quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | As Viúvas – Mulheres unidas e homens detestáveis em filme surpreendente

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A nova obra de Steve McQueen é sobre um roubo, no entanto, quando se trata do diretor dos proeminentes Shame (2011) e 12 Anos de Escravidão (2013), um filme nunca é sobre apenas um tema. As Viúvas (Widows) parte da banalidade da vida criminal em direção a voos mais altos, discutindo núcleos familiares, política, desenvolvimento social e empoderamento. Para preparar bem os ingredientes desta iguaria, McQueen contou com a coautoria de Gillian Flynn (Garota Exemplar) e a protagonista Viola Davis (How To Get Away With a Murder), com chance de sua quarta indicação ao Oscar.

A cena inicial já põe em evidência a mistura pretendida pelo diretor, com um contraponto entre a paixão e o perigo, algo intercalado o tempo todo no filme, por meio das tonalidades entre a força e a emoção. Ao longo da trajetória de Veronica, a atriz Viola Davis resplandece com veemência em seus momentos de “chefe da máfia” e nos encanta em suas sequências de descarga emocional.



Logo após a funeral do marido Harry Rawlings (Liam Neeson), Verônica recebe a visita truculenta do candidato a vereador Jamal Manning (Brian Tyree Henry) em busca dos seus 2 milhões de dólares queimados durante a explosão, que matou Harry e seus associados. Com um mês para acertar as contas, Veronica encontra uma saída a partir do caderno de anotações do seu marido. Ali está o plano para conseguir o dinheiro requisitado e muito mais.

Assim, Veronica decide encontrar as outras viúvas para auxiliá-la nesta missão. A vida não ficou fácil para nenhuma delas e as peculiaridades de cada personagem são trabalhadas com esmero. Seja Linda (Michelle Rodriguez), que vê a sua loja e fonte de renda ser despedaçada por mercenários para quitar uma dívida do marido, seja Alice (Elizabeth Debicki), acostumada a uma vida de luxo, que passa a alugar o seu corpo para manter seus status. Ou ainda, Amanda (Carrie Coon) – que não se une ao grupo – às voltas com um bebê de quatro meses.

Com esse time, As Viúvas ao mesmo tempo que desenvolve um filme de ação, suspense e jogo político, reivindica o protagonismo dessas mulheres antes à sombra da vida bandida dos seus maridos. McQueen consegue também impor vivacidade em seus coadjuvantes, com destaque para Daniel Kaluuya (Corra!). Ele aparece em pouquíssimos momentos, mas na pele de Jatemme Manning glorifica-se com a psicopatia do seu trabalho sujo e a sua impressionante postura em cena. Vale ressaltar também as ótimas participações de Jacki Weaver (como mãe de Alice) e Robert Duvall (como pai de Jack – personagem de Colin Farrell).

Com grandes chances de uma indicação ao Oscar, Steve McQueen ousa em sua composição. Em uma longa sequência, o candidato a vereador Jack Mulligan (Colin Farrell) e Siobhan (Molly Kunz) entram no carro e têm uma conversa sobre o cansaço da vida política e amargura da sujeira deste meio, enquanto ela o repreende e afirmar ser aquela é a sua única vocação. Um diálogo poderoso que ocorre dentro do automóvel, enquanto a câmera acompanha do lado de fora seu percurso pela vizinhança, mostrando ao fundo as mudanças de ambientação entre as regiões.

Em Viúvas, é de se esperar algumas reviravoltas e segredos revelados, afinal Gillian Flynn  provou-se especialista em recontar pontos de vistas em seus livros. Pequenos elementos chave são apresentados no decurso da obra, como a cachorrinha de Veronica que a acompanha em todos os lugares, sendo um elemento de composição muito bem adotado, mas também representativo, tanto pelo lado emotivo quanto para o racional da história.

Sobretudo, é magistral ver a equipe de mulheres em ação, ainda mais com a chegada da quarta integrante Belle (Cynthia Erivo), como motorista do grupo. Ela entra no terceiro ato do filme e faz uma ótima parceria com Viola Davis em cena. Já Michelle Rodriguez parece menos violenta que em seus personagens anteriores e mais moderada como mãe de duas crianças, enquanto Debicki é a própria contraposição de si, enorme perto de qualquer homem, sua personagem ainda subestima o seu potencial e poder.

