domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Episódio finais de ‘AHS: Double Feature’ melhoram o ritmo, mas deixam para trás um gostinho agridoce

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Depois de quase três meses, a décima temporada de American Horror Story, subtitulada ‘Double Feature’, chegou ao fim. Ryan Murphy e Brad Falchuk, num mergulho sem precedentes, resolveram dividir o mais recente ciclo em duas narrativas totalmente diferentes – mas unidas por uma majestosa excentricidade que, para o bem ou para o mal, se tornaram foco principal dos episódios. Enquanto a primeira metade nos transportou para a mística e perigosa cidade de Provincetown, com uma narrativa que reviveu os dias de glória da antologia (com exceção de um apressado final), a segunda resolveu abraçar uma das teorias da conspiração mais conhecidas do imaginário popular: a Área 51.

A princípio, a ideia de separar as tramas foi encarada com certo receio pelo público e pela crítica, ainda mais considerando que Murphy e Falchuk sempre tropeçaram em aspectos importantes do desenrolar do enredo e falhavam em entregar um final digno e conciso – vide ‘Red Tide’. Entretanto, é preciso entender que ‘Death Valley’ teve início com alguns obstáculos, incluindo o fato de explorar histórias bastante conhecidas e relidas para o cenário audiovisual à exaustão e de ter apenas quatro capítulos (dois a menos que sua predecessora). Mesmo com a multiplicidade transbordante de eventos, que se espalharam em várias décadas e personagens descartáveis, os dois episódios de reestreia resgataram o classicismo e a nostalgia de produções sci-fi de meados do século passado e nos cativaram pela exuberância de um elenco de ponta – que fez o máximo para navegar pelas águas tortuosas de roteiros desequilibrados.



Semanas mais tarde, ‘Death Valley’ terminaria com um gostinho um tanto agridoce – entregando iterações com ritmo cautelosamente melhorado, mas com um desfecho tão aberto que nem se assemelhou a uma conclusão, e sim a uma continuação que poderia acontecer com facilidade na próxima quinta-feira. De fato, a condução das múltiplas reviravoltas se juntaram em um ponto em comum e em uma realização nada otimista ou fabulesca – pelo contrário, promovendo uma constatação de desespero que foi de encontro a tantos títulos similares e a tantos embates épicos entre a humanidade e raças alienígenas; todavia, com as expectativas lá em cima e um desejo de que as coisas melhorassem, é inegável sentir uma frustração indissociável de que, caso Murphy e Falchuk não se valessem de tantas incredulidades, tudo poderia ser mais coeso.

Um dos pontos problemáticos é a constante quebra temporal que se alastra para ambos os episódios. Tanto em “Blue Moon” quanto em “The Future Perfect”, não temos apenas a clara separação entre passado e presente, mas incursões que quebram a cronologia a que estamos acostumados para ir e voltar no tempo, fazendo lapsos temporais que correm para fornecer algumas explicações. Felizmente, as performances são fortes o suficiente para nos guiar entre as exuberâncias que exalam dessas iterações, em especial de Sarah Paulson como a ex-primeira-dama Mamie Eisenhower e de Leslie Grossman como Calico – ambas provando uma versatilidade que vem sendo alimentada há vários anos e através de diversos projetos, até mesmo dentro da própria série.

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Mamie e Calico, na verdade, representam o antes, o agora e o depois em uma jogada inteligente que inclusive faz referência a várias controvérsias que fazem parte da história dos Estados Unidos, incluindo as abduções de humanos por raças extraterrestres invisíveis, o mistério que cerca a supracitada Área 51, as misteriosas mortes de Marilyn Monroe e John F. Kennedy e a viagem do homem à Lua – que é “desmistificada” com um capítulo divertido e que perde um pouco a mão ao tentar sustentar drama e comédia em uma mesma ambientação. Paulson e Grossman, nesse tocante, são os elos que mantêm as tênues ligações multigeracionais mais sólidas – auxiliadas pela forte presença de Angelica Ross como Theta, uma criatura inteligente e telepática que não deixa ninguém ficar entre ela e seu propósito de salvar sua espécie.

Enquanto a direção de Laura Belsey, John J. Gray e Axelle Carolyn é convidativa e assombrosa, ao mesmo tempo, o roteiro peca e demonstra uma falta de tato para lidar com os personagens apresentados; em outras palavras, lidamos com um season finale que não aproveita as personas criada e, em um momento à la ‘Freak Show’, resolve se livrar de Kendall (Kaia Gerber), Cal (Nico Greetham), Troy (Isaac Cole Powell) e Jamie (Rachel Hilson), o grupo protagonista dos dias atuais, eliminando-os um a um. Nas entrelinhas, as mensagens contrárias aos esforços humanos e que condenam sua natureza hipócrita existem, mas não são impulsionadas com o peso que deveriam e acabam cedendo espaço para que os veteranos da antologia façam o que tem que ser feito para concluir o enredo.

