sábado , 21 dezembro , 2024

Crítica | Fale com as Abelhas – Anna Paquin se apaixona por outra mulher no romance

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Lydia Weekes (Holliday Grainger) é uma jovem mãe enfrentando dificuldades para criar seu filho, Charlie (Gregor Selkirk), após o marido, Robert (Emun Elliott) abandoná-los depois de voltar da guerra. Lydia trabalha numa fábrica, mas, sozinha, não consegue dar conta de pagar por todas as despesas e, desesperada, acaba, num mesmo dia, sendo despejada e perdendo o emprego. Ao mesmo tempo, Charlie inicia uma curiosa amizade com a nova médica da cidade, Dra. Jean Markham (Anna Paquin), que cultiva a apicultura em sua casa e ensina a técnica ao menino. Aos poucos, Lydia e a Dra. Jean começam a desenvolver uma bela amizade, baseada na sororidade e na empatia, numa época em que as mulheres não eram vistas como indivíduos.



Baseado no livro de Fiona Shaw e narrado pela visão do pequeno Charlie – que, no momento do filme, reflete sobre os episódios do passado de sua vida – ‘Fale com as Abelhas’ tem uma estrutura semelhante ao recente lançamento da Netflix, ‘Era uma vez um Sonho’: um pré-adolescente muito inocente demais com relação à vida, que observa o desenrolar da interação entre as duas mulheres mais importantes do seu meio social, e, por não conseguir entender muito bem o que acontece, acaba por interferir diretamente no decorrer dos acontecimentos, e, depois, já adulto, reflete sobre o quanto sua participação – consciente ou não de seus atos – contribui para que as coisas tomassem o rumo que tomaram.

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A bem da verdade, essa é uma estrutura por demais explorada no cinema, embora compreensível quando pensamos que se passa na década de 1950. O grande mérito do filme é jogar luz sobre as múltiplas dificuldades (e em muitos níveis) que as mulheres enfrentavam naquele período pós-guerra na Inglaterra: machismo, homofobia, preconceito contra mães solteiras ou de pensamento livre, preconceito sobre relacionamentos interraciais, entre outros. Para trabalhar todos esses temas, o roteiro de Henrietta Ashworth e Jessica Ashworth se demora muito no primeiro terço da trama, jogando luz sobre a relação quase mística das abelhas (a quem Charlie deve contar seus segredos) e pouco desenvolve a relação das duas protagonistas; em se tratando de um relacionamento lésbico, deveria ser o grande forte do longa, mas não é.

Entra aí o trabalho de Annabel Jankel, cuja direção parece ter pretendido segurar “o melhor pro fim”. Assim, temos um filme morno no início, que não alcança as expectativas no seu ápice e, no fim, carrega a mão na violência contra a mulher, que chega desavisada à tela. Para um filme que tenta provocar o espectador a refletir sobre as privações das mulheres na década de 1950, retratar com entusiasmo a violência contra elas soa contraditório.

Fale com as Abelhas’ é um drama que cumpre o que promete, mas num nível bem mais insosso que o esperado. Com atuação engessada de Anna Paquin, é um filme que poderia entregar bem mais e chega agora aos cinemas brasileiros.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Lydia Weekes (Holliday Grainger) é uma jovem mãe enfrentando dificuldades para criar seu filho, Charlie (Gregor Selkirk), após o marido, Robert (Emun Elliott) abandoná-los depois de voltar da guerra. Lydia trabalha numa fábrica, mas, sozinha, não consegue dar conta de pagar por todas as despesas e, desesperada, acaba, num mesmo dia, sendo despejada e perdendo o emprego. Ao mesmo tempo, Charlie inicia uma curiosa amizade com a nova médica da cidade, Dra. Jean Markham (Anna Paquin), que cultiva a apicultura em sua casa e ensina a técnica ao menino. Aos poucos, Lydia e a Dra. Jean começam a desenvolver uma bela amizade, baseada na sororidade e na empatia, numa época em que as mulheres não eram vistas como indivíduos.

Baseado no livro de Fiona Shaw e narrado pela visão do pequeno Charlie – que, no momento do filme, reflete sobre os episódios do passado de sua vida – ‘Fale com as Abelhas’ tem uma estrutura semelhante ao recente lançamento da Netflix, ‘Era uma vez um Sonho’: um pré-adolescente muito inocente demais com relação à vida, que observa o desenrolar da interação entre as duas mulheres mais importantes do seu meio social, e, por não conseguir entender muito bem o que acontece, acaba por interferir diretamente no decorrer dos acontecimentos, e, depois, já adulto, reflete sobre o quanto sua participação – consciente ou não de seus atos – contribui para que as coisas tomassem o rumo que tomaram.

A bem da verdade, essa é uma estrutura por demais explorada no cinema, embora compreensível quando pensamos que se passa na década de 1950. O grande mérito do filme é jogar luz sobre as múltiplas dificuldades (e em muitos níveis) que as mulheres enfrentavam naquele período pós-guerra na Inglaterra: machismo, homofobia, preconceito contra mães solteiras ou de pensamento livre, preconceito sobre relacionamentos interraciais, entre outros. Para trabalhar todos esses temas, o roteiro de Henrietta Ashworth e Jessica Ashworth se demora muito no primeiro terço da trama, jogando luz sobre a relação quase mística das abelhas (a quem Charlie deve contar seus segredos) e pouco desenvolve a relação das duas protagonistas; em se tratando de um relacionamento lésbico, deveria ser o grande forte do longa, mas não é.

Entra aí o trabalho de Annabel Jankel, cuja direção parece ter pretendido segurar “o melhor pro fim”. Assim, temos um filme morno no início, que não alcança as expectativas no seu ápice e, no fim, carrega a mão na violência contra a mulher, que chega desavisada à tela. Para um filme que tenta provocar o espectador a refletir sobre as privações das mulheres na década de 1950, retratar com entusiasmo a violência contra elas soa contraditório.

Fale com as Abelhas’ é um drama que cumpre o que promete, mas num nível bem mais insosso que o esperado. Com atuação engessada de Anna Paquin, é um filme que poderia entregar bem mais e chega agora aos cinemas brasileiros.

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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