domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | 7500 – Filme sobre sequestro de avião rende-se ao preciosismo e se esquece do roteiro

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Se há um gênero que sempre volta a ganhar espaço na esfera cinematográfica, este gênero se revolve ao redor dos desastres aéreos. Desde ‘O Voo’ até ‘Sully – O Herói do Rio Hudson’, cineastas das mais diversas escolas mergulharam através de diversas perspectivas para nos convidar a um intimista retrato dos problemas enfrentados pela tripulação e pelos passageiros, seja com o mau tempo, seja com ameaças terroristas que, de alguma forma, conseguem transpassar a segurança e se esconder entre os viajantes até o momento certo de atacar. E agora, em pleno 2020, chegou a vez da Amazon Studios adicionar mais uma iteração a esse extenso time de longas-metragens: o thriller dramático 7500 veio sem muito barulho e, no geral, se construiu de modo sólido o suficiente para se segurar no primeiro ato, ainda que nunca tenha alcançado a atitude máxima.

A trama gira em torno de Tobias Ellis (Joseph Gordon-Levitt), copiloto de uma aeronave que está viajando de Berlim para Paris ao lado do Capitão Michael Lutzmann (Carlo Kitzlinger), enquanto sua namorada, Gökce (Aylin Tezel), está a poucos metros trabalhando como uma das comissárias. Pouco depois do avião decolar, um grupo de quatro terroristas muçulmanos invadem a cabine da tripulação e matam Michael – mas são impedidos de tomar controle da nave por Tobias, que rapidamente nocauteia um dos invasores e mantém os outros do lado de fora. Entrando em contato com a torre de controle e anunciando o código 7500 (acrônimo para pedido de socorro por sequestro), consegue contornar para o aeroporto mais próximo para pousar em segurança. Isso é, até os sequestradores começarem a matar os reféns caso ele não os deixe entrar na cabine.



O primeiro ato do longa-metragem move-se com destreza aplaudível e irretocável, infundindo-se em um jargão próprio da aviação que começa a cultivar a tensa atmosfera que se abate da história e permanece até os momentos finais. Mais do que isso, a estreia diretorial de Patrick Vollrath vale-se bastante da concepção claustrofóbica dos aviões, mantendo-se propositalmente preso na cabine durante os 92 minutos de tela, fazendo apenas breves meneios para o corredor que leva aos passageiros ou então para a pequena televisão que permite que o piloto e o copiloto enxerguem do lado de fora. Como se isso não bastasse, o realizador também abre espaço para diversos e inteligentes foreshadowings plantados em um instigante prólogo que já deixa claro quem serão os “vilões”.

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À medida que a trama se desenrola, percebe-se que o roteiro, também assinado por Vollrath, acaba se rendendo àquilo do que tentou se desvencilhar: apesar de uma concreta e envolvente representação, percebe-se que a narrativa não consegue se sustentar por muito tempo, tentando ao máximo estender-se através de certas reviravoltas que não têm lugar em uma obra como essa. A síndrome heroica imprimida nos personagens figurantes, por exemplo, é impalpável demais, mesmo que tenha sido premeditada pelo protagonista; as motivações dos antagonistas também caem por terra quando mergulham em um agonizante acesso de ansiedade infinita que torna-se extenuante pelos motivos errados.

Felizmente, Gordon-Levitt é a força-motriz e, por boa parte do tempo, deixa que sua honrável atuação tire nossa atenção de tantos deslizes assim. É visível a transição de seu arco como tímido e controlado profissional a alguém responsável pela vida de dezenas de pessoas. Mais do que isso, a soberba ideia de deixar que Tobias enfrente seus demônios interiores e tenha uma moral chocante entre deixá-los entrar o salvar a aeronave é extremamente bem-vinda, aproveitando as brechas (como o assassinato de Gökce) para humanizá-lo e tirá-lo das concepções maniqueístas que há muito vêm sendo representadas para personagens desse seleto nicho. E as coisas ficam ainda mais angustiantes quando o ferimento em seu braço torna tudo mais difícil.

Quando já ficou claro que o filme funcionaria muito melhor como média-metragem – ou ao menos através de um roteiro mais conciso e que não usasse seus trunfos de uma vez só -, o enredo resolve mergulhar no clássico confronto entre dois lados de uma mesma moeda, revelando os princípios messiânicos dos terroristas e como o elo mais fraco, Vedat (Omid Memar) seria a chave para salvar todos. O jovem de apenas dezoito anos, atraído para uma espécie de vendeta religiosa contra o imperialismo ocidental (pincelado na produção de modo cru demais para ser levado a sério), percebe que não quer se sacrificar “em nome de Alá” e, por mais que tente ser salvo por Tobias, serve de bode expiatório e é brutalmente assassinato por um franco-atirador – servindo como um desfecho previsível, ainda que funcional, para a história.

