quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | Boneca Russa – ‘Feitiço do Tempo’ com muito cinismo e roteiro original

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Como repetir o mesmo dia todos os episódios e mesmo assim ter um dos roteiros mais originais dos últimos anos? O grande nome por trás do sucesso de Boneca Russa (Russian Doll), lançado na Netflix no início de fevereiro, é Natasha Lyonne. Não somente ela é criadora da história, como produz, protagoniza e dirige o último episódio da série. Ao seu lado neste projeto está a co-criadora Amy Poehler e a diretora/roteirista Leslye Headland (Dormindo Com Outras Pessoas).

Aos moldes de Feitiço do Tempo (1993), Nadia revive sua festa de 36 anos repetidamente em busca de descobrir o motivo da sua volta, no entanto, não é fim do dia que a traz de volta, mas as suas mortes. O seriado começa com Nadia encarando-se no espelho, enquanto lava as mãos, e as batidas da porta do banheiro chamam a sua atenção para a festa do lado de fora ao som de Gotta Get Up, de Harry Nilsson.



Em uma miscelânea de pessoas, ela recebe um baseado da sua amiga anfitriã Maxine (Greta Lee), encontra Mike (Jeremy Bobb) e acaba levando-o para casa. Ela, no entanto, busca seu gato desaparecido Oatmeal e ao atravessar a rua atrás dele, é atropelada por um carro e morre. Nos segundos seguintes, Nadia está em frente ao espelho novamente, batida na porta, a canção de Harry Nilsson e a impressão de que algo está errado.

Conforme ela vive na sensação de déjà vu e continua a morrer acidentalmente repetidas vezes, as coisas começam a tomar rumos mais estranhos. Natasha Lyonne dá vida à Nadia com maestria, tal como se fosse ela mesma. Cada capítulo tem entre 24-29 minutos, no total de quatro horas de história, e é possível assistir a todos os episódios de uma vez e sentir uma empatia natural por Nadia. Ela é a mulher desta Era, livre das amarras do lugar do sexo feminino nas narrativas modernas. Ela foge de compromissos, é desbocada, cheia de vícios, trabalha como engenheira de software e não se importa com pré-julgamentos.

Sua presença em tela já é imponente, seu cabelos vermelhos, volumosos e cacheados a apresentam de forma impactante. Os seus maneirismos são divertidos e suas frases sensacionais, sempre tem o que dizer, mas de forma ponderada e racional, tal como os personagens de Nick Hornby (Alta Fidelidade e Um Grande Garoto), mas só que feminina.

Após sucessivas voltas, Nadia começa a tentar achar os meandros para transpor os obstáculos, a sua grande reviravolta e o encontro com Alan (Charlie Barnett), que também morre todos os dias. Com o aprisionamento no tempo em comum, os dois desenvolvem uma amizade necessária.

A narrativa de Alan vai ao encontro da jornada de Nadia e eles tentam entender como pausar o ciclo de voltas pós-morte. Novos personagens coadjuvantes brotam pelos caminhos, mostrando como a vida de cada um deles é rica em redes e conexões. Conforme mais eles vasculham os motivos para esta punição, Alan faz conjecturas religiosas como um purgatório, já Nadia mais racional busca explicações mais científicas no espaço-tempo.

Como uma analogia às bonecas russas, as quais sempre há uma nova dentro da casca anterior, o seriado abre as camadas da protagonista expondo desde as suas memórias mais tristes da infância até sua dificuldade de se aproximar das pessoas. É, claro, que a resolução do looping infinito é o grande desejo de todos, mas, na verdade, é o percurso dos reviventes que faz deste um dos seriados mais fantásticos da Netflix e do ano.

Como diz a amiga e psicanalista Ruth (Elizabeth Ashley), “nós somos narradores pouco confiáveis da nossa própria vida” e, assim, a gente testemunha os dois e nos vemos no espelho para lidar com a resolução de nossos próprios dilemas. Como se Boneca Russa fosse uma corda para impulsionar o público a pensar em cada momento como uma decisão que muda todo o entorno e, principalmente, seu próprio futuro.

