Produzida por André Ristum e Rodrigo Castellar, o seriado Colônia explora os absurdos feitos aos direitos humanos no início da década de 70 em Barbacena, Minas Gerais, onde pacientes eram internados à força em um hospício sem qualquer diagnóstico verdadeiro de doença mental. Inspirada na obra Holocausto Brasileiro de Daniela Arbex, conhecemos um lugar terrível onde aconteciam atrocidades a pessoas de diversos grupos sociais. O desespero, a intolerância, feridas profundas, torturas, choques elétricos. Aos poucos vamos começando a entender fragmentos das histórias dos personagens, principalmente da protagonista, interpretada pela atriz Fernanda Marques. Andréia Horta, Eduardo Moscovis, Marat Descartes, Rafaela Mandelli, Arlindo Lopes são alguns dos rostos conhecidos que compõem o elenco.
Na trama, reunida em dez episódios de cerca de 20 minutos de duração, acompanhamos a jovem Elisa (Fernanda Marques), alérgica à morangos, de vinte e poucos anos, grávida, que é jogada em um trem rumo à uma instituição psiquiátrica depois que, com o consentimento do pai, o dentista da família atestou mentirosamente que ela é esquizofrênica e altamente perigosa por ela não querer se casar com um homem 40 anos mais velho e estar grávida do grande amor de sua vida. Chegando nesse lugar, que mais parece uma prisão com experimentos dolorosos como choques e tratamentos longe de qualquer humanidade, ela precisará vencer o sentimento de solidão em contraponto à esperança, equilibrando atitudes e ações para achar alguma solução, com a ajuda de outros pacientes.
A protagonista é muito bem construída pelo roteiro. Percebemos as fases que passa. O início com a esperança por perto, depois linhas dramáticas de constatação da solidão, há uma desconstrução muito evidente na personagem muito bem interpretada por Fernanda Marques. Em paralelo ao que acontece com ela, vamos entendendo e buscando refletir sobre todo o contexto que é envolvida essa trama de dor e sofrimento que aborda em sua essência o abuso emocional e físico de diversas maneiras trazendo ao espectador um pouco dos horrores vividos nesse lugar que nunca deveria ter existido. A chegada de pessoas contrárias ao regime da ditadura, ainda em vigor naquela época, nos faz perceber que o lugar podia ser definido como um enorme depósito humano, onde militares de alta patente, ou famílias conservadoras, despejavam pessoas contrárias ao seu modo de pensar.
Como achar esperança nesse lugar? Há um grande espaço para a visão de muitos pacientes sobre aquele lugar, mesmo que na maioria dos casos de maneira superficial. O médico da instituição acaba vivendo um grande dilema pois sabe que está fazendo tudo ao contrário do que fora ensinado no seu curso de medicina, uma enfermeira também parece estar em uma linha tênue entre o certo e o errado.
Trazendo aos nossos olhos essa triste história, usando o preto e branco como essência do sentido das coisas na narrativa, o projeto serve para nos fazer refletir com vários paralelos em relação aos tempos que vivemos. É só querer enxergar. Estreia no dia 25 de junho no Canal Brasil.