domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Entre Realidades – Brava atuação de Alison Brie entre a solidão e a loucura

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Com o tom de comédia indie e uma protagonista deslocada socialmente, Entre Realidades (Horse Girl) apresenta-se como uma produção focada nas peculiaridades de Sarah (Alison Brie) e suas tentativas de adequar-se ao seu redor. O filme, no entanto, distancia-se de uma premissa semelhante a A Garota Ideal (2007), com Ryan Gosling, e busca o tormento psicológico de Possuídos (2006), com Ashley Judd. Obviamente, ele não alcança nenhum dos dois lados.

De início, Sarah é apenas uma mulher introvertida e solitária, tendo sua colega de trabalho Joan (Molly Shannon) como sua única confidente. Seu dia a dia é apresentado de forma singela, a começar pelo seu trabalho numa loja de artesanato, visitas ao haras, aulas de zumba e a fixação pelo seriado Purgatory. Ou seja,uma vida pacata sem sobressaltos e companhia. 



Aos poucos Jeff Baena [diretor das comédias A Comédia dos Pecados (2017) e Vida Após Beth (2014)] começa a despertar o lado mais obscura de sua personagem por meio de sonhos estranhos, sonambulismo e lapsos temporais, além de uma pequena hemorragia nasal. Esses são os indícios de que há algo fora do normal, mas ainda nada para deixar alguém em estado de alerta. Sem família ao redor, Sarah conta com a companhia da sua roommate Nikki (Debby Ryan), entretanto, a colega apenas pensa em juntá-la ao roommate do seu namorado (Jake Picking).

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O plano de Nikki toma forma na improvisada comemoração de aniversário de Sarah. Ao convidar Darren (John Reynolds) ao evento, a jovem diverte-se ao colocar Sarah em situação pouco confortável, contudo, os dois “desajeitados” acabam por se entenderem. Em outras palavras, o encontro da noite suscita em um segundo encontro e a esperança de Sarah de ter encontrado um namorado.

Quando pensávamos que o problema da protagonista era apenas introspecção, somos levados a novas camadas da personagem. Após passar o seu aniversário, surge Gary (Paul Reiser), o ex-marido da sua mãe. Este encontro nos indica a verdadeira direção almejada pela narrativa, a partir do questionamento de Sarah ao padrasto: “Quando mamãe começou a agir como tia Helen?”. 

Com os lapsos temporais cada vez mais constantes, Sarah começa a compartilhar a ideia de ser o clone da sua avó apoiada em uma foto de forte semelhança entre elas. Somada à clonagem, ela expõe a crença de ter sido abduzida por alienígenas. Quando pronunciadas, as suas ideias parecem absurdas ainda mais quando ela externaliza seus pensamentos com seu otorrinolaringologista (David Paymer). Ele responde taxativante: “só entendo de ouvido, nariz e garganta”. 

Caminhando para tratar da obsessão de sua protagonista, Entre Realidades tenta dar um passo maior do que as pernas. Isso porque, o desenvolvimento da história permanece na superfície das sensações da personagem, diferentes de filmes como Garota Interrompida (1999) e Para Sempre Alice (2014), por exemplo. Apesar de não ser apenas um caso de falta de empatia social, a personagem não se identifica como em uma zona de transtorno psicológico. Embora a clínica de reabilitação esteja presente no roteiro, a terapia nunca é apontada como um caminho de cura, apenas lhe é indicada a reclusão quando o seu comportamento incomoda as pessoas ao seu redor. 

Tendo tido destaque nas séries Community (2009-2015) e Mad Men (2007-2015), Alison Brie ainda batalha por um espaço no cinema, sendo visto apenas em papéis coadjuvantes. Entre Realidades, portanto, é o seu trampolim ao protagonismo. Ainda que a sua atuação seja bem sucedida em transmitir o desconforto e angústia de Sarah, a narrativa é sua inimiga a nunca lhe dar permissão de mergulhar nos traumas da protagonista.

Sendo uma obra tangencial sobre transtorno psicológico, Brie não carrega a culpa da produção ser mediana, assim como seu parceiro em cena John Reynold. Ambos protagonizam umas das melhores sequências do filme no cemitério, ele e ela caminham de um momento de compreensão romântica a um total devaneio paranoico. 

Em contrapartida, o filme apresenta apenas este momento como centralizador dos problemas de Sarah, o resto fica todo ao nosso imaginário e nossas próprias conclusões. Entre Realidades, portanto, aborda um tema interessante, todavia não consegue abranger a complexidade almejada para o seu próprio sucesso. 

