sábado , 2 novembro , 2024

Crítica | 8º episódio de ‘AHS: Double Feature’ responde a algumas perguntas, mas continua a apostar no excesso de extravagância

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Na semana passada, American Horror Story: Double Feature’ deu início à segunda parte da temporada, nos transportando da úmida e misteriosa cidade litorânea de Provincetown para o calor extenuante do deserto da Califórnia – e deixando de lado os “sugadores de sangue” para focar em um tema que há muito vinha sido premeditado: alienígenas.

Para aqueles que não se lembram, o segundo ciclo da antologia já havia apresentado uma breve inflexão sobre vida extraterrestre – e, apesar de não tão bem explorado quanto os outros temas, despertou um senso de curiosidade por parte dos fãs que gostariam que os cocriadores Ryan Murphy e Brad Falchuk explorassem mais discussões que até hoje despertam teorias da conspiração. Com a estreia de ‘Death Valley’, como ficou intitulado esse novo enredo, Murphy e Falchuk, bem como o restante de seu time de colaboradores, se mostraram apaixonados demais pelos clássicos do gênero sci-fi que povoaram o imaginário popular e acabaram se rendendo a uma bizarrice sem fim – e que, quando comparado a ‘Red Tide’, falhou em cumprir com o proposto.

No mais recente episódio, “Inside”, as coisas começam a melhorar – ainda que haja várias pontas a serem aparadas e alguns excessos a serem cortados. Comandada por Tessa Blake, conhecida por eu trabalho em produções como ‘Riverdale’, ‘Walker’ e ‘The Blacklist’, a iteração é instigante em boa parte das sequências, mesclando o classicismo dramático das décadas de 1950 e 1960 e as frenéticas incursões mainstream da contemporaneidade. Com atuações aplaudíveis e uma homenagem à própria estética distorcida das temporadas originais do show, nota-se uma cautela bem maior no desenrolar da trama e, caso tudo continue a correr nesse ritmo, é provável que se recupere o diabólico e delicioso teor que nos foi apresentado nas semanas anteriores.

Novamente, lidamos com dois momentos diferentes dentro de uma mesma cronologia: a primeira, também ramificando-se em um ciclo de causa e consequência, nos leva de volta às tentativas do então presidente Eisenhower (Neal McDonough) de se esquivar dos pedidos feitos pelos alienígenas. Como descobrimos, a raça que se infiltra na humanidade está à beira da extinção e procurou hospedeiros nos próprios homens e mulheres terrestres para a criação de seres híbridos que os salvassem do extermínio. Em troca de realizarem abduções e experimentos biológicos, eles presenteariam Eisenhower com uma tecnologia substancial que transformaria os Estados Unidos em uma potência como nenhuma outra – algo de interesse para os políticos locais, considerando que a trama é centrada no complexo embate com a União Soviética. Mas o presidente fica dividido entre aceitar a proposta ou não – levando em consideração tanto o que seu braço direito, Richard Nixon (Craig Sheffer), quanto o que sua esposa, Mamie (Sarah Paulson) têm a dizer.

Eventualmente, o público e o próprio Eisenhower percebem que esse livre-arbítrio é uma mera ilusão: os alienígenas, que agora se apossaram do corpo e da mente de Mamie, ameaçam matá-la caso ele não atenda a seus pedidos – ou seja, permitir que eles usem alguns cidadãos estadunidenses como cobaias. Vendo-se em um beco sem saída, ele cede à presença belicosa desses seres e permite que realizem seus experimentos. Já nos dias atuais, acompanhamos a insana saga dos quatro jovens que foram sequestrados e que, agora, estão prestes a dar à luz a bebês alienígenas – e respostas sobre o que os humanos sofrem quando nas naves extraterrestes são brevemente entregues (apenas para abrir espaço para mais perguntas e um desejo quase sádico de descobrir o que irá acontecer).

O episódio marca o retorno de Leslie Grossman e Angelica Ross para a série, ambas as atrizes tendo causado um impacto significativo em ‘Red Tide’. Grossman volta a mostrar sua versatilidade como Calico, uma jovem mulher que parou de envelhecer quando jurou lealdade aos alienígenas e agora cuida para que tudo saia como o planejado; Ross, por sua vez, encarna a taciturna Theta, uma criatura híbrida que fica responsável por garantir que as gestações tenham sucesso e para que a raça a que pertence possa voltar a se expandir. As duas personagens não são exploradas como deveriam, mas a escolha de pontuá-las em algumas sequências foi sagaz o bastante para nos deixar ansiosos pelo que irá acontecer nas semanas futuras.

Assim como o capítulo anterior, “Inside” aposta fichas em uma extravagância demasiada e forçada, tangenciando o camp, mas não abraçando-o como poderia. Aqui, a arquitetura visual funciona em uma praticidade muito interessante, principalmente por não se levar a sério e por abrir espaços para uma inverossimilhança que combina com a atmosfera histórica da qual se vale – ora, temos até a criação de outra teoria conspiratória que envolve o assassino de John F. Kennedy. Porém, alguns diálogos partem de um princípio deus ex machina que fornece explanações baratas e incríveis demais para serem aceitas pelo público. Felizmente, o episódio de beneficia de reviravoltas e performances muito bem-vindas e que demonstra um lento retorno à forma para a temporada.

