Vivendo um casamento perfeito, Pedro (Selton Mello) acredita que é o homem que qualquer mulher desejaria ter. Porém, sua esposa Marina (Maria Luiza Mendonça) não acha o mesmo. Considerando ele muito chato, e o casamento monótono, ela resolve fugir com seu amante. A vida de Pedro desaba sobre sua cabeça, e mesmo com seu amigo Carlos (Vladimir Brichta) tentando insistentemente fazê-lo esquecer da ex, ele se isola do mundo e passa a viver trancado em seu apartamento, evitando contato com qualquer mulher.
Tudo muda, no entanto, em uma noite em que sua vizinha Amanda (Luana Piovani) vai até sua porta pedindo uma xícara de açúcar. Pedro logo percebe que ela é a mulher perfeita, e isto faz com que ele recupere sua auto-estima, seus amigos, o emprego e a vida que tinha antes de se fechar. À medida que se conhecem, os dois percebem que são muito parecidos em tudo, e que um não consegue mais existir sem o outro. O problema é quando Pedro descobre o motivo de tanta afinidade: Amanda, na verdade, é apenas um fruto da sua imaginação.
A Mulher Invisível passa a atormentar Pedro por onde quer que ele vá. Mesmo sabendo que Amanda não existe, ele não consegue se ver livre dela. Carlos, percebendo o problema do amigo, temendo que ele enlouqueça, decide ajudá-lo a continuar com sua vida normal, esquecendo de vez da Amanda, Marina, ou qualquer outra mulher que faça mal a Pedro. O que nenhum deles sabe, porém, é que a solução para os problemas está muito mais perto do que eles possam imaginar.
Quando se encontra a liberdade, o resto é silêncio. Com a difícil missão de criar um remake de um dos filmes orientais mais aclamados por crítica e público em toda a história do cinema, o diretor norte-americano Spike Lee tenta mas não consegue muito êxito na sua versão de Oldboy. Com a mesma chuva, o mesmo porre e uma introdução mais comprida e detalhada o filme até que começa muito bem só que acaba caindo na armadilha de tentar ser melhor que o original, e aí caros amigos, vai tudo por água abaixo. Um rápido exemplo: a aguardada cena do martelinho contra milhões frustra os cinéfilos. Do modo norte-americano de reproduzir tal sequência, vira uma espécie de jogo Arcade: Cadilac Dinossauro ou Street of Rage para citar dois apenas. Somente Tarantino saberia igualar ou melhorar tal cena, histórica para o cinema.
Na trama, conhecemos o alcoólatra e cafajeste Joe Doucett (Josh Brolin). Um homem odiado por muitos que após uma reunião imperfeita em um chique restaurante, resolve afogar sua mágoas e beber além da conta, acabando acordando em um misterioso quarto de hotel. Aos poucos, Joe vai descobrindo que está sendo na verdade mantido como refém e isso continua por intermináveis 20 anos. Até que um dia, após uma tentativa frustrada de fuga, é largado dentro de uma mala no meio de um vasto campo verde e assim inicia sua busca pela filha abandonada e por vingança.
A virada do século, o escândalo de Clinton, o atentado as Torres Gêmeas e outras tragédias norte-americanos são vistas sob a mesma ótica pelo seqüestrado. Se Tom Hanks tinha Wilson, Josh Brolin ganha um amigo hamster para dividir um pouco da dor de seu sofrido personagem. Esse momento, o dos 20 anos em cárcere privado, é mal explorado e acaba ficando muito corrido o que provoca uma falsa empatia do público com o protagonista da história. Assistindo Xena, Telequete e algumas outras bobagens na Tv, o personagem vê sua barba crescer, malha todo dia e incrivelmente não envelhece.
O Oh Dae-su norte-americano ganha um Iphone e utiliza o Google para buscar os possíveis responsáveis pelo seu seqüestro. Esse uso da tecnologia, na verdade uma nova ferramenta de ambientação da história, até certo ponto descaracteriza um pouco a trama original. Não adianta colocar caixinhas de comida chinesas, guarda costas orientais que isso nem um pouco transfere toda aquela atmosfera conseguida por Chan-wook Park e Cia no filme sul-coreano. E pra piorar, as refeições do sequestrado tornam-se oportunidades para diversas marcas de comida famosas terem na vitrine da telona o seu produto escancarado. Nem ao menos delicado foi feito isso, lamentável.
