Um país que investe na cultura tem a opção de fazer filmes bons e ruins, produzir longas de diversos gêneros, para diversos públicos e com todo tipo de orçamento. Ou seja, quando se investe, dá até para se dar ao luxo de errar. Acima de tudo isso, dá para semear, através dos filmes, a construção do orgulho nacional: filmes que retratem diversos episódios da história de um país, de modo a, a longo prazo, gerar um espectador orgulhoso do próprio país. Através desse tipo de investimento é que é possível produzir, por exemplo, um filme como ‘A Escavação’, nova aposta na plataforma da Netflix.
Edith Pretty (Carey Mulligan) é uma viúva rica que, antes do marido morrer, comprou um terreno em Ipswich, no qual havia curiosos montes, os quais ela pretendia escavar para saber o que tinha dentro. Para isso, ela contrata os serviços de Basil Brown (Ralph Fiennes), um “escavador”, como ele mesmo diz, ou seja, um homem que possui lógica e força bruta para esburacar, mas não tem a técnica. Então, a notícia da descoberta de um item arqueológico se espalha e o pessoal do museu de Ipswich e do Museu Britânico crescem o olho sobre o achado, enviando imediatamente suas próprias equipes de arqueólogos, cujas técnicas e conhecimentos científicos entram em choque com a experiência de campo do sr. Brown.
Baseado no romance de John Preston, a bem da verdade o filme ‘A Escavação’ não tem história. É quase como se o argumento de Moira Buffini tentasse responder à pergunta: como posso criar um enredo sobre a peça mais importante em exibição no Museu Britânico? Porque, sinceramente, a história de uma mulher rica que contrata um homem para escavar no seu quintal de fato não oferece muita coisa ao espectador, mesmo que esse episódio se passe às vésperas da II Guerra Mundial. Tanto é verdade que, a partir do momento em que o tal grupo de arqueólogos chega, a trama dos protagonistas literalmente vai para segundo plano, e o filme passa a acompanhar os dramas vividos por Peggy (Lilly James), única mulher do grupo de pesquisadores, casada com Stuart (Ben Chaplin), que não demonstra nenhum interesse por ela.
Não bastasse a falta de recheio, a produção de ‘A Escavação’ optou por elencar uma atriz de trinta e poucos anos para o papel principal de uma personagem que, na vida real, tinha cinquenta e três quando tudo aconteceu. Além de sinalizar o desmérito por atrizes mais velhas, a produção reforça a imposição do padrão da juventude eterna para as atrizes, ainda que isso cause confusão na própria trama – em determinado momento, ao explicar a história de Edith Pretty, uma personagem conta que ela tinha dezessete anos quando conheceu o noivo mas declinou o pedido porque precisava cuidar do pai, de quem cuidou pelos dez anos seguintes; então, casou-se com o noivo, com quem ficou por mais quinze anos, sendo que Edith tem um filho de cerca de dez anos… essa conta não bate com um personagem que aparenta ter trinta anos.
‘A Escavação’ é desses filmes para afofar o orgulho britânico, que joga luz sobre um episódio importante para a cultura daquele país mas que, de fato, não entretém nem oferece reflexão. Uma grande e vazia produção.