quarta-feira , 26 fevereiro , 2025
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Sangue no Gelo

O ASSASSINO DO ALASCA 

Escrito e dirigido pelo iniciante Scott Walker, Sangue no Gelo é baseado em fatos reais. A trama apresenta uma caçada humana por um provável serial killer que vem atacando e matando diversas prostitutas no Alasca. Quando uma de suas vítimas consegue fugir e sobreviver, ela identifica o boa praça e cidadão exemplar Robert Hansen como o autor dos atos repugnantes. A questão é: qual palavra vale mais, a de um cidadão modelo e chefe de família, ou a de uma jovem prostituta, fugitiva de casa, e drogada. Um homem acredita na palavra da garota, o policial Jack Halcombe, que investiga o caso.

Sangue no Gelo (The Frozen Ground) obviamente possui uma história real estarrecedora, que merecia ser contada e divulgada ao público. Existem dois grandes problemas em relação à obra. O primeiro é justamente a sua trama, que embora seja trágica e poderosa, é também o mais básico clichê de qualquer suspense saído da mente de um roteirista iniciante. Temos por exemplo, a grande semelhança com Beijos que Matam, protagonizado por Morgan Freeman e Ashley Judd. Em termos do boa praça acima de qualquer suspeita, Bernie – também baseado em fatos reais, dirigido por Richard Linklater, acaba de ser igualmente lançado em vídeo no Brasil.

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O outro fator que não ajudou a vender a obra foi a presença de seus protagonistas, ex-garotos de ouro de Hollywood em sua fase de semi-ostracismo devido a trabalhos, digamos, indignos de seu talento. Nicolas Cage e John Cusack são os nomes de peso por trás do projeto. Cage (que ensaia um retorno com o elogiado Joe, exibido no Festival do Rio) é motivo de chacota o suficiente, e Cusack não fica muito atrás (embora igualmente tenha entregue bons trabalhos recentes, em especial ao lado do diretor Lee Daniels – Obsessão e O Mordomo da Casa Branca). No filme, Cage é o detetive incansável, enquanto Cusack é o provável psicopata. A produção seria mais interessante se o roteiro decidisse ocultar a verdade sobre o personagem de Cusack até a última hora.

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O ponto positivo aqui é o desempenho da menina Vanessa Hudgens, como a jovem prostituta perdida, que pode ou não estar dizendo a verdade. Hudgens, saída de filmes da Disney, vem fazendo escolhas interessantes em sua carreira. Isso é, de uns tempos para cá (vamos esquecer A Fera e Viagem 2, para o bem desse argumento). Ela viveu uma das guerreiras fetiche de Sucker Punch – Mundo Surreal, de Zack Snyder, e esse ano entregou seu trabalho mais desafiador no ousado Spring Breakers – Garotas Perigosas, do diretor Harmony Korine. Aqui, Hudgens tem o melhor desempenho de sua carreira, e consegue ser nosso elo de ligação com a trama. Talvez seja a única realmente empenhada e não ligada no automático. Essa é uma grande atuação dessa jovem atriz. E talvez um dos poucos motivos para se recomendar Sangue no Gelo. Só resta saber o quanto você acha que isso é o suficiente.

O Grande Mestre

(Yi dai zong shi/The Grandmaster)

 

Elenco:

Tony Leung, Zhang Ziyi, Chang Chen, Qingxiang Wang, Elvis Tsui, Hye-kyo Son, Chia Yung Liu, Chiu Yee Tsang, Hoi-Pang Lo, Shun Lau.

Direção: Wong Kar Wai

Gênero: Ação

Duração: 130 min.

Distribuidora: California Filmes

Orçamento: US$ — milhões

Estreia: 11 de Setembro de 2014

Sinopse:

A história verídica de Ip Man, o mestre de artes marciais que ficou conhecido no Ocidente por ter sido o mentor de Bruce Lee. No fim dos anos 30, no sul da China, ele derrota o grande e respeitado mestre Gong Yutian. A linda Gong Er, filha de Yutian, jura vingar a honra de seu pai e desafia Ip para uma luta. Tudo muda quando a Segunda Guerra Mundial se intensifica e Ma San, o melhor pupilo de Gong Yutian, escolhe o lado inimigo.

