sábado , 7 dezembro , 2024

Crítica | Ficaremos Bem – Stellan Skargard estrela comovente drama representante da Noruega ao Oscar 2021

Quanto amor resta quando tudo o mais está prestes a acabar? Quanto carinho e afeto podem ser resgatados, reacendidos, quando todas as brigas e discordâncias são apequenadas diante de uma trágica notícia que muda toda a configuração de uma família? São esses questionamentos que direcionam o longa ‘Ficaremos Bem’, indicação da Noruega a uma vaga no Oscar 2021 e que chega esse mês ao público brasileiro através das plataformas de aluguel sob demanda e também na Amazon Prime e Apple TV+.



Anja (Andrea Bræin Hovig) é uma renomada artista e coreógrafa, que acaba de retomar sua carreira com a estreia de seu novo espetáculo. Quando volta para casa, sente-se mal subitamente e marca uma consulta com um especialista, certa de que não será nada e estará bem para as festas de fim de ano que se aproximam. Porém, quando o médico lhe telefona com o resultado dos exames e comunica que Anja está com um câncer em estágio avançado, incurável, e que ela terá apenas alguns meses de vida, Anja irá repensar sua vida e sua relação com Tomas (Stellan Skarsgård), um homem com quem vive há anos mas com quem ainda não é casada. Será que todo esse tempo que viveram juntos, compartilhando uma vida, terá valido a pena, quando Tomas passou a maior parte desse tempo dedicando-se ao próprio trabalho e reservando pouco tempo para os filhos pequenos que tem com Anja?

Em pouco mais de duas horas de produção, em ‘Ficaremos Bem’ o espectador é convidado a refletir sobre o trajeto, não sobre o destino. Quer dizer, o longa propõe pensar não na finitude da vida ou no impacto que uma doença como o câncer causa nas famílias, mas sim em como devemos viver nossos dias enquanto não temos um prazo de validade fixado em nosso destino.

De uma maneira bem simples e coesa, o roteiro de Maria Sodahl busca retratar a angústia, os desafios e as inseguranças diárias de uma pessoa com câncer, que repensa suas escolhas, seus acertos e erros na vida e tenta, de alguma maneira, acertar aquilo que não lhe parece bem, ainda que nem sempre com alguma delicadeza. Inspirado na vida pessoal da própria Maria Sodahl, que também dirige o longa, uma das coisas mais interessantes em ‘Ficaremos Bem’ é o fato de que todos os médicos que aparecem no filme são médicos de verdade, e não atores.

O casal protagonista consegue transmitir exatamente a problemática da incerteza, com Stellan Skarsgård bem em seu papel de um homem que causa sentimentos duais no espectador, ao mesmo tempo amoroso e negligente por tanto tempo – o tipo de sujeito facilmente reconhecível em muitas famílias. Ao focar sua história no inesperado da má notícia – afinal, ninguém planeja descobrir um câncer às vésperas do Natal –, ‘Ficaremos Bem’ é um filme dramático e reflexivo, que não propõe soluções, mas sim um caminho para pensar no quanto boa parte do que damos importância em vida quase nunca é de fato importante, e que só percebemos o valor das coisas quando estamos prestes a perdê-las.

Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Anja (Andrea Bræin Hovig) é uma renomada artista e coreógrafa, que acaba de retomar sua carreira com a estreia de seu novo espetáculo. Quando volta para casa, sente-se mal subitamente e marca uma consulta com um especialista, certa de que não será nada e estará bem para as festas de fim de ano que se aproximam. Porém, quando o médico lhe telefona com o resultado dos exames e comunica que Anja está com um câncer em estágio avançado, incurável, e que ela terá apenas alguns meses de vida, Anja irá repensar sua vida e sua relação com Tomas (Stellan Skarsgård), um homem com quem vive há anos mas com quem ainda não é casada. Será que todo esse tempo que viveram juntos, compartilhando uma vida, terá valido a pena, quando Tomas passou a maior parte desse tempo dedicando-se ao próprio trabalho e reservando pouco tempo para os filhos pequenos que tem com Anja?

Em pouco mais de duas horas de produção, em ‘Ficaremos Bem’ o espectador é convidado a refletir sobre o trajeto, não sobre o destino. Quer dizer, o longa propõe pensar não na finitude da vida ou no impacto que uma doença como o câncer causa nas famílias, mas sim em como devemos viver nossos dias enquanto não temos um prazo de validade fixado em nosso destino.

De uma maneira bem simples e coesa, o roteiro de Maria Sodahl busca retratar a angústia, os desafios e as inseguranças diárias de uma pessoa com câncer, que repensa suas escolhas, seus acertos e erros na vida e tenta, de alguma maneira, acertar aquilo que não lhe parece bem, ainda que nem sempre com alguma delicadeza. Inspirado na vida pessoal da própria Maria Sodahl, que também dirige o longa, uma das coisas mais interessantes em ‘Ficaremos Bem’ é o fato de que todos os médicos que aparecem no filme são médicos de verdade, e não atores.

O casal protagonista consegue transmitir exatamente a problemática da incerteza, com Stellan Skarsgård bem em seu papel de um homem que causa sentimentos duais no espectador, ao mesmo tempo amoroso e negligente por tanto tempo – o tipo de sujeito facilmente reconhecível em muitas famílias. Ao focar sua história no inesperado da má notícia – afinal, ninguém planeja descobrir um câncer às vésperas do Natal –, ‘Ficaremos Bem’ é um filme dramático e reflexivo, que não propõe soluções, mas sim um caminho para pensar no quanto boa parte do que damos importância em vida quase nunca é de fato importante, e que só percebemos o valor das coisas quando estamos prestes a perdê-las.

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