Uma das principais fontes de inspiração para os filmes de terror e suspense é a religião católica. Se por um lado os fiéis se inspiram pelas palavras de Cristo transcritas na Bíblia, por outro a indústria cinematográfica pega as brechas desse texto para criar ficções que se embasem nos ensinamentos dos discípulos para especular histórias cujo contexto seja entendido pelo público-alvo, quase sempre se apoiando em um dos dilemas mais antigos da humanidade: a batalha entre o bem e o mal. Nessa pegada, estreia a partir desta semana nos cinemas brasileiros o suspense com terror ‘A Profecia do Mal’.
Laura (Alice Orr-Ewing) é uma investigadora da religião católica que viajou até à Itália para pleitear uma bolsa de estudos no mesmo momento em que uma das catedrais mais importantes da região abre as portas para a primeira exibição ao público de um dos artefatos mais preciosos da humanidade: o sudário de Jesus, manto que o teria envolvido quando de sua morte crucificado. Por causa de seu bom contato com o padre Marconi (Joe Doyle), Laura consegue com exclusividade entrar no local para retratar a estátua do arcanjo Miguel derrotando Lúcifer, enquanto o público aprecia o tecido sagrado. Porém, enquanto está desenhando, uma figura sinistra aparece (Eveline Hall) e rouba o sudário, iniciando, assim, uma guerra entre entidades celestes com um único objetivo: criar laboratorialmente uma criança com o DNA do sudário e, assim, abrir de vez as portas do inferno para que todas as criaturas da Estrela da Manhã possam voltar à superfície.
Apesar de conter alguns pequenos spoilers nesta sinopse, explicar esses pontos faz-se necessário para que o espectador simplesmente consiga entender ‘A Profecia do Mal’. Isto porque o enredo do filme é bastante confuso, sem explicar a coisa muito abertamente e deixando bastante informação subentendida – coisas que só compreendemos o todo ao final, juntando as intenções das cenas. O roteiro de Ed Alan começa com a disputa entre o arcanjo Miguel e Lúcifer lá no submundo, depois introduz a protagonista em um contexto acadêmico, apresenta o padre que será o herói e, só depois disso, entra o vilão, cujo objetivo não fica muito claro até quase depois da metade do filme. Durante o tempo em que o espectador fica no escuro com relação à história, somos inclinados a pensar em outras possibilidades, sem entender o interesse pelo sudário e a relação do objeto com o que está sendo dito pela galera do mal.
Nathan Frankowski não traz regularidade para seu filme, tentando abraçar diversas frentes ao mesmo tempo. Entretanto, na reta final, quando a coisa toda envereda de fato para o terror, o filme entrega boas cenas do gênero, incluindo possessão, escatologia e fanatismo ambientados em um contexto de disputa entre bem e mal com discursos proferidos por uma turma que se junta em sociedade secreta para cultuar ideologias fanáticas.
Para quem anda sedento por filmes de terror, ‘A Profecia do Mal’ é um suspense com pegada de terror em uma história conspiratória estilo ‘O Código Da Vinci’. Irregular na sua construção, tem um arco final interessante para os fãs do gênero.