J.C. Chandor e Robert Redford mostram como fazer um filme com um único ator
Poucos filmes na atualidade possuem a coragem de Até o Fim. A obra é a segunda estreia do fim de semana, além de Walt nos Bastidores de Mary Poppins, que se encaixa na categoria dos “quase filmes do Oscar”. O motivo da denominação se deve pelo fato de tais produções (além deles, também Inside Llewyn Davis, Rush, entre outros) terem chamado a atenção até seu lançamento. No entanto, acabaram com indicações apenas em categorias menores.
Exibido no Festival de Cannes do ano passado, a produção marca o segundo filme do cineasta J.C. Chandor, após o ótimo Margin Call – O Dia Antes do Fim. Por essas duas obras é seguro dizer que Chandor é um cineasta para ficarmos de olho. Indo contra sua estreia extremamente verbal e tensa, o cineasta entrega uma excelente obra, basicamente muda, mas igualmente tensa. Comecemos dizendo que não se fazem mais filmes como Até o Fim.
Essa é uma obra com apenas um ator e totalmente sem diálogos. Comparável a O Artista, Náufrago e Gravidade, o novo filme de J.C. Chandor é um marco para a sétima arte. Protagonizado apenas pelo grandioso veterano Robert Redford, o filme apresenta seu personagem em viagem pelo mar a bordo de um pequeno veleiro. O protagonista sequer tem nome, tampouco sabemos o motivo de sua viagem solitária. E justamente este é um dos elementos mais interessantes desse fantástico filme.
O cineasta nos deixa criar o backstory do protagonista por conta própria. Quando um grande container se choca contra sua embarcação e causa um buraco no casco do barco, seus problemas realmente começam. Dali em diante, o protagonista precisa lutar contra todas as adversidades, o que inclui o clima, o tempo e principalmente a natureza, se quiser sobreviver. Redford mostra porque é um nome histórico para a sétima arte numa das melhores performances de 2013. O veterano sem dizer palavras expressa todos os sentimentos.
Sofremos ao seu lado e nos alegramos quando as coisas começam a dar certo. O desespero de seu personagem é latente durante toda a projeção. Esse é um trabalho extremamente físico do ator septuagenário. Comparável ao indicado ao Oscar 127 Horas, temos um protagonista cuja arrogância é sua própria ruína. Assim como a obra de Danny Boyle, o filme de Chandor mostra um homem sendo testado ao limite, dentro de um jogo que julgava dominar.
Tudo na obra é primoroso. Chama a atenção o roteiro, que não se torna repetitivo, somando situações desafiadoras a serem superadas pelo herói. Até o Fim é cinema de forma antiga. No qual o apelo visual é primordial, mas na da forma anestesiante da qual os jovens estão acostumados. Aqui não existe pressa, atropelamento visual, mas extrema urgência. Um dos filmes mais nervosos e recheado de adrenalina de 2013 consiste em um septuagenário e um barco.
A presença de Redford intimida. Para superá-la somente um maremoto no meio do oceano e muita tempestade. Redford, com quase 60 anos de carreira, nunca ganhou um Oscar como ator (apenas diretor e um honorário). Talvez essa fosse a hora. Sem dúvidas o ator segura mais um filme sozinho do que a maioria dos atores que se candidatam a tal empreitada (cof cof… Sandra Bullcok… cof cof). Com todos os elogios possíveis, Até o Fim é um dos melhores filmes desta temporada e conta com um dos desfechos mais enigmáticos positivamente da história.