domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | ‘Eu Nunca…’ se despede com uma 4ª temporada profunda e emocionante

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Há três anos, a Netflix investia esforços em uma espécie de revitalização de seu conteúdo original com o lançamento da comédia teen ‘Eu Nunca…’, que, em pouco tempo, tornou-se um dos títulos mais adorados da plataforma de streaming. Afinal, por trás da máscara cômica, a narrativa construída por Mindy Kaling e Lang Fisher trouxe temas bastante importantes para os jovens da nova geração e de gerações anteriores, incluindo sexualidade, desejo, angústias e traumas – tratando cada uma das subtramas com o máximo respeito e abrindo espaço para discussões bem-vindas sobre o que próprio significado da existência e da liberdade.

Não é surpresa que, com o anúncio da quarta e última temporada, os fãs da série já começassem a nutrir de um sentimento agridoce, sabendo que a qualidade se manteria, mas obrigados a se prepararem a uma despedida que deixaria saudades. Dito e feito, o ciclo de encerramento da produção manteve sua originalidade e seu ácido humor, promovendo um grand finale que, apesar de formulaico, era o único cabível para a jornada coming-of-age de Devi Vishwakumar (Maitreyi Ramakrishnan), de sua família e de seus amigos. E, como é de costume, é uma tarefa quase impossível não devorar a nova leva de episódios, considerando a arquitetura invejável do roteiro e a química resplandecente de um elenco de ponta que, como podemos ver, ainda tinha muito a oferecer.



Tendo início logo após os chocantes eventos da iteração predecessora, Devi finalmente perdeu a virgindade com um de seus amigos mais próximos, Ben Gross (Jaren Lewinson) – mas os corolários não foram nada como esperava. Afinal, os dois sentiram um misto de vergonha e de confusão pelo momento não ter sido como esperavam (e levando em conta que aquela foi a primeira vez de ambos). E, conforme uma tensão paira sobre a situação, Devi e Ben se afastam e retornam para o último ano do colégio movidos a ressentimentos e a mágoas que não sabem como tratar – e que alimenta um dos principais núcleos. Mas, apesar de sua primeira vez não ter saído como o planejado, Devi agora tem outro foco: entrar em Princeton.

Assista também:
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Assim como no Brasil, os estudantes das escolas norte-americanas carregam um fardo desde o momento em que entram para a escola: manter notas altas e, com sorte, entrar em uma universidade de ponta que os prepare, de certa maneira, para o futuro. E Devi, como bem a conhecemos, é movida por uma necessidade de se provar e honrar a memória do falecido pai, Mohan (Sendhil Hamamurthy), além de cumprir as expectativas bombardeadas pela mãe, Nalini (Poorna Jagannathan). Todavia, estamos falando de uma jovem garota cuja vida não gira apenas em torno dos estudos, como também de realizações pessoais que ela considera ímpares para satisfazer a si própria – como estreitar os laços de amizade com Eleanor (Ramona Young) e Fabiola (Lee Rodriguez), compreender a que pé estão ela e Ben, e dar início a uma carreira que tem tudo para ser brilhante.

Um dos aspectos de maior sucesso de ‘Eu Nunca…’ é compreender a realidade e não vender algo falso para os espectadores que consumem os episódios. É claro que a vivência de Devi pode não ser a nossa, mas há elementos com que podemos nos identificar – e isso inclui altos e baixos. Afinal, todos sabemos o que é sentir atração por alguém “errado”, por assim dizer, como acontece com ela com o bad boy Ethan (Michael Cimino), que a faz “perder a razão” e a desejá-lo mais do que tudo; ou então, à medida que os episódios se desenrolam, a decepção em não alcançar um sonho de infância; ou até mesmo aprender que nem tudo gira em torno de nós mesmos e que outras pessoas também têm seus objetivos e farão o possível para conquistá-los.

Falar que o elenco faz um trabalho primoroso é cair na redundância, visto que se mantém firme desde a temporada de estreia; e, além dos personagens supracitados, temos a presença de Kamala (Richa Moorjani) enfrentando uma crise profissional e identitária; a Dra. Ryan (Niecy Nash) emergindo como não só uma terapeuta, mas uma confidente e uma mentora de Devi; e, é claro, Paxton Hall-Yoshida (Darren Barnet) lidando com decisões questionáveis sobre o que quer para sua vida. Cada um tem o momento de foco, sem tornar o enredo pesado demais para acompanharmos e oferecendo perspectiva diferentes para nos engajar.

A temporada não é livre de erros – e é notável como algumas extensões são mais descartáveis que outras, como a presença de Ethan (que prometia ter grande valor no arco de Devi, mas não teve impacto o suficiente) ou certas “barrigas” que poderiam ter sido lapidadas. Entretanto, isso não apaga a beleza dos novos episódios, considerando que Kaling e seu incrível time criativo têm plena noção dos clichês do gênero e os usam de forma sutil, simples e muito prática.

