domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | 3º episódio de ‘American Horror Story: Double Feature’ mantém o altíssimo nível da temporada

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American Horror Story teve uma de suas melhores estreias desde 2011 com os dois primeiros episódios de ‘Double Feature’. O ambicioso ciclo conseguiu recuperar os elementos outrora vistos em ‘Murder House’ e ‘Asylum’, por exemplo, em uma nostálgica investida que cativou o público ao redor do mundo e deu início a uma complexa e sanguinolenta jornada de ambição e egolatria, marcada por um roteiro exímio e uma competente construção artística.

É claro que a primeira parte da temporada, subtitulada ‘Red Tide’, se voltou para uma das criações mais clássicas do terror, os vampiros. Entretanto, assim como ‘Hotel’, Ryan Murphy e Brad Falchuk desconstruíram a mitologia por trás dos personagens em uma belíssima e envolvente narrativa metalinguística que explora o preço do talento e da fama: em outras palavras, os personagens são atraídos por uma pílula misteriosa que os transforma em deuses criativos, superiores a outros amadores. E, é claro, tal habilidade vem com um preço caro a ser pago – se alimentar do sangue das pessoas para sobreviver em um vicioso ciclo interminável de chacinas e de glória.



Enquanto os episódios da semana passada representaram uma considerável melhora em relação a anos anteriores, era de se esperar que os capítulos seguintes deslizassem em certos problemas de ritmo e de concepção; felizmente, não foi isso o que aconteceu. Em “Thirst”, como ficou conhecido o terceiro capítulo, Falchuk fica encarregado de uma narrativa irretocável, com todos os aspectos imutáveis da antologia, enquanto a diretora Loni Peristere também retornou no comando da iteração em uma ode ao thriller psicológico. Como se não bastasse, o elenco permanece afiado como nunca, cada qual com seu momento de brilhar – e falar isso parece redundante, considerando que, mesmo em meio aos equívocos, são as atuações que nos conquistam do começo ao fim.

Seguindo de onde paramos, Harry (Finn Wittrock) enfrenta as drásticas consequências da filha, Alma (Ryan Kiera Armstrong), ter tomado a pílula em um surto de ganância, exigindo de si mesma ser a melhor violinista de todas – adotando esse atalho sem pensar no custo. Por ser mais jovem e ingênua, Alma parece não ter controle do apetite voraz por sangue e, por essa razão, posa como uma ameaça a todos os outros artistas que se valeram da droga para alcançarem os seus objetivos, motivo pelo qual chama uma controversa atenção de Belle (Frances Conroy) e Austin (Evan Peters). Mergulhando em um turbilhão de eventos catastróficos, Harry é “obrigado” a mentir para a esposa, Doris (Lily Rabe) sobre o que aconteceu e lida com as investigações da delegada local, Burleson (Adina Porter), sobre os múltiplos corpos que aparecem jogados pela cidade.

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Da mesma forma que “Cape Fear” e “Pale”, “Thirst” toma o tempo necessário para se desenrolar e, por essa razão, talha uma densa e angustiante atmosfera cujo objetivo é deixar os espectadores à beira de um ataque de nervos. Os atos do episódio são alicerçados em homenagens a obras do gênero, desde ‘A Bruxa’ até ‘Hereditário’, pegando recursos emprestados que vão desde a mortal elegância da fotografia ao minimalismo tétrico de uma repetitiva e pragmática trilha sonora. Entretanto, o maior bem do episódio é o fato de não querer revolucionar a prática do storytelling ou criar algo original, e sim se valer das fórmulas do terror e trilha um caminho que já conhecemos e que sabemos, por ora, como vai terminar. As cartas dispostas nesse início de temporada foram dadas e, agora, é preciso jogar.

Se o elenco já apresentado ganhou nossa atenção pela natureza das performances, a substancial aparição de Leslie Grossman como a agente de Harry, Ursula, se mostrou como uma adição bem-vinda e surpreendente. Ursula funciona como uma encarnação capitalista e predatória do que significa se envolver com o show business e, apesar de demonstrar certa preocupação com Harry e com seus clientes, sabemos que suas intenções são outras. Afinal, ela não pensaria duas vezes antes de migrar para o próximo talento que encontrasse caso se mostrasse mais lucrativo e certeiro – e as coisas ficam mais complicadas quando ela descobre o efeito das pílulas e traça o paradeiro de quem as fabricou (a Química, interpretada pela sempre grandiosa Angelica Ross).

American Horror Story: Double Feature’ ainda tem muito a ser explorado – e tem potencial enorme de nos causar uma experiência interessante, principalmente com uma parte considerável das reviravoltas já reveladas. Murphy e Falchuk deixaram bem claro que a dinâmica dos personagens é seu ponto de partida, e observá-los dentro de um microcosmos recheado de segredos é chamativo e perturbador (do melhor jeito possível).