Josh Brolin se esforça e tanta dar sua cara ao protagonista deste remake. Gritando muito, com cara de carrancudo em todas as sequências as vezes parece não dominar seu personagem por completo. Já, a mais competente artista da família Olsen, Elisabeth, consegue suavizar a sua personagem-chave adicionando muito à trama. A atriz de 24 anos tem uma cena com Brolin bem caliente, o que deve elevar mais ainda a faixa etária do filme. Mas o destaque mesmo nas atuações vai para o sul-africano Sharlto Copley (Distrito 9 / Elysium) que interpreta com eficácia o grande vilão da história.
Resumindo, o que todo cinéfilo temia acontece, mais um remake que não dá certo. Salvo Fincher e seu Millenium primoroso, recentemente falando, é muito difícil reproduzir um clássico do cinema, em outros moldes, em outros tempos, com outra leitura da mesma história. E não adianta vir com o papo de que cada filme é único e que não deve-se comparação. No caso de Oldboy – Dias de Vingança (que subtítulo mais horroroso), por tentar ser um filme para americano ver, acaba perdendo toda a essência de uma incrível aventura em busca de vingança.
O maior sentido para entendermos uma dor, acontece quando ficam embaçadas as janelas da nossa alma. Baseado em fatos reais, o drama investigativo Philomena é uma incrível e comovente história que nas mãos do ótimo cineasta Stephen Frears (que dirigiu o excelente A Rainha) se torna leve, divertido e com diálogos maravilhosos, essa última parte fruto do entrosamento afiado entre os atores Steve Coogan e a vovó mais fofa do cinema, Sra. Judi Dench. Irá lotar, merecidamente, todas as salas dos cinemas aqui no Brasil. Na trama, seguimos os passos da simpática enfermeira Philomena Lee (Judi Dench), uma senhora de idade avançada que por 50 anos escondeu de todos ao seu redor que tinha sido separada de seu filho na época que estava sob responsabilidade de rígidas irmãs e um convento. Quando sua vida esbarra na de Martin Sixsmith (Steve Coogan), um jornalista deprimido e desempregado, surge finalmente a chance de encontrar seu filho. Nesse trabalho, que possui uma impactante atuação de Dench, um dos pontos que mais chamam a atenção é o conflito entre a fé, a razão e a religião que geram instantaneamente debates/embates e diálogos repletos de argumentações pertinentes, até certo ponto extremistas, fazendo os personagens se desenvolverem naturalmente tendo a plateia como testemunha. Nas apresentações dos personagens, o filme que concorre ao Oscar em algumas categorias, ganha o público para si que só deixa de estar conectado com a história quando os créditos finais aparecem e lá conhecemos a verdadeira Philomena Lee, na vida real. As polêmicas contidas no filme são passadas ao público de maneira leve, séria e divertida. Ocorre uma inversão interessante nesse processo. Mais ou menos como aconteceu em Intocáveis, quando ao lermos a sinopse pensávamos que íamos chorar o filme todo e ao longo da história nos deliciamos com a alegria contida naquela busca de cura para a dor. O caminho feito por Philomena é exatamente o mesmo. Philomena é um drama recheado de carisma. É o tipo de filme que você torce para não acabar. E, por mais que a história lembre tantas outras já vistas no mundo do cinema (isso realmente é um fato a ser lembrado), a maneira inteligente como é apresentada ao público dá personalidade própria e única ao longa-metragem. O trabalho de direção executado por Frears é primoroso, cada detalhe ganha um valor diferente para cada sequência. Por esses motivos e todos os outros que encontrar, você não pode deixar de conferir essa história. Inspira, mexe com nosso coração.
Será que existe algum dilema entre a vida humana e uma obra de arte? O novo trabalho do polivalente George Clooney fala sobre o universo peculiar de Rembrandt, Picasso e Renoir, com um adicional cenário do conflito mundial que mais matou gente neste planeta. Caçadores de Obras-Primas é uma espécie de Onze homens e um Segredo misturado com qualquer filminho chatinho desses que fazem sátiras da Segunda grande guerra. Muito pouco para convencer o público que ficará incomodado com personagens engessados e uma trama sem ritmo nenhum.
