domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Entre altos e baixos, ‘Circus’ mantém a originalidade eletrizante de Britney Spears

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Depois de ter feito um comeback explosivo com o revolucionário álbum ‘Blackout’, Britney Spears finalmente retornava às suas raízes e continuava a fazer o que sempre amou – música. Um ano mais tarde, a princesa do pop mergulhava de cabeça no pop chiclete que a colocou no topo do mundo, abraçando o que continuava a representar no cenário mainstream. Aliando-se à reinsurgência do electropop no cenário fonográfico e resgatando os elementos do dance-pop que explorara em incursões anteriores, Britney deu vida ao adorado Circus, que, entre altos e baixos, tem um saldo bastante positivo quando olhado quase quinze anos depois de seu lançamento.

Composto por treze faixas na versão padrão e quinze na deluxe (esta última disponível no Spotify), Spears se reuniu com uma legião de produtores que, contra todas as expectativas, conseguiram manter a coesão por boa parte dessa vibrante jornada sonora. É claro que, considerando que o reinado do pop passava por uma amálgama experimental de vários gêneros, ela não tinha outra saída além de reinventar a si própria em uma imagem que dialogava com ‘Blackout’ e ‘In The Zone’ (no tocante à imagem adulta que encarnou e reafirmou em cada uma de suas canções desde então) – como visto no lead single “Womanizer”, que abriu as portas para uma nova geração que não conhecia suas clássicas canções. Chegando aos ouvidos dos fãs dois meses antes da estreia oficial do álbum, o impactante synth-pop ganhou elogios da crítica especializada por seu controverso conteúdo lírico e pelo memorável gancho, aumentando nossas expectativas para o que o futuro aguardava.



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De fato, essa aventura regada a hinos próprios para as pistas de dança trouxe o regresso de Max Martin à produção de certas tracks, e promoveu uma colaboração infinita de compositores e permitiu que a própria performer voltasse a assinar algumas telas – sem a necessidade de se provar para ninguém, e sim como forma de agradecer àqueles que sempre estiveram ao seu lado. Junto ao single supracitado, várias músicas promocionais permearam o disco, incluindo a ótima “If U Seek Amy” (que propositalmente cutucou os conservadores pela desconstrução da problemática “família tradicional suburbana” dos Estados Unidos) e “Kill the Lights” (uma investida fruto da fusão entre dance e R&B que delineou críticas pungentes ao sensacionalismo da mídia e ao preço da fama, uma reminiscência temática de “Overprotected”, “Lucky” e tantas outras).

Assista também:
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Há outras faixas dignas de nossa atenção que despontam na envolvente e mágica profusão musical que Spears encabeça – e, ao contrário do que muitos podem dizer, são as baladas e semi-baladas que tiram o status intocável da cantora e refletem uma insegurança e uma vulnerabilidade que a acompanham desde sua estreia em 1999. Temos a simplicidade de “Out from Under”, que trata sobre um romance passado que estende suas sombras para um presente marcado pelo ressentimento (resumido no verso “não quero sonhar sobre as coisas que nunca foram”, que abre o tocante refrão), e uma sagaz inexpressão robótica de “Unusual You”, que abusa do autotune e dos sintetizadores que antecipam uma realização dramática e melancólica (“ninguém te contou que você deveria partir o meu coração?”); “Blur”, mais ousada que suas conterrâneas, é pincelada com influências urbanas que pode passar despercebida, mas que merece nossa atenção.

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Como é de se esperar, Britney está em seu melhor quando se volta para o pop, demonstrando total domínio sobre o gênero que ajudou a imortalizar em sua adolescência. A faixa titular configura-se como a mais bem trabalhada, reiterando a cantora como uma das pioneiras na espetacularização da música: auxiliada por Dr. Luke, Spears navega em uma aglutinação de versos que até hoje são relembrados por qualquer um que já tenha se interessado por sua discografia, recuperando a confiança performativa que perdera nos anos anteriores e mostrando que ainda tem controle sobre a própria arte. Não obstante a impecabilidade da canção, Circus é um dos emblemas da princesa do pop e é considerada, inclusive por este que vos, como um dos principais ápices de sua carreira (levando em conta álbuns que sairiam mais tarde).

