domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | ‘And Just Like That…’ é guiado por performances incríveis, mas falha em recuperar a essência de ‘Sex and the City’

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Em 1998, a dramédia romântica Sex and the City estreava na HBO e, em pouco tempo, tornou-se um dos maiores sucessos da época e ajudou a aumentar a popularidade do canal em um nível estratosférico. Estrelada por Sarah Jessica Parker, Kristin Davis, Cynthia Nixon e Kim Cattrall, a produção levou para casa nada menos que sete estatuetas do Emmy e oito Globos de Ouro, além de ter colocado a carreira de suas protagonistas nos holofotes. Agora, quase duas décadas e meia mais tarde, o público que se apaixonou pelas aventuras de Carrie Bradshaw recebeu um convite inesperado para retornar a Nova York com o revival And Just Like That…’.

Toda a estrutura que precedeu a estreia dos dois primeiros episódios na HBO Max trilhou um caminho bastante interessante e que prometia seguir uma via de mão dupla – resgatando os fãs originais da obra e introduzindo personagens que ficaram marcadas na cultura pop para uma nova geração. Entretanto, apesar de atuações fabulosas de um elenco que envelheceu como vinho, não é possível dizer o mesmo do excessivo e profuso roteiro, pincelado com diálogos desnecessários e um apelo melodramático em demasia. É claro que não podemos tirar mérito do criador e showrunner Darren Star em revisitar o glamuroso e divertido microcosmos que arquitetou, mas nem suas melhores intenções são o suficiente para ofuscar os múltiplos deslizes que se estendem numa frustrante estreia.



Parker retorna como Carrie, uma amadurecida mulher que não deve nada a ninguém e que, agora, procura se adaptar ao frenesi tecnológico dos millenials e da Gen-Z, aproveitando seu background como jornalista e comunista para adentrar o mundo dos podcasts e perceber que a vida que conhecia mudou por completo. Ao seu lado, temos Miranda Hobbes (Nixon), que retorna para conseguir seu PhD em direito e fazer da sociedade uma estância melhor; e a sempre emocionada Charlotte York (Davis), que concilia o tempo com suas amigas e com a sua família, tentando ajudar a todos com seu jeito único de ser. E, talvez, deixar Cattrall de fora como a icônica Samantha Jones não tenha sido a melhor jogada – afinal, todo a essência cômica parece ter sido drenada e transmutada em uma versão mais leve e elegante demais para ser absorvida por um público que pode não compreender a dubiedade das piadas.

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De qualquer forma, é preciso comentar que a química do elenco permanece mais viva do que nunca e, por essa razão, somos transportados para um universo alheio à própria verdade, mas sem abandoná-la. Em meio a apartamentos luxuosos, jantares caros e figurinos estonteantes, o trio em questão lida com problemas pessoais que tomam um rumo surpreendente e tocante. Logo no primeiro capítulo, intitulado “Hello It’s Me”, uma menção pungente à canção homônima de Todd Rundgren, Carrie se vê no centro de um turbilhão de emoções que dá adeus a John (Chris Noth), seu marido, e mergulha no perigoso cenário da autorreflexão intimista.

É notável como Michael Patrick King, responsável tanto pela narrativa quando pela direção, não tem medo de arriscar – mas o fato de construir algo diferente acaba cedendo a uma fúnebre atmosfera que mancha o ritmo das iterações, ainda que por poucos momentos. King encontra espaço de sobra para resgatar os elementos clássicos da série original e incrementá-los com um requinte apaixonado que faz ótimo uso dos elementos imagéticos, como a paleta de cores, a fotografia comedida e uma condução sólida que busca referências no pináculo do gênero. Mas sua preocupação não se concentra como poderia na história em si, abandonando um enredo que exala com potencial ilimitado para falas sem substância e redundantes – por exemplo, a péssima sequência de abertura do piloto.

Mesmo com tantos tropeços, somos agraciados com pulsões de vulnerabilidade e de quebras de expectativa inteligentes, especialmente quando Parker e Nixon se lançam em uma tour-de-force narcótica. Parker lida com a supracitada perda do esposo, vendo sua vida virar de cabeça de para baixo, fornecendo mais camadas de complexidade à personagem; Nixon é centro de um conflito geracional e de uma comunidade recheada de minorias que abre seus olhos para a multiplicidade étnica que agora domina o mundo. No topo de tudo isso, temos introduções bem-vindas ao elenco, que incluem Sara Ramirez como Che Diaz, chefe de Sarah e uma pessoa muito aberta a discutir sobre temas como identidade de gênero e orientação sexual; Nicole Ari Parker como a espirituosa e ansiosa Lisa Todd Wexley; e a sistemática Karen Pittman como Nya Wallace.

