O filme inicia com belas imagens apocalípticas, com um telefonema. A mãe recebe uma notícia ruim, logo depois o quadro é do pai, Sr. O’Brien (Brad Pitt) atendendo um telefonema. A notícia também é ruim. Entende-se que é Sra. O’brien telefonando para o marido, e dando a notícia da morte do filho. E é assim que o longa funciona. Nada é explicado, apenas mostrado, como um quebra-cabeça, os espectadores ligam as imagens às ações e aí a história é contada.
E é à partir desta morte, que Malick, utilizando o recurso do flashback, narra a história da criação dos filhos, neste caso, a família O’Brien. Para os que viram Novo Mundo, de mesmo diretor, devem se lembrar das narrações em off e depoimentos, enquanto a imagem visualizada era outra. Como por exemplo, John falando sobre Pocahontas (com voz em off) e a imagem dela nos campos. Pois este recurso faz parte também desta narrativa, aprimorada. Além das narrativas, os fragmentos. São eles que, mesmo que rápidos e diretos, mostram aos espectadores o caráter de cada personagem. Em momentos decisivos.
Nos depoimentos, também pode-se perceber diferenças nos pensamentos, enquanto o pai tem um discurso de ensinamentos aos filhos , que se baseiam na formação deles e são profundamente rígidas, típicas de um pai tentando ensinar e configurar uma hombridade aos filhos; a mãe é mais delicada, e exibe um discurso esperançoso e amoroso (como ensinando aos filhos a amarem os próximos); já o filho mais velho, o rebelde, afirma o repúdio ao pai (rigoroso com ele) e sua revolta contra a família, suas dúvidas quanto à formação imposta pelo pai. No futuro, Jack (Sean Penn) continua com suas contestações e tenta entender como os pais conseguiram viver após a perda do primogênito.
Tudo isso, intercalado com takes do planeta terra em sua formação. Malick utiliza também o recurso da dialética na montagem de seu filme, onde as imagens sobrepostas às sequências de ações (com ou sem diálogos) proporcionam aos espectadores o poder da tese, antítese e síntese. E que se somada às imagens e sequências fragmentadas, bastam para a narrativa; é assim que o diretor se comunica com seus espectadores.
As atuações também adicionam ao longa qualidade. Brad Pitt mais uma vez interpretando um pai de família, faz com que os espectadores se esqueçam que um dia ele já foi um galã. O pai, sempre rigoroso e com ensinamentos rígidos e brutos; causando nos filhos revolta e ódio a ele. Mesmo com estas características, Pitt, conseguiu adicionar à interpretação cuidado com o personagem, causando nos espectadores empatia. Pois quem é pai, deve saber que se deve ter cuidados na criação. Mesmo ríspido, seco e violento (por vezes); pode-se perceber que isto faz parte da educação e que ao mesmo tempo ele os ama muito. Diretor e ator conseguiram imprimir tal preocupação.
Já a mãe é a parte frágil, e dúbia. O porto seguro dos filhos e a intermediária entre eles e o pai. Os filhos a todo tempo mostram suas dúvidas e medos. Que são consolados pela rispidez do pai e proteção da mãe. Sean Penn, o filho do meio, mesmo adulto, imprime os medos que quando jovem assolavam seus pensamentos e a falta do irmão.
Para alguns espectadores, Árvore da Vida pode parecer monótomo e incompreensível; mas para os acostumados com o cinema europeu e fascinados pela técnica de montagem terão uma bela experiência com esta preciosidade cinematográfica. Uma viagem à criação do mundo e dos filhos, realizado de forma poética e cruel.
Crítica por: Thais Nepomuceno (Blog)