Curiosidades:

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Trailer:

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Cartazes:

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Fotos:

 

 

O Sistema

MOVIMENTOS NOTURNOS

A essa altura todos os cinéfilos deveriam saber quem é Brit Marling. Um dos mais interessantes novos nomes do cinema americano, a talentosa jovem atriz, produtora, roteirista e diretora de 31 anos de idade começou a carreira só em meados da década passada. No entanto, foi o suficiente para deixar sua marca como uma das figuras mais proeminentes do cinema americano independente. Marling possui poucos trabalhos, mas bons o suficiente para chamarem a atenção.  Dois em especial alavancaram sua carreira. Escritos, produzidos e protagonizados por ela, A Outra Terra (2011) e Sound of My Voice (2012) receberam elogios da imprensa especializada, e foram sucesso em festivais. Só A Outra Terra (um de meus filmes preferidos daquele ano) chegou ao Brasil, por enquanto.

Hoje, Marling dá passos mais ambiciosos, e deixa a carreira evoluir. Ainda em 2012 assumiu o papel apenas de atriz em produções de prestígio. Foi a filha de Richard Gere no elogiado A Negociação, um dos melhores suspenses dos últimos anos. E em Sem Proteção, atuou ao lado de um grande elenco comandado pelo veterano Robert Redford. Agora, Marling se reúne ao diretor Zal Batmanglij (Sound of My Voice) para contar a história do grupo anarquista conhecido como “The East”. Com roteiro assinado pela própria atriz, ao lado do diretor, a trama se baseia nas operações de um grupo de ecoterroristas. Um dos pontos interessantes do filme é apresentar de forma honesta o suficiente, a forma como tais pessoas vivem, desapegadas da maioria dos conceitos de cidadãos comuns. Além disso, seus ideais e filosofias são fortes elementos aqui.

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Marling vive uma agente especial, funcionária de uma empresa privada, cuja missão é se infiltrar no grupo para frustrar seus ataques. Para isso, a decidida personagem (com toques do idealismo de Clarice Starling, outra grande feminista do gênero) precisa passar por um verdadeiro teste físico e psicológico. Nem mesmo seu companheiro sabe de toda a verdade sobre seu emprego. Seu único elo é sua superiora, interpretada por Patricia Clarkson (Ilha do Medo). Outros nomes de destaque na obra são os de Alexander Skarsgard (da série True Blood) e Ellen Page (Juno), eles vivem respectivamente Benji e Izzi, os cabeças do grupo. Os extremistas acreditam em ações diretas contra todos os grandes empresários que gananciosamente colaboram com a destruição imediata do planeta.

Dentre suas principais missões contam ataques contra empresas farmacêuticas cujos medicamentos causam grandes danos cerebrais, e a uma fábrica que despeja seu lixo tóxico num lago. O Sistema é o tipo de filme interessante e relevante que teria sido feito na década de 1970, mas que funciona igualmente hoje. Recentemente temos visto algumas obras com o tema, que variam desde o citado projeto chamativo de Robert RedfordSem Proteção, até o independente e despercebido Night Moves, estrelado por Jesse Eisenberg e Dakota Fanning. Talvez seja a forma de Hollywood se mostrar solícita e reconhecer o problema.

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O núcleo de O Sistema é a personagem de Marling, e como ela lida com sua vida dupla, uma vez conhecendo de perto seus “inimigos” e com eles criando grandes laços de afeto e confiança. A personagem passa a compreender as diferentes percepções, e inclusive as motivações. A obra não é crua o suficiente em seu desfecho, e acaba apelando ao politicamente correto. Mas não deixa de ter um resultado positivo.

Arthur Newman

Dirigido pelo estreante Dante Ariola, Arthur Newman é quase uma grande brincadeira de faz de contas onde a realidade vai ficando para trás dando lugar a sonhos, desejos e ações executados por alter egos diversos. O filme, que conta com mais uma atuação maravilhosa de Colin Firth (Direito de Amar), é uma grande estrada sem direção, o que pode incomodar alguns. A falta de objetivos dos personagens é abordada dentro da trama. Eles são guiados por desejos reprimidos, fantasias do que acham ser a felicidade. Tem uma personalidade de um road movie mas na verdade é um drama profundo e inteligente que tem como pano de fundo a relação entre pais e filhos.