Nesse blockbuster, acompanhamos um grupo de especialistas em obras de arte que são recrutados como soldados, já no final da segunda guerra mundial, para salvar peças de arte históricas que estavam sob o domínio dos nazistas. Percorrendo a Europa de cabo a rabo, enfrentam difíceis obstáculos com um certo, e esquisito, bom humor, sempre Liderados pelo sargento Frank Stokes (George Clooney).
O filme aborda a questão central que é a de se arriscar em meio a um conflito extremamente perigoso para salvar um objeto. Pena que o roteiro não se aprofunda nisso, nem vemos qualquer emoção ou carisma nos personagens, deixando essa discussão sem fundamento. Só resta a nós meros mortais escutarmos mais de cinco vezes a mesma pergunta: “Uma vida vale mais que uma obra de arte?”. Uma chatice que só assistindo para sentir. A vontade que temos é perguntar: “Quanto vale o ingresso desse filme mesmo?”.
Personagens travados são vistos o tempo todo. Fala de desenvolvimento cênico torna qualquer diálogo, qualquer sequência uma experiência superficial. John Goodman, o grande Bill Murray, o apagado Matt Damon, a linda Blanchett e o diretor/ator George Clooney, e os demais, sem exceção, são intérpretes de personagens sem um pingo de emoção. Esse fato é o mais alarmante dessa produção que tinha grande potencial caso houvesse algum tipo de entrosamento entre os papéis em cena.
Caçadores de Obras-Primas marca a pior direção da carreira vitoriosa do ex- E.RGeorge Clooney. O roteiro assinado pelo diretor e por Grant Heslov (Tudo pelo Poder), baseado na obra homônima de Robert M. Edsel e Bret Witter, é sonolento, tornando o filme uma ótima opção para quem sofre de insônia. Com tantas estrelas de Hollywood competentes reunidas era obrigatório o filme ter no mínimo bons momentos mas a constelação insiste em ficar apagada durante intermináveis 118 minutos de projeção.
Todo filmado em preto e branco, Nebraska marca a volta do cineasta Alexander Payne dois anos depois do estrondoso sucesso do drama Os Descendentes, indicado para cinco Oscar (incluindo melhor filme e diretor) e vencedor de roteiro adaptado. Payne é um dos mais talentosos diretores trabalhando em Hollywood atualmente, e seu currículo inclui obras cultuadas pelos cinéfilos como Eleição (1999), As Confissões de Schmidt (2002) e Sideways – Entre umas e outras (2004), todos com prestígio em premiações. Nebraska, seu novo trabalho, entra para o hall de filmes a serem assistidos com o pai. Essa é uma grande homenagem, e uma das grandes obras do cinema sobre o relacionamento entre pai e filho.
O veterano Bruce Dern (Django Livre), de 77 anos, ganha de Payne um grande presente a essa altura de sua carreira, ao ser escolhido para viver Woody Grant, um idoso problemático. O sujeito infeliz cisma que acabou de ganhar 1 milhão de dólares num certificado de uma coleção de livros. Trata-se de um esquema que apenas o idoso, que já não bate mais tão bem da cabeça, não percebe ser uma fraude. Enlouquecendo sua esposa, vivida pela ótima June Squibb (O Grande Ano), ao sair desvairadamente pelas ruas em busca de seu prêmio, o protagonista desperta a preocupação de seus filhos, vividos por Will Forte (Vizinhos Imediatos de 3° Grau) e pelo ator e diretor Bob Odenkirk (da série Breaking Bad).
Até que para lhe dar paz de espírito, seu filho mais novo, vivido por Forte, decide levá-lo até a tal cidade para recolher seu prêmio. Nessa viagem pelas estradas, pai e filho irão se conhecer melhor, e serão forçados a conviverem, passando por diversas aventuras, e exorcizando seus demônios. Mais adiante, a impagável Kate (Squibb) se juntará a dupla, assim como Ross (Odenkirk), numa reunião familiar hilária. Nebraska consegue ser sensível, emotivo, e também muito engraçado, em seu retrato realístico de uma típica família de classe média, que poderia facilmente ser a minha ou a sua. Pai e filho são pedidos para confrontarem o passado, quando no caminho param na cidade onde o protagonista cresceu.
