quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | ‘Como Falar Com Garotas em Festas’ – Festa Estranha Com Gente Esquisita…

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Não tem nem uma semana que eu escrevi uma matéria aqui pro CinePOP, falando de filmes que nunca estrearam no cinema, daí parece que a Dona Netflix leu a matéria e resolveu lançar essa semana em seu catálogo ‘Como Falar Com Garota em Festas’, só porque eu o tinha incluído na listinha. Hunf! De todo modo, valeu, Tia Netflix, por dispor esse filme pra garotada!

Só ‘Boy Erased’? Outras produções com grandes astros que não chegaram nos cinemas nacionais!



Lançado em circuito gringo em 2017 (com direito a exibição em Cannes!), no Brasil ele teve apenas duas exibições no Festival do Rio de 2017. ‘Como Falar Com Garotas em Festas’ tem uma trajetória interessante: primeiramente, foi um conto, escrito pelo queridinho Neil Gaiman (autor de ‘Stardust’, ‘Sandman’, entre outros); em seguida, foi adaptado para os quadrinhos pelos irmãos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá (a HQ saiu primeiro lá fora pela DarkHorse e só em 2018 chegou aqui, pela Companhia das Letras); e por fim, virou filme, que essa semana chega ao streaming da Netflix.

Tanto o filme quanto os quadrinhos começam juntos na história, mas depois o filme faz um desvio grande antes de voltar ao centro da trama. Isso porque no longa acompanhamos três adolescentes virgens que mal beijaram na boca – Enn (Alex Sharp), Vic (Abraham Lewis) e John (Ethan Lawrence) – numa jornada pelas melhores festas underground da Londres dos anos 1970. Não é preciso dizer que essa é a época do surgimento dos movimentos punk rock e anti-monarquistas, e é nesse circuito que os três pseudo-revolucionários distribuem adesivos e zines em prol da liberdade de expressão, porém, vale lembrar que são três adolescentes frustrados, que vivem da mesada da mamãe inclusive para financiar a tal revolução.

Os garotos adoram pagar de corajosos e frequentar um pulgueiro onde bandas punk emergentes costumam tocar. A gerente do lugar, conhecida como Rainha Boadicea (Nicole Kidman, senhoras e senhores) só gosta de gente de atitude ali, ou seja, os meninos não são muito bem-vindos. Em uma determinada noite, os três acabam entrando de penetra numa festa mucho loca. Uma coisa meio sensorial, conceitual, parece mesmo aquelas instalações de arte pós-moderna de gosto meio duvidoso. Lá, pasmem!, os três conhecem garotas e conseguem conversar com elas! :O

Papo vai, papo vem, Enn sente que está encantado por Zan (Elle Fanning), afinal, ela fala com ele e tem tanto conteúdo! É claro que podemos ler aqui uma grande metáfora da vida, afinal, quem nunca se viu numa festa, conversando com gente que nem conhece, e tem a sensação de que todo mundo ali é um verdadeiro ET pra você? É por aí que a história joga, contrastando realidades que, a bem da verdade, são recortes de uma sociedade em transformação: por um lado, o punk rock e os jovens revoltados (contra o quê?), por outro, todos os que não estão nessa bolha são, de certa forma, alienígenas.

Com um interessante jogo de paleta de cores mesclando tons pálidos e frios com neons e muita luz nas festas – festa estranha com gente esquisita, literalmente! –, o diretor John Cameron Mitchell faz uma boa adaptação de uma história que já teve diversos formatos (embora a versão brasileira seja mais romântica) e retrata bem uma juventude perdida e cheia de hormônios, que não está muito distante dos jovens de hoje. O elenco jovem tem química – se é que podemos falar assim, uma vez que a trama trata justamente da falta de tato entre adolescentes – e Nicole Kidman está completamente perdida no filme, mas é legal vê-la tentar passar um ar “revoltadinha porque tenho esses piercings falsos mas não consigo ser dura porque tenho uma aparência de boneca”. O que vale na arte é a experimentação, after all.