“Radar”, presente na iteração predecessora, retorna com a força mercadológica que merecia em 2007 e se respalda no electro-disco como nunca visto, alimentando um terreno fértil para a imersão do Euro disco e da eletrônica. Mais uma vez, Britney justifica seu título no escopo do entretenimento ao criar um hit sem precedentes, associando as distorções vocais a uma sônica rendição que dialogam de modo quase simbiótico ao título apresentado. Seguindo os mesmos passos, encontramos a densidade evocativa de duas faixas que também tinham um enorme potencial para serem singles“Shattered Glass” e “Phonography”, cuja acidez lírica ofusca os eventuais deslizes.

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Em contraposição, lidamos com algumas tentativas de originalidade que falham em cumprir com o que pretendem dizer. “Mmm Papi” se rende ao camp e ao exagero, emulando a divertida “The Hook Up” e, infelizmente, passando longe de conquistar um patamar similar. O afetado teclado que mancha o refrão, que busca fornecer uma camada de nostalgia, deixa a track batida e repetitiva; “Lace and Leather”, que reintroduz o mid-tempo da bateria e do baixo, se vale de um sólido começo – entretanto, falha em segurar o que se propõe até o final; “Mannequin” sofre dos mesmos males e se apaga pela falta de foco, lutando para gritar seus versos e falhando em fazê-lo.

Circus pode não ser a entrada mais competente da carreira de Britney Spears, mas, no final das contas, isso não importa: como mencionado no começo desta crítica, o saldo positivo é o que convida o público a se divertir numa narcótica aventura, com músicas que endossam a importância da performer na indústria e que nos fazem querer sair das cadeiras e se jogar na pista de dança.

Nota por faixa:

1. Womanizer – 5/5
2. Circus – 5/5
3. Out from Under – 4,5/5
4. Kill the Lights – 5/5
5. Shattered Glass – 4/5
6. If U Seek Amy – 5/5
7. Unusual You – 3,5/5
8. Blur – 3,5/5
9. Mmm Papi – 1/5
10. Mannequin – 2/5
11. Lace and Leather – 2,5/5
12. My Baby – 2/5
13. Radar (faixa bônus) – 4,5/5
14. Rock Me In – 4/5
15. Phonography – 4/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Depois de ter feito um comeback explosivo com o revolucionário álbum ‘Blackout’, Britney Spears finalmente retornava às suas raízes e continuava a fazer o que sempre amou – música. Um ano mais tarde, a princesa do pop mergulhava de cabeça no pop chiclete que a colocou no topo do mundo, abraçando o que continuava a representar no cenário mainstream. Aliando-se à reinsurgência do electropop no cenário fonográfico e resgatando os elementos do dance-pop que explorara em incursões anteriores, Britney deu vida ao adorado Circus, que, entre altos e baixos, tem um saldo bastante positivo quando olhado quase quinze anos depois de seu lançamento.

Composto por treze faixas na versão padrão e quinze na deluxe (esta última disponível no Spotify), Spears se reuniu com uma legião de produtores que, contra todas as expectativas, conseguiram manter a coesão por boa parte dessa vibrante jornada sonora. É claro que, considerando que o reinado do pop passava por uma amálgama experimental de vários gêneros, ela não tinha outra saída além de reinventar a si própria em uma imagem que dialogava com ‘Blackout’ e ‘In The Zone’ (no tocante à imagem adulta que encarnou e reafirmou em cada uma de suas canções desde então) – como visto no lead single “Womanizer”, que abriu as portas para uma nova geração que não conhecia suas clássicas canções. Chegando aos ouvidos dos fãs dois meses antes da estreia oficial do álbum, o impactante synth-pop ganhou elogios da crítica especializada por seu controverso conteúdo lírico e pelo memorável gancho, aumentando nossas expectativas para o que o futuro aguardava.