Velhos desafetos, antigos amores, e grandes amizades voltam à tona nessa nostálgica obra genealógica. Payne realiza um filme incomum, mas com grande coração, e que se torna a segunda ótima produção do ano em preto e branco, ao lado do único Frances Ha. O humor se faz presente e eficiente na maioria das cenas, principalmente nas interações do alcoólatra resmungão e de poucas palavras vivido por Dern. Numa das melhores cenas do filme, o idoso resolve fazer uma parada na casa do irmão. Em outro momento seus filhos resolvem retratar um mal feito a ele, reavendo um item emprestado e nunca devolvido por décadas, num momento de muita graça.
Quem também recebe grande chance e destaque é o humorista Will Forte, oriundo do programa Saturday Night Live, cujo papel de maior destaque havia sido na paródia Corra que o Agente Voltou, no qual interpreta uma sátira de MacGyver. Aqui, Forte desempenha seu primeiro papel sério, e se sai bem como o perdedor honesto e de bom coração, David. Mas todos os louros vão para a caracterização e performance implacável de Bruce Dern. O veterano indicado apenas a um Oscar de coadjuvante em 1978, está em sua melhor forma, e é muito provável que seja lembrado em época de premiações. O texto do estreante Bob Nelson, e a direção de Payne criam uma obra ímpar sobra a família, que se torna um dos pontos altos do cinema em 2013.
Acaba de sair do forno a nova edição do CineAgenda, vídeo apresentado pelo editor Renato Marafon com as estreias deste final de semana (14 de Fevereiro).
Toda semana, vamos informar sobre os lançamentos e comentá-los.
Baseado no livro ‘The Monuments Men: Allied Heroes, Nazi Thieves and the Greatest Treasure Hunt in History‘, o longa conta a história de um grupo de diretores de museu, especialistas em história da arte e curadores que arriscam suas vidas para evitar a destruição da cultura durante a Segunda Guerra Mundial.
Ao mesmo tempo que Adolf Hitler tentava dominar o mundo ocidental, o exército nazista recebia ordens para ir buscar a cumular os melhores tesouros de arte na Europa. O Fuhrer tinha começado a catalogar a arte que pretendia guardar, e aquela que queria destruir. Centrado no período de 11 meses entre o Dia D e o Dia da Vitória, este relato fascinante segue seis ‘Monuments Men’ e a sua missão impossível para salvar a grande arte do mundo nazista.
Philomena
A história acompanha Philomena Lee (Judi Dench), que quando jovem teve seu filho recém-nascido dado para adoção ao ser mandada para um convento. A criança é adotada por um casal americano e some no mundo.
Quando sai do convento, Philomena inicia uma jornada para encontrar seu filho, com a ajuda de Martin Sixsmith (Steve Coogan) , um jornalista fracassado de temperamento forte.
Durante a viagem, eles começam a redescobrir informações sobre o passado Philomena e de seu filho, que os une afetivamente.
Uma comédia romântica com tons de ficção científica, ‘Ela’ acompanha Theodore (Phoenix), um escritor solitário que desenvolve um romance improvável com um sistema operacional dotado de inteligência artificial, que atende pelo nome de Samantha. Esta história de amor incomum explora a relação entre o homem contemporâneo e a tecnologia.
Qualquer espectador que não sofra de insensibilidade congênita fica tocado com as primeiras cenas de Alabama Monroe(The Broken Circle Breakdown),representante da Bélgica no Oscar deste ano. Nesse começo, acompanhamos o tratamento contra leucemia da filhinha do casal protagonista. Ver uma criança de uns seis anos recebendo um injeção para tratar a doença incomoda, não pela plasticidade da imagem, mas pelos sentimentos que evocam.
O filme do diretor Felix van Groeningen percorre a vida do casal Didier Bontinck (Johan Heldenbergh) e Elise Vandevelde (Veerle Baetens). Didier é músico em uma banda, é apaixonado pelo gênero bluegrass contry e pela cultura norte-americana. Elise trabalha em uma loja de tatuagens, tem um jeitão alternativo e é religiosa. Nesses opostos, acompanhamos as tentativas de Didier conquistar Elise, o casamento, o ingresso de Elise na banda, a construção da casa do casal, a decoração do quarto da filha e o nascimento dela, seus primeiros anos, a descoberta e o tratamento da leucemia… acompanhamos a vida desse casal ate o final lírico, trágico e belo .
