ato, além de ser perscrutada por atuações impecáveis, principalmente de Ronan (que volta como foco dos holofotes depois de impressionantes rendições em Brooklyn’ e Duas Rainhas’), da pontual presença de Streep em sua metamorfose teatral e de Pugh e Watson como polos opostos de uma mesma ramificação. 

Adoráveis Mulheres é uma surpresa incondicional e humilde que reflete as habilidades de cada nome da equipe e do elenco – e permite que nos apaixonemos por uma cotidiana aventura recheada com emocionantes peças temáticas pertinentes inclusive nos dias de hoje. 

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