DC TROLA NOVAMENTE!
Sintetizo meu sentimento sobre Esquadrão Suicida (Suicide Squad) assim: minha noite estava mais divertida antes de entrar na sala de cinema, quando eu estava aprendendo a caçar pokémons nos corredores do Shopping Higienópolis, tinham vários por lá – sim, esta será a informação mais útil desta resenha.
O filme é fraco. E não venham dizer que é coisa de crítico ou de marvete. Dos três últimos projetos da DC, este era o único que aguardava com ótimas expectativas. Mas, os trailers foram uma verdadeira trolagem. É perceptível que o que vimos nas telas não era a ideia original do diretor David Ayer.
Pouco depois dos maus resultados de Batman v Superman – A Origem da Justiça (Batman v Superman – Dawn of Justice), divulgou-se que o Esquadrão Suicida passaria por algumas refilmagens, supostamente para ficar mais engraçado. Na verdade, a impressão é de que tentaram fazer um extreme makeover na produção. E como não dava para refilmar tudo, sobrou para o pessoal da montagem! Algumas das falhas do filme: personagens mal explorados, problemas de ritmo, arcos narrativos que não se encaixam bem, cenas de ação pouco inspiradas. A raiz dessas falhas foi a decisão errada da DC de querer mudar radicalmente um filme já na pós-produção.
Sabem a sequência de abertura cheia de músicas famosas? Então, eles tentaram pegar a memória afetiva do público em relação às músicas e colá-la nos personagens. Foi um resultado nulo, pois a música é um complemento ao que está sendo construído na imagem, não dá pra transformar água em vinho! A montagem ruim também prejudicou o ritmo do filme. Não há um crescente da ação, além de instantes nos quais a ação fica um tanto incoerente. É possível também que a montagem seja responsável direta pelos problemas de coerência entre os arcos narrativos. Os dois focos de ameaças não formam um todo harmônico, mais parece dois filmes em um. Claro, que apenas vendo o roteiro teríamos certeza, mas considerando as mudanças de última hora, certamente a culpa maior não é dos roteiristas.
O desenvolvimento dos personagens também foi prejudicado pelas mudanças na sala de edição (reparem na quantidade absurda de cenas que estavam nos trailers e não foram parar nas telas). Poucos personagens realmente funcionam. Além disso, claramente Arlequina (Margot Robbie), Pistoleiro (Will Smith), Rick Flag (Joel Kinnaman) e Amanda Waller (Viola Davis) figuram como protagonistas, o resto é coadjuvante, o que não deveria acontecer, já que estamos falando de uma equipe. Comparem com os Guardiões da Galáxia, no qual nenhum dos integrantes da equipe fica em segundo plano. Porém, assusta ao ver que o mau desenvolvimento dos personagens é generalizado, atingindo até esses protagonistas.
Vejam o caso da Arlequina. Margot Robbie entrega uma personagem cheia de caras e bocas e piadinhas sem graça que, ao invés de soar louca e ameaçadora, acaba se tornado uma caricatura. Há instantes nos quais a Arlequina de Robbie transmite uma fragilidade, como se aquele exagero todo fosse uma maneira de esconder uma mulher destruída por dentro, mas isso não é explorado. Arlequina se resume a uma caricatura sem graça, com risinhos e frases de efeitos que logo deixam de servir de alívio cômico para serem enfadonhos. Provavelmente essa dimensão trágica da personagem foi cortada para não deixar o filme “tão pesado”.
Não consegui comprar a Amanda Waller de Viola Davis. O Joel Kinnaman cria um Rick Flag sem inspiração, mas que cumpre sua função na trama. As atuações de Cara Delevingne (a Magia) e Jai Courtney (o Capitão Boomerang) beiram o constrangedor! A maioria do esquadrão acaba servindo ora de alívio cômico, ora de figuração de luxo. Este resultado não deve ser colocado nos ombros dos atores, mas na direção e, especialmente, principalmente, necessariamente, na montagem – ou seja, no erro da DC de querer mudar tudo nas coxas.
As duas únicas atuações que conseguiram sair com poucas escoriações foram o El Diablo (Jay Hernandez) e o Pistoleiro. O personagem do El Diablo é o mais bem tratado pela montagem. Aposto que a forma como ele é desenvolvido no filme seria replicado nos demais personagens. E, por incrível que pareça, gostei do trabalho de Will Smith. Falo assim porque acho ele um ator super valorizado, que costuma enterrar os personagens de baixo dos seus cacoetes. Mas aqui ele conseguiu entregar um Pistoleiro interessante, com o qual realmente nos envolvemos.
O Coringa do Jared Leto é um caso à parte. Leto alegou que muitas de suas cenas foram cortadas. Não consigo comprar essa versão. Ao contrário da Arlequina, que tem indício de que sua personagem deveria ter seguido outro caminho, não há nada nas aparições do Coringa que indiquem que ele seria radicalmente diferente se tivesse mais tempo de tela. Talvez, ficasse mais ameaçador, e só! O que se vê na tela só evidencia as escolhas erradas de Leto. O problema é de concepção e execução do personagem. O seu coringa não soa ameaçador, mesmo nos instantes que o filme lhe permite. Seus trejeitos não evocam a mitologia do Coringa. O seu visual não convence na telona, a sua voz mais parece a de um asmático e sua risada é só risível mesmo, nada ameaçadora. Foi uma profunda decepção. Torcia por um Coringa genial, não para rivalizar com o de Heath Ledger, mas para termos mais uma grande interpretação do palhaço do crime. Infelizmente, não foi dessa vez.
Até aqui, a culpa é mais da DC do que do diretor David Ayer. Foram tantas mudanças para tornar o filme mais leve, que fizeram duas versões para serem exibidas nas sessões testes. O que não significa que Ayer não tenha cometido equívocos. Especialmente nas sequências de ação, Ayer não produziu nenhuma cena memorável; foram sequências genéricas, quando não equivocadas, como na batalha final, excessivamente escura prejudicando a nitidez dos combates.
Um dos poucos pontos positivos do filme é a direção de arte e o figurino. As concepções dos personagens são muito interessantes, especialmente Arlequina e El Diablo. Fato que foram tantas mudanças que, a menos que seja lançada a versão do diretor, nunca saberemos como seria o filme concebido por David Ayer. Sabemos apenas que seria algo mais sombrio, basta ver o primeiro trailer divulgado na Comic-Con do ano passado.
Eu estava com boas expectativas com o filme e esperava que o Esquadrão Suicida fosse o primeiro grande acerto da DC nesta nova fase. E a única coisa que o filme conseguiu foi me fazer começar a achar O Homem de Aço (Man of Steel), de 2013, um filme bom.
E, ai, o que achou do filme? Também ficou decepcionado? Continua preferindo o Coringa do Heath Ledger? Ou gostou do filme e achou este texto ridículo? Ou parou no primeiro parágrafo e quer me xingar? Blz, mas não deixe de compartilhar e curtir as nossas redes sociais:
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