sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | 5ª temporada de ‘The Crown’ é movida a escândalos e a atuações impecáveis

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The Crown é uma das séries mais populares e aclamadas da Netflix – e não é por qualquer razão. Baseada na peça de teatro homônima, a produção gira em torno da ascensão de Elizabeth II ao trono do Reino Unido e seu extenso reinado, navegando pela morte inesperada do pai, o Rei George VI, e pelas várias responsabilidades em ser a monarca mais famosa do planeta. Depois de quatro anos, a produção se estabeleceu como uma joia do cenário mainstream que, apesar de dramatizar certos eventos em virtude de alimentar a necessidade do entretenimento, oferece um vislumbre interessante acerca da família real e dos personagens que ainda contemplam esse núcleo.

Agora, chegamos ao quinto ciclo da produção – e um dos mais aguardados. Afinal, após o espetacular season finale anterior, era mais que natural que estivéssemos ansiosos para ver o desenrolar da história, os vários escândalos envolvendo os membros da Coroa e como o público se tornou elemento ativo dessa configuração, principalmente na era da globalização (que atinge a cronologia do show agora). O resultado é um pouco aquém do esperado em virtude de algumas falhas de ritmo, mas nada gritante demais que apague a beleza estética e performática da obra – e que, mesmo assim, pode afastar um pouco dos fãs que angariou nas iterações predecessoras.



Seguindo os passos das temporadas anteriores, a nossa protagonista, Elizabeth II, ganha uma nova roupagem através da icônica Imelda Staunton, que, como podemos imaginar, faz um trabalho espetacular, pegando emprestado os trejeitos eternizados por Olivia Colman e Claire Foy num passado muito distante. Aqui, a monarca enfrenta um dilema moral que se estende tanto para dentro da própria família quanto para como a figura da Rainha é enxergada pelos súditos: ela se mantém estagnada no tempo e em uma mitologia pintada sobre a extensa história da Coroa, enquanto se afasta da constante mudança que os britânicos enfrentam, com a exponencial expansão da tecnologia, o advento da internet e o fato de que tudo é muito mais enérgico do que quando ela vestiu o manto.

Não é surpresa, pois, que boa parte da mídia, incluindo tabloides, solte o verbo para falar da aparente falta de tato que Elizabeth demonstra – e que ela deveria abdicar o trono em prol de entregá-lo para o Príncipe Charles (Dominic West), seu primogênito, que está envolvido com causas sociais voltadas aos jovens – como a criação de um programa de bolsas que contemple meninos e meninas inventivas e que tenham ideias que não seriam subsidiadas por falta de oportunidades. É claro que as coisas não funcionam desse jeito e Charles só irá se apropriar do comando da monarquia quando Elizabeth falecer – e isso não é tudo: Charles permanece no casamento com a Princesa Diana (Elizabeth Debicki em um papel definidor para sua carreira), que vai de mal a pior. Os paparazzi que infernizam a vida da realeza continua a alimentar as fofocas de que eles estão prestes a romper e a trazer ainda mais um problema para uma Coroa fragilizada pelo tempo e pela perda considerável de poder.

Enquanto Staunton e West fazem um trabalho irretocável e praticamente garantem indicações merecidas ao Emmy, é Debicki quem nos arranca uma performance de tirar o fôlego, que rouba todos os holofotes. Diferente da ingenuidade apaixonante que Corrin apresenta como a Diana mais jovem, Debicki se lança a uma construção marcada por uma problemática constante, aterrorizada pelo que a família em que está inserida pode fazer com sua sanidade mental e com sua integridade física. Ela carrega consigo o amor incondicional dos filhos, mas não o bastante para que ofusque o fato do marido estar traindo a santidade do casamento com Camilla Parker Bowles (Olivia Williams), uma antiga conhecida que ainda desperta sentimentos crus em Charles. Apesar de manter a pose, Diana se move por uma sutil ironia que a impede de enlouquecer completamente e abandonar tudo o que construiu.

Os recentes episódios mergulham em uma contemplação sóbria e angustiante, mais do que já havíamos visto. A paleta de cores segue uma estética similar, marcada por conflitos de cores que evidenciam o embate entre os protagonistas e coadjuvantes – seja entre Elizabeth e os filhos ou entre Diana e si mesma; a direção não foge muito do convencional, mas é segura o bastante para convencer o que quer vender; e, talvez, esse seja o problema principal do quinto ciclo (migrar para uma verossimilhança guiada pelos escândalos que se esquece, por vezes, de humanizar a temática e as personas que Peter Morgan e seus colaboradores fizeram com tanta exímia).

