É sempre interessante ver quando duas artistas de altíssimo calibre unem forças para criar mágica – como vemos em inúmeros momentos da história da música. E, quando Halsey e Amy Lee divulgaram a inédita “Hand That Feeds” para o filme ‘Bailarina’, spin-off da aclamada franquia de ação ‘John Wick’, nossas expectativas não poderiam estar mais altas, considerando o poder artístico e vocal de ambos os nomes no cenário fonográfico – e as belíssimas joias musicais que já entregaram ao longo de sua carreira.
Enquanto Lee possui uma carreira mais antiga e que já atingiu o status de icônica através de seu magnífico trabalho como vocalista da banda de rock Evanescence, imortalizando faixas como “Bring Me To Life” e “Call Me When You’re Sober”, por exemplo, Halsey ganhou notoriedade em meados dos anos 2010 como integrante do movimento indie-pop que se sagraria como um dos movimentos definidores da época, demonstrando versatilidade invejável álbum após álbum. Considerando a predileção estilística das duas, era apenas natural que elas convergissem para essa vibrante track que dialoga diretamente com o estilo do filme supracitado.
A canção, que se estende por breves três minutos, é uma mistura quase impecável e bastante equilibrada de investidas que tanto Lee quanto Halsey já exploraram em sua carreira: a primeira metade puxa elementos do recente ‘If I Can’t Have Love, I Want Power’, em que Halsey navega por uma melódica balada marcada pelo piano e pela guitarra, emulando as primeiras faixas de seu compilado de originais à medida que se aproxima de um urgente refrão; assim que Lee entra, ela se joga de cabeça em uma homenagem clara às memoráveis canções que eternizou no começo dos anos 2000, remodelando-as com uma roupagem mais contemporaneizada que aposta nas batidas profundas de uma bateria sintetizada e nos acordes familiares do hard-rock e do electro-rock.
A química das cantoras soa como algo nato, em sintonia ou solo, brilhando com entregas impecáveis que nos frustram em certos momentos apenas por não serem explorados com o potencial merecido – mas nada crasso demais que ofusque a beleza dessa faixa meticulosamente orquestrada por ninguém menos que Jordan Fish, mesmo nome por trás do conhecido grupo britânico Bring Me The Horizon. É claro que certas investidas, como os momentos que antecedem o crescendo do refrão ou até mesmo o arranjo instrumental da ponte, são familiares por abraçar convencionalismos de gênero; porém, Fish tem plena ciência de que, em se tratando de uma música assinada para uma trilha sonora, o teor mercadológico precisa existir – e ele faz isso com maestria e de forma prática o bastante para nos fazer querer ouvi-la de novo, e de novo, e de novo.
A ambientação narcótica existe fora da cronologia que divide o passado e o presente, unindo duas gerações sob uma ótica que as une em uma angustiante narrativa de toxicidade e unilateralidade – discorrendo acerca de um romance solitário que navega pela problemática da submissão compulsória e pelo amargo ressentimento que isso cria, mostrando que tanto Lee e Halsey conseguiram escapar desse claustrofóbico beco sem saída.
Lembrando que “Hand That Feeds” já está disponível nas plataformas de streaming.