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Crítica | 3º episódio de ‘American Horror Story: Double Feature’ mantém o altíssimo nível da temporada

American Horror Story teve uma de suas melhores estreias desde 2011 com os dois primeiros episódios de ‘Double Feature’. O ambicioso ciclo conseguiu recuperar os elementos outrora vistos em ‘Murder House’ e ‘Asylum’, por exemplo, em uma nostálgica investida que cativou o público ao redor do mundo e deu início a uma complexa e sanguinolenta jornada de ambição e egolatria, marcada por um roteiro exímio e uma competente construção artística.

É claro que a primeira parte da temporada, subtitulada ‘Red Tide’, se voltou para uma das criações mais clássicas do terror, os vampiros. Entretanto, assim como ‘Hotel’, Ryan Murphy e Brad Falchuk desconstruíram a mitologia por trás dos personagens em uma belíssima e envolvente narrativa metalinguística que explora o preço do talento e da fama: em outras palavras, os personagens são atraídos por uma pílula misteriosa que os transforma em deuses criativos, superiores a outros amadores. E, é claro, tal habilidade vem com um preço caro a ser pago – se alimentar do sangue das pessoas para sobreviver em um vicioso ciclo interminável de chacinas e de glória.

Enquanto os episódios da semana passada representaram uma considerável melhora em relação a anos anteriores, era de se esperar que os capítulos seguintes deslizassem em certos problemas de ritmo e de concepção; felizmente, não foi isso o que aconteceu. Em “Thirst”, como ficou conhecido o terceiro capítulo, Falchuk fica encarregado de uma narrativa irretocável, com todos os aspectos imutáveis da antologia, enquanto a diretora Loni Peristere também retornou no comando da iteração em uma ode ao thriller psicológico. Como se não bastasse, o elenco permanece afiado como nunca, cada qual com seu momento de brilhar – e falar isso parece redundante, considerando que, mesmo em meio aos equívocos, são as atuações que nos conquistam do começo ao fim.

Seguindo de onde paramos, Harry (Finn Wittrock) enfrenta as drásticas consequências da filha, Alma (Ryan Kiera Armstrong), ter tomado a pílula em um surto de ganância, exigindo de si mesma ser a melhor violinista de todas – adotando esse atalho sem pensar no custo. Por ser mais jovem e ingênua, Alma parece não ter controle do apetite voraz por sangue e, por essa razão, posa como uma ameaça a todos os outros artistas que se valeram da droga para alcançarem os seus objetivos, motivo pelo qual chama uma controversa atenção de Belle (Frances Conroy) e Austin (Evan Peters). Mergulhando em um turbilhão de eventos catastróficos, Harry é “obrigado” a mentir para a esposa, Doris (Lily Rabe) sobre o que aconteceu e lida com as investigações da delegada local, Burleson (Adina Porter), sobre os múltiplos corpos que aparecem jogados pela cidade.

Da mesma forma que “Cape Fear” e “Pale”, “Thirst” toma o tempo necessário para se desenrolar e, por essa razão, talha uma densa e angustiante atmosfera cujo objetivo é deixar os espectadores à beira de um ataque de nervos. Os atos do episódio são alicerçados em homenagens a obras do gênero, desde ‘A Bruxa’ até ‘Hereditário’, pegando recursos emprestados que vão desde a mortal elegância da fotografia ao minimalismo tétrico de uma repetitiva e pragmática trilha sonora. Entretanto, o maior bem do episódio é o fato de não querer revolucionar a prática do storytelling ou criar algo original, e sim se valer das fórmulas do terror e trilha um caminho que já conhecemos e que sabemos, por ora, como vai terminar. As cartas dispostas nesse início de temporada foram dadas e, agora, é preciso jogar.

Se o elenco já apresentado ganhou nossa atenção pela natureza das performances, a substancial aparição de Leslie Grossman como a agente de Harry, Ursula, se mostrou como uma adição bem-vinda e surpreendente. Ursula funciona como uma encarnação capitalista e predatória do que significa se envolver com o show business e, apesar de demonstrar certa preocupação com Harry e com seus clientes, sabemos que suas intenções são outras. Afinal, ela não pensaria duas vezes antes de migrar para o próximo talento que encontrasse caso se mostrasse mais lucrativo e certeiro – e as coisas ficam mais complicadas quando ela descobre o efeito das pílulas e traça o paradeiro de quem as fabricou (a Química, interpretada pela sempre grandiosa Angelica Ross).

American Horror Story: Double Feature’ ainda tem muito a ser explorado – e tem potencial enorme de nos causar uma experiência interessante, principalmente com uma parte considerável das reviravoltas já reveladas. Murphy e Falchuk deixaram bem claro que a dinâmica dos personagens é seu ponto de partida, e observá-los dentro de um microcosmos recheado de segredos é chamativo e perturbador (do melhor jeito possível).

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