quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | Assunto de Família – Filme do Japão no Oscar emociona, choca e faz refletir

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Essa família é muito unida, mas também muito… criminosa!

Hype. Uma palavra muito utilizada atualmente, em especial quando o assunto é cinema. Mas o que significa realmente? Algumas das definições mais frequentes são: propaganda exagerada, comercialismo, jogada de marketing, golpe publicitário, alarde, alvoroço, barulho da mídia, carnaval, espalhafato, estardalhaço, euforia, exagero, excitação, febre, furor, onda, sensação, sensacionalismo e badalação.

Embora algumas definições acima se encaixem perfeitamente, a verdadeira pergunta a ser feita é: o que causa o hype? Muitas variáveis existem nesta resposta. No caso de Assunto de Família, a expectativa em relação ao filme se deve por seu prestígio junto aos críticos, a vitória do prêmio máximo no Festival de Cannes deste ano e ao fato de ser o representante do Japão no próximo Oscar. Como não gerar ansiedade com este currículo?



Dirigido pelo cultuado cineasta Hirokazu Koreeda (Pais e Filhos) – que como de costume assume completamente as rédeas da produção, escrevendo a história e o roteiro igualmente -, o longa apresenta uma trama simples, destrinchando o dia a dia de uma família e, aos poucos, descortinando perante nossos olhos a complexidade de sua estrutura nada convencional. A começar pela “escola” de batedores de carteira e ladrõezinhos de mercado, na qual Osamu (Lily Franky) é o dedicado professor e figura paterna para o menino Shota (Jyo Kairi).

Pense na família Addams e troque o tom fúnebre e cômico, pelos delitos de parentes socialmente disfuncionais e temos os Shibata. A matriarca Hatsue (Kirin Kiki) é a senhora idosa dona da casa e o início de tudo. Ainda temos “a mãe” Nobuyo (Sakura Andô) e a stripper Aki (Mayu Matsuoka), todos discípulos da arte de roubar, enganar, mentir e sobreviver como podem – de forma errática. Tudo muda com a chegada da graciosa Yuri (Miyu Sasaki), uma menininha, perdida dos pais e acolhida no lar dos Shibata. A partir de sua entrada na vida deles, uma adaptação é necessária, e a influência da garota começa a ser sentida. Ela será também a curva derradeira na estrada da família, servindo como salvação e martírio.

Koreeda segue entregando um cinema naturalista, no qual cria suas cenas como pedaços da vida – como uma espiada documental de bastidores – deixando fluir o tempo necessário de cada trecho, apenas para acrescentar veracidade nas situações. Ao pensarmos que certos momentos poderiam ser mais enxutos, deixamos de perceber que eles acrescentam na construção de caráter dos personagens e suas interações. Aqui é a convivência de cada um deles, entre eles, que surge como identidade própria e incrivelmente diferenciada – dentro de um mesmo objetivo geral.

A grande sacada do cineasta é tratar de forma quase lírica, afetuosa e extremamente identificável, personagens que à primeira vista são uma família dona de muito amor entre seus membros, lutando num mundo difícil. Com o desenrolar, Koreeda vai dissolvendo suas máscaras e nos mostrando aos poucos do que são capazes. De pequenos furtos, seus crimes vão desenrolando para sequestro e daí para pior. Espertamente, o diretor dosa tais revelações para que não percamos o elo com tais personagens e para que estes não deixem de ser atraentes e dignos de nosso apreço.

Sabemos que são responsáveis por atos hediondos, mesmo assim não deixamos de entender seu lado e suas motivações. O terceiro ato ainda revela conclusões apoteóticas, abalando inclusive nossa fé na certeza de segurança e domínio sobre influências externas e internas em relação a este seio.

Assunto de Família, assim como os Shibata, mescla doçura e amargor na medida ideal – transitando facilmente entre a inocência do olhar infantil, com a sobriedade prejudicial de quando sabemos que nossos atos interferem diretamente com o bem estar do próximo. O novo filme de Koreeda dificilmente seria exposto em poucas linhas, mas sem dúvida serve para horas de debates, estudos e reflexões. Distante de qualquer conclusão fácil ou apressada, Assunto de Família é uma obra de sensações e questionamentos – que mostra o quão imersiva pode ser nossa realidade dentro de nossa bolha. Isso apenas não significa que irá tornar, de forma alguma, leve o choque com o mundo real.

