quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | A Rebelião – Ficção mistura Aliens, política, anarquia e revolução

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Fight the (Alien) Power

O recado do texto é claro: o combate ao sistema. Dos subúrbios e periferias, rostos anônimos se encontram, organizam e conspiram para a derrubada do poder. Desde que o mundo é mundo, as classes menos favorecidas lutam por direitos iguais e quando finalmente calham de ascender ao topo, invariavelmente se tornam “o inimigo”, com um novo grupo orquestrando sua retirada do poder. Mas e o que acontece quando esse poder é extraterrestre?

Mascarando (mas não muito) um forte teor político instigante, o novo trabalho do diretor Rupert Wyatt (de Planeta dos Macacos: A Origem) é uma ficção científica que apresenta uma nova realidade social. Aqui, alienígenas invadiram a Terra e dominam os humanos. Eles estão no comando. No mais, tudo parece seguir como antes. Passado em Chicago, acompanhamos diversas subtramas paralelas guiadas por seus personagens.



Acompanhamos, por exemplo, o protagonista Gabriel Drummond, que na cena de abertura do filme passa por uma experiência traumática de perda ao lado do irmão Rafe Drummond. Na vida adulta, os personagens são vividos respectivamente por Ashton Sanders (Moonlight) e Jonathan Majors (White Boy Rick). A vida de Gabriel como proletário, morador de bairro pobre, consiste em parte por procurar o irmão mais velho, dado como sumido e possivelmente morto. Logo, os dois se reencontram, e o caçula descobre que seu irmão é agora um dos líderes de uma célula revolucionária, que trabalha no submundo sem rastros ou forma de ser encontrada, para pôr um fim no “governo Alien”.

Esta sinopse pode até ter feito um bom trabalho em ser convidativa, mas A Rebelião possui muitos problemas, acredite. A ideia é boa e com mais desenvolvimento poderia realmente se transformar numa obra com camadas significativas. De início, devo adereçar a narrativa extremamente confusa, que causa cada vez mais desconexão com o público – o espectador se verá constantemente perdido, sem saber o que deve acompanhar ou por que deve se interessar. Imagine uma montagem no estilo dos filmes Bourne, picotada, câmera tremida e com a sensação de um “realismo documental”. Agora imagine esta narrativa seguindo não um, mas diversos personagens ao longo de múltiplas subtramas que à primeira vista não fazem sentido e não se ligam.

É muito bom presenciarmos filmes que conseguem satisfatoriamente mesclar gêneros, e justamente por isso devemos enaltecer os bem sucedidos. Porque quando esta alquimia não funciona, pode se tornar um verdadeiro desafio ao espectador. A Rebelião quer ser um thriller de espionagem, um drama, uma ficção científica sobre invasão alienígena, um filme de terror e uma crítica política. Bem, ele de fato é tudo isso, mas misturado num liquidificador, deixando o resultado com um sabor não muito convidativo. E se você não acredita, saiba que montar uma sinopse sobre o filme é um grande desafio, porque A Rebelião joga tudo em cena ao mesmo tempo, quem pegar, pegou.

Para piorar a sensação de ‘cego em tiroteio’, a narrativa não é linear, e como se já não estivéssemos perdidos o suficiente, a ordem dos acontecimentos é fora de cronologia. Um erro já que não temos tempo para conhecer os personagens a ponto de nos importarmos com eles ou sua revolução, e quando as peças são montadas, continuam sem significar nada. Em resumo, A Rebelião é uma grande bagunça, uma grande poluição visual e sonora. O triste é que se formos peneirar com vontade, no fundo de tudo dá para encontrar boa intenção e uma contundente crítica ao autoritarismo e à ditadura – já que um dos elementos aqui é o medo de ser descoberto “conspirando” contra o governo, e que de fato se concretiza com vans e homens mascarados levando os incitadores.

No elenco, dois grandes nomes destacam-se. John Goodman ganha mais espaço como o policial linha dura, obstinado a desmantelar as ameaças “terroristas”, ao mesmo tempo em que tenta manter o protagonista longe de problemas. A sempre ótima Vera Farmiga fica com o pedaço mais curto da vara, numa micro participação que, sinceramente, não é digna de seu talento ou esforço (a atriz deve ter gravado sua participação como um favor em uma tarde).

Essa deveria ser uma ficção científica sobre invasão alienígena, mas nada é revelado sobre os “visitantes”. Quem são eles, por que vieram ao nosso Planeta, o que desejam aqui, nenhuma destas perguntas é respondida pelo roteiro – tornando impossível nossa compreensão de quem estaria de fato certo na disputa: os simpatizantes ou os opositores. Sei que parece terrível deixar que invasores tirem o que é nosso, mas e se trouxer benefícios? Do jeito que está, a obra de Wyatt se mostra muito verde e inocente perante o discurso que deseja adereçar – é o típico “são vilões porque são maus” – motivação simplista que em nosso mundo evoluído e politizado não cabe mais.

