sábado, abril 27, 2024

Artigo | Três décadas de ‘Golden Axe’! A franquia ÉPICA medieval da Sega

A era medieval dos “briga de rua”

Desde que foi lançado nos Arcades, em 1989, ‘Golden Axe‘ se tornou, rapidamente, um dos jogos mais populares da Sega, empresa já experiente no mercado, mas que ainda não tinha emplacado um grande título dos beat em’ up, estilo que dominava as casas de fliperama.

Aliás, foi também nesse ano que o maior fenômeno do gênero ganhou o mundo, o hit da Capcom, ‘Final Fight‘. Porém, é sempre bom lembrar que ‘Golden Axe‘ foi lançado alguns meses antes e já tinha encontrado ali o seu espaço.

Tomando como referência clássicos do estilo, a exemplo de ‘Double Dragon‘, adicionando fantasia medieval e trazendo figuras emblemáticas como dragões, cavaleiros, duendes e feiticeiros, o jogo da Sega tentava alçar grandes voos, sendo ambicioso, imaginativo e, acima de tudo, proporcionando diversão em estado bruto.

Se o título da Capcom era mais refinado e trazia uma jogabilidade mais fluida, sendo assim mais influente na indústria dos jogos eletrônicos, ‘Golden Axe‘ possuía um visual único e abordava temas que jamais outra produção da vertente havia feito.

Tínhamos guerreiros empunhando machados e espadas, lutávamos com amazonas seminuas e inimigos montados em dragões e confrontávamos hordas de inimigos. Isso fez com que ‘Golden Axe‘ tomasse emprestada a pegada dos clássicos cult medievais dos anos 70 e 80, porém com a estética dos filmes B americanos, como ‘O Príncipe Guerreiro‘ e ‘Conan – O Bárbaro‘.

Víamos ataques mágicos poderosos que cortavam bandidos em pedacinhos, algo também nunca tinha sido feito, além de cenários belíssimos, com castelos, ravinas e arenas enormes; aldeias de tartarugas que nos leva para lugares inexploráveis, ou mesmo a possibilidade de voar nas costas de águias gigantes, tal como acontece em ‘O Hobbit‘, com tudo soando novo e funcionando super bem. Façanhas que os conhecidos personagens de Final Fight não podiam fazer, e somente o clássico da Sega era capaz.

No entanto, para chegar nesse resultado, houve muito estudo e preparação, trouxeram ideias tiradas das mais variadas mídias e empreenderam uma jogabilidade mais direta, ainda que os desenvolvedores fizessem questão de que o jogo fosse único e trouxesse uma experiência diferenciada, tanto pelo seu flow da campanha quanto pela estética rustica.

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De onde tiraram isso?

Golden Axe‘ é um jogo criado pelo hoje conceituado designer japonês Makoto Uchida, que já havia entregado outro clássico da Sega, ‘Altered Beast‘, de 1988, com este sendo inspirado na mitologia grega. Por sinal, o pedido para Uchida fazer Golden Axe aconteceu justamente na fase final do desenvolvimento de ‘Altered Beast‘.

O chefe de produção do estúdio pediu que a equipe preparasse um jogo de ação que rodasse na placa System 16, do próprio Altered Beast, mas que trouxesse, dessa vez, uma jogabilidade parecida com o jogo da Technos que basicamente fundou o estilo dos briga de rua, Double Dragon. No entanto, o próprio Uchida fala que, sim, seguiu o que foi determinado pelo seu chefe, mas que iria criar um Double Dragon que não fosse Double Dragon.

Para o designer, a Technos já era uma empresa experiente nesse mercado, que estavam naquele momento trabalhando nos jogos da série Kunio-Kun, como os clássicos ‘Renegade‘ e River City Ransom, e sabiam o que fazer. Ou seja, para ele não tinha como a Sega fazer naquele momento um jogo trazendo novamente o tema de gangues, muito também porque a própria Capcom já estava apostando exatamente nesse nicho com o vindouro ‘Final Fight‘.

Makoto Uchida percebeu então que, de todos os beat em’ up que haviam sido lançados até ali, nenhum havia abordado ainda um tema que estava fazendo muito sucesso em jogos de RPG, como ‘Final Fantasy’ e ‘Dragon Quest’, o estilo medieval. Ele então foi fundo no mundo das histórias de capa e espada, dos contos de magia e das lendas arturianas, além de também beber na saga épica do Anel escrita por J. R. R. Tolkien.

Após um mergulho profundo nesse mar de influências, Uchida emergiu com um produto que mesclava a mitologia do ocidente e do oriente, com uma pegada que lembrava um pouco dos RPG’s produzidos pela Enix, unidas a clássicas histórias medievais europeias. Um resultado que afastou Golden Axe de jogos como os já citados Double Dragon e Renegade, com o público tendo assim outra opção no mercado.

