Lançado no Festival de Veneza 2023 em setembro e já disponível no catálogo da Netflix, A Sociedade da Neve resgata uma história ao mesmo tempo chocante e inspirada para uma nova geração. Baseado no acidente aéreo na Cordilheira dos Andes ocorrido 50 anos atrás com passageiro de um voo entre Uruguai e Chile, o longa do cineasta espanhol Juan Antonio Bayona busca sensibilizar os espectadores com exemplos reais de resiliência e união em tempos difíceis.
Nas redes sociais, os assinantes ficaram impactados com o filme:
“A Sociedade da Neve” é um filme que se pauta pelo respeito. Um filme que respeita os fatos. Respeita as vozes. Respeita as vidas perdidas e aquelas transformadas pelo pior dos pesadelos. Essa história já foi contada outras vezes. Nunca sob uma perspectiva tão íntima e… pic.twitter.com/7AlYNEZtMW
— Thiago Barata (@thiagobarata87) January 6, 2024
Que filmão o “A Sociedade da Neve” da Netflix! Uma história de como o ser humano pode suportar as maiores adversidades e ainda sobreviver. Trilha linda do Michael Giacchino e fotografia de encher os olhos. Talvez um pouco melodramático nas narrações? Sim. Mas a história pede. pic.twitter.com/zTUq5tqN7U
— Rogério Montanare ➰ (@rmontanare) January 5, 2024
Achei a sociedade da neve muito bem feito, cuidaram bem dos detalhes. Achei apenas a narração um pouco excessiva, mas nem de longe isso afeta negativamente o resultado final. Que situação absurda, né? chorei demais em algumas cenas. Tá na Netflix, amigas. pic.twitter.com/UfhZHrgF5r
— JAY-Z AIRLINES (@RaphaelAlves) January 6, 2024
acabei de assistir a sociedade da neve e meu deus que filme angustiante, eles sofreram tanto… meu coração tá apertado pic.twitter.com/iAaqvOKCtY
— kiki (@hugktae) January 4, 2024
A Sociedade da Neve é pesado, embora suscite várias questões éticas fundamentais.
Só de pensar que é baseado numa história verídica torna tudo mais horripilante. pic.twitter.com/KunLhzZki3— Henry Bugalho (@henrybugalho) January 5, 2024
Chegou na Netflix “A Sociedade da Neve”, representante da Espanha no Oscar. Tenho muito fascínio pelo caso real dos jovens que sobreviveram por 2 meses nos Andes e ainda foram a tribunal acusados de canibalismo. O caso também inspirou o filme “Vivos”, de 1993, com Ethan Hawke pic.twitter.com/pAHNZhafxC
— Ygor Palopoli (@ygorpalopoli) January 4, 2024
O CinePOP participou da entrevista coletiva com o diretor e os sobreviventes da tragédia. Durante o bate-papo, J. A. Bayona contou sua inspiração para o projeto, seus obstáculos e sua futura missão no cinema. Conhecido internacionalmente pelo terror O Orfanato (2007) e drama O Impossível (2012), o cineasta de 48 anos e 1,57 de altura carrega ainda no currículo o recente Jurassic World: Reino Ameaçado (2018) e dois episódios da série O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder (2022).
Como nasceu A Sociedade da Neve
Apesar da tragédia dos Andes ser mundialmente conhecida, J. A. Bayona tinha a sensação de que a história nunca tinha sido realmente (bem) contada. “Descobri o livro [de Pablo Vierci] enquanto pesquisava O Impossível, e imediatamente quis transformá-lo em filme”. O projeto, no entanto, levaria mais de 10 anos para sair do papel.
Ele confessa que o livro foi essencial no processo de composição do seu primeiro fora da Espanha: “O título de O Impossível, por exemplo, me veio quando li uma declaração de Roberto Canessa, um dos sobreviventes dos Andes”, revela. Ambos os filmes contam histórias de tragédias e sobrevivência humana com um grande aporte emocional. “Meus filmes falam sobre a morte para enfatizar a vida”, enfatiza o diretor.
