sexta-feira , 21 fevereiro , 2025

Crítica 2 | Taika Waititi se perde no próprio estilo em ‘Quem Fizer Ganha’


Já está em cartaz nos cinemas brasileiros a nova comédia do ator, diretor e roteirista Taika Waititi. Ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por Jojo Rabbit, Taika surgiu para o mundo com as comédias indie. A visão diferenciada do diretor, que abraçou o humor excessivamente expositivo como sua principal característica, chamou atenção dos grandes estúdios, que foram atrás dele para reinventar a franquia Thor nos cinemas. Até chegar à glória máxima da vitória na premiação mais cobiçada de Hollywood, Waititi conquistou uma base sólida de fãs com seu estilo irreverente e provocador. No entanto, desde o começo da pandemia, o artista vem sofrendo alguma dificuldade de emplacar novos sucessos.

O que inicialmente o levou ao estrelato começou a dar sinais de cansaço. Seu estilo de humor, antes inovador, caiu no lugar comum. E agora, o neozelandês embarca em um projeto menor para tentar voltar às raízes com uma dramédia esportiva sobre a pior seleção do mundo. Em Quem Fizer Ganha, (escrito, atuado, produzido e dirigido por ele) Taika leva o público para a ilha Samoa Americana, que ficou eternamente marcada pela maior derrota da história do futebol profissional de seleções – um vexatório 31×0 para a Austrália, nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002. Dez anos depois, diante de mais humilhações, a federação da ilha contrata um técnico estrangeiro para tentar fazer com que esse bando de perna de pau marque pelo menos um gol nas eliminatórias para a Copa de 2014. E aí começa um choque cultural gigantesco.



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Foto: Hilary Bronwyn Gayle. Divulgação/ Searchlight Pictures.

Pense num projeto que tinha absolutamente tudo para der certo. Inspirado em uma surpreendente história real, o longa chega com todo aquele jeitão de dramédia esportiva motivacional, ao melhor estilo Jamaica Abaixo de Zero (1993); Conta com um elenco composto por atores não conhecidos no cenário internacional, acompanhados de um medalhão de Hollywood; Traz um diretor que já chegou ao auge e agora busca voltar às origens em um projeto menor… Era uma daquelas situações que pareciam impossíveis de dar errado. Infelizmente, um desses elementos acabou mais complicando que ajudando e acabou tirando o filme dos trilhos.

A participação de Taika Waititi é um desastre. O diretor acerta em muitos momentos, principalmente na hora de abordar os dramas pessoais do time e exaltar, de forma irônica, as simplicidades da ilha, que é rica em cultura e aceitação. Mas lembra na introdução da crítica quando disse que o humor dele já dava sinais de desgaste? Neste filme, ele se desgasta de vez. No início, a abordagem expositiva da comédia até funciona, só que ele começa a repetir as piadas, explorar a comédia da mesma forma em todos os momentos, fazendo com que não haja uma crescente no humor. Ele estaciona na mesmice e isso cansa. É um filme de menos de 1h40 de duração, mas quando chega na terceira vez que ele zoa o treinamento da seleção, que é praticamente um pique-pega, o público já dá uma leve revirada nos olhos.

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Taika Waititi comprometeu seu próprio projeto. Foto: Hilary Bronwyn Gayle. Divulgação/ Searchlight Pictures.

A direção de Taika é algo tão desgastado que há vários momentos em que fica a sensação de que ele está fazendo uma paródia não intencional de si mesmo. O que é uma pena, porque a história original é realmente muito boa e os personagens da ilha são apaixonantes.


O treinador estrangeiro, o holandês Thomas Rongen, tem a história contada por seu ponto de vista, mas é outro que sofre com o texto e a direção de Waititi. Esquentadinho, ele é um bad boy do futebol. Conhecido por seu descontrole nos campos, seja como jogador ou como treinador, ele chega ao cargo como um tipo de punição por não conseguir resultados comandando a seleção dos EUA. Em sua passagem na ilha, Rongen tinha tudo para ser mostrado no estereótipo do White Savior. Taika até faz uma piada com isso assim que o treinador desembarca na ilha. E parece haver um esforço tão grande para evitar que o filme tome esse rumo, que eles apenas desistem de tentar desenvolver melhor o personagem que dita o ritmo da história. Então, no sensacional ato final, quando vemos o time enfim jogar uma partida de futebol, o diretor corre atrás do tempo perdido e tentar resolver um desenvolvimento dramático enorme em um espaço de 10 minutos. Não dá nem para culpar o ator Michael Fassbender, que faz o possível dentro do que foi dado a ele para trabalhar. É algo que recai sobre o roteiro e a direção.

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Foto: Hilary Bronwyn Gayle. Divulgação/ Searchlight Pictures.

Dados os pontos negativos, Quem Fizer Ganha não é uma tragédia total. O filme consegue se salvar por conta dos personagens extremamente carismáticos e por um elenco, em grande maioria composto por neozelandeses e tailandeses, que dão a vida e para conquistar o público.