Mas ainda estava faltando um toque especial para Golden Axe se tornar um título que possuísse uma cara própria e trazer um protagonista original para representar a produção, foi aí que ele lembrou dos filmes que assistia com o seu velho pai, sempre focados em ação e aventura. Quer dizer, ele lembrou de um filme em especial que via a exaustão, Conan – O Bárbaro.

A adaptação cinematográfica dos quadrinhos, estrela por Arnold Arnold Schwarzenegger, serviu como um norte para Uchida, que usou o visual e vários elementos presentes no longa, bem como a brutalidade do personagem central. O designer diz que viu tantas vezes uma fita VHS que pegou de Conan, que em determinado momento o material já estava desgastado.

Ah, como já falamos, é claro que ele bebeu bastante da fonte do Tolkien e livros como ‘O Senhor dos Anéis‘ e ‘O Hobbit‘. Uchida comprou muitos trabalhos de artistas e ilustrações que eram baseadas na representação da Terra Média, onde usou boa parte desse material para criar os conceber cenários e construções. O sujeito fala que é tão fã de Tolkien que se pudesse votaria no Gandalf como presidente. Olha que doido!

É sobre o que?

Mas se ele tomou como referência tanta coisa tradicional dessa área mais medieval, digamos assim, será que a história também é uma espécie de cópia ou versão dessas obras? Bom, ela está um pouco longe tanto de ‘Conan‘ quanto de ‘O Senhor dos Anéis‘, pelo menos no que se refere a trama central. Sendo mais semelhante as histórias do Rei Arthur e dos Cavaleiros da Távola Redonda, ou mesmo do resgate de donzelas e reinos em perigo.

Tudo se passa em lugar fictício chamado Yuria, uma terra de fantasia medieval semelhante ao mundo de Conan, com reinos enormes e bravos guerreiros – mas as semelhanças vão até aí. Pois a trama abordada no primeiro jogo, traz a entidade maléfica Death Adder que capturou o rei e sua filha, mantendo os dois aprisionados em um cativeiro dentro do seu próprio castelo.

Adder encontra por lá o Golden Axe (o Machado de Ouro), que é o símbolo de Yuria, sabendo disso, o vilão ameaça destruir tanto o machado quanto a família real, a menos que o povo do lugar o aceite como governante supremo.

Após essa situação extrema, três bravos guerreiros partem em uma missão para salvar Yuria, o rei e também vingar perdas pessoais causadas pelas forças de Death Adder. E aqui já podemos conhecer um pouco dos personagens de Golden Axe, que sem dúvidas acabaram sendo a coisa que mais chamou atenção no título, já que cada jogador tinha um deles como favorito, pois cada um possuía características únicas.

O primeiro deles é Gilius Thunderhead, que, sim, é o protagonista do jogo, um anão, velho, feio e barbudo que vai completamente de encontro aos clichês do estilo. No entanto, é um personagem muito forte e que possui golpes de longo alcance, combinando resistência e velocidade, mas usando magias de trovão que são um tanto fracas, sendo melhor no combate corpo a corpo. Gilius está em busca de vingança pela partida do seu irmão, que morreu lutando contra o exército de Death Adder.

O personagem que todos achavam que era o protagonista é o bárbaro Ax Battler, que não conhece o significado da palavra calças e mais parece uma mescla de Conan com He-Man, mas na verdade tomou como base o visual de Dar, protagonista de O Príncipe Guerreiro.

Ele decide enfrentar o mal usando uma espada que empunha com duas mãos, possuindo uma grande força de ataque e muita resistência, onde suas magias são medianas, mas por ser o mais pesado do trio, quase não tem velocidade. Ax usa magias de explosões, uma mistura de fogo e terra para causar terremotos devastadores. Ele procura vingança pela morte de sua mãe, que teve sua vida ceifada pelas tropas do vilão.

Por fim, mas não menos importante, temos a musa de Golden Axe, Tyris Flame, uma amazona belíssima que assim como Ax não curte muita roupa. A amazona usa uma espada leve e seu alcance é bem limitado, além de apresentar uma resistência baixa, trazendo como qualidade a sua agilidade e poderosas magias, sendo capaz invocar um fantasma e até mesmo um dragão. Ela entra na batalha porque os seus pais foram mortos pelas tropas de Death Adder, que parece ter extinguido parte de quase todas as famílias de Yuria.