As semelhanças, no entanto, param por aí, já que uma diferença crucial é o tempo de resiliência entre os dois acontecimentos: 72 horas e 72 dias. Para Bayona, A Sociedade da Neve é sobre “vida em um lugar onde a vida não é possível. Os personagens têm que reinventá-lo. Relacionamentos, costumes e vínculos são reinventados”.
Dez anos para filmar em Língua Espanhola
Quando percebeu o nível de produção exigida para concretizar sua visão, eles exploraram várias opções de financiamento e obstáculos até encontrar a Netflix. “É impossível quando você tem um filme que chega a um determinado orçamento filmar em espanhol. Eu levei mais de 10 anos para conseguir produzir esse filme na língua correta, no local correto. Espero que seja mais usual contar histórias na nossa língua”, desabafa Bayona.
Após procurar Netflix porque viram que a plataforma de streaming apostava fortemente em projetos de grandes diretores, o sim veio. “Eu tive que filmar Jurassic World: Reino Ameaçado e O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder para ganhar o direito de dirigir esta história como ela foi planejada ser — na sua língua original, nos locais onde aconteceu — e com a ambição com que abordamos o projeto”.
Ambientação no Local Real da Tragédia
Diferente das outras versões cinematográficas, A Sociedade da Neve é filmada nos mesmos lugares do acidente — o Vale das Lágrimas, na fronteira de Mendoza, na Argentina — e na mesma época do ano, entre outubro e dezembro. De acordo com o diretor, a equipe de produção buscava autenticidade e realismo, portanto, a neve, o vento e o frio tinham que ser reais, mesmo que isso custasse um esforço e uma organização extraordinários.
Como deve ter sido levar todo o equipamento de filmagem para o topo da montanha e adaptar-se à constante mudança do clima lá no alto? “A primeira noite que passei lá foi uma das piores da minha vida. O enjôo da altitude me fez perder a noção do tempo e a dor de cabeça constante era insuportável. Mas vivenciar o frio extremo, a falta de oxigênio e a exaustão constante nos ajudou a entender o que os personagens principais passaram”, compartilha Bayona.
Representação da Masculinidade
Embora o filme represente a cultura de outra época — a América Latina nos anos 1970 —, o diretor espanhol tentou reconstruir uma masculinidade mais acolhedora e sentimental. Para ele, apesar dos papéis masculinos serem definidos pela sociedade e ainda mais de jogadores de uma equipe de rugby, as circunstâncias extremas o obrigam a questionar e romper esses costumes.
“São homens que precisavam aprender a amar e cuidar uns dos outros, tanto física quanto emocionalmente — eles dormem nos braços um do outro, massageiam-se constantemente à noite, eles curam suas feridas”, explica J.A. Bayona.
Ele ainda confessa que estava interessado em representar uma masculinidade distante de atos heróicos ou da ação espetacular, mas de uma essência presente nos corpos, nos gestos e nas pequenas interações entre eles. Desse modo, o trabalho com o elenco durante os ensaios era de formar um vínculo semelhante à sociedade durante a adversidade.
A Polêmica do Canibalismo
Uma das grandes controvérsias em torno do desastre é o modo pelo qual os sobreviventes conseguiram aguentar todas as intempéries e condições inóspitas ao se alimentar dos seus companheiros de voo. “Preservamos a privacidade e a intimidade dos personagens principais. E preferimos evocar emoções em vez de mostrar imagens explícitas. Imagens gráficas distraíam”, elucida o diretor.
Dessa maneira, o canibalismo não é evocado como algo tão chocante quanto a ideia já nos permite imaginar. Nenhuma cena é montada com sangue e os pequenos pedaços de carne são um símbolo de força para continuar em frente, lutando, apesar de tudo. Nas palavras do cineasta, “para eles [os sobreviventes] comer carne humana tornou-se uma ocorrência cotidiano, no entanto, é impossível transformar algo tão sinistro em algo trivial em apenas duas horas de filme”.