sábado, maio 4, 2024

Crítica | ‘Contra o Mundo’ é uma gratíssima surpresa para os fãs de ação

Durante os anos 1980, os brucutus tomaram conta de Hollywood e popularizaram os filmes de porradaria franca, angariando uma legião de fãs que perdura até hoje. Mais do que isso, esse fenômeno acabou alavancado os filmes de artes marciais e criando uma relação boa com eles, afinal… Ação é sempre bom. Essa pegada de ‘exército de um homem só’ cativa justamente pela postura dos protagonistas e a diversão de ver os caras destroçando mais adversários que psicopata de filme de terror e terminando com tudo dando certo.

Alguns anos depois, esse subgênero caiu em desuso e a ação foi dando mais espaço para a aventura. Esses longas ‘porradeiros’ acabaram sendo relegados a produções B. Felizmente, na década passada, a franquia John Wick mostrou a Hollywood que ainda havia interesse do público nesse tipo de filme e sem precisar apelar necessariamente para os corpos musculosos dos fisiculturistas dos cinemas. Desde então, o público vem recebendo ao menos um filme desse tipo a cada dois anos. E a ‘cota porradaria’ 2024 parece ser Contra o Mundo.

O filme se apoia em uma trama essencialmente sobre vingança. A história acompanha o jovem Boy (Bill Skarsgård), um rapaz que vive em um futuro totalitário e acabou sendo vítima das ações repressoras do governo. Depois de ver sua família ser assassinada diante de seus olhos, ter sua língua arrancada e sua audição destruída, o menino é deixado para morrer em uma floresta, onde acaba sendo resgatado por um Xamã (Yayan Ruhian). Ele treina o garoto em seu estilo de artes marciais para transformar o menino em uma máquina de vingança, aguardando apenas o dia que estará pronto para derrubar esse governo corrupto. Os anos passam e o Boy cruza o caminho dos monarcas no dia do Abate, um festival anual em que eles massacram opositores do regime na TV. Diante desse cenário caótico, nosso protagonista dá início a sua vingança da forma mais violenta e sangrenta possível.

Logo de cara, é preciso ressaltar que esse filme beira a perfeição para os fãs de histórias em quadrinhos e videogames. Por ter um protagonista surdo e mudo, a trama é conduzida por meio da voz interior de Boy. Isso dá a ele um tipo de narração em off que segue o longa inteiro com pensamentos típicos dos balões das HQs e um humor bastante característico. Da mesma forma, por ser um protagonista que teve uma vida normal até a infância e depois passou a viver um treinamento de foco total nas artes marciais, o Boy é praticamente um molecão no corpo de um assassino profissional. É como ler um quadrinho do Demolidor do Mark Waid protagonizado pelo Shazam. E o melhor é que a direção de Moritz Mohr valoriza os planos de luta, conduzindo o filme como se estivesse folheando as páginas de um gibi. Dá um dinamismo frenético.

Sobre a questão dos videogames, o longa se inspira nos games clássicos de luta para compor figurinos, situações e fazer piadas que referenciem esses jogos icônicos. Há momentos que pegam o melhor de Street Fighter e combinam com a violência gráfica de Mortal Kombat. Por não se propor a ser algo sério, eles misturam todo essa sanguinolência a um humor canalha ao melhor estilo estilo John Wick, mas com um protagonista ainda mais carismático.

O trabalho de Bill Skarsgård é fenomenal. Ele carrega sua atuação por meio das expressões faciais e corporais. E por ter um rosto muito expressivo, dá show. É muito divertido ver ele reagindo a um mundo ao qual está tendo contato pela primeira vez. A decisão de ter esse falando por meio do off também foi genial. Deixa tudo mais divertido. E urge falar sobre as coreografias de artes marciais que ele domina com maestria. É tudo muito bem marcado e cru. É porrada de verdade pra encher os olhos dos fãs. Sem contar os combates com armas brancas, extremamente angustiantes, como a sequência de pancadaria franca na cozinha, que termina com o Boy mutilando seus rivais com um ralador de queijo. É um prato cheio para quem se amarra em filmes com artes marciais.

Não deixe de assistir:

Vale ressaltar que é uma ação galhofa. Tudo no filme é muito caricato, uma escolha proposital para divertir e permitir que o público compre alguns absurdos de embrulhar o estômago. Sim, te garanto que você vai chorar de rir de uma cabeça decepada. Dentro dessa proposta, nada é mais caricato que os vilões. Não existe apenas um antagonista, são vários. Cada um representa uma faceta das diferentes repressões que o povo sofre por aí diariamente. E nenhum deles se destaca tanto quanto Brett Gelman.

O humorista se destacou há alguns anos em Stranger Things e desde então virou o ator perfeito para interpretar o babaca de moralidade questionável. Ele faz esse papel com maestria. É impossível não se divertir e eventualmente sentir um pouco de ódio de suas ações. Um ator muito subestimado.

Sem medo de ser feliz, o filme reúne em tela o melhor que a violência cinematográfica tem a oferecer. E ao explorar a versatilidade de Bill Skarsgård, o longa se torna uma excelente pedida para quem busca diversão de qualidade. Para não dizer que é o filme de ação perfeito, há uma leve barriga na transição do segundo para o terceiro ato que é logo compensada pela ação e uma série de viradas na trama. O famoso ‘eita atrás de eita’.

Contra o Mundo é uma gratíssima surpresa nesse início de ano para quem quer sentar na poltrona do cinema para se divertir e viajar num universo quase geek da mais simples e bela porradaria fictícia. É uma mistura da ação à moda antiga com a roupagem moderna dos grandes blockbusters de primeira linha.

Contra o Mundo está em cartaz nos cinemas.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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