Como Sair de Buffalo estreia nesta sexta-feira, às 22h30 (horário de BSB), na TNT
Como uma espiral em declínio, a incessante busca pelo dinheiro não inclui ponderações de caráter e ilegalidade. Quando se quer algo a todo custo, nasce também a terrível sensação de impunidade por viver em um grande vale tudo, um furacão onde todos são arrebatados por sua ganância. E foi assim que a tóxica indústria de cobradores de dívidas nasceu nos Estados Unidos. Em meio à doentias técnicas de manipulação e acúmulo de taxas ilegais, homens e mulheres sem rostos realizam maquinações das mais diversas, gerando um problema crônico no país. E esse submundo ganha o palco principal na nova comédia dramática original TNT, intitulada Como Sair de Buffalo.
Aqui, Peg quer dinheiro. Inicialmente para bancar os seus estudos em uma universidade de prestígio, ela concentra todas as suas forças e descendência na trambicagem (herança do seu malandro pai) para conquistar esse sonho. Mas as curvas da vida lhe reservam uma surpresa mais ambiciosa e o que os estudos não lhe garantiriam em tempo recorde, a vida como uma cobradora ilegal de dívidas assim o faz, dando início a uma jornada inesgotável de mais dinheiro por pura ostentação.
Não à toa a ganância é condenada biblicamente. Como Sair de Buffalo, dirigido por Tanya Wexler, mostra exatamente o maldito ciclo vicioso que ela, associada à soberba – um dos sete pecados capitais -, são capazes de gerar, afetando a vida de uma infinidade de pessoas como em um colossal efeito dominó. E Zoey Deutch é aqui a personificação efervescente de toda essa avareza. Briguenta, propositalmente escandalosa e facilmente definida como alguém sangue-nos-olhos, ela encara Peg, uma jovem que só conhece as trapaças como estilo de vida e sai em uma caçada por dinheiro sem qualquer fim. Se antes um curso superior era o seu foco, hoje tudo se trata de apenas ter grana, para quem sabe ter um pouco mais.
Com uma atuação enérgica que arrebata tudo e todos em uma fração de segundos, Deutch mostra aqui todo o seu potencial de ser overacting, cheia de explosões emocionais e expressões faciais que carregam em si até mesmo algumas referências do perfil mais caipira natural da cidade de Buffalo. Divertida e contrastante, ela é uma espécie de anti-heroína. Nada nela nos encanta. Nada nela nos faz querer se identificar com ela. Mas é impossível tirar os olhos dela.
Sua performance é orbitada por personagens coadjuvantes que, infelizmente, não seguem o seu mesmo nível de maestria. Sempre à margem – tanto na trama, como na suas respectivas construções narrativas, Judy Greer e Noah Reid são constantemente ofuscados por ela. Mas quem emerge à sua altura e ainda desafia a nossa memória é Jai Courtney, que ganha ares de cafetão e Rei do Crime, resultando em uma combinação que quase o faz sumir em seu próprio papel. E a sua dinâmica com Deutch é um dos aspectos mais prazerosos de toda a trama.
Com um viés denunciante, que se desenvolve na trama sem perder a abordagem criativa de um filme que ao final de tudo visa entreter o seu público, Como Sair de Buffalo é mais uma daquelas preciosidades nascidas em festivais de cinema. Apresentado em Tribeca em 2019, a nova comédia dramática tem seus pequenos tropeços em alguns dos arcos desenvolvidos pelo roteirista Brian Sacca, mas voa com avidez, entregando uma experiência deliciosamente intensa e divertida. Um ótimo programa para curtir em uma sexta-feira à noite.