Durante as Guerras Mundiais, muitas histórias (para além daquelas protagonizadas pelos agentes causadores desses eventos) ficaram ocultadas ou desconhecidas do público por terem se passado nos bastidores, com cidadãos comuns que, dentro do contexto da guerra, se destacaram por suas ações, mas cujos legados ainda estão sendo descobertos e conhecidos pelas gerações atuais – graças ao incansável trabalho de escritores, produtores, cineastas e outros profissionais que têm se dedicado a trazer à tona estas narrativas. É o caso de ‘Batalhão 6888’, uma impressionante e emocionante história real que foi adaptado ao formato fílmico e que estreou no finzinho de 2024 na Netflix.
Lena (Ebony Obsidian) é uma jovem que acaba de descobrir o amor pelos olhos de Abram (Gregg Sulkin). Porém, esse amor tem os dias contados, pois Abram está prestes a integrar as forças estadunidenses na guerra contra Hitler. Triste por causa da partida, Lena vai ficando cada vez mais abatida por conta da distância e a falta de notícias, até que uma fatalidade faz com que a jovem tome a decisão de se inscrever no exército dos Estados Unidos, pois também ela queria combater na guerra. Porém, Lena é uma jovem negra, e também no exército o racismo dita as regras, de modo que Lena passa a integrar o Batalhão 6888, todo composto por mulheres negras e comandado pela Major Adams (Kerry Washington), que recebe uma curiosa missão: viajar a Paris para entregar a correspondência acumulada dos soldados e suas famílias.
Já nos primeiros minutos de ‘Batalhão 6888’ já podemos ter a certeza de que a produção se trata daqueles filmes que certamente irão emocionar o público, seja pela crueldade do contexto histórico em que está inserido, seja pela entrega do elenco, que já de cara demonstra estar totalmente imerso no tempo em que se passa a história.
Inspirado em eventos reais que ocorreram com o verdadeiro ‘Batalhão 6888’, o roteiro de Kevin Hymel e Tyler Perry encontra espaço para falar das inquietações individuais das personagens mesmo num contexto de guerra – mas sem se prender na guerra, precisamente. Ou seja, embora saibamos o tempo todo de que as batalhas estão acontecendo nos arredores, é a batalha interna que realmente interessa na trama – e aí valem todas: a batalha contra o racismo, contra o machismo, contra a xenofobia e contra os próprios medos de cada mulher que participou daquele batalhão e teve que vencer suas próprias limitações para conseguir dar conta do trabalho.
O diretor Tyler Perry (mais conhecido pelo seu trabalho na franquia ‘Madea’) equilibra bem as emoções que conduzem a história, desde a felicidade do amor às humilhações dos preconceitos, da dor da perda à alegria de se fazer respeitado – especialmente nas cenas em que o trabalho da seleção das cartas é realizado. Enviadas a Paris para dar conta da correspondência nunca enviada dos soldados, o ‘Batalhão 6888’, composto apenas por mulheres negras, fora designado para ser humilhado nesta função, mas desempenhou o trabalho com tanta dedicação que a chegada de notícias aos familiares elevou a moral dos soldados e transformou o clima nas trincheiras. As estratégias utilizadas por estas mulheres foi surpreendente e certamente calou a boca de muita gente naquela época.
Emocionante e com uma história inacreditável, ‘Batalhão 6888’ é um grande lançamento da Netflix que deveria ter sido exibido nos cinemas também. Com uma atuação potente de Kerry Washington e situações comoventes, ‘Batalhão 6888’ eleva o orgulho feminino e realça que as mulheres são totalmente capazes de realizar bem qualquer função.