quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica 2 | Taika Waititi se perde no próprio estilo em ‘Quem Fizer Ganha’

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Já está em cartaz nos cinemas brasileiros a nova comédia do ator, diretor e roteirista Taika Waititi. Ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por Jojo Rabbit, Taika surgiu para o mundo com as comédias indie. A visão diferenciada do diretor, que abraçou o humor excessivamente expositivo como sua principal característica, chamou atenção dos grandes estúdios, que foram atrás dele para reinventar a franquia Thor nos cinemas. Até chegar à glória máxima da vitória na premiação mais cobiçada de Hollywood, Waititi conquistou uma base sólida de fãs com seu estilo irreverente e provocador. No entanto, desde o começo da pandemia, o artista vem sofrendo alguma dificuldade de emplacar novos sucessos.

O que inicialmente o levou ao estrelato começou a dar sinais de cansaço. Seu estilo de humor, antes inovador, caiu no lugar comum. E agora, o neozelandês embarca em um projeto menor para tentar voltar às raízes com uma dramédia esportiva sobre a pior seleção do mundo. Em Quem Fizer Ganha, (escrito, atuado, produzido e dirigido por ele) Taika leva o público para a ilha Samoa Americana, que ficou eternamente marcada pela maior derrota da história do futebol profissional de seleções – um vexatório 31×0 para a Austrália, nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002. Dez anos depois, diante de mais humilhações, a federação da ilha contrata um técnico estrangeiro para tentar fazer com que esse bando de perna de pau marque pelo menos um gol nas eliminatórias para a Copa de 2014. E aí começa um choque cultural gigantesco.



Foto: Hilary Bronwyn Gayle. Divulgação/ Searchlight Pictures.

Pense num projeto que tinha absolutamente tudo para der certo. Inspirado em uma surpreendente história real, o longa chega com todo aquele jeitão de dramédia esportiva motivacional, ao melhor estilo Jamaica Abaixo de Zero (1993); Conta com um elenco composto por atores não conhecidos no cenário internacional, acompanhados de um medalhão de Hollywood; Traz um diretor que já chegou ao auge e agora busca voltar às origens em um projeto menor… Era uma daquelas situações que pareciam impossíveis de dar errado. Infelizmente, um desses elementos acabou mais complicando que ajudando e acabou tirando o filme dos trilhos.

A participação de Taika Waititi é um desastre. O diretor acerta em muitos momentos, principalmente na hora de abordar os dramas pessoais do time e exaltar, de forma irônica, as simplicidades da ilha, que é rica em cultura e aceitação. Mas lembra na introdução da crítica quando disse que o humor dele já dava sinais de desgaste? Neste filme, ele se desgasta de vez. No início, a abordagem expositiva da comédia até funciona, só que ele começa a repetir as piadas, explorar a comédia da mesma forma em todos os momentos, fazendo com que não haja uma crescente no humor. Ele estaciona na mesmice e isso cansa. É um filme de menos de 1h40 de duração, mas quando chega na terceira vez que ele zoa o treinamento da seleção, que é praticamente um pique-pega, o público já dá uma leve revirada nos olhos.

Taika Waititi comprometeu seu próprio projeto. Foto: Hilary Bronwyn Gayle. Divulgação/ Searchlight Pictures.

A direção de Taika é algo tão desgastado que há vários momentos em que fica a sensação de que ele está fazendo uma paródia não intencional de si mesmo. O que é uma pena, porque a história original é realmente muito boa e os personagens da ilha são apaixonantes.

O treinador estrangeiro, o holandês Thomas Rongen, tem a história contada por seu ponto de vista, mas é outro que sofre com o texto e a direção de Waititi. Esquentadinho, ele é um bad boy do futebol. Conhecido por seu descontrole nos campos, seja como jogador ou como treinador, ele chega ao cargo como um tipo de punição por não conseguir resultados comandando a seleção dos EUA. Em sua passagem na ilha, Rongen tinha tudo para ser mostrado no estereótipo do White Savior. Taika até faz uma piada com isso assim que o treinador desembarca na ilha. E parece haver um esforço tão grande para evitar que o filme tome esse rumo, que eles apenas desistem de tentar desenvolver melhor o personagem que dita o ritmo da história. Então, no sensacional ato final, quando vemos o time enfim jogar uma partida de futebol, o diretor corre atrás do tempo perdido e tentar resolver um desenvolvimento dramático enorme em um espaço de 10 minutos. Não dá nem para culpar o ator Michael Fassbender, que faz o possível dentro do que foi dado a ele para trabalhar. É algo que recai sobre o roteiro e a direção.

