sábado , 23 novembro , 2024

Crítica | A Febre – Adaptação do índio no cenário urbano é tema de ótimo filme nacional

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Muito em voga no debate político nacional, a questão indígena segue sendo alvo de muita discussão e pouca conversa. Nos noticiários brasileiros, temos pessoas públicas vociferando opiniões fáceis e pouquíssimas informações. Neste sentido, um filme como A Febre é fundamental. Estamos diante de uma obra complexa, que não busca vender verdades ou ensinar o que as pessoas devem pensar. O tema é político, mas a trama é humana. Não há qualquer engajamento exagerado ou discursos fáceis.

Passado em Manaus, o longa acompanha a rotina de Justino (Regis Myrupu), um índio que vive a mais de 20 anos na cidade, onde criou dois filhos, já adultos. Segurança no porto local, ele vê seu filho sair de casa para formar uma nova família e sua filha ser aprovada no curso de medicina da Universidade de Brasília. Adaptado à cena urbana, ele lida com o sentimento de isolamento, impulsionado pelas rupturas citadas e pela morte recente da esposa.



Justino está completamente adaptado à cena urbana, mas não deixa de sentir falta de sua aldeia, um cenário quase utópico, que segue permeando seus sonhos. Na cidade, ele dá indícios de nunca se sentir realmente confortável, e um deles é uma febre constante, com a qual ele lida bem, mas que está sempre lá.

A tal febre é uma metáfora clara de como o afastamento de suas raízes atinge o corpo e a alma daquele personagem. Ao mesmo tempo, a obra não busca dizer que a aldeia é o único caminho possível para ele. Talvez seja sua Pasárgada, seu sonho definitivo, mas não é a única possibilidade. Neste sentido, as figuras dos filhos surgem como importantes contrapontos, especialmente a garota Vanessa (Rosa Peixoto). Ela segue as tradições indígenas e as crenças do pai, mas também está em busca de seu sonho de se tornar uma médica e poder ajudar as pessoas.

Exibido na mostra competitiva do 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e premiado no tradicional Festival de Locarno, ambos em 2019, o longa conta com ótima direção de Maya Da-Rin, também responsável pelo roteiro na companhia de Miguel Seabra Lopes e Pedro Cesarino. A Febre tem como mérito principal a abordagem humana. O fato de não investir em discursos ou discussões exageradamente engajadas acabam tornando o lado político do filme ainda mais forte. Neste sentido, é uma defesa do povo indígena, seja na vontade de permanecer em sua terra ou sua aldeia, seja no interesse de buscar a vida no universo urbano. 

A cineasta retrata a “doença” de seu protagonista de forma muito sensível. Não é algo que impede que siga em frente, mas que oferece uma sensação constante de desconforto. Para isso, conta com a ajuda fundamental do ator Regis Myrupu, numa atuação tocante e envolvente.

Deve-se valorizar ainda os belos trabalhos de fotografia de Bárbara Alvarez e montagem de Karen Akerman. O trabalho de som (Felippe Schultz Mussel, Breno Furtado e Romain Ozanne) e mixagem (Emmanuel Croset) ajudam a criar a atmosfera de uma Manaus inquieta, em que o urbano, o asfalto e a indústria se comunicam constantemente com a floresta. A Febre é uma obra sobre separação. Mas também sobre reencontro.

Filme visto durante o 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

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Passado em Manaus, o longa acompanha a rotina de Justino (Regis Myrupu), um índio que vive a mais de 20 anos na cidade, onde criou dois filhos, já adultos. Segurança no porto local, ele vê seu filho sair de casa para formar uma nova família e sua filha ser aprovada no curso de medicina da Universidade de Brasília. Adaptado à cena urbana, ele lida com o sentimento de isolamento, impulsionado pelas rupturas citadas e pela morte recente da esposa.

Justino está completamente adaptado à cena urbana, mas não deixa de sentir falta de sua aldeia, um cenário quase utópico, que segue permeando seus sonhos. Na cidade, ele dá indícios de nunca se sentir realmente confortável, e um deles é uma febre constante, com a qual ele lida bem, mas que está sempre lá.

A tal febre é uma metáfora clara de como o afastamento de suas raízes atinge o corpo e a alma daquele personagem. Ao mesmo tempo, a obra não busca dizer que a aldeia é o único caminho possível para ele. Talvez seja sua Pasárgada, seu sonho definitivo, mas não é a única possibilidade. Neste sentido, as figuras dos filhos surgem como importantes contrapontos, especialmente a garota Vanessa (Rosa Peixoto). Ela segue as tradições indígenas e as crenças do pai, mas também está em busca de seu sonho de se tornar uma médica e poder ajudar as pessoas.

Exibido na mostra competitiva do 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e premiado no tradicional Festival de Locarno, ambos em 2019, o longa conta com ótima direção de Maya Da-Rin, também responsável pelo roteiro na companhia de Miguel Seabra Lopes e Pedro Cesarino. A Febre tem como mérito principal a abordagem humana. O fato de não investir em discursos ou discussões exageradamente engajadas acabam tornando o lado político do filme ainda mais forte. Neste sentido, é uma defesa do povo indígena, seja na vontade de permanecer em sua terra ou sua aldeia, seja no interesse de buscar a vida no universo urbano. 

A cineasta retrata a “doença” de seu protagonista de forma muito sensível. Não é algo que impede que siga em frente, mas que oferece uma sensação constante de desconforto. Para isso, conta com a ajuda fundamental do ator Regis Myrupu, numa atuação tocante e envolvente.

Deve-se valorizar ainda os belos trabalhos de fotografia de Bárbara Alvarez e montagem de Karen Akerman. O trabalho de som (Felippe Schultz Mussel, Breno Furtado e Romain Ozanne) e mixagem (Emmanuel Croset) ajudam a criar a atmosfera de uma Manaus inquieta, em que o urbano, o asfalto e a indústria se comunicam constantemente com a floresta. A Febre é uma obra sobre separação. Mas também sobre reencontro.

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