2022 vem se provando um ótimo ano para a música, com o retorno de aguardados atos do cenário fonográfico, bem como a estreia de vários outros.
Depois de separarmos uma breve lista com os dez melhores álbuns do ano até agora, montamos uma segunda matéria celebrando as melhores músicas do 1º semestre, focando essencialmente na composição lírica, na produção e na rendição dos artistas.
Desde a reimaginação rap de “Vegas”, performada pela vencedora do Grammy Doja Cat, até a belíssima e antêmica arena-rock de “Hold My Hand”, música-tema do elogiado ‘Top Gun: Maverick’ assinada pela lendária Lady Gaga, montar nosso ranking não foi um trabalho fácil – e com certeza devemos ter deixado alguma pérola de 2022 de fora.
Confira nossas escolhas abaixo e conte para nós qual é sua canção favorita:
20. “SNAKES IN THE GRASS”, Dolly Parton
Retornando com força descomunal para o mundo do entretenimento, a icônica Dolly Parton se aventurou na literatura, na música e, futuramente, no cinema com ‘Run, Rose Run’ – e, apesar de nem todas as faixas funcionarem como deveriam, “Snakes In the Grass” emerge como a clássica Dolly que todos aprendemos a amar, mergulhando no cativante country-rock e em uma narrativa atemporal sobre os perigos de confiar em qualquer um.
19. “CANNONBALL”, Avril Lavigne
Desde “Cannoball”, faixa de abertura do novo álbum de Avril Lavigne, somos engolfados em uma vibrante e frenética progressão que fica no ápice praticamente o tempo inteiro; a performer tem plena consciência do que está fazendo e não se importa se você está tendo um dia ruim, entregando tudo de si para mensagens de empoderamento e de libertação que nos arremessam de volta para os anos 2000.
18. “VERSIONS OF ME”, Anitta
Depois da problemática identitária de ‘Kisses’, Anitta, que vem se consagrando como uma das maiores performers mundiais da atualidade, retornou com força descomunal com ‘Versions of Me’, uma ode a todas as camadas que passou durante sua carreira. E a faixa-titular, infundida em uma produção irretocável e bastante nostálgica, tem um dos refrãos mais envolventes do ano, incrementado pelo baixo, pelos sintetizadores e pela mixórdia exuberante do synth-pop dos anos 1980 e de sua consecutiva revitalização na passagem dos anos 2000 para os anos 2010.
17. “IT’S ONLY LOVE, NOBODY DIES”, Sofia Carson
As melhores faixas do álbum de estreia de Sofia Carson se concentram na primeira metade, logo de cara com a abertura “It’s Only Love, Nobody Dies”, uma narrativa romântica que fala sobre um relacionamento que pode superar quaisquer obstáculos – e que se finca com fervor nas tendências da década passada, alimentando um apreço significativo pelo balada electro-pop e oscilando entre o minimalismo pré-refrão e a aguardada explosão central, pincelada pelos toques retumbantes e acompanhada por rimas interessantes e que fogem da obviedade lírica.
16. “DON’T GO YET”, Camila Cabello
Com ‘Familia’, Camila Cabello parece muito mais confortável dentro de seu escopo artístico, deixando transparecer uma diversão apaixonante que nos guia por essa jornada incrível e que merece ser apreciada até mesmo por aqueles que não são tão fãs de música latina. E, dentro desse respiro, somos agraciados com a espetacular “Don’t Go Yet”, em que Cabello encarna uma versão modernizada de Gloria Estefan e, dessa maneira, gesta uma das melhores canções de sua carreira.
15. “IMMACULATE”, Years & Years
Em “Immaculate”, uma das canções do álbum ‘Night Call’, Olly Alexander (ou, como conhecemos seu ato musical, ‘Years & Years’) dá as boas-vindas a um arab-pop que rege um conto de paixão ardente e diabolicamente blasfema, cujas mensagens principais se escondem sob versos como “quando você era meu anjo caído, quase divino” e “só quero sentir aquela batida em meu coração de novo”, arrancando uma rendição impecável de Alexander e emulando os anos 1990 e 2000 com concisão inigualável.