Se fossem pelos acontecimentos narrados, o filme não traria novidades. Já vimos histórias como a de Didier e Elise, muitas mais trágicas e surpreendentes. Não, não há grandes reviravoltas em Alabama Monroe; em certa medida, seu arco dramático não é o grande trunfo. Há mesmo momentos mal construídos no roteiro, como o desabafo de Didier no teatro: apesar do discurso em si correto, é extremamente mal encaixado na narrativa, tornando-se artificial, como se o diretor tivesse uma necessidade fisiológica de falar aquilo.
Alabama Monroe narra uma história convencional – apesar do jeitão alternativo dos protagonistas. E, como o diretor consegue fazer com que essa história nos toque tão profundamente? A montagem e a música!
A montagem está calcada em alternar momentos presentes e passados. Nesse vai-e-vem temporal, as alegrias do passado se confundem com as amarguras do presente. Se sofremos com a leucemia da filha de Didier e Elise, abrimos um sorriso com a jovialidade das primeiras noites de amor. Diálogos que no presente buscam culpados são contrapostos com declarações de amor do começo da relação. Esses contrastes se iluminam mutuamente, resignificando coisas tão cotidianas quanto a declaração de casamento de viverem juntos até que a morte os separe.
Essa soberba montagem é temperada com uma belíssima trilha sonora de bluegrass. Ora reforçando o que dizem as imagens, ora gerando atritos, as músicas são elementos essenciais para a conquista do sentimento geral do filme: a sensação de que a vida, ora fácil ora difícil, é bastante agridoce.
Também contribuem para esse efeito as atuações Johan Heldenbergh e Veerle Baetens, a iluminação (quente nos momentos de alegria, gélida na tristeza), o charmoso figurino e, claro, as belas tatuagens de Elise!
Apesar de alguns deslizes, Albama Monroe nos fala ao coração. Sem pedir licença, nos invade e cantarola em nossos olhos que a vida segue.
George Clooney e Grant Heslov colaboram mais uma vez, em seu projeto mais irregular
Planejado inicialmente para estrear no fim do ano passado, o que o traria diretamente para a corrida deste Oscar, Caçadores de Obras-Primas é o quinto filme dirigido pelo astro George Clooney. O status do ator como diretor é tanto que tenho certeza de que não fui o único que acreditava que seu novo filme seria um dos chamarizes desta nova edição do Oscar. Vejam por este prisma: seu filme de estreia (Confissões de uma Mente Perigosa, 2002) foi sucesso no Festival de Berlim, Boa Noite e Boa Sorte (2005) foi indicado para seis Oscar – incluindo melhor filme e Tudo Pelo Poder (2011) recebeu indicações no Globo de Ouro e Oscar.
É seguro dizer que Clooney, o diretor, possui o prestígio da Academia. Sua desistência da disputa poderia ser explicada pela quantidade de produções de grande nível candidatadas. O lançamento em janeiro, época para projetos “abandonados” pelos estúdios, causa suspeitas. E essas desconfianças tornam-se verdade uma vez tendo assistido ao produto final. Caçadores de Obras-Primas é o primo pobre, distante e sem graça de Bastardos Inglórios. Baseado no livro de Robert M. Edsel e Bret Witter, o filme usa como tema a missão de historiadores e eruditos alistados na Segunda Guerra Mundial, com a finalidade de resgatar obras de arte e artefatos históricos das mãos dos nazistas.
Tais objetos estavam com os dias contados, já que Hitler havia ordenado sua destruição. Muitos inclusive não conseguiram salvação e outros ainda encontram-se perdidos. Adaptado para o cinema por Grant Heslov (parceiro de Clooney em Boa Noite e Boa Sorte e Tudo Pelo Poder) e pelo próprio diretor, Caçadores soa como uma obra inacabada, picotada por algum motivo, aonde deixaram de fora as partes realmente interessante. O filme abusa da exposição ao fazer os personagens martelarem a trama o tempo todo para o público. Um dos grandes defeitos, talvez o principal, é fazer uso de diversos personagens – todos interpretados pela nata de Hollywood, sem que seu desenvolvimento seja apropriado.
