Uma das grandes sacadas no gênero do terror na época da virada do milênio foi entender o potencial para fazer besteira que os jovens tinham. Até os anos 1990, por exemplo, a maioria dos filmes do gênero eram estrelados por adultos em situação de sobrevivência; a partir dos anos 2000, os produtores voltaram seus olhos para os jovens e adolescentes, e suas iminentes vontades de testar limites e se colocar em situações de risco. Recuperando essa atmosfera de duas décadas atrás, chega a partir da próxima semana nos cinemas brasileiros o filme de terror ‘Hora do Massacre’.
Na tentativa de chamar a atenção da sociedade através das redes sociais, um grupo de seis jovens ativistas decide invadir uma loja de departamento no meio da noite para vandalizar e quebrar os móveis e objetos do lugar pois consideram que uma empresa desse porte está desmatando as florestas tropicais para fabricar em larga escala, matando diversos animais em consequência desses atos. A ideia era apenas vandalizar a loja e gravar tudo em vídeo, no intuito de viralizar depois, porém, naquela noite, o grupo se depara com os vigilantes Jack (Aidan O’Hare) e Kevin (Turlough Convery), e as coisas saem completamente do controle. Diante da psicopatia de Kevin, agora os jovens Karim (Tom Gould), Ethan (Benny O. Arthur), Yasmin (Jacqueline Moré), Grace (Alessia Yoko Fontana), Tyler (Kyle Scudder) e Emily (Charlotte Stoiber) terão que lutar por suas vidas para tentar sair da loja.
A premissa desse ‘Hora do Massacre’. Por um lado, temos um grupo de (pseudo) ativistas, com um discurso pronto e esvaziado que acredita que vandalizar os produtos é a forma certa para chamar atenção para a crítica; esse grupo, de jovens imprudentes, está fadado a cometer erros e o público torce para isso. Por outro lado, temos os vigilantes, que são dois irmãos: um, socialmente considerado “normal”, tem um comportamento padrão-clichê masculino: bebe cerveja no trabalho e fala abobrinhas; o outro, grande e sombrio, tem um quê de psicopatia e claramente está conectado aos instintos primais e, portanto, irracionais. De um lado, um grupo jovem entediado que acha que vai mudar o mundo; do outro, um psicopata antissocial que sente prazer no comportamento primitivo e bestializado dos seres viventes. Caçador e caças se misturam em suas ideologias e seus propósitos, e é isso que constrói a dinâmica do filme.
Fato curioso é que o filme é dirigido por um coletivo de diretores, intitulado RKSS, num movimento bastante coerente até com a proposta da própria produção e dos tempos atuais, em que a autoria se dilui em muitas frentes. Mesmo levando em consideração o orçamento limitado e a inexperiência de equipe e elenco, o filme consegue evoluir, tendo um início bem fraquinho para, aos poucos, ir inserindo elementos e situações que vão tornando a coisa toda mais interessante.
Em se tratando de um filme de terror com uma proposta slasher, a sensação geral é que, na hora de filmar, faltou coragem pra mostrar. As cenas de brutalidade, de sangue jorrando e tripas voando ficam no campo da sugestão, em prol da fluidez da cena, o que pode dar uma decepcionada em quem espera algo mais explícito.
‘Hora do Massacre’ é um bom cartão de visitas para um grupo de diretores e atores que têm potencial para crescer no mercado. Em termos de indústria, é uma proposta interessante a da produção; em termos de entretenimento, o filme surpreende com uma proposta inovadora de terror gato-e-rato em que tá todo mundo errado, embora tenham motivos para acreditar no contrário.