14. “USED TO KNOW ME”, Charli XCX
No mais novo álbum da icônica Charli XCX, ‘CRASH’, somos presenteados com um resumão do que a indústria fonográfica foi capaz de fazer, desde a intensa faixa-titular, que abre de forma irrefreável, até a ode ao electro-house e ao power-pop dos anos 2000 com “Used To Know Me”, pegando elementos emprestados de Steve Angello e Laidback Luke com a memorável “Show Me Love”.
13. “BOYFRIEND”, Dove Cameron
Dove Cameron começou a fazer sucesso no Disney Channel e, depois de ter protagonizado a trilogia ‘Descendentes’, começou a investir em peso em sua carreira musical. “Boyfriend”, dessa maneira, representa um divisor de águas em sua discografia, tanto pela sensual rendição, quanto pelo ácido liricismo que remete às incursões iconográficas de Ariana Grande. Além disso, a envolvente produção pega múltiplos elementos e, construindo uma atmosfera dark, parece ter saído de uma trilha sonora da franquia ‘007’.
12. “MATILDA”, Harry Styles
Em “Matilda”, Harry Styles promove uma desmistificação profunda do conceito de família e de lanços sanguíneos, narrando uma personagem que não foi amada por aqueles que deveriam amá-la e encontrou independência e felicidade ao se afastar deles: “você não deve pedir desculpas por ir embora e crescer” resume com consciência assustadora o que significa se libertar das amarras impostas pela sociedade e perceber que o mais difícil é, por vezes, o caminho a ser seguido.
11. “ABOUT DAMN TIME”, Lizzo
Já faz três anos desde que Lizzo parou o mundo com o lançamento de seu último álbum de estúdio – mas, atendendo nossas preces, ela está retornando para o cenário musical. O lead single de seu próximo compilado, “About Damn Time”, estende-se para o saudosismo inebriante do final dos anos 1970 e começo dos anos 1980, com um nu-disco absorvido pelo funk-pop, marcado pelas impactantes notas do piano e por um baixo arrepiante – além de uma narrativa de empoderamento própria da identidade da cantora.
10. “4 DA MANHÃ EM SALVADOR”, Baco Exu do Blues
Baco Exu do Blues se envolveu na própria reflexão com ‘QVVJFA?’, lançado em fevereiro deste ano com uma fusão de inúmeros estilos musicais. Aqui, a faixa “4 da manhã em Salvador” fecha esse arco introspectivo e adota um teor mais biográfico, consagrando-se como a canção mais latinizada do álbum (com a presença inesperada do violão) e uma narrativa de superação que denuncia a opressão sistêmica dos não privilegiados.
9. “HOW LONG”, Tove Lo
Depois da nostálgica incursão de ‘Sunshine Kitty’, que merecia mais reconhecimento do que tem, a performer sueca Tove Lo foi escalada para compor e cantar uma das faixas originais da aclamada série adolescente ‘Euphoria’, estrelada por Zendaya. Intitulada “How Long”, o pulsante electro-dark parte da perspectiva de um eu-lírico marcado por tristezas e decepções, declamando sobre um relacionamento tóxico que, na verdade, nunca foi verdadeiro.
8. “THIS HELL”, Rina Sawayama
Rina Sawayama já havia feito um estrondoso barulho quando lançou ‘SAWAYAMA’ em 2020 e, dois anos mais tarde, está pronta para retornar com um aguardado álbum de originais. O primeiro vislumbre de seu novo disco veio sob a forme de “This Hell”, um divertido e ácido rock-pop que usa tiradas geniais e comentários sarcásticos sobre a retrocesso da comunidade para com as minorias – aproveitando para fazer alusões a ícones como Lady Di, Britney Spears, Paris Hilton e Whitney Houston.
