terça-feira , 5 novembro , 2024

Artigo | The Shadow: O personagem símbolo do movimento pulp

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Sam Raimi demonstrou interesse em trabalhar o vigilante

A essa altura o nome de Sam Raimi é do tipo que dispensa comentários, principalmente para aqueles que acompanham adaptações de quadrinhos desde o início dos anos 2000. O diretor do vindouro Multiverso da Loucura se consolidou com sua trilogia do Homem-Aranha e tem tudo para impor seu estilo de terror mais a fundo com a nova aventura do Dr. Estranho.

Enquanto sendo entrevistado, foi inevitável lembrar de sua contribuição prévia para o gênero e, tão logo, perguntar quais personagens ele gostaria de dirigir uma adaptação algum dia. Segundo o diretor, o primeiro da lista é o Batman, que atualmente está sendo reintroduzido nos cinemas com uma nova interpretação, porém em segundo lugar ele mencionou o Shadow.

Para se ter uma noção melhor de quem é o personagem é importante voltar bastante no tempo. Antes do boom dos super-heróis, no final dos anos 30, a literatura dita “popular” era povoada por outros tipos de personagem e focando em outro estilo de produto. Essa foi a era das revistas pulp, conjuntos de histórias em uma única edição, com acabamento barato e preço acessível.

Sam Raimi demonstrou interesse pelo personagem

O estilo de história contada em suas páginas, todavia, era o fator que mais contribuía para sua desvalorização social. Suas tramas eram majoritariamente de mistério, com detetives particulares enfrentando vilões totalmente malignos (geralmente representações ofensivas de etnias orientais, como é o caso do infame Fu Manchu criado por Sax Rohmer) ao passo que precisando resistir aos charmes das femme fatales.

Tal como as antigas penny dreadful britânicas do século XIX, essas histórias não miravam o público infantil especificamente, mas sim todo indivíduo que quisesse ter acesso a uma história curta e por um preço acessível. Outro fator que contribuía bastante para sua má fama era a forte ligação dessas tramas com crimes de rua, estes que eram noticiados em jornais e serviam de inspiração para os autores.

O personagem fez sua estreia em julho de 1930, não como protagonista mas como narrador de uma das edições do programa Detective Story Hour, uma das muitas variações de drama radiofônico. A intenção era que sua presença concedesse um ar dramático a mais para a trama que vinha a seguir, bem como formar um laço com o ouvinte. 

Até então o narrador misterioso não possuía um nome, até que por sugestão do roteirista Harry Charlot ele ganhou a alcunha de “The Shadow”, mantendo intacta sua aura original. Dublado por Frank Readick Jr as aventuras do vigilante sofreram de altos e baixos, começando com transmissões pela CBS, depois sendo transferido para a NBC e então retornando para a emissora original para uma última transmissão em 1935.

Dois anos depois, em 26 de setembro, o programa ganhou uma nova oportunidade de transmissão com a MBS. Agora, ele retornou com maior foco em detalhar quem é esse personagem, no que lhe rendeu um nome civil, Lamont Cranston, e um novo dublador: um jovem de 22 anos, bem como prodígio do rádio, chamado Orson Welles (um ano antes de sua famosa transmissão de Guerra dos Mundos).

O então jovem Orson Welles deu voz ao personagem

Com maiores detalhes do personagem sendo traçados, Cranston passou a ser definido como um homem de grande fortuna da cidade grande que passou anos peregrinando por países como Inglaterra, França, Egito, China e índia para se aperfeiçoar nos campos da ciência e até mesmo do ocultismo. Para Shadow, sua missão de combater as forças do mal seria melhor executada se ele trabalhasse por conta própria, sem apoio da polícia principalmente.

A descrição mencionada evoca relação imediata com outro personagem, ninguém menos que o próprio Batman; não só porque sua estreia veio dois anos depois de um protótipo de origem ser sugerido a Shadow trazendo semelhanças em suas primeiras páginas ao tratar que Bruce Wayne treinou por anos para atingir o auge do físico e mental do ser humano, como também porque a essência do Homem Morcego repousa em toda a cultura pulp lançada previamente; com o Shadow sendo parte essencial dela.

Em 1938 Welles deixa o programa, porém no mesmo ano o herói ganha uma versão no cinema com o filme International Crime, trazendo uma história similar ao que já figurava no rádio. Já em 1940 ele protagonizou o seriado homônimo composto de nove episódios, com estrutura similar ao que outros personagens como Batman e Capitão América receberam poucos anos depois.

Shadow contou com seu próprio seriado nos anos 40

No entanto, a grande produção que povoa o imaginário moderno envolvendo Shadow é o filme de 1994 estrelando Alec Baldwin. Durante a produção, o já mencionado Sam Raimi postulou a cadeira de diretor porém sem sucesso; o cineasta já havia realizado um trabalho inspirado na clássica propriedade durante os anos 80 em Darkman.

Baseado livremente em Shadow e Batman, essa foi a primeira tentativa do cineasta em realizar um filme de estúdio junto a Universal; até mesmo porque parte da inspiração do diretor veio do universo compartilhado de monstros que o estúdio produziu na primeira metade do século XX. Ao final, Darkman teve uma aceitação positiva enquanto que o filme oficial do Shadow não.