É divertido ver as várias profissões que os jogadores da seleção desempenham para manter vivo o sonho de jogar futebol. Ainda assim, eles não encaram o esporte como um obsessão, mas como um jogo. Afinal, a ilha sequer tem um campeonato profissional. E por mais irreverente – e por vezes, absurdo – que possa parecer, essa é uma realidade para muitos times e seleções pelo planeta. Na Copa do Mundo de 2018, por exemplo, a Seleção da Islândia se classificou para o maior torneio do planeta com um time incomum. Em meio a jogadores profissionais de ligas menores, o técnico do país também era dentista, e o goleiro era diretor de cinema. Todo mundo ama um azarão e o selecionado da Samoa Americana é a definição mais que perfeita desse conceito.

Assista também: 
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Divulgação/ Searchlight Pictures.

Os destaques são o ator Oscar Kightley, que interpreta o presidente da federação de futebol local, e a estreante Kaimana, tailandesa que dá vida a uma das principais vozes pelos direitos transexuais no esporte, que rouba a cena toda vez que aparece, em uma atuação realmente poderosa.

A abordagem dos costumes da ilha, por mais que sejam ridicularizados na maior parte do tempo, é interessante e deixa aquele gostinho de querer saber mais sobre o lugar. Na verdade, o grande mérito do filme é fazer esse outdoor para a Samoa Americana, quase desconhecida para o ocidente. É um ambiente acolhedor, compreensivo e religiosamente respeitoso. Além de trazer paisagens espetaculares e costumes curiosos desses povos originários.

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Foto: Hilary Bronwyn Gayle. Divulgação/ Searchlight Pictures.

O grande momento da história é o jogo pelas eliminatórias. Apesar de uma barriga na hora da convocação, que quebra o ritmo da trama, o clímax compensa em vinte minutos de pura emoção e diversão. É realmente engraçado e traz um humor mais criativo pela parte de Taika, o que deixa aquela dúvida: “por que ele não ousou mais no resto do filme?”.

Com personagens fantásticos e uma história real muito boa, Quem Fizer Ganha é o típico filme Sessão da Tarde, que cansa e diverte na mesma proporção. Prejudicado pela direção cansada e redundante de Taika Waititi, o longa não decola, mas também não afunda. Uma pena, porque tinha potencial para ser espetacular.

Quem Fizer Ganha está em cartaz nos cinemas.


IMPERDÍVEL! Você vai VICIAR nessa história de Vingança à moda antiga....

Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Crítica 2 | Taika Waititi se perde no próprio estilo em ‘Quem Fizer Ganha’

Já está em cartaz nos cinemas brasileiros a nova comédia do ator, diretor e roteirista Taika Waititi. Ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por Jojo Rabbit, Taika surgiu para o mundo com as comédias indie. A visão diferenciada do diretor, que abraçou o humor excessivamente expositivo como sua principal característica, chamou atenção dos grandes estúdios, que foram atrás dele para reinventar a franquia Thor nos cinemas. Até chegar à glória máxima da vitória na premiação mais cobiçada de Hollywood, Waititi conquistou uma base sólida de fãs com seu estilo irreverente e provocador. No entanto, desde o começo da pandemia, o artista vem sofrendo alguma dificuldade de emplacar novos sucessos.

O que inicialmente o levou ao estrelato começou a dar sinais de cansaço. Seu estilo de humor, antes inovador, caiu no lugar comum. E agora, o neozelandês embarca em um projeto menor para tentar voltar às raízes com uma dramédia esportiva sobre a pior seleção do mundo. Em Quem Fizer Ganha, (escrito, atuado, produzido e dirigido por ele) Taika leva o público para a ilha Samoa Americana, que ficou eternamente marcada pela maior derrota da história do futebol profissional de seleções – um vexatório 31×0 para a Austrália, nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002. Dez anos depois, diante de mais humilhações, a federação da ilha contrata um técnico estrangeiro para tentar fazer com que esse bando de perna de pau marque pelo menos um gol nas eliminatórias para a Copa de 2014. E aí começa um choque cultural gigantesco.

030 042 NGW 01522
Foto: Hilary Bronwyn Gayle. Divulgação/ Searchlight Pictures.

Pense num projeto que tinha absolutamente tudo para der certo. Inspirado em uma surpreendente história real, o longa chega com todo aquele jeitão de dramédia esportiva motivacional, ao melhor estilo Jamaica Abaixo de Zero (1993); Conta com um elenco composto por atores não conhecidos no cenário internacional, acompanhados de um medalhão de Hollywood; Traz um diretor que já chegou ao auge e agora busca voltar às origens em um projeto menor… Era uma daquelas situações que pareciam impossíveis de dar errado. Infelizmente, um desses elementos acabou mais complicando que ajudando e acabou tirando o filme dos trilhos.

