quinta-feira, abril 18, 2024

Crítica | Camila Cabello celebra suas raízes cubanas com a explosão dançante de ‘Familia’

Depois de ter participado do programa The Voice, Camila Cabello encontrou enorme sucesso no mundo da música ao integrar o grupo feminino Fifth Harmony, construindo, ao lado de suas colegas, uma carreira de peso considerável e de recepção sólida por parte da crítica especializada e do público. Entretanto, depois de alguns obstáculos enfrentados, ela deixou a girl band e se reinventou com uma carreira solo que também gerou diversos hits, desde a elogiada “Never Be The Same”, passando pela divertida “Havana” e culminando com a colaboração “Señorita”, ao lado do ex-namorado Shawn Mendes.

É certo dizer que Cabello não acertou todas as vezes em que investiu esforços em seus álbuns – e é difícil dizer que repetiria o mesmo feito de sua estreia homônima, em 2018. Um ano depois de ter apresentado um lado mais amadurecido de sua própria identidade estética, ela retornaria com um desequilibrado compilado de originais intitulado ‘Romance’, que foi criticado pela explosão excessiva de múltiplos gêneros e pela falta de coesão entre uma faixa e outra. Não é surpresa, pois, que ela tenha levado um tempo maior até estar pronta para fazer seu aguardado comeback, alcançado nesta última sexta-feira, 08 de abril, com a divulgação de ‘Familia’ – uma celebração decorosa e mais forte de suas raízes latinas, que celebra exatamente o que seu título premedita durante breves trinta minutos e pontuais tropeços.

Talvez o melhor aspecto do disco seja seu caráter saudosista – afinal, como Cabello mesmo já havia comentado no processo de construção, a ideia é “celebrar” e se “reconectar com as raízes”, mergulhando em íntimo processo de nostalgia que se afasta das costumeiras narrativas românticas assinadas em um passado não muito distante. A obra já se inicia com um breve e vibrante prólogo que carrega o nome do álbum, uma simples composição em trompete curada por Ricky Reed e que nos transporta para o cosmos cubano da vida da lead singer – preparando o terreno para o sensual desenlace de “Celia”, em que o reggaeton guia frenéticos versos em espanhol e dá bases para uma aglutinação amorosa cujo único defeito é terminar rápido demais; logo depois, ela une forças com Willow Smith para uma incursão mais mainstream, por assim dizer: intitulada “psychofreak” amalgama trip-hop e um electropop comedido que, ao mesmo tempo que trata de temas importantes como saúde mental e inseguranças, rende-se a uma progressão e a um rendição repetitivas, suprimidas pela performance bem-vinda da artista convidada.

A verdade é que Cabello parece muito mais confortável dentro do escopo artístico que talhou com ‘Familia’, transparecendo uma diversão apaixonante que nos guia por essa jornada incrível e que merece ser apreciada até mesmo por aqueles que não são tão fãs de música latina. Afinal, de Rosalía entregou ‘MOTOMAMI’ dentro de uma ideia experimentalista e, dessa maneira, originou o álbum mais aclamado do ano por enquanto, Cabello voltou-se novamente à ortodoxia do que está em voga, mostrando que nem só de pop a indústria fonográfica se sustenta. Sua sagacidade aparece inclusive com a escolha dos singles, que incluem a enérgica “Bam Bam”, prestando homenagem a atos como Selena e Gente De Zona e unindo passado e presente numa atmosfera infundida com salsa e reggaeton; e a espetacular “Don’t Go Yet”, em que encarna uma versão modernizada de Gloria Estefan e, dessa maneira, gesta uma das melhores canções da carreira.

A cantora e compositora sabe como se autorreferenciar, não abandonando o que explorou em inflexões predecessoras. Ao assinar cada uma das tracks, domina os elementos que a apresentaram à música com humildade incrível: temos “La Buena Vida”, em que os violinos, os mariachis e a sutileza do cajón puxa elementos da cultura mexicana; “Quiet”, uma semibalada synth-pop que exalta os vocais da performer em uma narrativa antêmica e de libertação; e “Hasta Los Dientes”, cuja colaboração com Maria Becerra se joga na mixórdia envolvente de nu-disco e electro, permitindo que a obsessão romântica retratada seja “apaziguada” pelo sucinto organismo arquitetado pelo baixo e pelos sintetizadores.

Nem todas as entradas funcionam como deveriam – e, ironicamente, os deslizes se concentram quando Cabello tenta se reorganizar em pulsões mais experimentais ou na dramaticidade inexplicável de baladas que destoam do escapismo dançante tomado como premissa. A sonoridade conceitual de “Boys Don’t Cry” parece desfigurada e fragmentada dentro da conjuntura estrutural do álbum, enquanto a escolha de finalizá-lo com a melódica “everyone at this party” deve ser frustrante até mesmo para os fãs mais ferrenhos da artista; porém, “Lola”, erguendo-se do jazz latino e do folk cubano, a reúne com Yotuel para uma sensorialidade marcada pela multiplicidade de camadas vocais e por uma química irrefreável.

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Só o tempo dirá se ‘Familia’ configura-se como a melhor iteração de Camila Cabello – mas, por enquanto, é quase um consenso que seu terceiro disco é muito bem delineado. Ela parece seguir uma tendência de homenagem às raízes e, assim como vários antes dele, apresenta uma nova faceta de uma versatilidade que cresce ano após ano e que acompanha um cativante amadurecimento.

Nota por faixa:

1. Familia -5/5
2. Celia – 4,5/5
3. psychofreak, feat. WILLOW – 4/5
4. Bam Bam, feat. Ed Sheeran – 4/5
5. La Buena Vida – 5/5
6. Quiet – 4,5/5
7. Boys Don’t Cry – 2,5/5
8. Hasta los Dientes, feat. María Becerra – 4,5/5
9. No Doubt – 4/5
10. Don’t Go Yet – 5/5
11. Lola, feat. Yotuel – 4/5
12. Everyone at This Party – 2,5/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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