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Na trama, conhecemos um homem desiludido com sua vida profissional e pessoal. Certo dia, resolve fugir e plantar evidências do seu desaparecimento em uma deserta ilha longe de casa. Na estrada, à bordo de um conversível clássico esbarra com uma mulher completamente insana e juntos vivem dias intensos vivendo literalmente a vida de outras pessoas. A fita tem um dinamismo peculiar que se encaixaria como uma luva no formato peça de teatro. Seria uma interessante adaptação, desde já fica a dica aos que circulam pelo mundo do teatro no Brasil.

Por incrível que pareça, e a sinopse não entrega isso de jeito nenhum, o longa-metragem roteirizado por Becky Johnston (que escreveu o roteiro do maravilhoso Sete Anos no Tibet), é um grande drama familiar, com foco na relação pais e filhos. Conforme somos apresentados aos fatos do passado dos personagens, subtramas ricas em emoção, principalmente os diálogos interessantes que surgem entre o filho abandonado e a atual mulher abandonada chegam para completar as lacunas de algumas dúvidas que surgem sobre os objetivos dos personagens.

Arthur Newman, Golf Pro

Emily Blunt já é expert em construção de personagens esquisitos. Vimos isso em Sunshine Cleaning e Your Sister’s Sister. A bela atriz britânica precisa tomar um certo cuidado para não cair na mesmice, algumas de suas personagens são muito parecidas. Nesse filme, por exemplo, sua personagem parece a continuação de outras que já teve na carreira. Já o ganhador do Oscar Colin Firth, mais competente do que nunca, consegue passar toda a aflição de seu difícil personagem com a maestria de sempre.

O filme tem alguns momentos água com açúcar mas ganha um ritmo bacana quando os personagens começam a viver a vida de outros casais. Isso acontecendo na história, o filme eleva sua qualidade guiado pela ótima sintonia entre os protagonistas. É um longa muito indicado para psicólogos, sociólogos. Esses, terão vários assuntos para discutir com seus alunos em sala de aula. Não percam!

Ensaio

Um aulão pré-vestibular sobre a Revolução Farroupilha

Parece que a dança misturada com dramaturgia vem ganhando cada vez mais espaço nos nossos cinemas. Depois do interessante Esse Amor que nos Consome, chega aos cinemas na próxima sexta-feira (29) o trabalho da diretora Tânia Lamarca, Ensaio. Elementos de dança, teatro e cinema se misturam de maneira desencontrada transformando uma simples história em uma experiência profunda mas com uma beleza poética fruto dos belos movimentos corporais dos personagens principais. Rodado todo em Florianópolis, o longa metragem parece um aulão pré-vestibular sobre a Revolução Farroupilha.

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Ensaio, rodado no longínquo ano de 2010, conta a história de um excêntrico diretor de um espetáculo de dança chamado Caio (Chico Caprario) que esta preste a estrear seu novo projeto, um trabalho meticuloso sobre Anita e Garibaldi. Seus dois bailarinos principais, Eva (Lavínia Bizzotto) e Daniel (Bruno Cezario) que dão vida aos protagonistas, demonstram toda suas dores e conflitos pessoais durante esses ensaios. Eva enfrenta uma gravidez indesejada e o seu parceiro de palco, lembranças do passado em sua terra natal aterrorizada pela ditadura militar décadas atrás.

As poderosas batidas nas teclas do piano e o som envolvente dos violinos, fruto da trilha sonora do pianista e compositor Alberto Andrés Heller, tentam rechear o filme de tensão e emoção. O problema é que em alguns momentos o que acontece em cena não é compatível com as melodias, confundindo o espectador. Não há profundidade nos papéis e o roteiro é falho em não conseguir construir com bom senso a ponte entre as danças e a história. Resumindo, o filme passa longe de ser harmônico se perdendo na tentativa de ser uma obra feita para cinema.