A participação de Taika Waititi é um desastre. O diretor acerta em muitos momentos, principalmente na hora de abordar os dramas pessoais do time e exaltar, de forma irônica, as simplicidades da ilha, que é rica em cultura e aceitação. Mas lembra na introdução da crítica quando disse que o humor dele já dava sinais de desgaste? Neste filme, ele se desgasta de vez. No início, a abordagem expositiva da comédia até funciona, só que ele começa a repetir as piadas, explorar a comédia da mesma forma em todos os momentos, fazendo com que não haja uma crescente no humor. Ele estaciona na mesmice e isso cansa. É um filme de menos de 1h40 de duração, mas quando chega na terceira vez que ele zoa o treinamento da seleção, que é praticamente um pique-pega, o público já dá uma leve revirada nos olhos.

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Taika Waititi comprometeu seu próprio projeto. Foto: Hilary Bronwyn Gayle. Divulgação/ Searchlight Pictures.

A direção de Taika é algo tão desgastado que há vários momentos em que fica a sensação de que ele está fazendo uma paródia não intencional de si mesmo. O que é uma pena, porque a história original é realmente muito boa e os personagens da ilha são apaixonantes.

O treinador estrangeiro, o holandês Thomas Rongen, tem a história contada por seu ponto de vista, mas é outro que sofre com o texto e a direção de Waititi. Esquentadinho, ele é um bad boy do futebol. Conhecido por seu descontrole nos campos, seja como jogador ou como treinador, ele chega ao cargo como um tipo de punição por não conseguir resultados comandando a seleção dos EUA. Em sua passagem na ilha, Rongen tinha tudo para ser mostrado no estereótipo do White Savior. Taika até faz uma piada com isso assim que o treinador desembarca na ilha. E parece haver um esforço tão grande para evitar que o filme tome esse rumo, que eles apenas desistem de tentar desenvolver melhor o personagem que dita o ritmo da história. Então, no sensacional ato final, quando vemos o time enfim jogar uma partida de futebol, o diretor corre atrás do tempo perdido e tentar resolver um desenvolvimento dramático enorme em um espaço de 10 minutos. Não dá nem para culpar o ator Michael Fassbender, que faz o possível dentro do que foi dado a ele para trabalhar. É algo que recai sobre o roteiro e a direção.

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Foto: Hilary Bronwyn Gayle. Divulgação/ Searchlight Pictures.

Dados os pontos negativos, Quem Fizer Ganha não é uma tragédia total. O filme consegue se salvar por conta dos personagens extremamente carismáticos e por um elenco, em grande maioria composto por neozelandeses e tailandeses, que dão a vida e para conquistar o público.

É divertido ver as várias profissões que os jogadores da seleção desempenham para manter vivo o sonho de jogar futebol. Ainda assim, eles não encaram o esporte como um obsessão, mas como um jogo. Afinal, a ilha sequer tem um campeonato profissional. E por mais irreverente – e por vezes, absurdo – que possa parecer, essa é uma realidade para muitos times e seleções pelo planeta. Na Copa do Mundo de 2018, por exemplo, a Seleção da Islândia se classificou para o maior torneio do planeta com um time incomum. Em meio a jogadores profissionais de ligas menores, o técnico do país também era dentista, e o goleiro era diretor de cinema. Todo mundo ama um azarão e o selecionado da Samoa Americana é a definição mais que perfeita desse conceito.

Divulgação/ Searchlight Pictures.

Os destaques são o ator Oscar Kightley, que interpreta o presidente da federação de futebol local, e a estreante Kaimana, tailandesa que dá vida a uma das principais vozes pelos direitos transexuais no esporte, que rouba a cena toda vez que aparece, em uma atuação realmente poderosa.

A abordagem dos costumes da ilha, por mais que sejam ridicularizados na maior parte do tempo, é interessante e deixa aquele gostinho de querer saber mais sobre o lugar. Na verdade, o grande mérito do filme é fazer esse outdoor para a Samoa Americana, quase desconhecida para o ocidente. É um ambiente acolhedor, compreensivo e religiosamente respeitoso. Além de trazer paisagens espetaculares e costumes curiosos desses povos originários.

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Foto: Hilary Bronwyn Gayle. Divulgação/ Searchlight Pictures.

O grande momento da história é o jogo pelas eliminatórias. Apesar de uma barriga na hora da convocação, que quebra o ritmo da trama, o clímax compensa em vinte minutos de pura emoção e diversão. É realmente engraçado e traz um humor mais criativo pela parte de Taika, o que deixa aquela dúvida: “por que ele não ousou mais no resto do filme?”.

Com personagens fantásticos e uma história real muito boa, Quem Fizer Ganha é o típico filme Sessão da Tarde, que cansa e diverte na mesma proporção. Prejudicado pela direção cansada e redundante de Taika Waititi, o longa não decola, mas também não afunda. Uma pena, porque tinha potencial para ser espetacular.

Quem Fizer Ganha está em cartaz nos cinemas.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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