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Com o tom de comédia indie e uma protagonista deslocada socialmente, Entre Realidades (Horse Girl) apresenta-se como uma produção focada nas peculiaridades de Sarah (Alison Brie) e suas tentativas de adequar-se ao seu redor. O filme, no entanto, distancia-se de uma premissa semelhante a A Garota Ideal (2007), com Ryan Gosling, e busca o tormento psicológico de Possuídos (2006), com Ashley Judd. Obviamente, ele não alcança nenhum dos dois lados.

De início, Sarah é apenas uma mulher introvertida e solitária, tendo sua colega de trabalho Joan (Molly Shannon) como sua única confidente. Seu dia a dia é apresentado de forma singela, a começar pelo seu trabalho numa loja de artesanato, visitas ao haras, aulas de zumba e a fixação pelo seriado Purgatory. Ou seja,uma vida pacata sem sobressaltos e companhia. 

Aos poucos Jeff Baena [diretor das comédias A Comédia dos Pecados (2017) e Vida Após Beth (2014)] começa a despertar o lado mais obscura de sua personagem por meio de sonhos estranhos, sonambulismo e lapsos temporais, além de uma pequena hemorragia nasal. Esses são os indícios de que há algo fora do normal, mas ainda nada para deixar alguém em estado de alerta. Sem família ao redor, Sarah conta com a companhia da sua roommate Nikki (Debby Ryan), entretanto, a colega apenas pensa em juntá-la ao roommate do seu namorado (Jake Picking).

O plano de Nikki toma forma na improvisada comemoração de aniversário de Sarah. Ao convidar Darren (John Reynolds) ao evento, a jovem diverte-se ao colocar Sarah em situação pouco confortável, contudo, os dois “desajeitados” acabam por se entenderem. Em outras palavras, o encontro da noite suscita em um segundo encontro e a esperança de Sarah de ter encontrado um namorado.

Quando pensávamos que o problema da protagonista era apenas introspecção, somos levados a novas camadas da personagem. Após passar o seu aniversário, surge Gary (Paul Reiser), o ex-marido da sua mãe. Este encontro nos indica a verdadeira direção almejada pela narrativa, a partir do questionamento de Sarah ao padrasto: “Quando mamãe começou a agir como tia Helen?”. 

Com os lapsos temporais cada vez mais constantes, Sarah começa a compartilhar a ideia de ser o clone da sua avó apoiada em uma foto de forte semelhança entre elas. Somada à clonagem, ela expõe a crença de ter sido abduzida por alienígenas. Quando pronunciadas, as suas ideias parecem absurdas ainda mais quando ela externaliza seus pensamentos com seu otorrinolaringologista (David Paymer). Ele responde taxativante: “só entendo de ouvido, nariz e garganta”. 

Caminhando para tratar da obsessão de sua protagonista, Entre Realidades tenta dar um passo maior do que as pernas. Isso porque, o desenvolvimento da história permanece na superfície das sensações da personagem, diferentes de filmes como Garota Interrompida (1999) e Para Sempre Alice (2014), por exemplo. Apesar de não ser apenas um caso de falta de empatia social, a personagem não se identifica como em uma zona de transtorno psicológico. Embora a clínica de reabilitação esteja presente no roteiro, a terapia nunca é apontada como um caminho de cura, apenas lhe é indicada a reclusão quando o seu comportamento incomoda as pessoas ao seu redor. 

Tendo tido destaque nas séries Community (2009-2015) e Mad Men (2007-2015), Alison Brie ainda batalha por um espaço no cinema, sendo visto apenas em papéis coadjuvantes. Entre Realidades, portanto, é o seu trampolim ao protagonismo. Ainda que a sua atuação seja bem sucedida em transmitir o desconforto e angústia de Sarah, a narrativa é sua inimiga a nunca lhe dar permissão de mergulhar nos traumas da protagonista.

Sendo uma obra tangencial sobre transtorno psicológico, Brie não carrega a culpa da produção ser mediana, assim como seu parceiro em cena John Reynold. Ambos protagonizam umas das melhores sequências do filme no cemitério, ele e ela caminham de um momento de compreensão romântica a um total devaneio paranoico. 

Em contrapartida, o filme apresenta apenas este momento como centralizador dos problemas de Sarah, o resto fica todo ao nosso imaginário e nossas próprias conclusões. Entre Realidades, portanto, aborda um tema interessante, todavia não consegue abranger a complexidade almejada para o seu próprio sucesso. 

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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