Entre trancos e barrancos, ensejos de brilhantismo não são o bastante para esconder os equívocos que se espalham pelos episódios iniciais de And Just Like That…’ – e, no final das contas, os fãs assíduos da produção original serão os maiores beneficiados. Felizmente, somos cativados por rendições de tirar o fôlego e uma audácia memorável, destilando um gostinho de que as coisas podem melhorar muito nas semanas seguintes.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Crítica | ‘And Just Like That…’ é guiado por performances incríveis, mas falha em recuperar a essência de ‘Sex and the City’

Em 1998, a dramédia romântica Sex and the City estreava na HBO e, em pouco tempo, tornou-se um dos maiores sucessos da época e ajudou a aumentar a popularidade do canal em um nível estratosférico. Estrelada por Sarah Jessica Parker, Kristin Davis, Cynthia Nixon e Kim Cattrall, a produção levou para casa nada menos que sete estatuetas do Emmy e oito Globos de Ouro, além de ter colocado a carreira de suas protagonistas nos holofotes. Agora, quase duas décadas e meia mais tarde, o público que se apaixonou pelas aventuras de Carrie Bradshaw recebeu um convite inesperado para retornar a Nova York com o revival And Just Like That…’.

Toda a estrutura que precedeu a estreia dos dois primeiros episódios na HBO Max trilhou um caminho bastante interessante e que prometia seguir uma via de mão dupla – resgatando os fãs originais da obra e introduzindo personagens que ficaram marcadas na cultura pop para uma nova geração. Entretanto, apesar de atuações fabulosas de um elenco que envelheceu como vinho, não é possível dizer o mesmo do excessivo e profuso roteiro, pincelado com diálogos desnecessários e um apelo melodramático em demasia. É claro que não podemos tirar mérito do criador e showrunner Darren Star em revisitar o glamuroso e divertido microcosmos que arquitetou, mas nem suas melhores intenções são o suficiente para ofuscar os múltiplos deslizes que se estendem numa frustrante estreia.

Parker retorna como Carrie, uma amadurecida mulher que não deve nada a ninguém e que, agora, procura se adaptar ao frenesi tecnológico dos millenials e da Gen-Z, aproveitando seu background como jornalista e comunista para adentrar o mundo dos podcasts e perceber que a vida que conhecia mudou por completo. Ao seu lado, temos Miranda Hobbes (Nixon), que retorna para conseguir seu PhD em direito e fazer da sociedade uma estância melhor; e a sempre emocionada Charlotte York (Davis), que concilia o tempo com suas amigas e com a sua família, tentando ajudar a todos com seu jeito único de ser. E, talvez, deixar Cattrall de fora como a icônica Samantha Jones não tenha sido a melhor jogada – afinal, todo a essência cômica parece ter sido drenada e transmutada em uma versão mais leve e elegante demais para ser absorvida por um público que pode não compreender a dubiedade das piadas.

De qualquer forma, é preciso comentar que a química do elenco permanece mais viva do que nunca e, por essa razão, somos transportados para um universo alheio à própria verdade, mas sem abandoná-la. Em meio a apartamentos luxuosos, jantares caros e figurinos estonteantes, o trio em questão lida com problemas pessoais que tomam um rumo surpreendente e tocante. Logo no primeiro capítulo, intitulado “Hello It’s Me”, uma menção pungente à canção homônima de Todd Rundgren, Carrie se vê no centro de um turbilhão de emoções que dá adeus a John (Chris Noth), seu marido, e mergulha no perigoso cenário da autorreflexão intimista.

É notável como Michael Patrick King, responsável tanto pela narrativa quando pela direção, não tem medo de arriscar – mas o fato de construir algo diferente acaba cedendo a uma fúnebre atmosfera que mancha o ritmo das iterações, ainda que por poucos momentos. King encontra espaço de sobra para resgatar os elementos clássicos da série original e incrementá-los com um requinte apaixonado que faz ótimo uso dos elementos imagéticos, como a paleta de cores, a fotografia comedida e uma condução sólida que busca referências no pináculo do gênero. Mas sua preocupação não se concentra como poderia na história em si, abandonando um enredo que exala com potencial ilimitado para falas sem substância e redundantes – por exemplo, a péssima sequência de abertura do piloto.

Mesmo com tantos tropeços, somos agraciados com pulsões de vulnerabilidade e de quebras de expectativa inteligentes, especialmente quando Parker e Nixon se lançam em uma tour-de-force narcótica. Parker lida com a supracitada perda do esposo, vendo sua vida virar de cabeça de para baixo, fornecendo mais camadas de complexidade à personagem; Nixon é centro de um conflito geracional e de uma comunidade recheada de minorias que abre seus olhos para a multiplicidade étnica que agora domina o mundo. No topo de tudo isso, temos introduções bem-vindas ao elenco, que incluem Sara Ramirez como Che Diaz, chefe de Sarah e uma pessoa muito aberta a discutir sobre temas como identidade de gênero e orientação sexual; Nicole Ari Parker como a espirituosa e ansiosa Lisa Todd Wexley; e a sistemática Karen Pittman como Nya Wallace.

Entre trancos e barrancos, ensejos de brilhantismo não são o bastante para esconder os equívocos que se espalham pelos episódios iniciais de And Just Like That…’ – e, no final das contas, os fãs assíduos da produção original serão os maiores beneficiados. Felizmente, somos cativados por rendições de tirar o fôlego e uma audácia memorável, destilando um gostinho de que as coisas podem melhorar muito nas semanas seguintes.

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Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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