7500 ganha pontos pela aliança entre performances memoráveis e uma técnica sagaz e impecável; entretanto, a excessiva preocupação estética drena a necessária lapidação de uma narrativa perdida e por vezes complacente, transformando o que facilmente seria uma das grandes iterações do ano em uma preciosista rendição.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Se há um gênero que sempre volta a ganhar espaço na esfera cinematográfica, este gênero se revolve ao redor dos desastres aéreos. Desde ‘O Voo’ até ‘Sully – O Herói do Rio Hudson’, cineastas das mais diversas escolas mergulharam através de diversas perspectivas para nos convidar a um intimista retrato dos problemas enfrentados pela tripulação e pelos passageiros, seja com o mau tempo, seja com ameaças terroristas que, de alguma forma, conseguem transpassar a segurança e se esconder entre os viajantes até o momento certo de atacar. E agora, em pleno 2020, chegou a vez da Amazon Studios adicionar mais uma iteração a esse extenso time de longas-metragens: o thriller dramático 7500 veio sem muito barulho e, no geral, se construiu de modo sólido o suficiente para se segurar no primeiro ato, ainda que nunca tenha alcançado a atitude máxima.

A trama gira em torno de Tobias Ellis (Joseph Gordon-Levitt), copiloto de uma aeronave que está viajando de Berlim para Paris ao lado do Capitão Michael Lutzmann (Carlo Kitzlinger), enquanto sua namorada, Gökce (Aylin Tezel), está a poucos metros trabalhando como uma das comissárias. Pouco depois do avião decolar, um grupo de quatro terroristas muçulmanos invadem a cabine da tripulação e matam Michael – mas são impedidos de tomar controle da nave por Tobias, que rapidamente nocauteia um dos invasores e mantém os outros do lado de fora. Entrando em contato com a torre de controle e anunciando o código 7500 (acrônimo para pedido de socorro por sequestro), consegue contornar para o aeroporto mais próximo para pousar em segurança. Isso é, até os sequestradores começarem a matar os reféns caso ele não os deixe entrar na cabine.

O primeiro ato do longa-metragem move-se com destreza aplaudível e irretocável, infundindo-se em um jargão próprio da aviação que começa a cultivar a tensa atmosfera que se abate da história e permanece até os momentos finais. Mais do que isso, a estreia diretorial de Patrick Vollrath vale-se bastante da concepção claustrofóbica dos aviões, mantendo-se propositalmente preso na cabine durante os 92 minutos de tela, fazendo apenas breves meneios para o corredor que leva aos passageiros ou então para a pequena televisão que permite que o piloto e o copiloto enxerguem do lado de fora. Como se isso não bastasse, o realizador também abre espaço para diversos e inteligentes foreshadowings plantados em um instigante prólogo que já deixa claro quem serão os “vilões”.

À medida que a trama se desenrola, percebe-se que o roteiro, também assinado por Vollrath, acaba se rendendo àquilo do que tentou se desvencilhar: apesar de uma concreta e envolvente representação, percebe-se que a narrativa não consegue se sustentar por muito tempo, tentando ao máximo estender-se através de certas reviravoltas que não têm lugar em uma obra como essa. A síndrome heroica imprimida nos personagens figurantes, por exemplo, é impalpável demais, mesmo que tenha sido premeditada pelo protagonista; as motivações dos antagonistas também caem por terra quando mergulham em um agonizante acesso de ansiedade infinita que torna-se extenuante pelos motivos errados.

Felizmente, Gordon-Levitt é a força-motriz e, por boa parte do tempo, deixa que sua honrável atuação tire nossa atenção de tantos deslizes assim. É visível a transição de seu arco como tímido e controlado profissional a alguém responsável pela vida de dezenas de pessoas. Mais do que isso, a soberba ideia de deixar que Tobias enfrente seus demônios interiores e tenha uma moral chocante entre deixá-los entrar o salvar a aeronave é extremamente bem-vinda, aproveitando as brechas (como o assassinato de Gökce) para humanizá-lo e tirá-lo das concepções maniqueístas que há muito vêm sendo representadas para personagens desse seleto nicho. E as coisas ficam ainda mais angustiantes quando o ferimento em seu braço torna tudo mais difícil.

Quando já ficou claro que o filme funcionaria muito melhor como média-metragem – ou ao menos através de um roteiro mais conciso e que não usasse seus trunfos de uma vez só -, o enredo resolve mergulhar no clássico confronto entre dois lados de uma mesma moeda, revelando os princípios messiânicos dos terroristas e como o elo mais fraco, Vedat (Omid Memar) seria a chave para salvar todos. O jovem de apenas dezoito anos, atraído para uma espécie de vendeta religiosa contra o imperialismo ocidental (pincelado na produção de modo cru demais para ser levado a sério), percebe que não quer se sacrificar “em nome de Alá” e, por mais que tente ser salvo por Tobias, serve de bode expiatório e é brutalmente assassinato por um franco-atirador – servindo como um desfecho previsível, ainda que funcional, para a história.

7500 ganha pontos pela aliança entre performances memoráveis e uma técnica sagaz e impecável; entretanto, a excessiva preocupação estética drena a necessária lapidação de uma narrativa perdida e por vezes complacente, transformando o que facilmente seria uma das grandes iterações do ano em uma preciosista rendição.

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