quarta-feira, maio 8, 2024

Crítica | Fancy Dance é um sensível drama sobre o epidêmico desaparecimento de mulheres indígenas americanas

Filme assistido durante o Festival de Sundance 2023

Fancy Dance chega lentamente, de forma silenciosa e acuada. Cruzando a história e as raízes indígenas com o misterioso desaparecimento de uma jovem mãe solteira, o drama de Erica Tremblay nos conquista aos poucos, em doses pequenas e serenas, até que nos inunda com sua poderosa mensagem sobre família, ancestralidade e luto.

Na trama, Jax (Lily Gladstone) tem problemas com a lei e vive a vida seguindo seus próprios trambiques. Diante do sumiço de sua irmã, uma stripper com conexões questionáveis, ela se vê na responsabilidade de criar sua sobrinha, sequestrando-na de seus avós caucasianos, na tentativa de preservar o pouco das tradições nativas e das raízes familiares que lhe restam. E assim, ela percorre o país como um fugitiva, que mais uma vez tenta fazer a coisa certa, da forma mais absurdamente equivocada.

Em seus primeiros minutos, Fancy Dance aparenta ser um drama familiar com um subplot que flerta com uma forçada crítica social ao colonialismo. Com o idioma principal sendo a língua indígena materna, o filme poderia muito bem ser um agenda particular mal desenvolvida, que reduz questões tão profundas e densas a argumentos rasos e aleatórios. Mas este não é esse tipo de filme. Aqui, a cineasta Erica Tremblay se apega à beleza da manifestação artística indígena para abordar o epidêmico desaparecimento de mulheres indígenas, além de outras questões como identidade e pertencimento. Nos apresentando ao Pow-wow, descobrimos uma pequena fatia de uma riqueza histórica que celebra a ancestralidade, o passado e o presente de seu povo.

E de forma doce e suave, Tremblay e a co-roteirista Miciana Alise retratam a disfuncional dinâmica familiar entre uma jovem tia e sua sobrinha adolescente, desenvolvendo um drama conflitante sobre princípios e intenções, em uma América muitas vezes negligente com os seus. Na trama, embora a personagem Jax anseie por preservar o pouco que resta da cultura indígena em sua família, suas boas motivações se perdem em seu comportamento corrupto e desleal. Caminhando pela vida entre pequenos furtos, roubos de carros e até mesmo de combustível, ela é uma contradição ambulante, que será forçada a se confrontar pelas péssimas decisões que comprometeram até mesmo a segurança de sua sobrinha.

E nessa combinação de gêneros tão diversos, o drama de Tremblay usa o background de suspense criminal para ir mais além em outros assuntos, como a marginalização dos povos nativos, a desestruturação de uma família e o amadurecimento de uma adolescente no meio do caos. Com Lily Gladstone em uma excepcional performance, Fancy Dance é também uma celebração muito intimista do povo Seneca-Cayuga, sob uma direção simples, mas precisa e tecnicamente bem executada. Com um final sensível, que coroa a narrativa de Jax e Roki de maneira emocionante e inspiradora, o drama é ainda uma belíssima reflexão sobre os ciclos da vida e a importância de fazer do passado uma memória viva para aqueles que estão no presente.

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