‘Eu Nunca…’ se despede da melhor maneira possível e com um reconforto que presta homenagens a clássicas rom-coms – sem perder o brilho de uma originalidade encantadora. Certamente, a série deixará saudades, mas sempre poderemos revisitá-la quando precisarmos de um conselho ou de um ombro amigo.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Não é surpresa que, com o anúncio da quarta e última temporada, os fãs da série já começassem a nutrir de um sentimento agridoce, sabendo que a qualidade se manteria, mas obrigados a se prepararem a uma despedida que deixaria saudades. Dito e feito, o ciclo de encerramento da produção manteve sua originalidade e seu ácido humor, promovendo um grand finale que, apesar de formulaico, era o único cabível para a jornada coming-of-age de Devi Vishwakumar (Maitreyi Ramakrishnan), de sua família e de seus amigos. E, como é de costume, é uma tarefa quase impossível não devorar a nova leva de episódios, considerando a arquitetura invejável do roteiro e a química resplandecente de um elenco de ponta que, como podemos ver, ainda tinha muito a oferecer.

Tendo início logo após os chocantes eventos da iteração predecessora, Devi finalmente perdeu a virgindade com um de seus amigos mais próximos, Ben Gross (Jaren Lewinson) – mas os corolários não foram nada como esperava. Afinal, os dois sentiram um misto de vergonha e de confusão pelo momento não ter sido como esperavam (e levando em conta que aquela foi a primeira vez de ambos). E, conforme uma tensão paira sobre a situação, Devi e Ben se afastam e retornam para o último ano do colégio movidos a ressentimentos e a mágoas que não sabem como tratar – e que alimenta um dos principais núcleos. Mas, apesar de sua primeira vez não ter saído como o planejado, Devi agora tem outro foco: entrar em Princeton.

Assim como no Brasil, os estudantes das escolas norte-americanas carregam um fardo desde o momento em que entram para a escola: manter notas altas e, com sorte, entrar em uma universidade de ponta que os prepare, de certa maneira, para o futuro. E Devi, como bem a conhecemos, é movida por uma necessidade de se provar e honrar a memória do falecido pai, Mohan (Sendhil Hamamurthy), além de cumprir as expectativas bombardeadas pela mãe, Nalini (Poorna Jagannathan). Todavia, estamos falando de uma jovem garota cuja vida não gira apenas em torno dos estudos, como também de realizações pessoais que ela considera ímpares para satisfazer a si própria – como estreitar os laços de amizade com Eleanor (Ramona Young) e Fabiola (Lee Rodriguez), compreender a que pé estão ela e Ben, e dar início a uma carreira que tem tudo para ser brilhante.

Um dos aspectos de maior sucesso de ‘Eu Nunca…’ é compreender a realidade e não vender algo falso para os espectadores que consumem os episódios. É claro que a vivência de Devi pode não ser a nossa, mas há elementos com que podemos nos identificar – e isso inclui altos e baixos. Afinal, todos sabemos o que é sentir atração por alguém “errado”, por assim dizer, como acontece com ela com o bad boy Ethan (Michael Cimino), que a faz “perder a razão” e a desejá-lo mais do que tudo; ou então, à medida que os episódios se desenrolam, a decepção em não alcançar um sonho de infância; ou até mesmo aprender que nem tudo gira em torno de nós mesmos e que outras pessoas também têm seus objetivos e farão o possível para conquistá-los.

Falar que o elenco faz um trabalho primoroso é cair na redundância, visto que se mantém firme desde a temporada de estreia; e, além dos personagens supracitados, temos a presença de Kamala (Richa Moorjani) enfrentando uma crise profissional e identitária; a Dra. Ryan (Niecy Nash) emergindo como não só uma terapeuta, mas uma confidente e uma mentora de Devi; e, é claro, Paxton Hall-Yoshida (Darren Barnet) lidando com decisões questionáveis sobre o que quer para sua vida. Cada um tem o momento de foco, sem tornar o enredo pesado demais para acompanharmos e oferecendo perspectiva diferentes para nos engajar.

A temporada não é livre de erros – e é notável como algumas extensões são mais descartáveis que outras, como a presença de Ethan (que prometia ter grande valor no arco de Devi, mas não teve impacto o suficiente) ou certas “barrigas” que poderiam ter sido lapidadas. Entretanto, isso não apaga a beleza dos novos episódios, considerando que Kaling e seu incrível time criativo têm plena noção dos clichês do gênero e os usam de forma sutil, simples e muito prática.

‘Eu Nunca…’ se despede da melhor maneira possível e com um reconforto que presta homenagens a clássicas rom-coms – sem perder o brilho de uma originalidade encantadora. Certamente, a série deixará saudades, mas sempre poderemos revisitá-la quando precisarmos de um conselho ou de um ombro amigo.

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