Esses três guerreiros conseguem resgatar então os habitantes do Vilarejo Tartaruga, que tem esse nome por estar localizado no casco de uma tartaruga gigante. Essa mesma tartaruga, aliás, leva os guerreiros através do mar para um lugar alto de planícies, onde o grupo em seguida voa para o castelo de Death Adder, nas costas de uma águia gigante. Finalmente no castelo, o trio consegue derrotar Death Adder, que estava dominando o Golden Axe e enfim salvar Yuria do sofrimento eterno.

E falando de final, uma das coisas mais legais do primeiro Golden Axe, em sua versão de arcade, é que após os créditos finais do jogo, temos uma brincadeira com a quebra da quarta parede. Isso porque vemos dois garotos jogando Golden Axe em uma máquina de fliperama, que de repente explode e de dentro sai diversos inimigos do jogo para o mundo real, indo assim atrás dos moleques. Da máquina, logo depois, os três heróis também surgem e vão atrás dos vilões para salva-los.

Ports e continuações

Como era previsto, já que o Mega Drive tinha como sua principal proposta a ideia de trazer os games de Arcade para a casa dos jogadores, Golden Axe foi portado para o console da Sega de maneira muito fiel e bem feita.

Por sinal, essa versão do Mega traz uma fase a mais, um chefe final surpresa, que é a força por trás de Death Adder, além de incluir o modo duelo, onde Golden Axe se transforma em um jogo de luta. O final também foi modificado, fazendo mais referência a história do que propriamente a brincadeira de metalinguagem com os arcades.

Também foi lançada uma versão para PC, muito parecida com a de Mega Drive, porém a de PC possuía chip de vídeo, ostentando assim um modo VGA de 256 cores, funcionando em computadores como EGA, CGA e Hercules.

Também foi feito uma versão para Amiga, que era mais semelhante ao jogo de arcade. A desenvolvedora Telenet também chegou a fazer um port para PC Engine, para a verão de CD, que trazia música com alta qualidade e também cenas que foram cortadas.

Todos os títulos foram bem-recebidos pela imprensa especializada e ganharam notas dignas, sobretudo a versão lançada para o Mega Drive, que foi a mais jogada no mundo todo e virou um título indispensável do videogame mais querido da Sega.

Por sinal, o próprio Mega Drive recebeu exclusivamente as continuações de Golden Axe, Golden Axe II, de 1992, que trouxe de volta os três personagens do primeiro jogo, e apresentava gráficos melhorados, além de exibir uma campanha maior, e ao mesmo tempo não trazer muitas novidades em relação ao original.

No entanto, vale também salientar que saiu para os arcades exclusivamente a sequência Golden Axe: The Revenge of Death Adder, que trazia não só personagens diferentes – como Goah, o gigante, Stern Blade, o bárbaro, Dora, a Kentauride, e Little Trix, um jovem elfo – como também foi programado na placa System 32, que suportava até os quatro personagens ao mesmo tempo em tela e trazia gráficos muito mais bonitos, sendo um jogo completamente diferente do segundo que saiu para o Mega Drive.

No entanto, o Mega Drive ganhou um terceiro capítulo da franquia, também de maneira exclusiva, chamado apenas de Golden Axe III, que chegou em 1993 aqui no Japão. Jogo que de tão problemático só foi ser lançado na América do Norte dois anos depois, já que, segundo a crítica, os gráficos eram muito inferiores até aos jogos anteriores, com os efeitos das magias claramente sendo simplificados, soando apenas como a continuação pobre da franquia.

Mais de uma década depois, em 2008 para ser mais exato, a Sega lançou para Playstation 3 o no mínimo peculiar Golden Axe: Beast Rider, que tentou modernizar a franquia por trazer não só gráficos modernos, mas jogabilidade reformulada. Acontece que nada funcionava muito bem e, sem querer, fizeram o que muitos consideram um dos reboots mais bizarros da sétima geração, mais até que o próprio Bionnic Commando da Capcom.

Até o momento a franquia se encontra adormecida, sem que a Sega esboce qualquer interesse de mexer na série. Talvez até mesmo o número de fãs tenha sido reduzido, o que faz com que o estúdio não se preocupe em fazer demais títulos da IP. No entanto, Golden Axe é um daqueles jogos que continua vivo no coração de quem viveu a era de ouro dos briga de rua, e da famosa disputa de Mega Drive e Super Nintendo. Por isso, sempre será lembrado por nós!

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Wilker Medeiroshttps://www.youtube.com/imersaocultural
Wilker Medeiros, com passagem pela área de jornalismo, atuou em portais e podcasts como editor e crítico de cinema. Formou-se em cursos de Fotografia e Iluminação, Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, Forma e Estilo do Cinema. Sempre foi apaixonado pela sétima arte e é um consumidor voraz de cultura pop.

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