quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | AURORA lança a obra-prima de sua carreira com o magnético e etéreo ‘The Gods We Can Touch’

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A cantora norueguesa AURORA, nome artístico de Aurora Aksnes, fez sua estreia no mundo da música em 2015, com o lançamento de um elogiado EP intitulado ‘Running with the Wolves’ – mas não foi até um ano mais tarde que encantaria o mundo com seu début oficial com o conhecido ‘All My Demons Greeting Me as a Friend’. Desde então, a artista já emprestou seus vocais para o tema oficial da novela brasileira ‘Deus Salve o Rei’, “Scarborough Fair”, que eternizou seu nome no cenário nacional e alavancou sua carreira no país; e para a animação ‘Frozen 2’, que lhe rendeu uma performance no Oscar pela track “Into the Unknown”, performada ao lado da icônica Idina Menzel.

AURORA conquistou o mundo e, mesmo apresentando um lado novo da indústria contemporânea, continua sem ter o reconhecimento que merece. Seu estilo peculiar é apenas a cereja do bolo de uma afeição estética pelo folk (como nenhuma artista tem feito nos dias de hoje) e pelo misticismo que envolve seu país natal e sua jornada como performer. Não é surpresa, pois, que ela seja uma das maiores representantes da música etérea, em que a sensorialidade explorada por outros nomes da indústria (como The Weeknd e FKA Twigs, citando alguns mais recentes) ascende a um novo patamar e fala por si próprio. Dessa maneira, a cantora funciona como receptáculo de um dêitico gênero e traduz seus sentimentos de uma forma belíssima e infinita, expandindo os horizontes para diversas subcategorias que se aglutinam em um lugar só.



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Recusando a se limitar a um único viés, ela também carrega consigo um carisma inigualável que dissolve as barreiras entre a música e os ouvintes, permitindo a criação de uma relação simbiótica – algo trazido com perfeição à sua recente investida, ‘The Gods We Can Touch’. Aqui, ela prova que está atenta às características do cenário fonográfico e constrói uma brevíssima jornada de quinze faixas e cinquenta minutos de duração. E, talvez, essa compactação tenha vindo com benefícios diversos, em que a praticidade urge, mas sem perder de vista o experimentalismo sonoro – como já vemos no breve prólogo “The Forbidden Fruits of Eden”, que preza por uma atmosfera nostálgica e mágica, reunindo elementos da cultura celta e deixando que os belíssimos vocais da lead singer ganhem força.

O álbum veio acompanhado de nada menos que seis singles promocionais, incluindo a irretocável e evocativa “Cure for Me”, uma mistura de electro-pop e um inesperado sample de “Aquarela do Brasil” que explode na sutileza maximizada do refrão – aliás, não há como saber se a faixa foi realmente inspirada na clássica canção original, embora o produtor Magnus Skylstad tenha negado essa correspondência. A verdade é que as similaridades são bastante visíveis e, no final das contas, é o que permite que nos apaixonemos ainda mais por ela.

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À medida que AURORA atinge a maturidade sonora, ela se mostra como alguém a ser reconhecido e que não tem medo de falar o que pensa, como vemos na pungente temática de “You Keep Me Crawling”: nesta track, temos o início de uma tendência teatral que viria ser explorada em outras incursões. A progressão é pincelada pela densidade dramática do piano, do violino e da bateria, abrindo espaço para uma rendição espetacular e tocante que discorre sobre um relacionamento tóxico de que o eu-lírico não consegue escapar (Por que eu continuo implorando como o animal? Talvez seja porque eu precise servir alguém). A cantora se mostra disposta a compreender o turbilhão psicológico a que foi arrastada, numa construção simbólica e confessional o suficiente para insurgir como uma das melhores reflexões de sua discografia.

O álbum não é uma mera declaração artística, mas uma epopeia bíblica que perpassa pela história da humanidade sem se deixar levar pelas fórmulas a que estamos acostumados. É nesse âmbito que “Heathens”, cujo título já demonstra uma promissora narrativa, funciona como uma crítica transparente e coesa ao fato de que, segundo as entidades onipotentes que nos criaram, somos todos pecadores e “vivemos como pagãos”, repetindo o verso inúmeras vezes como parte de uma jornada à compreensão e à lucidez. Algo parecido ocorre na sensualidade agourenta de “Artemis”, que se mostra comedida e esconde seus verdadeiros significados pela suavidade de uma performance familiar e magnético. Em “Everything Matters”, a colaboração entre AURORA e a cantora francesa Pomme é uma verborrágica constatação ethereal-trap de que o que fazemos importa – nem que seja para nós próprios.

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‘The Gods We Can Touch’ reitera um nome do cenário musical que ainda tem muito a nos contar – e que consegue se reinventar a cada disco lançado, sem abandonar a identidade que adotou e defendeu desde o começo de sua carreira. Aqui, cada canção é uma ode a si mesma, às pessoas que lhe acompanharam e a uma desconstrução da imagem do mundo como um lugar recheado não apenas de belezas, mas também de eventos contraditórios que nos reafirmam como humanos – passíveis de falhas, excessivamente sentimentais e nutridos de um amor que pode ser uma faca de dois gumes a quem não souber usá-lo.

