domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | 45 do Segundo Tempo – Tony Ramos BRILHA em Emocionante e Comovente Dramédia Nacional

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Nem todas as histórias são felizes. Apesar de nós, seres humanos, estarmos sempre atrás dessa tal felicidade, a verdade é que a maior parte do tempo nós passamos apenas existindo, repetindo movimentos e ações, construindo ou destruindo relações e planos, mas, no final, a maioria de nós se sente satisfeito com a vida que teve, apesar de uma ou outra coisa querermos ter feito diferente. A vida é esse ciclo de etapas pelas quais vamos passando, mas, na ficção, no audiovisual, a coisa é diferente. Há uma exigência de que o cinema e a literatura, em sua maior parte, seja positiva, feliz, alegre, leve, ainda que nem todas as histórias humanas sejam o tempo todo coloridas. Numa pegada muito mais humana e sincera, estreia essa semana nos cinemas o drama nacional ‘45 do Segundo Tempo’.



Pedro (Tony Ramos) acaba de perder Calabresa, sua cachorrinha e companheira há anos. Isso acontece no mesmo dia em que tem um empréstimo negado pelo banco por conta da sua idade e seu restaurante é interditado pela vigilância sanitária. Nesse mesmo dia, também, ele reencontra seus antigos amigos de escola, Ivan (Cássio Gabus Mendes), hoje um advogado bem-sucedido, e Mariano (Ary França), que, para a surpresa de todos, virou padre. Após o encontro, Pedro fica nostálgico e toma uma importante decisão: após o fim do campeonato de futebol – e certo de que o Palmeiras irá sagrar-se campeão – ele irá se matar. Então, chama os amigos para lhes comunicar a decisão, na esperança de, pelos próximos dias, poderem compartilhar juntos momentos de alegria e nostalgia sobre o passado juvenil.

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No cinema argentino, francês e espanhol o gênero da dramédia faz muito sucesso. Produções com motes similares a ‘45 do Segundo Tempo’ têm boa recepção dentre o público mais adulto, então, por que no Brasil seria diferente? O espanhol ‘Viver Duas Vezes’ figurou durante um bom tempo entre os mais vistos da Netflix, enquanto o francês ‘Intocáveis’ até hoje bate recorde de audiência. Nessa mesma pegada o roteiro de Vinicius Calderoni, Rafael Gomes, Luna Grimberg, Laura Malin, Leonardo Moreira e Luiz Villaça constrói um drama cômico, ou dramédia, centrada no universo masculino da terceira idade com personagens paulistanos que vivem na capital urbana. Através da jornada reflexiva do protagonista, o espectador é convidado a olhar com mais generosidade para essa geração de senhores que tiveram uma educação super rígida e cheia de fobias, e que hoje são pais e avós em um mundo livre e tecnológico que não espera o ritmo deles.

A beleza e a singeleza com que os três personagens são construídos é comovente, especialmente o personagem que Tony Ramos entrega ao público, com muita propriedade de suas escolhas sem, por isso, ser triste. Há algum alívio, de fato, em se ter controle sobre a única coisa de que não temos controle na vida. A química entre os três atores torna leve até mesmo os momentos mais pesados, com direito a diálogos sagazes e bastante sincerões, que arrancam o riso mesmo em situações impróprias. Porque assim é a vida.

Com uma direção passional de Luiz Villaça e um bocado de metáforas (a dualidade entre religião e futebol, a viagem em um ônibus dos anos 1970 e a respiração na cena do estádio), ‘45 do Segundo Tempo’ é um belo e tocante filme. Faz rir e chorar, e provavelmente cativará o coração de quem for assistir.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Nem todas as histórias são felizes. Apesar de nós, seres humanos, estarmos sempre atrás dessa tal felicidade, a verdade é que a maior parte do tempo nós passamos apenas existindo, repetindo movimentos e ações, construindo ou destruindo relações e planos, mas, no final, a maioria de nós se sente satisfeito com a vida que teve, apesar de uma ou outra coisa querermos ter feito diferente. A vida é esse ciclo de etapas pelas quais vamos passando, mas, na ficção, no audiovisual, a coisa é diferente. Há uma exigência de que o cinema e a literatura, em sua maior parte, seja positiva, feliz, alegre, leve, ainda que nem todas as histórias humanas sejam o tempo todo coloridas. Numa pegada muito mais humana e sincera, estreia essa semana nos cinemas o drama nacional ‘45 do Segundo Tempo’.

Pedro (Tony Ramos) acaba de perder Calabresa, sua cachorrinha e companheira há anos. Isso acontece no mesmo dia em que tem um empréstimo negado pelo banco por conta da sua idade e seu restaurante é interditado pela vigilância sanitária. Nesse mesmo dia, também, ele reencontra seus antigos amigos de escola, Ivan (Cássio Gabus Mendes), hoje um advogado bem-sucedido, e Mariano (Ary França), que, para a surpresa de todos, virou padre. Após o encontro, Pedro fica nostálgico e toma uma importante decisão: após o fim do campeonato de futebol – e certo de que o Palmeiras irá sagrar-se campeão – ele irá se matar. Então, chama os amigos para lhes comunicar a decisão, na esperança de, pelos próximos dias, poderem compartilhar juntos momentos de alegria e nostalgia sobre o passado juvenil.

No cinema argentino, francês e espanhol o gênero da dramédia faz muito sucesso. Produções com motes similares a ‘45 do Segundo Tempo’ têm boa recepção dentre o público mais adulto, então, por que no Brasil seria diferente? O espanhol ‘Viver Duas Vezes’ figurou durante um bom tempo entre os mais vistos da Netflix, enquanto o francês ‘Intocáveis’ até hoje bate recorde de audiência. Nessa mesma pegada o roteiro de Vinicius Calderoni, Rafael Gomes, Luna Grimberg, Laura Malin, Leonardo Moreira e Luiz Villaça constrói um drama cômico, ou dramédia, centrada no universo masculino da terceira idade com personagens paulistanos que vivem na capital urbana. Através da jornada reflexiva do protagonista, o espectador é convidado a olhar com mais generosidade para essa geração de senhores que tiveram uma educação super rígida e cheia de fobias, e que hoje são pais e avós em um mundo livre e tecnológico que não espera o ritmo deles.

A beleza e a singeleza com que os três personagens são construídos é comovente, especialmente o personagem que Tony Ramos entrega ao público, com muita propriedade de suas escolhas sem, por isso, ser triste. Há algum alívio, de fato, em se ter controle sobre a única coisa de que não temos controle na vida. A química entre os três atores torna leve até mesmo os momentos mais pesados, com direito a diálogos sagazes e bastante sincerões, que arrancam o riso mesmo em situações impróprias. Porque assim é a vida.

Com uma direção passional de Luiz Villaça e um bocado de metáforas (a dualidade entre religião e futebol, a viagem em um ônibus dos anos 1970 e a respiração na cena do estádio), ‘45 do Segundo Tempo’ é um belo e tocante filme. Faz rir e chorar, e provavelmente cativará o coração de quem for assistir.

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