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Um dos grandes pecados do projeto é a falta de objetivos dos elementos que aparecem em cena mesmo com as visíveis doações emocionais dos artistas. O personagem Caio, diretor do espetáculo, é um eterno descontrolado dentro da trama deixando o público confuso muitas vezes. Um breve oásis quando pensamos em competência cênica é a atriz Lavínia Bizzotto, intérprete de Eva, que mostra uma entrega intensa de corpo, alma e coração, levando o filme nas costas em quase todos os momentos.

Na tentativa de ser um filme com os padrões cinematográficos, propriamente dito, Ensaio acaba sendo uma experiência que testa o público em interações não muito comuns quando pensamos em sétima arte. É um trabalho que será elogiado por Ana Botafogo, Deborah Colker e Carlinhos de Jesus pois convence muito mais sendo um espetáculo de dança do que sendo um filme para cinema.

Vovó… Zona 3: Tal Pai, Tal Filho

(Big Mommas: Like Father, Like Son)

 

Elenco: Martin Lawrence, Max Casella, Jessica Lucas, Portia Doubleday, Brandon T. Jackson.

Direção: John Whitesell

Gênero: Comédia

Duração: — min.

Distribuidora: Fox Film

Estreia: 04 de Março de 2011

Sinopse: Em ‘Vovó… Zona 3‘, o agente Malcolm Turner e seu enteado Trent precisam se disfarçar de vovozonas com a finalidade de ajudar estudantes de uma escola, testemunhas de um assassinato.

Curiosidades:

» Randi Mayem Singer (‘Uma Babá Quase Perfeita’) é o roteirista.

» ‘Vovó… Zona‘ arrecadou US$ 170 milhões mundialmente, enquanto a sequência fez US$ 138 milhões.


Trailer:


Cartazes:

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Fotos:

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Somos o que Somos

A Família Hannibal

Tentando criar uma atmosfera de suspense do início ao fim, o cineasta Jim Mickle (Stake Land – Anoitecer Violento) chega aos nossos cinemas na próxima sexta-feira (29) com seu mais recente trabalho. Somos o que Somos é um filme em que não existem risos. Caras sisudas, ambientes lúgubres e diálogos com citações religiosas fervorosas recheiam essa sonolenta fita, um remake de um longa-metragem mexicano escrito e dirigido por Jorge Michel Grau, que peca por não conseguir desenvolver muito bem os personagens principais da história.

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Na trama, conhecemos a família Parker que logo de cara sofre com o falecimento suspeito da matriarca e com a chegada de uma tempestade terrível. Esses dois acontecimentos mexem com a rotina da pacata família que esconde segredos inimagináveis do resto da população da cidadezinha em que vivem. A figura do pai, interpretado de maneira preguiçosa pelo ator Bill Sage (Preciosa – Uma História de Esperança), não consegue avultar-se sobre a história. Toda a trama gira em torno deste personagem que passa o tempo todo com a cara fechada, amargurada, cozinhando e tentando esconder os segredos de sua família a qualquer preço.

O roteiro do filme é aquele quebra-cabeça dos mais difíceis de encontrar as peças certas nos encaixes corretos. O público percebe que está prestes a se surpreender nas próximas cenas e analisa com cuidado todas as dicas que os personagens deixam em suas atitudes suspeitas. Um ritual de passagem, uma tradição familiar sinistra, o confronto ideológico entre o certo e errado das duas jovens irmãs são abordados de maneira superficial deixando de criar uma sintonia entre trama e público.

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Em alguns momentos, as cenas geram um certo calafrio e indigestão. As surpresas macabras vão sendo mostradas e deixando o espectador aterrorizado com o ritual da família Parker. Mas o filme não consegue ser mais do que uma trama misteriosa, deixa tantas lacunas para serem completadas que chega ao desfecho com o público sentindo falta de maiores explicações e mais desenvolvimento da história e dos personagens. Entre um desses personagens mal desenvolvidos, Marge a vizinha da família, papel da eterna top gun girl, a sumida atriz Kelly McGillis (Top Gun: Ases Indomáveis).

A tentativa de criar uma família que Hannibal adoraria conhecer gera ao longo dos 110 minutos de filme uma frustração gigante. Não existe qualquer sintonia entre personagens, história e cinema. Porém, vale o aviso: se for assistir a esse filme não vá logo depois do almoço. Sem dúvidas, Somos o que Somos é uma sobremesa indigesta em muitos sentidos.