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Embora algumas definições acima se encaixem perfeitamente, a verdadeira pergunta a ser feita é: o que causa o hype? Muitas variáveis existem nesta resposta. No caso de Assunto de Família, a expectativa em relação ao filme se deve por seu prestígio junto aos críticos, a vitória do prêmio máximo no Festival de Cannes deste ano e ao fato de ser o representante do Japão no próximo Oscar. Como não gerar ansiedade com este currículo?

Dirigido pelo cultuado cineasta Hirokazu Koreeda (Pais e Filhos) – que como de costume assume completamente as rédeas da produção, escrevendo a história e o roteiro igualmente -, o longa apresenta uma trama simples, destrinchando o dia a dia de uma família e, aos poucos, descortinando perante nossos olhos a complexidade de sua estrutura nada convencional. A começar pela “escola” de batedores de carteira e ladrõezinhos de mercado, na qual Osamu (Lily Franky) é o dedicado professor e figura paterna para o menino Shota (Jyo Kairi).

Pense na família Addams e troque o tom fúnebre e cômico, pelos delitos de parentes socialmente disfuncionais e temos os Shibata. A matriarca Hatsue (Kirin Kiki) é a senhora idosa dona da casa e o início de tudo. Ainda temos “a mãe” Nobuyo (Sakura Andô) e a stripper Aki (Mayu Matsuoka), todos discípulos da arte de roubar, enganar, mentir e sobreviver como podem – de forma errática. Tudo muda com a chegada da graciosa Yuri (Miyu Sasaki), uma menininha, perdida dos pais e acolhida no lar dos Shibata. A partir de sua entrada na vida deles, uma adaptação é necessária, e a influência da garota começa a ser sentida. Ela será também a curva derradeira na estrada da família, servindo como salvação e martírio.

Koreeda segue entregando um cinema naturalista, no qual cria suas cenas como pedaços da vida – como uma espiada documental de bastidores – deixando fluir o tempo necessário de cada trecho, apenas para acrescentar veracidade nas situações. Ao pensarmos que certos momentos poderiam ser mais enxutos, deixamos de perceber que eles acrescentam na construção de caráter dos personagens e suas interações. Aqui é a convivência de cada um deles, entre eles, que surge como identidade própria e incrivelmente diferenciada – dentro de um mesmo objetivo geral.

A grande sacada do cineasta é tratar de forma quase lírica, afetuosa e extremamente identificável, personagens que à primeira vista são uma família dona de muito amor entre seus membros, lutando num mundo difícil. Com o desenrolar, Koreeda vai dissolvendo suas máscaras e nos mostrando aos poucos do que são capazes. De pequenos furtos, seus crimes vão desenrolando para sequestro e daí para pior. Espertamente, o diretor dosa tais revelações para que não percamos o elo com tais personagens e para que estes não deixem de ser atraentes e dignos de nosso apreço.

Sabemos que são responsáveis por atos hediondos, mesmo assim não deixamos de entender seu lado e suas motivações. O terceiro ato ainda revela conclusões apoteóticas, abalando inclusive nossa fé na certeza de segurança e domínio sobre influências externas e internas em relação a este seio.

Assunto de Família, assim como os Shibata, mescla doçura e amargor na medida ideal – transitando facilmente entre a inocência do olhar infantil, com a sobriedade prejudicial de quando sabemos que nossos atos interferem diretamente com o bem estar do próximo. O novo filme de Koreeda dificilmente seria exposto em poucas linhas, mas sem dúvida serve para horas de debates, estudos e reflexões. Distante de qualquer conclusão fácil ou apressada, Assunto de Família é uma obra de sensações e questionamentos – que mostra o quão imersiva pode ser nossa realidade dentro de nossa bolha. Isso apenas não significa que irá tornar, de forma alguma, leve o choque com o mundo real.

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