Foto: Hilary Bronwyn Gayle. Divulgação/ Searchlight Pictures.

Dados os pontos negativos, Quem Fizer Ganha não é uma tragédia total. O filme consegue se salvar por conta dos personagens extremamente carismáticos e por um elenco, em grande maioria composto por neozelandeses e tailandeses, que dão a vida e para conquistar o público.

É divertido ver as várias profissões que os jogadores da seleção desempenham para manter vivo o sonho de jogar futebol. Ainda assim, eles não encaram o esporte como um obsessão, mas como um jogo. Afinal, a ilha sequer tem um campeonato profissional. E por mais irreverente – e por vezes, absurdo – que possa parecer, essa é uma realidade para muitos times e seleções pelo planeta. Na Copa do Mundo de 2018, por exemplo, a Seleção da Islândia se classificou para o maior torneio do planeta com um time incomum. Em meio a jogadores profissionais de ligas menores, o técnico do país também era dentista, e o goleiro era diretor de cinema. Todo mundo ama um azarão e o selecionado da Samoa Americana é a definição mais que perfeita desse conceito.

Divulgação/ Searchlight Pictures.

Os destaques são o ator Oscar Kightley, que interpreta o presidente da federação de futebol local, e a estreante Kaimana, tailandesa que dá vida a uma das principais vozes pelos direitos transexuais no esporte, que rouba a cena toda vez que aparece, em uma atuação realmente poderosa.

A abordagem dos costumes da ilha, por mais que sejam ridicularizados na maior parte do tempo, é interessante e deixa aquele gostinho de querer saber mais sobre o lugar. Na verdade, o grande mérito do filme é fazer esse outdoor para a Samoa Americana, quase desconhecida para o ocidente. É um ambiente acolhedor, compreensivo e religiosamente respeitoso. Além de trazer paisagens espetaculares e costumes curiosos desses povos originários.

Foto: Hilary Bronwyn Gayle. Divulgação/ Searchlight Pictures.

O grande momento da história é o jogo pelas eliminatórias. Apesar de uma barriga na hora da convocação, que quebra o ritmo da trama, o clímax compensa em vinte minutos de pura emoção e diversão. É realmente engraçado e traz um humor mais criativo pela parte de Taika, o que deixa aquela dúvida: “por que ele não ousou mais no resto do filme?”.

Com personagens fantásticos e uma história real muito boa, Quem Fizer Ganha é o típico filme Sessão da Tarde, que cansa e diverte na mesma proporção. Prejudicado pela direção cansada e redundante de Taika Waititi, o longa não decola, mas também não afunda. Uma pena, porque tinha potencial para ser espetacular.

Quem Fizer Ganha está em cartaz nos cinemas.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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O que inicialmente o levou ao estrelato começou a dar sinais de cansaço. Seu estilo de humor, antes inovador, caiu no lugar comum. E agora, o neozelandês embarca em um projeto menor para tentar voltar às raízes com uma dramédia esportiva sobre a pior seleção do mundo. Em Quem Fizer Ganha, (escrito, atuado, produzido e dirigido por ele) Taika leva o público para a ilha Samoa Americana, que ficou eternamente marcada pela maior derrota da história do futebol profissional de seleções – um vexatório 31×0 para a Austrália, nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002. Dez anos depois, diante de mais humilhações, a federação da ilha contrata um técnico estrangeiro para tentar fazer com que esse bando de perna de pau marque pelo menos um gol nas eliminatórias para a Copa de 2014. E aí começa um choque cultural gigantesco.

Foto: Hilary Bronwyn Gayle. Divulgação/ Searchlight Pictures.

Pense num projeto que tinha absolutamente tudo para der certo. Inspirado em uma surpreendente história real, o longa chega com todo aquele jeitão de dramédia esportiva motivacional, ao melhor estilo Jamaica Abaixo de Zero (1993); Conta com um elenco composto por atores não conhecidos no cenário internacional, acompanhados de um medalhão de Hollywood; Traz um diretor que já chegou ao auge e agora busca voltar às origens em um projeto menor… Era uma daquelas situações que pareciam impossíveis de dar errado. Infelizmente, um desses elementos acabou mais complicando que ajudando e acabou tirando o filme dos trilhos.