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Como repetir o mesmo dia todos os episódios e mesmo assim ter um dos roteiros mais originais dos últimos anos? O grande nome por trás do sucesso de Boneca Russa (Russian Doll), lançado na Netflix no início de fevereiro, é Natasha Lyonne. Não somente ela é criadora da história, como produz, protagoniza e dirige o último episódio da série. Ao seu lado neste projeto está a co-criadora Amy Poehler e a diretora/roteirista Leslye Headland (Dormindo Com Outras Pessoas).

Aos moldes de Feitiço do Tempo (1993), Nadia revive sua festa de 36 anos repetidamente em busca de descobrir o motivo da sua volta, no entanto, não é fim do dia que a traz de volta, mas as suas mortes. O seriado começa com Nadia encarando-se no espelho, enquanto lava as mãos, e as batidas da porta do banheiro chamam a sua atenção para a festa do lado de fora ao som de Gotta Get Up, de Harry Nilsson.

Em uma miscelânea de pessoas, ela recebe um baseado da sua amiga anfitriã Maxine (Greta Lee), encontra Mike (Jeremy Bobb) e acaba levando-o para casa. Ela, no entanto, busca seu gato desaparecido Oatmeal e ao atravessar a rua atrás dele, é atropelada por um carro e morre. Nos segundos seguintes, Nadia está em frente ao espelho novamente, batida na porta, a canção de Harry Nilsson e a impressão de que algo está errado.

Conforme ela vive na sensação de déjà vu e continua a morrer acidentalmente repetidas vezes, as coisas começam a tomar rumos mais estranhos. Natasha Lyonne dá vida à Nadia com maestria, tal como se fosse ela mesma. Cada capítulo tem entre 24-29 minutos, no total de quatro horas de história, e é possível assistir a todos os episódios de uma vez e sentir uma empatia natural por Nadia. Ela é a mulher desta Era, livre das amarras do lugar do sexo feminino nas narrativas modernas. Ela foge de compromissos, é desbocada, cheia de vícios, trabalha como engenheira de software e não se importa com pré-julgamentos.

Sua presença em tela já é imponente, seu cabelos vermelhos, volumosos e cacheados a apresentam de forma impactante. Os seus maneirismos são divertidos e suas frases sensacionais, sempre tem o que dizer, mas de forma ponderada e racional, tal como os personagens de Nick Hornby (Alta Fidelidade e Um Grande Garoto), mas só que feminina.

Após sucessivas voltas, Nadia começa a tentar achar os meandros para transpor os obstáculos, a sua grande reviravolta e o encontro com Alan (Charlie Barnett), que também morre todos os dias. Com o aprisionamento no tempo em comum, os dois desenvolvem uma amizade necessária.

A narrativa de Alan vai ao encontro da jornada de Nadia e eles tentam entender como pausar o ciclo de voltas pós-morte. Novos personagens coadjuvantes brotam pelos caminhos, mostrando como a vida de cada um deles é rica em redes e conexões. Conforme mais eles vasculham os motivos para esta punição, Alan faz conjecturas religiosas como um purgatório, já Nadia mais racional busca explicações mais científicas no espaço-tempo.

Como uma analogia às bonecas russas, as quais sempre há uma nova dentro da casca anterior, o seriado abre as camadas da protagonista expondo desde as suas memórias mais tristes da infância até sua dificuldade de se aproximar das pessoas. É, claro, que a resolução do looping infinito é o grande desejo de todos, mas, na verdade, é o percurso dos reviventes que faz deste um dos seriados mais fantásticos da Netflix e do ano.

Como diz a amiga e psicanalista Ruth (Elizabeth Ashley), “nós somos narradores pouco confiáveis da nossa própria vida” e, assim, a gente testemunha os dois e nos vemos no espelho para lidar com a resolução de nossos próprios dilemas. Como se Boneca Russa fosse uma corda para impulsionar o público a pensar em cada momento como uma decisão que muda todo o entorno e, principalmente, seu próprio futuro.

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