E assim seguem cenas que não dão em nada, subtramas abandonadas e personagens cuja importância temos que aprender depois da morte (e sem senti-la). Existe, por exemplo, uma desavença entre os personagens do grande Bill Murray (completamente desperdiçado) e Bob Balaban que nunca ficamos sabendo o motivo e que ao mesmo tempo não leva a nada. Em um momento de tensão, os dois ao lado de um soldado nazista mantém a calma ao dividirem um cigarro. A falta de diálogos, ou piadas sequer, torna a cena falha e esquecível. O mesmo pode ser dito de John Goodman, Jean Dujardin(O Artista), do próprio Clooney e o resto do elenco. Seus personagens poderiam ser interpretados por qualquer ator.
O texto de Clooney não lhes permite espaço para brilhar. Outro grande desperdício é com Cate Blanchett, a atriz indicada ao Oscar pela obra-prima Blue Jasmine fica à deriva com sua personagem, a valente viúva francesa e curadora de um museu, que auxilia os soldados americanos em sua busca. Matt Damon é seu contato e os dois iniciam um relacionamento de carinho e confiança, que mais uma vez não chega a lugar algum.
As tentativas de humor são simplistas e também fracassam. O maior exemplo é quando Damon pisa em uma mina terrestre dentro de uma caverna, ao que os outros repetem a mesma frase: “Mas por que você iria fazer isso?”. Infelizmente Clooney utiliza o mais baixo denominador comum. Nem mesmo as cenas de ação possuem magnitude. E ao desfecho o cineasta tenta passar emoção com um discurso (utilizando seu próprio pai como seu personagem mais velho), que realmente não será sentida nem mesmo pelo maior entusiasta de artes.
A Dama Judi Dench vive a história real de uma mulher em busca do filho perdido há 50 anos
Indicado para quatro prêmios no Oscar deste ano, Philomena talvez seja o filme mais intimista da categoria principal. Baseada em fatos reias, que por sua vez se tornaram o livro , escrito pelo próprio Martin Sixsmith, a história fala sobre uma mulher obrigada a dar seu filho para a adoção quando vivia num convento de freiras. Philomena, a tal mulher, muitas décadas depois ainda sofre com a perda do filho e decide pela primeira vez contar toda a verdade para a filha (de um casamento posterior).
Através de uma coincidência a história chega até o jornalista Martin Sixsmith, que se encontra em desgraça profissional após ser demitido do cargo de conselheiro do governo britânico. O pomposo jornalista, depois de certa relutância inicial pelo gênero da matéria, decide focar suas energias e com o tema produzir um livro. Para isso, sai em viagem pelo país a fim de recolher todas as informações e ajudar a septuagenária a reencontrar sua cria perdida. Logo, duas personalidades bem distintas irão entrar em colisão durante esse período.
Sixsmith, como todo inquisidor, se atém aos fatos não deixando crenças e a fé cega dominarem sua vontade. Mas o sujeito frio e seco talvez tenha perdido contato com sua metade humana. Já a protagonista é uma mulher bondosa, que prefere perdoar todo mal que foi feito a ela ao invés de crucificar os culpados. Philomena não deixa sua fé ser abalada em momento algum e faz de sua ingenuidade e amabilidade suas características mais poderosas. O comediante Steeve Coogan (O Olhar do Amor) adapta ao lado de Jeff Pope o livro de Sixsmith para o cinema. Coogan também vive o autor no filme, em um desempenho contido e acima da média.
Mas quem ganhou os holofotes foi a veteraníssima Dama Judi Dench (007: Operação Skyfall), que interpreta a protagonista e faz de Philomena Lee a personagem mais doce dentro de uma filmografia regida por personagens do tipo. Dench recria realmente a mãe (ou avó) amável que gostaríamos de ter. A performance de Dench foi agraciada com uma indicação ao Oscar deste ano. Dench transparece alegria, sofrimento e amargura, porém, perto das outras atuações concorrentes mais chamativas, a passiva Philomena talvez não tenha grandes chances. Este é o tipo de trabalho que Dench faz com a mão nas costas.