A participação de Taika Waititi é um desastre. O diretor acerta em muitos momentos, principalmente na hora de abordar os dramas pessoais do time e exaltar, de forma irônica, as simplicidades da ilha, que é rica em cultura e aceitação. Mas lembra na introdução da crítica quando disse que o humor dele já dava sinais de desgaste? Neste filme, ele se desgasta de vez. No início, a abordagem expositiva da comédia até funciona, só que ele começa a repetir as piadas, explorar a comédia da mesma forma em todos os momentos, fazendo com que não haja uma crescente no humor. Ele estaciona na mesmice e isso cansa. É um filme de menos de 1h40 de duração, mas quando chega na terceira vez que ele zoa o treinamento da seleção, que é praticamente um pique-pega, o público já dá uma leve revirada nos olhos.

Taika Waititi comprometeu seu próprio projeto. Foto: Hilary Bronwyn Gayle. Divulgação/ Searchlight Pictures.

A direção de Taika é algo tão desgastado que há vários momentos em que fica a sensação de que ele está fazendo uma paródia não intencional de si mesmo. O que é uma pena, porque a história original é realmente muito boa e os personagens da ilha são apaixonantes.

O treinador estrangeiro, o holandês Thomas Rongen, tem a história contada por seu ponto de vista, mas é outro que sofre com o texto e a direção de Waititi. Esquentadinho, ele é um bad boy do futebol. Conhecido por seu descontrole nos campos, seja como jogador ou como treinador, ele chega ao cargo como um tipo de punição por não conseguir resultados comandando a seleção dos EUA. Em sua passagem na ilha, Rongen tinha tudo para ser mostrado no estereótipo do White Savior. Taika até faz uma piada com isso assim que o treinador desembarca na ilha. E parece haver um esforço tão grande para evitar que o filme tome esse rumo, que eles apenas desistem de tentar desenvolver melhor o personagem que dita o ritmo da história. Então, no sensacional ato final, quando vemos o time enfim jogar uma partida de futebol, o diretor corre atrás do tempo perdido e tentar resolver um desenvolvimento dramático enorme em um espaço de 10 minutos. Não dá nem para culpar o ator Michael Fassbender, que faz o possível dentro do que foi dado a ele para trabalhar. É algo que recai sobre o roteiro e a direção.

Foto: Hilary Bronwyn Gayle. Divulgação/ Searchlight Pictures.

Dados os pontos negativos, Quem Fizer Ganha não é uma tragédia total. O filme consegue se salvar por conta dos personagens extremamente carismáticos e por um elenco, em grande maioria composto por neozelandeses e tailandeses, que dão a vida e para conquistar o público.

É divertido ver as várias profissões que os jogadores da seleção desempenham para manter vivo o sonho de jogar futebol. Ainda assim, eles não encaram o esporte como um obsessão, mas como um jogo. Afinal, a ilha sequer tem um campeonato profissional. E por mais irreverente – e por vezes, absurdo – que possa parecer, essa é uma realidade para muitos times e seleções pelo planeta. Na Copa do Mundo de 2018, por exemplo, a Seleção da Islândia se classificou para o maior torneio do planeta com um time incomum. Em meio a jogadores profissionais de ligas menores, o técnico do país também era dentista, e o goleiro era diretor de cinema. Todo mundo ama um azarão e o selecionado da Samoa Americana é a definição mais que perfeita desse conceito.

Divulgação/ Searchlight Pictures.

Os destaques são o ator Oscar Kightley, que interpreta o presidente da federação de futebol local, e a estreante Kaimana, tailandesa que dá vida a uma das principais vozes pelos direitos transexuais no esporte, que rouba a cena toda vez que aparece, em uma atuação realmente poderosa.

A abordagem dos costumes da ilha, por mais que sejam ridicularizados na maior parte do tempo, é interessante e deixa aquele gostinho de querer saber mais sobre o lugar. Na verdade, o grande mérito do filme é fazer esse outdoor para a Samoa Americana, quase desconhecida para o ocidente. É um ambiente acolhedor, compreensivo e religiosamente respeitoso. Além de trazer paisagens espetaculares e costumes curiosos desses povos originários.

Foto: Hilary Bronwyn Gayle. Divulgação/ Searchlight Pictures.

O grande momento da história é o jogo pelas eliminatórias. Apesar de uma barriga na hora da convocação, que quebra o ritmo da trama, o clímax compensa em vinte minutos de pura emoção e diversão. É realmente engraçado e traz um humor mais criativo pela parte de Taika, o que deixa aquela dúvida: “por que ele não ousou mais no resto do filme?”.

Com personagens fantásticos e uma história real muito boa, Quem Fizer Ganha é o típico filme Sessão da Tarde, que cansa e diverte na mesma proporção. Prejudicado pela direção cansada e redundante de Taika Waititi, o longa não decola, mas também não afunda. Uma pena, porque tinha potencial para ser espetacular.

Quem Fizer Ganha está em cartaz nos cinemas.

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