sábado, abril 20, 2024

Crítica | Boca de Ouro – Filme inspirado em Nelson Rodrigues repete o que já vimos muitas vezes

Exibida no Fantástico, entre março e dezembro de 1996, a série A Vida Como Ela É… foi um verdadeira marco na teledramaturgia brasileira, afinal levou para o grande público a obra do eterno Nelson Rodrigues. Dividida em 40 episódios de oito minutos, a produção contava com roteiro de Euclydes Marinho e direção de Daniel Filho e Denise Saraceni, além de um incrível time de atores e narradores.

Agora, 23 anos após o lançamento da série, Boca de Ouro chega aos cinemas com direção de Daniel Filho e texto de Euclydes Marinho. No elenco, nomes como Marcos Palmeira, Malu Mader e Guilherme Fontes, que também atuaram na produção televisiva. Ou seja, estamos diante de mais do mesmo.

E as semelhanças não estão apenas nos vários nomes envolvidos nos dois projetos. A verdade é que o novo filme é quase que uma sequência daquela ideia. Acontece que o que funciona por oito minutos não necessariamente irá funcionar por 93 minutos. Além do que, o diretor e seu fotógrafo (Felipe Reinheimer) parecem não ver diferença entre produzir para a TV e para o cinema, investindo numa estética puramente televisiva, com direito a muitos close-ups e polgées (câmera alta). 

As atuações também remetem à TV, especialmente pelo tom melodramático e exagerado. Particularmente, uma cena entre Malu Mader e Guilherme Fontes parece esquete de programa humorístico de tão exagerada. Todas as reações são na base do grito e do excesso.

A trama conta a história de Boca de Ouro (Palmeira), um lendário e temido bicheiro que viveu em Madureira, no Rio de Janeiro, nos anos 60. Sua vida desperta a curiosidade do jornalista Caveirinha (Silvio Guindane), que procura uma ex-amante (Mader) do bandido para saber mais sobre ele. Na casa da mulher, ele recebe informações desconexas sobre o sujeito para tentar traçar um panorama maior.  

Lorena Comparato, Thiago Rodrigues, Fernanda Vasconcellos e Karina Ramil formam o elenco jovem da produção. Comparato vive Celeste, uma jovem casada que desperta a atenção do bicheiro. Embora se esforce, a atriz derrapa nas cenas que exigem um maior peso dramático. O mesmo se pode dizer de Thiago, que surge numa performance esvaziada e quase sempre caricata. O ponto forte do elenco (talvez o único) é Palmeira na pele de Boca. No caso dele, o exagero, o excesso e a estranheza eram exigências do personagem e acabam funcionando.

Como de costume nas obras de Nelson Rodrigues, temos muita nudez feminina e cenas de violência física e moral contra mulheres. Obviamente, a realidade dos anos 60 era ainda muito mais machista do que a de hoje, então não se trata de querer “cancelar” o autor. Mas também é verdade que investir numa adaptação pura, sem nenhuma intenção de revisão ou atualização soa preguiçoso e desnecessário. É só comparar, por exemplo, com o ótimo e recente O Beijo no Asfalto, de Murilo Benício, que pega uma obra clássica do autor e cria algo novo e original, sem deixar de lado a essência.

Filme visto durante o 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

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