O problema talvez seja a frieza e secura desta produção tipicamente inglesa. O veterano Stephen Freas, que tem no currículo altos (Os Imorais, Alta Fidelidade, A Rainha, Coisas Belas e Sujas) e baixos (O Segredo de Mary Reilly, Chéri, O Retorno de Tamara, O Dobro ou Nada), dirige o filme sem muita personalidade e traz para Philomena o sentimento de obra feita para a TV. O roteiro adaptado de Coogan também foi lembrado no Oscar, mas talvez o filme realmente não precisasse entrar na categoria principal. Ainda mais quando foram deixadas de fora obras verdadeiramente proeminentes de seus gêneros, como Rush – No Limite da Emoção e Os Suspeitos.
Fica claro também, como um dos temas fortes do filme, o embate entre religiosidade, fanatismo e verdade. Sixsmith, como bom ateu, não perde tempo em apontar o dedo para a igreja católica, depositando em suas fervorosas seguidoras a culpa de atrocidades imensuráveis. Mas ao invés de um monólogo, o autor (que não hesita tirar sarro de si mesmo no texto, apontando também todos os seus defeitos) assim como o roteirista Coogan despertam no público o interesse de um debate, apresentando o outro lado de uma moeda. É quando a principal lesada de um grande trauma decide tomar um caminho superior, que Philomena ganha contornos de uma dualidade interessante, contradizendo o próprio condutor da história. Por melhor que seja, será difícil encontrar uma pessoa que tenha Philomena como seu filme preferido na grande noite do cinema.
Mesmo com poucos longas-metragens em sua carreira, Spike Jonze já pode ser considerado um dos cineastas americanos mais talentosos da última década. Isso porque, ao lado do também seminal roteirista, Charlie Kaufman, realizou filmes absolutamente fascinantes, no que se refere à narrativa e complexidade de texto. Primeiro com Quero ser John Malkovich(1999), no qual, através do voyeurismo, explorou a constante obsessão humana de querer ser e sentir o outro; depois com a obra-prima contemporânea, Adaptação (2002), que abordou, de várias formas, o maior medo de um escritor: o bloqueio mental de ideias.
Apesar disso, inesperadamente, Jonze resolveu se afastar das telonas, dedicando-se, por um longo tempo, apenas a trabalhos televisivos e particulares. Lançando, somente anos depois, a mágica adaptação, Onde Vivem os Monstros (2009). Um tocante conto infantil, que, pelo meio de metáforas, explanou os abundantes sentimentos que pairam na mente de uma criança. E, ainda que este não tenha tido, para a crítica, a mesma força dos anteriores, conseguiu ser, de um modo geral, muito bem quisto e elogiado.
No entanto, mesmo diante desses e vários outros títulos, em mídias como videoclipes, curtas-metragens e documentários, alguns ainda se perguntavam, e até duvidavam, do potencial artístico do diretor. Seria Kaufman o segredo de seus trabalhos ditos geniais? Estaria Spike Jonze esperando/dependendo de uma nova parceria para voltar à ascensão? Como é o caso de Michel Gondry, que desde Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças, não conseguiu fazer nada que se equiparasse à tamanha grandeza do filme estrelado por Jim Carrey e Kate Winslet.
Mas eis que, enfim, surge um projeto no qual Jonze produz, dirige e roteiriza; contendo vários dos elementos que, em outrora, o consagraram. Estrelado porJoaquin Phoenix (O Mestre), Ela traz a história do escritor de cartas, Theodore Twombly – que apesar de trabalhar numa empresa que depende de sentimentos e inspiração, já que precisa enviar correspondências subjetivas para desconhecidos, como fosse o remetente –, é um sujeito solitário, pois, aparentemente, perdeu o amor pela vida. E acabou se afundando, completamente, num universo paralelo, ou mundo virtual. Algo corriqueiro, em tempos atuais, em que, muitas vezes, trocamos a convivência pela comodidade irreal. Quase uma espécie de patologia mixoscopia. Que, não por acaso, é bem retratada quando o protagonista diz gostar de ver gente, mas sente necessidade de estar só.