Nota por faixa:

1. The Forbidden Fruits of Eden – 5/5
2. Everything Matters (feat. Pomme) – 5/5 
3. Giving In to the Love – 4,5/5 
4. Cure for Me – 5/5
5. You Keep Me Crawling – 5/5
6. Exist for Love – 5/5
7. Heathens – 4,5/5
8. The Innocent – 5/5
9. Exhale, Inhale – 4,5/5
10. A Temporary High – 5/5
11. A Dangerous Thing – 5/5
12. Artemis – 5/5
13. Blood in the Wine – 5/5 
14. This Could Be a Dream – 3,5/5
15. A Little Place Called the Moon – 5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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AURORA conquistou o mundo e, mesmo apresentando um lado novo da indústria contemporânea, continua sem ter o reconhecimento que merece. Seu estilo peculiar é apenas a cereja do bolo de uma afeição estética pelo folk (como nenhuma artista tem feito nos dias de hoje) e pelo misticismo que envolve seu país natal e sua jornada como performer. Não é surpresa, pois, que ela seja uma das maiores representantes da música etérea, em que a sensorialidade explorada por outros nomes da indústria (como The Weeknd e FKA Twigs, citando alguns mais recentes) ascende a um novo patamar e fala por si próprio. Dessa maneira, a cantora funciona como receptáculo de um dêitico gênero e traduz seus sentimentos de uma forma belíssima e infinita, expandindo os horizontes para diversas subcategorias que se aglutinam em um lugar só.

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Recusando a se limitar a um único viés, ela também carrega consigo um carisma inigualável que dissolve as barreiras entre a música e os ouvintes, permitindo a criação de uma relação simbiótica – algo trazido com perfeição à sua recente investida, ‘The Gods We Can Touch’. Aqui, ela prova que está atenta às características do cenário fonográfico e constrói uma brevíssima jornada de quinze faixas e cinquenta minutos de duração. E, talvez, essa compactação tenha vindo com benefícios diversos, em que a praticidade urge, mas sem perder de vista o experimentalismo sonoro – como já vemos no breve prólogo “The Forbidden Fruits of Eden”, que preza por uma atmosfera nostálgica e mágica, reunindo elementos da cultura celta e deixando que os belíssimos vocais da lead singer ganhem força.

O álbum veio acompanhado de nada menos que seis singles promocionais, incluindo a irretocável e evocativa “Cure for Me”, uma mistura de electro-pop e um inesperado sample de “Aquarela do Brasil” que explode na sutileza maximizada do refrão – aliás, não há como saber se a faixa foi realmente inspirada na clássica canção original, embora o produtor Magnus Skylstad tenha negado essa correspondência. A verdade é que as similaridades são bastante visíveis e, no final das contas, é o que permite que nos apaixonemos ainda mais por ela.

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À medida que AURORA atinge a maturidade sonora, ela se mostra como alguém a ser reconhecido e que não tem medo de falar o que pensa, como vemos na pungente temática de “You Keep Me Crawling”: nesta track, temos o início de uma tendência teatral que viria ser explorada em outras incursões. A progressão é pincelada pela densidade dramática do piano, do violino e da bateria, abrindo espaço para uma rendição espetacular e tocante que discorre sobre um relacionamento tóxico de que o eu-lírico não consegue escapar (Por que eu continuo implorando como o animal? Talvez seja porque eu precise servir alguém). A cantora se mostra disposta a compreender o turbilhão psicológico a que foi arrastada, numa construção simbólica e confessional o suficiente para insurgir como uma das melhores reflexões de sua discografia.

O álbum não é uma mera declaração artística, mas uma epopeia bíblica que perpassa pela história da humanidade sem se deixar levar pelas fórmulas a que estamos acostumados. É nesse âmbito que “Heathens”, cujo título já demonstra uma promissora narrativa, funciona como uma crítica transparente e coesa ao fato de que, segundo as entidades onipotentes que nos criaram, somos todos pecadores e “vivemos como pagãos”, repetindo o verso inúmeras vezes como parte de uma jornada à compreensão e à lucidez. Algo parecido ocorre na sensualidade agourenta de “Artemis”, que se mostra comedida e esconde seus verdadeiros significados pela suavidade de uma performance familiar e magnético. Em “Everything Matters”, a colaboração entre AURORA e a cantora francesa Pomme é uma verborrágica constatação ethereal-trap de que o que fazemos importa – nem que seja para nós próprios.

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‘The Gods We Can Touch’ reitera um nome do cenário musical que ainda tem muito a nos contar – e que consegue se reinventar a cada disco lançado, sem abandonar a identidade que adotou e defendeu desde o começo de sua carreira. Aqui, cada canção é uma ode a si mesma, às pessoas que lhe acompanharam e a uma desconstrução da imagem do mundo como um lugar recheado não apenas de belezas, mas também de eventos contraditórios que nos reafirmam como humanos – passíveis de falhas, excessivamente sentimentais e nutridos de um amor que pode ser uma faca de dois gumes a quem não souber usá-lo.

Nota por faixa:

1. The Forbidden Fruits of Eden – 5/5
2. Everything Matters (feat. Pomme) – 5/5 
3. Giving In to the Love – 4,5/5 
4. Cure for Me – 5/5
5. You Keep Me Crawling – 5/5
6. Exist for Love – 5/5
7. Heathens – 4,5/5
8. The Innocent – 5/5
9. Exhale, Inhale – 4,5/5
10. A Temporary High – 5/5
11. A Dangerous Thing – 5/5
12. Artemis – 5/5
13. Blood in the Wine – 5/5 
14. This Could Be a Dream – 3,5/5
15. A Little Place Called the Moon – 5/5

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