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De fato, essa aventura regada a hinos próprios para as pistas de dança trouxe o regresso de Max Martin à produção de certas tracks, e promoveu uma colaboração infinita de compositores e permitiu que a própria performer voltasse a assinar algumas telas – sem a necessidade de se provar para ninguém, e sim como forma de agradecer àqueles que sempre estiveram ao seu lado. Junto ao single supracitado, várias músicas promocionais permearam o disco, incluindo a ótima “If U Seek Amy” (que propositalmente cutucou os conservadores pela desconstrução da problemática “família tradicional suburbana” dos Estados Unidos) e “Kill the Lights” (uma investida fruto da fusão entre dance e R&B que delineou críticas pungentes ao sensacionalismo da mídia e ao preço da fama, uma reminiscência temática de “Overprotected”, “Lucky” e tantas outras).

Há outras faixas dignas de nossa atenção que despontam na envolvente e mágica profusão musical que Spears encabeça – e, ao contrário do que muitos podem dizer, são as baladas e semi-baladas que tiram o status intocável da cantora e refletem uma insegurança e uma vulnerabilidade que a acompanham desde sua estreia em 1999. Temos a simplicidade de “Out from Under”, que trata sobre um romance passado que estende suas sombras para um presente marcado pelo ressentimento (resumido no verso “não quero sonhar sobre as coisas que nunca foram”, que abre o tocante refrão), e uma sagaz inexpressão robótica de “Unusual You”, que abusa do autotune e dos sintetizadores que antecipam uma realização dramática e melancólica (“ninguém te contou que você deveria partir o meu coração?”); “Blur”, mais ousada que suas conterrâneas, é pincelada com influências urbanas que pode passar despercebida, mas que merece nossa atenção.

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Como é de se esperar, Britney está em seu melhor quando se volta para o pop, demonstrando total domínio sobre o gênero que ajudou a imortalizar em sua adolescência. A faixa titular configura-se como a mais bem trabalhada, reiterando a cantora como uma das pioneiras na espetacularização da música: auxiliada por Dr. Luke, Spears navega em uma aglutinação de versos que até hoje são relembrados por qualquer um que já tenha se interessado por sua discografia, recuperando a confiança performativa que perdera nos anos anteriores e mostrando que ainda tem controle sobre a própria arte. Não obstante a impecabilidade da canção, Circus é um dos emblemas da princesa do pop e é considerada, inclusive por este que vos, como um dos principais ápices de sua carreira (levando em conta álbuns que sairiam mais tarde).

“Radar”, presente na iteração predecessora, retorna com a força mercadológica que merecia em 2007 e se respalda no electro-disco como nunca visto, alimentando um terreno fértil para a imersão do Euro disco e da eletrônica. Mais uma vez, Britney justifica seu título no escopo do entretenimento ao criar um hit sem precedentes, associando as distorções vocais a uma sônica rendição que dialogam de modo quase simbiótico ao título apresentado. Seguindo os mesmos passos, encontramos a densidade evocativa de duas faixas que também tinham um enorme potencial para serem singles“Shattered Glass” e “Phonography”, cuja acidez lírica ofusca os eventuais deslizes.

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Circus pode não ser a entrada mais competente da carreira de Britney Spears, mas, no final das contas, isso não importa: como mencionado no começo desta crítica, o saldo positivo é o que convida o público a se divertir numa narcótica aventura, com músicas que endossam a importância da performer na indústria e que nos fazem querer sair das cadeiras e se jogar na pista de dança.

Nota por faixa:

1. Womanizer – 5/5
2. Circus – 5/5
3. Out from Under – 4,5/5
4. Kill the Lights – 5/5
5. Shattered Glass – 4/5
6. If U Seek Amy – 5/5
7. Unusual You – 3,5/5
8. Blur – 3,5/5
9. Mmm Papi – 1/5
10. Mannequin – 2/5
11. Lace and Leather – 2,5/5
12. My Baby – 2/5
13. Radar (faixa bônus) – 4,5/5
14. Rock Me In – 4/5
15. Phonography – 4/5

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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