American Horror Story: Double Feature’ retornou com uma nova iteração que, apesar de tropeçar nos mesmos obstáculos de antes, presta mais atenção à própria estrutura – e, talvez, prenuncie um prospecto que se iguale à irretocável estreia do décimo ciclo.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Para aqueles que não se lembram, o segundo ciclo da antologia já havia apresentado uma breve inflexão sobre vida extraterrestre – e, apesar de não tão bem explorado quanto os outros temas, despertou um senso de curiosidade por parte dos fãs que gostariam que os cocriadores Ryan Murphy e Brad Falchuk explorassem mais discussões que até hoje despertam teorias da conspiração. Com a estreia de ‘Death Valley’, como ficou intitulado esse novo enredo, Murphy e Falchuk, bem como o restante de seu time de colaboradores, se mostraram apaixonados demais pelos clássicos do gênero sci-fi que povoaram o imaginário popular e acabaram se rendendo a uma bizarrice sem fim – e que, quando comparado a ‘Red Tide’, falhou em cumprir com o proposto.

No mais recente episódio, “Inside”, as coisas começam a melhorar – ainda que haja várias pontas a serem aparadas e alguns excessos a serem cortados. Comandada por Tessa Blake, conhecida por eu trabalho em produções como ‘Riverdale’, ‘Walker’ e ‘The Blacklist’, a iteração é instigante em boa parte das sequências, mesclando o classicismo dramático das décadas de 1950 e 1960 e as frenéticas incursões mainstream da contemporaneidade. Com atuações aplaudíveis e uma homenagem à própria estética distorcida das temporadas originais do show, nota-se uma cautela bem maior no desenrolar da trama e, caso tudo continue a correr nesse ritmo, é provável que se recupere o diabólico e delicioso teor que nos foi apresentado nas semanas anteriores.

Novamente, lidamos com dois momentos diferentes dentro de uma mesma cronologia: a primeira, também ramificando-se em um ciclo de causa e consequência, nos leva de volta às tentativas do então presidente Eisenhower (Neal McDonough) de se esquivar dos pedidos feitos pelos alienígenas. Como descobrimos, a raça que se infiltra na humanidade está à beira da extinção e procurou hospedeiros nos próprios homens e mulheres terrestres para a criação de seres híbridos que os salvassem do extermínio. Em troca de realizarem abduções e experimentos biológicos, eles presenteariam Eisenhower com uma tecnologia substancial que transformaria os Estados Unidos em uma potência como nenhuma outra – algo de interesse para os políticos locais, considerando que a trama é centrada no complexo embate com a União Soviética. Mas o presidente fica dividido entre aceitar a proposta ou não – levando em consideração tanto o que seu braço direito, Richard Nixon (Craig Sheffer), quanto o que sua esposa, Mamie (Sarah Paulson) têm a dizer.

Eventualmente, o público e o próprio Eisenhower percebem que esse livre-arbítrio é uma mera ilusão: os alienígenas, que agora se apossaram do corpo e da mente de Mamie, ameaçam matá-la caso ele não atenda a seus pedidos – ou seja, permitir que eles usem alguns cidadãos estadunidenses como cobaias. Vendo-se em um beco sem saída, ele cede à presença belicosa desses seres e permite que realizem seus experimentos. Já nos dias atuais, acompanhamos a insana saga dos quatro jovens que foram sequestrados e que, agora, estão prestes a dar à luz a bebês alienígenas – e respostas sobre o que os humanos sofrem quando nas naves extraterrestes são brevemente entregues (apenas para abrir espaço para mais perguntas e um desejo quase sádico de descobrir o que irá acontecer).

O episódio marca o retorno de Leslie Grossman e Angelica Ross para a série, ambas as atrizes tendo causado um impacto significativo em ‘Red Tide’. Grossman volta a mostrar sua versatilidade como Calico, uma jovem mulher que parou de envelhecer quando jurou lealdade aos alienígenas e agora cuida para que tudo saia como o planejado; Ross, por sua vez, encarna a taciturna Theta, uma criatura híbrida que fica responsável por garantir que as gestações tenham sucesso e para que a raça a que pertence possa voltar a se expandir. As duas personagens não são exploradas como deveriam, mas a escolha de pontuá-las em algumas sequências foi sagaz o bastante para nos deixar ansiosos pelo que irá acontecer nas semanas futuras.

Assim como o capítulo anterior, “Inside” aposta fichas em uma extravagância demasiada e forçada, tangenciando o camp, mas não abraçando-o como poderia. Aqui, a arquitetura visual funciona em uma praticidade muito interessante, principalmente por não se levar a sério e por abrir espaços para uma inverossimilhança que combina com a atmosfera histórica da qual se vale – ora, temos até a criação de outra teoria conspiratória que envolve o assassino de John F. Kennedy. Porém, alguns diálogos partem de um princípio deus ex machina que fornece explanações baratas e incríveis demais para serem aceitas pelo público. Felizmente, o episódio de beneficia de reviravoltas e performances muito bem-vindas e que demonstra um lento retorno à forma para a temporada.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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