As Viúvas é tudo que o desanimador Oito Mulheres e um Segredo (2018) prometia, mas não cumpriu. Para além de um filme do gênero policial, a obra debruça-se sobre a humanidade e as suas teias de conexões. Aqui, as piadas não têm vez, entretanto, temos um alívio na doçura do cachorrinho e na perversidade sarcástica de Jatemme. A vida é um jogo sujo e a mensagem de McQueen e Flynn ecoa pela tela quando Veronica, pela primeira vez, após perder várias partidas, abre finalmente um sorriso e os créditos sobem.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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A cena inicial já põe em evidência a mistura pretendida pelo diretor, com um contraponto entre a paixão e o perigo, algo intercalado o tempo todo no filme, por meio das tonalidades entre a força e a emoção. Ao longo da trajetória de Veronica, a atriz Viola Davis resplandece com veemência em seus momentos de “chefe da máfia” e nos encanta em suas sequências de descarga emocional.

Logo após a funeral do marido Harry Rawlings (Liam Neeson), Verônica recebe a visita truculenta do candidato a vereador Jamal Manning (Brian Tyree Henry) em busca dos seus 2 milhões de dólares queimados durante a explosão, que matou Harry e seus associados. Com um mês para acertar as contas, Veronica encontra uma saída a partir do caderno de anotações do seu marido. Ali está o plano para conseguir o dinheiro requisitado e muito mais.

Assim, Veronica decide encontrar as outras viúvas para auxiliá-la nesta missão. A vida não ficou fácil para nenhuma delas e as peculiaridades de cada personagem são trabalhadas com esmero. Seja Linda (Michelle Rodriguez), que vê a sua loja e fonte de renda ser despedaçada por mercenários para quitar uma dívida do marido, seja Alice (Elizabeth Debicki), acostumada a uma vida de luxo, que passa a alugar o seu corpo para manter seus status. Ou ainda, Amanda (Carrie Coon) – que não se une ao grupo – às voltas com um bebê de quatro meses.

Com esse time, As Viúvas ao mesmo tempo que desenvolve um filme de ação, suspense e jogo político, reivindica o protagonismo dessas mulheres antes à sombra da vida bandida dos seus maridos. McQueen consegue também impor vivacidade em seus coadjuvantes, com destaque para Daniel Kaluuya (Corra!). Ele aparece em pouquíssimos momentos, mas na pele de Jatemme Manning glorifica-se com a psicopatia do seu trabalho sujo e a sua impressionante postura em cena. Vale ressaltar também as ótimas participações de Jacki Weaver (como mãe de Alice) e Robert Duvall (como pai de Jack – personagem de Colin Farrell).

Com grandes chances de uma indicação ao Oscar, Steve McQueen ousa em sua composição. Em uma longa sequência, o candidato a vereador Jack Mulligan (Colin Farrell) e Siobhan (Molly Kunz) entram no carro e têm uma conversa sobre o cansaço da vida política e amargura da sujeira deste meio, enquanto ela o repreende e afirmar ser aquela é a sua única vocação. Um diálogo poderoso que ocorre dentro do automóvel, enquanto a câmera acompanha do lado de fora seu percurso pela vizinhança, mostrando ao fundo as mudanças de ambientação entre as regiões.

Em Viúvas, é de se esperar algumas reviravoltas e segredos revelados, afinal Gillian Flynn  provou-se especialista em recontar pontos de vistas em seus livros. Pequenos elementos chave são apresentados no decurso da obra, como a cachorrinha de Veronica que a acompanha em todos os lugares, sendo um elemento de composição muito bem adotado, mas também representativo, tanto pelo lado emotivo quanto para o racional da história.

Sobretudo, é magistral ver a equipe de mulheres em ação, ainda mais com a chegada da quarta integrante Belle (Cynthia Erivo), como motorista do grupo. Ela entra no terceiro ato do filme e faz uma ótima parceria com Viola Davis em cena. Já Michelle Rodriguez parece menos violenta que em seus personagens anteriores e mais moderada como mãe de duas crianças, enquanto Debicki é a própria contraposição de si, enorme perto de qualquer homem, sua personagem ainda subestima o seu potencial e poder.

As Viúvas é tudo que o desanimador Oito Mulheres e um Segredo (2018) prometia, mas não cumpriu. Para além de um filme do gênero policial, a obra debruça-se sobre a humanidade e as suas teias de conexões. Aqui, as piadas não têm vez, entretanto, temos um alívio na doçura do cachorrinho e na perversidade sarcástica de Jatemme. A vida é um jogo sujo e a mensagem de McQueen e Flynn ecoa pela tela quando Veronica, pela primeira vez, após perder várias partidas, abre finalmente um sorriso e os créditos sobem.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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