Um filme pra juntar a turma e assistir todo mundo junto, rindo muito e zoando, porque ele não faz o menor sentido – e, sendo assim, é melhor ficar perdido junto do que sozinho.

 

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Só ‘Boy Erased’? Outras produções com grandes astros que não chegaram nos cinemas nacionais!

Lançado em circuito gringo em 2017 (com direito a exibição em Cannes!), no Brasil ele teve apenas duas exibições no Festival do Rio de 2017. ‘Como Falar Com Garotas em Festas’ tem uma trajetória interessante: primeiramente, foi um conto, escrito pelo queridinho Neil Gaiman (autor de ‘Stardust’, ‘Sandman’, entre outros); em seguida, foi adaptado para os quadrinhos pelos irmãos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá (a HQ saiu primeiro lá fora pela DarkHorse e só em 2018 chegou aqui, pela Companhia das Letras); e por fim, virou filme, que essa semana chega ao streaming da Netflix.

Tanto o filme quanto os quadrinhos começam juntos na história, mas depois o filme faz um desvio grande antes de voltar ao centro da trama. Isso porque no longa acompanhamos três adolescentes virgens que mal beijaram na boca – Enn (Alex Sharp), Vic (Abraham Lewis) e John (Ethan Lawrence) – numa jornada pelas melhores festas underground da Londres dos anos 1970. Não é preciso dizer que essa é a época do surgimento dos movimentos punk rock e anti-monarquistas, e é nesse circuito que os três pseudo-revolucionários distribuem adesivos e zines em prol da liberdade de expressão, porém, vale lembrar que são três adolescentes frustrados, que vivem da mesada da mamãe inclusive para financiar a tal revolução.

Os garotos adoram pagar de corajosos e frequentar um pulgueiro onde bandas punk emergentes costumam tocar. A gerente do lugar, conhecida como Rainha Boadicea (Nicole Kidman, senhoras e senhores) só gosta de gente de atitude ali, ou seja, os meninos não são muito bem-vindos. Em uma determinada noite, os três acabam entrando de penetra numa festa mucho loca. Uma coisa meio sensorial, conceitual, parece mesmo aquelas instalações de arte pós-moderna de gosto meio duvidoso. Lá, pasmem!, os três conhecem garotas e conseguem conversar com elas! :O

Papo vai, papo vem, Enn sente que está encantado por Zan (Elle Fanning), afinal, ela fala com ele e tem tanto conteúdo! É claro que podemos ler aqui uma grande metáfora da vida, afinal, quem nunca se viu numa festa, conversando com gente que nem conhece, e tem a sensação de que todo mundo ali é um verdadeiro ET pra você? É por aí que a história joga, contrastando realidades que, a bem da verdade, são recortes de uma sociedade em transformação: por um lado, o punk rock e os jovens revoltados (contra o quê?), por outro, todos os que não estão nessa bolha são, de certa forma, alienígenas.

Com um interessante jogo de paleta de cores mesclando tons pálidos e frios com neons e muita luz nas festas – festa estranha com gente esquisita, literalmente! –, o diretor John Cameron Mitchell faz uma boa adaptação de uma história que já teve diversos formatos (embora a versão brasileira seja mais romântica) e retrata bem uma juventude perdida e cheia de hormônios, que não está muito distante dos jovens de hoje. O elenco jovem tem química – se é que podemos falar assim, uma vez que a trama trata justamente da falta de tato entre adolescentes – e Nicole Kidman está completamente perdida no filme, mas é legal vê-la tentar passar um ar “revoltadinha porque tenho esses piercings falsos mas não consigo ser dura porque tenho uma aparência de boneca”. O que vale na arte é a experimentação, after all.

Um filme pra juntar a turma e assistir todo mundo junto, rindo muito e zoando, porque ele não faz o menor sentido – e, sendo assim, é melhor ficar perdido junto do que sozinho.

 

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