Gavião Arqueiro foi a última produção original da Marvel a chegar ao Disney+ em 2021. Ao longo de seis episódios, a série acompanhou a trajetória de um Clint Barton (Jeremy Renner) largando a aposentadoria para ajudar a jovem Kate Bishop (Hailee Steinfeld) a se livrar de um problema que só existe por conta do passado do herói como Ronin, que volta à tona após um grande mal-entendido.
Baseada na fase dos quadrinhos tocados por Matt Fraction e David Aja, a série falha em um ponto crucial de adaptação que afeta diretamente a trama. Apesar de aqui o Gavião Arqueiro também estar lidando com a surdez, na versão das HQs, a principal característica de seu protagonista é que ele é um fracasso total que precisa se recuperar diariamente para entender seu papel no mundo. E a chegada de Kate é o que o levanta para essa reconstrução diária.
Nesse ponto, a série é bem menos corajosa que os quadrinhos, porque traz um Clint cansado e lidando com o luto. Assim, a construção do personagem não traz tanto desse lado humano, desse lado falho, do herói. Tanto que, nos momentos em que ele falha ou precisa recorrer à ajuda de pessoas comuns, vemos algo bem próximo dos quadrinhos e traz momentos muito interessantes para o personagem. Assim, ainda exaltando o arqueiro dos Vingadores, a direção aposta apenas em um herói cansado que não queria estar ali, porque queria estar com a família para o natal. É uma abordagem ok, que funciona, mas poderia ser bem mais.
Sem poder contar com esse Clint derrotado, a produção tenta jogá-lo ao papel de coadjuvante, fazendo dele um secundário de luxo dentro da própria série para introduzir a verdadeira alma do show: a Kate Bishop de Hailee Steinfeld, que encarna bem a personagem e conquistou muitos fãs nesse processo. Foi algo similar ao que aconteceu no filme da Viúva Negra, onde a Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) acabou sendo ofuscada pela nova Viúva Negra, Yelena Belova (Florence Pugh), que também está na série e rouba a cena toda vez que aparece.
A relação das duas, que esbanjam carisma e química em cena, é uma das melhores coisas da série e serve para firmar de vez a ideia de que o bastão foi passado de vez, e que elas são a nova dupla de Gavião Arqueiro e Viúva Negra do MCU. É uma amizade que surge de forma tão orgânica que o público vai aguardar ansiosamente pela próxima aparição das duas.
Infelizmente, a série é mais uma a sofrer com um problema recorrente que a Marvel mostrou nesse primeiro ano de seriados: ela não foi gravada no formato de série.
É meio estranho falar assim, já que foi vendida com seis episódios e tudo mais. Mas, se for reparar, a estrutura do roteiro e dos acontecimentos da série é típico de um filme de 6h de duração que foi apenas dividido em seis capítulos. Dessa forma, há momentos em alguns episódios em que o ritmo tem uma queda natural para um filme, mas que jamais poderia acontecer em um capítulo de cerca de 1h. Falcão e o Soldado Invernal e Loki também sofreram com esse mal, principalmente a série do Deus da Trapaça. Ao que parece, a única produção que realmente entendeu seu formato foi WandaVision. Percebe-se nitidamente que a trama de Westview foi pensada capítulo a capítulo, não como um filmão só. Pode parecer bobeira, mas é algo que compromete bastante a experiência de quem acompanha a série semanalmente. Quem for maratonar Gavião Arqueiro em um dia só provavelmente não vai sentir muito disso, já que estará consumindo a produção como se fosse um filme, do jeito que ela foi pensada pelos realizadores.
Mesmo com esses contras que são normais para um estúdio que ainda está encontrando seu caminho nesse mundo das séries, Gavião Arqueiro tem plena consciência de até onde consegue ir sem forçar a barra. Entender suas limitações é um ponto importante para uma série dessas se manter relevante e não se perder no caminho. Dessa forma, eles exploram bem a questão das flechas especiais e acertam em cheio ao optarem por uma trama mais urbana, que cativa, diverte e traz Kate Bishop para o MCU.
Nota: 8
A primeira temporada de Gavião Arqueiro está disponível no Disney+.