7. “PAPI BONES”, FKA Twigs
No ótimo ‘CAPRISONGS’, FKA Twigs continua a explorar sua identidade musical com despreocupação apaixonante – e, nesse processo de contínua autodescoberta, arquiteta a irretocável “papi bones”, uma das melhores entradas do álbum e de sua carreira. Aqui, a cantora e compositora discorre sobre o fervor da paixão, à medida que busca referências nas incursões do afrobeats, do reggae e até o mambo, fomentando uma miscelânea sensual e convidativa.
6. “DREAM GIRL EVIL”, Florence + the Machine
Colaborando com Dave Bailey, vocalista da banda Glass Animals, Florence Welch dá vida à narcótica atmosfera de “Dream Girl Evil”, construindo um enredo sarcástico e ácido, revelando a disparidade de gênero em que, quando uma mulher se posa como independente, atrai olhares de desprezo pelos homens: puxando elementos da icônica canção “Freedom!”, de George Michael, Florence abusa de uma retórica com propósito condescendente para com seu interlocutor, perguntando a ele se “eu o desapontei? A mamãe deixou você triste? Eu te faço lembrar de todas as garotas que te deixaram louco?”.
5. “TAKE MY BREATH”, The Weeknd
O lead single de ‘Dawn FM’, recente álbum de The Weeknd, veio na forma de “Take My Breath”, uma das melhores canções da carreira do artista. Mantendo um belíssimo diálogo com a clássica “Blinding Lights”, a faixa se lança a um ambicioso projeto que estende ramificações pelo pop psicodélico e pelo disco, fazendo um incrível e desmedido uso de sintetizadores que remontam a Donna Summer com “I Feel Love” e ao lendário pai do disco, Giorgio Moroder. Além de uma coesa e soberba produção, somos agraciados com uma evocativa progressão e vocais poderosos que respaldam a sensual narrativa que se desenrola.
4. “HOLD MY HAND”, Lady Gaga
Lady Gaga foi escalada para escrever a música-tema do elogiado ‘Top Gun: Maverick’ e, sem muitas surpresas, a faixa emerge como uma das mais belíssimas entradas de sua gloriosa carreira. Seguindo os passos de “Take My Breath Away”, que comandou o filme original de 1986, a track se volta à estética oitentista e, ao mesmo tempo, se mantém fiel à identidade única da performer, erguendo-se em formosura envolvente e apaixonante, misturando elementos do power-pop e do power-rock em um mergulho ao passado que reafirma o lugar atemporal da artista no cenário fonográfico.
3. “OUT OF TIME”, The Weeknd
‘Dawn FM’ veio acompanhado de uma aclamação crítica aplaudível e representou uma das melhores entradas da elogiada discografia de The Weeknd. E, nesse soberbo álbum, o cantor e compositor foi impulsionado a fazer o que bem entender e inclusive a lançar tendências (como provavelmente veremos nos meses seguintes, em que outros artistas farão um movimento exploratório e metadiegético promovido pelo artista). É nesse espectro que faixas como “Out of Time”, fazendo alusão a nomes como Marvin Gaye e a Michael Jackson, insurge como um belíssimo laço entre passado, presente e futuro.
2. “SAOKO”, ROSALÍA
Com ‘MOTOMAMI’, ROSALÍA lançou seu melhor e mais experimental álbum até hoje, utilizando toda sua criatividade para refletir sobre a própria vida. E um dos singles oficiais da produção vem com “Saoko”, uma investida extremamente conceitual que desconstrói conceitos do reggaeton e do cyberpunk, unindo-os em uma alternância de estilos que não poderia ser feita por mais ninguém além dessa já memorável artista.
1. “L’ENFER”, Stromae
É provável que você nunca tenha ouvido de falar de Stromae – mas certamente deveria. O cantor e compositor belga retornou em 2022 com o incrível ‘Multitude’ e, dentro dessa melancólica e expressiva jornada, rendeu-se à melhor faixa do ano até agora – a profunda “L’Enfer”. Movida pelas densas notas de um piano clássico e pela interpolação com urgentes sintetizadores, a canção fala sobre depressão e pensamentos suicidas, enquanto realiza uma compressão niilista sobre o mundo e sobre a vida.