The Crown pode ter dado uma deslizada, porém, nada que manche consideravelmente uma estrutura quase imaculável. O que pode afastar os telespectadores é a transição contínua de ritmo e uma celebração da tragédia, que beira o sensacionalismo, mas não deixa que as coisas desandem. No geral, as engrenagens se encaixam e, mesmo precisando de alguma lubrificação, são convincentes o bastante para nos conduzir do começo ao fim.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Agora, chegamos ao quinto ciclo da produção – e um dos mais aguardados. Afinal, após o espetacular season finale anterior, era mais que natural que estivéssemos ansiosos para ver o desenrolar da história, os vários escândalos envolvendo os membros da Coroa e como o público se tornou elemento ativo dessa configuração, principalmente na era da globalização (que atinge a cronologia do show agora). O resultado é um pouco aquém do esperado em virtude de algumas falhas de ritmo, mas nada gritante demais que apague a beleza estética e performática da obra – e que, mesmo assim, pode afastar um pouco dos fãs que angariou nas iterações predecessoras.

Seguindo os passos das temporadas anteriores, a nossa protagonista, Elizabeth II, ganha uma nova roupagem através da icônica Imelda Staunton, que, como podemos imaginar, faz um trabalho espetacular, pegando emprestado os trejeitos eternizados por Olivia Colman e Claire Foy num passado muito distante. Aqui, a monarca enfrenta um dilema moral que se estende tanto para dentro da própria família quanto para como a figura da Rainha é enxergada pelos súditos: ela se mantém estagnada no tempo e em uma mitologia pintada sobre a extensa história da Coroa, enquanto se afasta da constante mudança que os britânicos enfrentam, com a exponencial expansão da tecnologia, o advento da internet e o fato de que tudo é muito mais enérgico do que quando ela vestiu o manto.

Não é surpresa, pois, que boa parte da mídia, incluindo tabloides, solte o verbo para falar da aparente falta de tato que Elizabeth demonstra – e que ela deveria abdicar o trono em prol de entregá-lo para o Príncipe Charles (Dominic West), seu primogênito, que está envolvido com causas sociais voltadas aos jovens – como a criação de um programa de bolsas que contemple meninos e meninas inventivas e que tenham ideias que não seriam subsidiadas por falta de oportunidades. É claro que as coisas não funcionam desse jeito e Charles só irá se apropriar do comando da monarquia quando Elizabeth falecer – e isso não é tudo: Charles permanece no casamento com a Princesa Diana (Elizabeth Debicki em um papel definidor para sua carreira), que vai de mal a pior. Os paparazzi que infernizam a vida da realeza continua a alimentar as fofocas de que eles estão prestes a romper e a trazer ainda mais um problema para uma Coroa fragilizada pelo tempo e pela perda considerável de poder.

Enquanto Staunton e West fazem um trabalho irretocável e praticamente garantem indicações merecidas ao Emmy, é Debicki quem nos arranca uma performance de tirar o fôlego, que rouba todos os holofotes. Diferente da ingenuidade apaixonante que Corrin apresenta como a Diana mais jovem, Debicki se lança a uma construção marcada por uma problemática constante, aterrorizada pelo que a família em que está inserida pode fazer com sua sanidade mental e com sua integridade física. Ela carrega consigo o amor incondicional dos filhos, mas não o bastante para que ofusque o fato do marido estar traindo a santidade do casamento com Camilla Parker Bowles (Olivia Williams), uma antiga conhecida que ainda desperta sentimentos crus em Charles. Apesar de manter a pose, Diana se move por uma sutil ironia que a impede de enlouquecer completamente e abandonar tudo o que construiu.

Os recentes episódios mergulham em uma contemplação sóbria e angustiante, mais do que já havíamos visto. A paleta de cores segue uma estética similar, marcada por conflitos de cores que evidenciam o embate entre os protagonistas e coadjuvantes – seja entre Elizabeth e os filhos ou entre Diana e si mesma; a direção não foge muito do convencional, mas é segura o bastante para convencer o que quer vender; e, talvez, esse seja o problema principal do quinto ciclo (migrar para uma verossimilhança guiada pelos escândalos que se esquece, por vezes, de humanizar a temática e as personas que Peter Morgan e seus colaboradores fizeram com tanta exímia).

The Crown pode ter dado uma deslizada, porém, nada que manche consideravelmente uma estrutura quase imaculável. O que pode afastar os telespectadores é a transição contínua de ritmo e uma celebração da tragédia, que beira o sensacionalismo, mas não deixa que as coisas desandem. No geral, as engrenagens se encaixam e, mesmo precisando de alguma lubrificação, são convincentes o bastante para nos conduzir do começo ao fim.

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