American Horror Story: Double Feature’ tinha todos os ingredientes necessários para se tornar a melhor e mais intrigante temporadas de todas – e fez isso com os cinco primeiros episódios. Porém, ao chegar ao Vale da Morte, Murphy e Falchuk perderam a mão e nos deixaram querendo algo a mais, algo que, assim esperamos, seja recuperado no já confirmado 11º ciclo.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Depois de quase três meses, a décima temporada de American Horror Story, subtitulada ‘Double Feature’, chegou ao fim. Ryan Murphy e Brad Falchuk, num mergulho sem precedentes, resolveram dividir o mais recente ciclo em duas narrativas totalmente diferentes – mas unidas por uma majestosa excentricidade que, para o bem ou para o mal, se tornaram foco principal dos episódios. Enquanto a primeira metade nos transportou para a mística e perigosa cidade de Provincetown, com uma narrativa que reviveu os dias de glória da antologia (com exceção de um apressado final), a segunda resolveu abraçar uma das teorias da conspiração mais conhecidas do imaginário popular: a Área 51.

A princípio, a ideia de separar as tramas foi encarada com certo receio pelo público e pela crítica, ainda mais considerando que Murphy e Falchuk sempre tropeçaram em aspectos importantes do desenrolar do enredo e falhavam em entregar um final digno e conciso – vide ‘Red Tide’. Entretanto, é preciso entender que ‘Death Valley’ teve início com alguns obstáculos, incluindo o fato de explorar histórias bastante conhecidas e relidas para o cenário audiovisual à exaustão e de ter apenas quatro capítulos (dois a menos que sua predecessora). Mesmo com a multiplicidade transbordante de eventos, que se espalharam em várias décadas e personagens descartáveis, os dois episódios de reestreia resgataram o classicismo e a nostalgia de produções sci-fi de meados do século passado e nos cativaram pela exuberância de um elenco de ponta – que fez o máximo para navegar pelas águas tortuosas de roteiros desequilibrados.

Semanas mais tarde, ‘Death Valley’ terminaria com um gostinho um tanto agridoce – entregando iterações com ritmo cautelosamente melhorado, mas com um desfecho tão aberto que nem se assemelhou a uma conclusão, e sim a uma continuação que poderia acontecer com facilidade na próxima quinta-feira. De fato, a condução das múltiplas reviravoltas se juntaram em um ponto em comum e em uma realização nada otimista ou fabulesca – pelo contrário, promovendo uma constatação de desespero que foi de encontro a tantos títulos similares e a tantos embates épicos entre a humanidade e raças alienígenas; todavia, com as expectativas lá em cima e um desejo de que as coisas melhorassem, é inegável sentir uma frustração indissociável de que, caso Murphy e Falchuk não se valessem de tantas incredulidades, tudo poderia ser mais coeso.

Um dos pontos problemáticos é a constante quebra temporal que se alastra para ambos os episódios. Tanto em “Blue Moon” quanto em “The Future Perfect”, não temos apenas a clara separação entre passado e presente, mas incursões que quebram a cronologia a que estamos acostumados para ir e voltar no tempo, fazendo lapsos temporais que correm para fornecer algumas explicações. Felizmente, as performances são fortes o suficiente para nos guiar entre as exuberâncias que exalam dessas iterações, em especial de Sarah Paulson como a ex-primeira-dama Mamie Eisenhower e de Leslie Grossman como Calico – ambas provando uma versatilidade que vem sendo alimentada há vários anos e através de diversos projetos, até mesmo dentro da própria série.

Mamie e Calico, na verdade, representam o antes, o agora e o depois em uma jogada inteligente que inclusive faz referência a várias controvérsias que fazem parte da história dos Estados Unidos, incluindo as abduções de humanos por raças extraterrestres invisíveis, o mistério que cerca a supracitada Área 51, as misteriosas mortes de Marilyn Monroe e John F. Kennedy e a viagem do homem à Lua – que é “desmistificada” com um capítulo divertido e que perde um pouco a mão ao tentar sustentar drama e comédia em uma mesma ambientação. Paulson e Grossman, nesse tocante, são os elos que mantêm as tênues ligações multigeracionais mais sólidas – auxiliadas pela forte presença de Angelica Ross como Theta, uma criatura inteligente e telepática que não deixa ninguém ficar entre ela e seu propósito de salvar sua espécie.

Enquanto a direção de Laura Belsey, John J. Gray e Axelle Carolyn é convidativa e assombrosa, ao mesmo tempo, o roteiro peca e demonstra uma falta de tato para lidar com os personagens apresentados; em outras palavras, lidamos com um season finale que não aproveita as personas criada e, em um momento à la ‘Freak Show’, resolve se livrar de Kendall (Kaia Gerber), Cal (Nico Greetham), Troy (Isaac Cole Powell) e Jamie (Rachel Hilson), o grupo protagonista dos dias atuais, eliminando-os um a um. Nas entrelinhas, as mensagens contrárias aos esforços humanos e que condenam sua natureza hipócrita existem, mas não são impulsionadas com o peso que deveriam e acabam cedendo espaço para que os veteranos da antologia façam o que tem que ser feito para concluir o enredo.

American Horror Story: Double Feature’ tinha todos os ingredientes necessários para se tornar a melhor e mais intrigante temporadas de todas – e fez isso com os cinco primeiros episódios. Porém, ao chegar ao Vale da Morte, Murphy e Falchuk perderam a mão e nos deixaram querendo algo a mais, algo que, assim esperamos, seja recuperado no já confirmado 11º ciclo.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
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