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Mascarando (mas não muito) um forte teor político instigante, o novo trabalho do diretor Rupert Wyatt (de Planeta dos Macacos: A Origem) é uma ficção científica que apresenta uma nova realidade social. Aqui, alienígenas invadiram a Terra e dominam os humanos. Eles estão no comando. No mais, tudo parece seguir como antes. Passado em Chicago, acompanhamos diversas subtramas paralelas guiadas por seus personagens.

Acompanhamos, por exemplo, o protagonista Gabriel Drummond, que na cena de abertura do filme passa por uma experiência traumática de perda ao lado do irmão Rafe Drummond. Na vida adulta, os personagens são vividos respectivamente por Ashton Sanders (Moonlight) e Jonathan Majors (White Boy Rick). A vida de Gabriel como proletário, morador de bairro pobre, consiste em parte por procurar o irmão mais velho, dado como sumido e possivelmente morto. Logo, os dois se reencontram, e o caçula descobre que seu irmão é agora um dos líderes de uma célula revolucionária, que trabalha no submundo sem rastros ou forma de ser encontrada, para pôr um fim no “governo Alien”.

Esta sinopse pode até ter feito um bom trabalho em ser convidativa, mas A Rebelião possui muitos problemas, acredite. A ideia é boa e com mais desenvolvimento poderia realmente se transformar numa obra com camadas significativas. De início, devo adereçar a narrativa extremamente confusa, que causa cada vez mais desconexão com o público – o espectador se verá constantemente perdido, sem saber o que deve acompanhar ou por que deve se interessar. Imagine uma montagem no estilo dos filmes Bourne, picotada, câmera tremida e com a sensação de um “realismo documental”. Agora imagine esta narrativa seguindo não um, mas diversos personagens ao longo de múltiplas subtramas que à primeira vista não fazem sentido e não se ligam.

É muito bom presenciarmos filmes que conseguem satisfatoriamente mesclar gêneros, e justamente por isso devemos enaltecer os bem sucedidos. Porque quando esta alquimia não funciona, pode se tornar um verdadeiro desafio ao espectador. A Rebelião quer ser um thriller de espionagem, um drama, uma ficção científica sobre invasão alienígena, um filme de terror e uma crítica política. Bem, ele de fato é tudo isso, mas misturado num liquidificador, deixando o resultado com um sabor não muito convidativo. E se você não acredita, saiba que montar uma sinopse sobre o filme é um grande desafio, porque A Rebelião joga tudo em cena ao mesmo tempo, quem pegar, pegou.

Para piorar a sensação de ‘cego em tiroteio’, a narrativa não é linear, e como se já não estivéssemos perdidos o suficiente, a ordem dos acontecimentos é fora de cronologia. Um erro já que não temos tempo para conhecer os personagens a ponto de nos importarmos com eles ou sua revolução, e quando as peças são montadas, continuam sem significar nada. Em resumo, A Rebelião é uma grande bagunça, uma grande poluição visual e sonora. O triste é que se formos peneirar com vontade, no fundo de tudo dá para encontrar boa intenção e uma contundente crítica ao autoritarismo e à ditadura – já que um dos elementos aqui é o medo de ser descoberto “conspirando” contra o governo, e que de fato se concretiza com vans e homens mascarados levando os incitadores.

No elenco, dois grandes nomes destacam-se. John Goodman ganha mais espaço como o policial linha dura, obstinado a desmantelar as ameaças “terroristas”, ao mesmo tempo em que tenta manter o protagonista longe de problemas. A sempre ótima Vera Farmiga fica com o pedaço mais curto da vara, numa micro participação que, sinceramente, não é digna de seu talento ou esforço (a atriz deve ter gravado sua participação como um favor em uma tarde).

Essa deveria ser uma ficção científica sobre invasão alienígena, mas nada é revelado sobre os “visitantes”. Quem são eles, por que vieram ao nosso Planeta, o que desejam aqui, nenhuma destas perguntas é respondida pelo roteiro – tornando impossível nossa compreensão de quem estaria de fato certo na disputa: os simpatizantes ou os opositores. Sei que parece terrível deixar que invasores tirem o que é nosso, mas e se trouxer benefícios? Do jeito que está, a obra de Wyatt se mostra muito verde e inocente perante o discurso que deseja adereçar – é o típico “são vilões porque são maus” – motivação simplista que em nosso mundo evoluído e politizado não cabe mais.

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