A obra não só foi um fiasco para a crítica, como financeiramente não conseguiu competir com outros lançamentos do mesmo ano tais como Rei Leão e Máscara (este último sendo outra adaptação de quadrinhos). O fato de Raimi ressaltar que ainda tem o desejo de dirigir uma adaptação do personagem, portanto, não é acidental e ao mencionar o Homem Morcego como sonho principal, denota uma disposição da carreira em trabalhar personagens urbanos consagrados. 

 

 

 

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Enquanto sendo entrevistado, foi inevitável lembrar de sua contribuição prévia para o gênero e, tão logo, perguntar quais personagens ele gostaria de dirigir uma adaptação algum dia. Segundo o diretor, o primeiro da lista é o Batman, que atualmente está sendo reintroduzido nos cinemas com uma nova interpretação, porém em segundo lugar ele mencionou o Shadow.

Para se ter uma noção melhor de quem é o personagem é importante voltar bastante no tempo. Antes do boom dos super-heróis, no final dos anos 30, a literatura dita “popular” era povoada por outros tipos de personagem e focando em outro estilo de produto. Essa foi a era das revistas pulp, conjuntos de histórias em uma única edição, com acabamento barato e preço acessível.

Sam Raimi demonstrou interesse pelo personagem

O estilo de história contada em suas páginas, todavia, era o fator que mais contribuía para sua desvalorização social. Suas tramas eram majoritariamente de mistério, com detetives particulares enfrentando vilões totalmente malignos (geralmente representações ofensivas de etnias orientais, como é o caso do infame Fu Manchu criado por Sax Rohmer) ao passo que precisando resistir aos charmes das femme fatales.

Tal como as antigas penny dreadful britânicas do século XIX, essas histórias não miravam o público infantil especificamente, mas sim todo indivíduo que quisesse ter acesso a uma história curta e por um preço acessível. Outro fator que contribuía bastante para sua má fama era a forte ligação dessas tramas com crimes de rua, estes que eram noticiados em jornais e serviam de inspiração para os autores.

O personagem fez sua estreia em julho de 1930, não como protagonista mas como narrador de uma das edições do programa Detective Story Hour, uma das muitas variações de drama radiofônico. A intenção era que sua presença concedesse um ar dramático a mais para a trama que vinha a seguir, bem como formar um laço com o ouvinte. 

Até então o narrador misterioso não possuía um nome, até que por sugestão do roteirista Harry Charlot ele ganhou a alcunha de “The Shadow”, mantendo intacta sua aura original. Dublado por Frank Readick Jr as aventuras do vigilante sofreram de altos e baixos, começando com transmissões pela CBS, depois sendo transferido para a NBC e então retornando para a emissora original para uma última transmissão em 1935.

Dois anos depois, em 26 de setembro, o programa ganhou uma nova oportunidade de transmissão com a MBS. Agora, ele retornou com maior foco em detalhar quem é esse personagem, no que lhe rendeu um nome civil, Lamont Cranston, e um novo dublador: um jovem de 22 anos, bem como prodígio do rádio, chamado Orson Welles (um ano antes de sua famosa transmissão de Guerra dos Mundos).

O então jovem Orson Welles deu voz ao personagem

Com maiores detalhes do personagem sendo traçados, Cranston passou a ser definido como um homem de grande fortuna da cidade grande que passou anos peregrinando por países como Inglaterra, França, Egito, China e índia para se aperfeiçoar nos campos da ciência e até mesmo do ocultismo. Para Shadow, sua missão de combater as forças do mal seria melhor executada se ele trabalhasse por conta própria, sem apoio da polícia principalmente.

A descrição mencionada evoca relação imediata com outro personagem, ninguém menos que o próprio Batman; não só porque sua estreia veio dois anos depois de um protótipo de origem ser sugerido a Shadow trazendo semelhanças em suas primeiras páginas ao tratar que Bruce Wayne treinou por anos para atingir o auge do físico e mental do ser humano, como também porque a essência do Homem Morcego repousa em toda a cultura pulp lançada previamente; com o Shadow sendo parte essencial dela.

Em 1938 Welles deixa o programa, porém no mesmo ano o herói ganha uma versão no cinema com o filme International Crime, trazendo uma história similar ao que já figurava no rádio. Já em 1940 ele protagonizou o seriado homônimo composto de nove episódios, com estrutura similar ao que outros personagens como Batman e Capitão América receberam poucos anos depois.

Shadow contou com seu próprio seriado nos anos 40

No entanto, a grande produção que povoa o imaginário moderno envolvendo Shadow é o filme de 1994 estrelando Alec Baldwin. Durante a produção, o já mencionado Sam Raimi postulou a cadeira de diretor porém sem sucesso; o cineasta já havia realizado um trabalho inspirado na clássica propriedade durante os anos 80 em Darkman.

Baseado livremente em Shadow e Batman, essa foi a primeira tentativa do cineasta em realizar um filme de estúdio junto a Universal; até mesmo porque parte da inspiração do diretor veio do universo compartilhado de monstros que o estúdio produziu na primeira metade do século XX. Ao final, Darkman teve uma aceitação positiva enquanto que o filme oficial do Shadow não.

A obra não só foi um fiasco para a crítica, como financeiramente não conseguiu competir com outros lançamentos do mesmo ano tais como Rei Leão e Máscara (este último sendo outra adaptação de quadrinhos). O fato de Raimi ressaltar que ainda tem o desejo de dirigir uma adaptação do personagem, portanto, não é acidental e ao mencionar o Homem Morcego como sonho principal, denota uma disposição da carreira em trabalhar personagens urbanos consagrados. 

 

 

 

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