Questão de Tempo

Um pôster do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain preso na parede de um quarto já era o primeiro indicador que iríamos conhecer um sonhador, romântico e que faz de tudo para ser feliz. Em Questão de Tempo, o diretor e roteirista neo zelandês Richard Curtis (Um Lugar Chamado Notting Hill) nos leva a conhecer Tim e sua incrível jornada à procura de um futuro ao lado de um grande amor. Uma trilha sonora jovem e popular embala esse ótimo trabalho que é aquele tipo de filme que todo mundo na sala de cinema faz uma corrente imaginária positiva para que o desfecho seja feliz.

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Quem nunca sonhou em poder brincar de viajar no tempo? Nesta fantástica história de amor, perdas e sonhos conhecemos Tim (Domhnall Gleeson) um jovem advogado, tímido e brigado com o barbeiro que mora com os pais em uma casa grande cheia de alegria. Após tentar várias vezes se relacionar com diversas mulheres, sem êxito, e se mudar para longe da casa onde morou toda vida, descobre através de seu pai que possui o poder de voltar no tempo. Assim, com esse fato inusitado sendo usado como trunfo na manga, começa a buscar seu futuro que começa com um grande amor que aparece quando ele menos espera.

As confusões que já vimos em outros filmes sobre as consequências de mudança em acontecimentos passados são apresentadas de maneira leve, descontraída, sempre aproximando o público da história. Alguns podem achar o projeto uma mistura de Como se fosse a primeira vez e Efeito Borboleta mas o filme é muito maior que esses outros dois títulos, talvez por conta das mensagens que são passadas de maneira leve e transparente para o espectador.

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Aos poucos as viagens no tempo se tornam desnecessárias pois a vida em sua simplicidade se mostra prazerosa na visão do protagonista. Essa é uma das inúmeras e belas mensagens que o filme passa, com a ajuda dos ótimos atores em cena. Fábulas sobre a busca pelo amor sempre emocionam os cinéfilos. Esse filme não foge à regra, principalmente quando bate na tecla de que ninguém pode ser preparado para o amor ou para o medo.

Domhnall Gleeson (Anna Karenina) interpreta o protagonista e leva muito bem seu personagem sempre com ótimas tiradas e muito humor. Rachel McAdams (Amor Pleno) – chamada às pressas já que o papel era de Zooey Deschanel (Sua Alteza?) – está muito firme e delicada no papel de Mary, o grande amor que Tim procurava. O britânico Bill Nighy (Jack, o Caçador de Gigantes) rouba a cena sempre que aparece. Seu personagem é uma espécie de ponto de interseção entre o protagonista e o restante do elenco. Uma atuação digna de Oscar deste veterano artista.

O público interage bastante durante a projeção. Os diálogos e o modo como é conduzida as questões de viagens no tempo conquistam rapidamente o público. O desfecho é lindo, valendo cada centavo do ingresso caro que você pagará aqui no Brasil para conhecer essa inesquecível história. A vida pode ser simples e porque não extraordinária também? Você precisa conhecer essa história. Bravo!

Trem Noturno para Lisboa

Do que sentimos falta no fim de nossas vidas? Dirigido pelo veterano cineasta dinamarquês Bille August (A Casa dos Espíritos) e com um roteiro adaptado do best seller homônimo de Pascal Mercier, Trem Noturno para Lisboa poderia ser um filme qualquer sobre revoluções, amor e mistérios. A questão é que seu protagonista é fascinante, contando com uma das maiores atuações da carreira do excelente ator britânico Jeremy Irons (Dezesseis Luas).

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Certo dia em sua vida monótona, o Professor Raimund Gregorius caminha a passos largos em direção a escola onde dá aula. Ao se ver diante de uma bela donzela a caminho do suicídio, intervém e a salva da eminente fatalidade. Com pressa para não perder o horário, convida a moça para assistir sua aula. Após alguns minutos, a ex-suicida vai embora deixando seu casaco vermelho e um livro do desconhecido escritor Amadeu do Prado. Fascinando pelas palavras que descobre a cada página virada, o Professor Gregorius embarca em uma aventura para descobrir a história desse fascinante autor.