Em meio a esse orbe singular, Theodore adquire um sistema operacional futurista, de hiper inteligência artificial, que possibilita, novamente, o ato de se relacionar. Algo como comprar um novo amigo. O que, imediatamente, nos leva ao principal ponto do conto: a relação entre o homem contemporâneo e a tecnologia sofisticada. Abordando a problemática social da questão, sua função e o nosso cotidiano urbano em crônico estágio de distanciamento. Ousando, mais ainda, por iniciar uma relação conflitante, carnal e amorosa, do protagonista com o programa informático. Criando, outra vez, translações de anseios humanos característicos, como a possessão, o medo e a necessidade de poder ajudar alguém.
Assim, engendrando uma narrativa fleuma, ocasionalmente intimista, Jonze nos entrega mais um belíssimo trabalho de direção, que funciona, organicamente, em seus três atos. Assim como cria um roteiro rico e ramificado, com diálogos avassaladores e trama curiosa. E que, além de impressionar pelo fabuloso trabalho de mise-en-scéne, com câmeras quase estáticas, repleta de ângulos naturalíssimos, é um longa esteticamente elegantíssimo e possui um curioso artifício de cores. Que, por assim, começa e é entregue no próprio pôster.
Reparem que o rosa e vermelho estampam, completamente, o cartaz. Estes tons nada mais são que o símbolo do humor e estado de espirito de Theodore Twombly. Notem que, logo de início, quando ele está na empresa, feliz por esquecer sua vida sem graça lá fora, o vermelho é explorado em alguns pontos do cenário. Ao mesmo tempo, Theodore está com um casaco rosa, mas veja que, por dentro, há uma camisa sem cor, tomada por um tom pastel. Representando sua angústia interna. E, no caminho de volta, a solidão começa a aparecer, quando sua jaqueta está desabotoada. Em casa ou na casa de amigos, antes de “conhecer” Samantha, ele veste sempre roupas descoloridas, tons leves e mornos. Mas ao iniciar seu relacionamento com o programa, torna, novamente, a se vestir com o rosa e vermelho. O momento marcante, que retrata esse jogo de cores, acontece quando ele está brigado com Samantha, e, em meio a uma fria floresta sem vida, a neve cai sobre seu casaco vermelho, simulando como anda seu relacionamento: completamente ofuscado.
Mesmo com a participação de atrizes fabulosas como Amy Adams (Trapaça), Olivia Wilde (Rush: No Limite da Emoção) e Rooney Mara (Terapia de Risco), Joaquin Phoenix é uma estrela que ofusca todas as outras – talvezScarlett Johansson tenha tido, sim, destaque, por realizar uma interpretação vocal magistral. Mas, ainda sobre Phoenix, em O Mestre ele podia duelar com o já saudoso Philip Seymour Hoffman (Jogos Vorazes: Em Chamas), mas aqui, todo elenco empalidece diante de um desempenho sutil e competentíssimo. Tinha-se em Freddie Quell uma figura animalesca, incapaz de ser domesticada, em Theodore Twombly vemos um sujeito sensível, frágil e adorável. Distintos personagens que só ratificam o tamanho talento do ator.
A trilha sonora, que foi feita em meio à criação fílmica, desde sua gênese, é assinada pela banda canadense de indie rock, Arcade Fire, já parceira de Jonze em clipes e curtas. E que, em nenhum momento, se deixa levar pelo estilo e impetra quase a perfeição, por criar uma trilha que casa, completamente, com o clima proposto na fita. É perceptível o quanto Win Butler e o diretor estavam conectados para esse trabalho. Bem como a fotografia do sempre excelente Hoyte Van Hoytema (O Espião Que Sabia Demais), que acompanha o trabalho de cores e confere, através de lentes mais claras, um aspecto reflexivo e confortante.
Primoroso, mesmo, é constatar o poder que a obra emana. O quanto nos faz pensar, não apenas no que se refere ao conto, em sua forma literal, mas o conteúdo elucidado fora da tela. Pode até parecer preocupante pra alguns, mas fará com que outros se deparem com a mesma situação. Principalmente pelo desfecho, que mais parece a canção Só se for a dois, composta por Cazuza. Pois, como é de conhecimento popular, as possibilidades de felicidade são irrefutavelmente egoístas. Viver a liberdade e amar de verdade, só se for realmente a dois. E esse é o sentindo de absorção do conto, um ultimato do que é a vida e o amor. Provando, de uma vez por todas, o quão singular é o trabalho de Spike Jonze.