quinta-feira, abril 25, 2024

Crítica | 4ª parte de ‘(Des)Encanto’ aposta na dramédia existencialista – para o bem ou para o mal

E estamos de volta com mais uma temporada de ‘(Des)Encanto’!

A sátira de fantasia de Matt Groening, mesma mente genial por trás da clássica animação ‘Os Simpsons’, retornou com novos episódios à Netflix e, para o bem ou para o mal, apostou fichas em alguns elementos narrativos e técnicos que ainda não tínhamos visto antes – como o drama existencialista e uma profundidade mais ácida a cada um dos personagens, utilizando aspectos explorados nas iterações anteriores para, talvez, aparar alguns excessos cômicos e colocar a série nos trilhos.

Desde sua estreia em 2018, ‘(Des)Encanto’ se mostrou como uma produção conturbada, dilacerando arquétipos do gênero em questão e apresentando uma trama modernizada e medieval ao mesmo tempo, infundindo os arcos com realizações contemporâneas sobre representatividade, opressão e feminismo – sem deixar de lado a veia irônica que inclusive foi transposta para uma dublagem regada a memes. Entre altos e baixos, é notável como a obra alcança seu ápice criativo quando não se leva a sério, como visto na 2ª temporada, por mais que não saiba como seguir a partir daí. Agora, voltamos para a Terra dos Sonhos e acompanhamos uma nova Bean (Abbi Jacobson), recheada de dúvidas e de poderes escondidos que a colocaram em conflito com a família e com os amigos em prol de uma compreensão de que as coisas não são exatamente como parecem.

O episódio de estreia mostra Bean e sua mãe maligna, Dagmar (Sharon Horgan), descendo ao Inferno para que o débito da família seja pago, de uma vez por todas, quando a irreverente princesa se casar com ninguém menos que Satã, governante do submundo. O pior é quando a protagonista se vê sem a ajuda de seus amigos, Luci (Eric André), que foi decapitado na descida pelo elevador e agora está no Paraíso, e Elfo (Nat Faxon), que foi capturado por ogros e tenta fugir para não ser devorado. Para aqueles que esperavam uma história que se mantivesse atada a esse próximo capítulo da vida de Bean, sinto lhes informar que a série permanece presa aos frenéticos acontecimentos, resolvendo os eventos que se desenrolam de maneira rápida e cansativa; àqueles que já se acostumaram ao tom das temporadas anteriores, apertem os cintos e aproveite a aventura, porque as coisas tomam um rumo inesperado.

A verdade é que Groening, em colaboração com um talentoso time criativo, abandonara as construções episódicas há algum tempo e resolveu construir um universo guiado pela causa e pela reação. Bean, proclamada Rainha da Terra dos Sonhos, deve fazer o impossível para regressar ao lar, resgatar o pai, Zøg (John DiMaggio), do manicômio, e garantir que seus inimigos não ousem penetrar no território que agora comanda. Porém, posar como monarca é uma coisa – e exercer o peso que vem com tamanho título é muito diferente. Afinal, como sabemos, ela tem dons que provêm de uma linhagem mágica e que continuam a se manifestar e que podem servir tanto para o bem quanto para o mal (uma jogada formulaica, mas que funciona dentro da proposta delineada). E, se há alguém que quer usá-los para benefício próprio é Dagmar.

O maior bem com que o quarto ciclo trabalha é não abandonar os diversos personagens regulares e coadjuvantes que deram as caras no passado – e, por essa razão, temos o retorno de Úrsula (Jenny Batten), antiga paixão de Zøg que desperta nele uma realização solitária e que o afasta dos prazeres materiais de ser membro da família real; ou então de Mora (Meredith Hagner), um dos casos românticos de Bean que, ainda que a salve inúmeras vezes, é desperdiçada em aparições unidimensionais e que, de fato, não contribuem para o andamento da narrativa – sendo relembrada como um ser divino e intocável; ou até de Cloyd (Rich Fulcher) e Rebecca (Lucy Montgomery), tios de Bean e irmãos de Dagmar que se transformam em bonecos para dar continuidade a seu plano maligno (que, mais uma vez, nunca vê a luz do dia). O melhor aproveitamento que temos é de Jerry (David Herman), que sai de seu breve antagonismo e se transforma em um dos valiosos aliados dos heróis.

Não deixe de assistir:

Quando paramos para pensar, o ritmo da série continua a ser um problema, por dois fatores essenciais: o primeiro é vomitar e aglutinar tantos acontecimentos em meros 25 minutos que se concluem sem ao menos nos deixar com um gostinho agridoce que seja – como é o caso de “The Unbearable Lightning of Bean”, que reúne Zøg e Úrsula e, sem mais nem menos, os separa para outro reencontro futuro; o segundo é levar tempo deveras excessivo a qualquer que seja a reviravolta, terminando a iteração de maneira quase idêntica à anterior (ou seja, colocando Bean em risco de morte e Dagmar em posição de poder e controle absolutos).

A 4ª temporada de ‘(Des)Encanto’ fica no meio do caminho – de novo. É perceptível a tentativa dos criadores em expor elementos originais, mas, eventualmente, assistimos a dez episódios de uma mesmice sem fim que é ofuscada, em partes, pela química dos personagens e por como seus arcos se fundem em um explosivo e divertido non-sense.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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