O filme vale muito ser conferido pela atuação magistral de Irons. O ganhador do Oscar está fabuloso na pele do professor Raimund Gregorius, protagonista da história. Sensível, passando uma verdade que impressiona e com um espírito aventureiro aguçado, convence o público desde o primeiro segundo em cena. Entre os coadjuvantes, nomes poderosos do cinema mundial, como: Christopher Lee (O Hobbit: Uma Jornada Inesperada), Charlotte Rampling (Jovem e Bela) e Bruno Ganz (O Conselheiro do Crime) dão o ar de sua graça, ajudando o personagem principal a encontrar suas respostas.

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O roteiro cinematográfico, adaptado do famoso livro de Pascal Mercier é focado em flashbacks que são utilizados para preencher as lacunas que são deixadas pelo personagens que aparecem no presente. A busca do protagonista por respostas a todo custo empolga o espectador que fica ansioso em descobrir os segredos dessa misteriosa e romântica trama. Sendo guiado pelos pensamentos e historias de Amadeu do Prado, o tímido professor vai atrás dos verdadeiros fatos que deram origem aquelas palavras.

Com o protagonista falando em inglês com todo mundo em plena Portugal dos dias atuais, talvez uma licença poética que nós cinéfilos fingimos que não vemos, acompanhamos com os olhos grudados na telona os acontecimentos, até o seu final indefinido, deixando para o público escolher o desfecho dessa curiosa história. Pegue seu carro, vá de ônibus, entre no metrô ou até mesmo, para entrar no clima, vá de trem correndo para os cinemas conferir esse belo trabalho de Irons e companhia.

Alabama Monroe

Já dizia o poeta Renato Russo: “Quando tudo está perdido, sempre existe um caminho” ! Mas será? Dirigido pelo cineasta Felix Van Groeningen (que fez um excepcional trabalho em The Misfortunates), o indicado da Bélgica ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2014, é um filme que vai levar o espectador ao limite do sofrimento e emoção. Alabama Monroe é um drama praticamente impecável que conta ainda com uma trilha sonora espetacular.

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Na comovente história, conhecemos Elise (Veerle Baetens) e Didier (Johan Heldenbergh), duas almas que se encontram e de cara se apaixonam perdidamente um pelo outro, mesmo com tantas diferenças e particularidades. Didier é um músico apaixonado, inspirado e Elise é mais pés no chão, realista e dona de um estúdio de tatuagem. Assim, cheios de amor nos corações eles têm uma filha chamada Maybelle (Nell Cattrysse). Quando a criança fica gravemente doente, o filme toma rumos inesperados e esse amor é levado a um julgamento cruel e com poucas chances de final feliz.

O roteiro anda em total sintonia com tudo que aparece nas telonas. Com a história nos trilhos, o palco é montado para as atuações inspiradas de Veerle Baetens e Johan Heldenbergh. Ao som de uma trilha sonora que mistura folk e uma espécie de country europeu, a emoção de cada cena chega ao público de maneira profunda tornando impossível o coração não ficar apreensivo. Mamães e papais que irão assistir a esse filme vão entender melhor quando conferirem esse belíssimo trabalho.

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A mulher moderna, centrada, responsável e tatuada dá lugar a uma mulher desesperada, inconsequente, sem rumo. Pela primeira vez na vida não sabe como superar um momento difícil. Os diálogos entre o casal, logo após os acontecimentos bombásticos que circulam o filme são de uma intensidade que impressionam, transportam o espectador para dentro dos cenários. A escorreita direção dessas cenas é a cereja do bolo deste projeto que é o representante da Bélgica na próxima grande festa do cinema.

Alabama Monroe tem quase duas horas de projeção, fato que nem percebemos por conta do tamanho envolvimento a que somos submetidos. Os olhos enchem d`água, a emoção toma conta da sala de cinema, é uma jornada aos conflitos mais profundo de um relacionamento. Preparem os lenços, fortaleçam os corações e confiram este belíssimo e doloroso longa-metragem. Bravo!