quinta-feira , 20 março , 2025

Crítica | Infinity Pool: Alexander Skarsgård e Mia Goth em performances chocantes em um dos filmes mais polêmicos e grotescos de 2023


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Filme assistido durante o Festival de Sundance 2023

Na escuridão de um quarto de hotel, a voz de Cleopatra Coleman surge serena, mas com um leve e intrigante toque inquisitor. Uma confusa pergunta existencial paira no ar, diante de um silêncio estranho, ainda permeado pelo negrume de um ambiente distante da luz natural. E sem sequer percebermos, esses primeiros cinco minutos tão aleatórios se tornam uma pequena fração da insanidade psicológica de Infinity Pool. E ali, na quietude acalentadora de uma confortável cama de hotel, temos o que talvez seja o genuíno único momento de paz do novo filme de Brandon Cronenberg.



infinity pool 4

Em uma ilha resort isolada chamada Talqoa, somos testemunhas de uma subcultura medonha que ganha vida diante dos nossos olhos de maneira inesperada. Guiados pela sedutora e misteriosa Gaby (Mia Goth), nossos protagonistas James (Alexander Skarsgård) Em (Cleopatra Coleman) se aventuram fora dos perímetros do hotel, apenas para se depararem com uma cultura cheia de violência, hedonismo e horror incalculável. Um trágico acidente ainda os deixa diante de uma política de tolerância zero para o crime: ou você será executado ou – se for rico o suficiente para pagar – poderá assistir à sua própria execução. E é nessa espiral de alucinações, ganância e conflitos morais que Infinity Pool destila uma espécie de misantropia, ao mostrar uma espécie de turismo pervertido, onde poderosos saciam seus desejos mais bárbaros a partir do sangue alheio e outros crimes hediondos.

Honrando o pesado sobrenome que carrega, Brandon Cronenberg evidencia rapidamente o quanto suas raízes criativas foram regadas pelo inegável talento de seu pai, o aclamado cineasta David Cronenberg. E em Infinity Pool, ele entrega seu trabalho mais autoral, em um terror de ficção-científica que mais do que desafiar nossa compreensão humana, nos induz a confrontar a sua natureza em seu estado mais primitivo. Com um roteiro que em sua essência é existencial, o diretor opta por fugir dos modelos formulaicos e despe seus personagens das máscaras e fachadas sociais que todos carregam, para mostrá-los em sua composição mais bruta e brutal, como pessoas detestáveis e perversas que se submetem às coisas mais atrozes em prol do prazer.


infinity pool3

Subvertendo os gêneros em que se encontra, o longa derruba todas as barreiras de moralidade, ética e princípios que regem a sociedade há séculos, para nos mostrar o quão perversa é a natureza humana sem os princípios básicos dos 10 Mandamentos. Mas usando um caminho nada ortodoxo, bastante grotesco e de caráter duvidoso, Brandon Cronenberg corre o risco de ver sua mensagem se dissipar, em meio a tanta nudez explícita, orgias e bestialidade que fariam Sodoma e Gorroma se constrangerem. Expondo seu elenco às intempéries físicas e emocionais mais bizarras, Infinity Pool é um ensaio sobre a raça humana em sua mais pura barbárie, assim como também é um estudo de personagem, ao mostrar seu protagonista, James, entre a loucura e a sanidade após se envolver em um incidente que lhe custou uma trágica morte.

E conforme esse belo homem sucumbe aos seus instintos mais animalescos e pavorosos, mais testemunhamos o constante conflito entre sua natureza primata e a sua índole, o seu caráter. Entre o desgaste mental, emocional e a completa sensação de fracasso que lhe assombra – por ser um péssimo escritor que vive às custas do dinheiro da sua esposa rica -, James se dá conta de sua insignificância, com a constante ajuda da intragável Gaby. E assim, Skarsgård e Goth formam a combinação impecável que torna Infinity Pool um espetáculo visual apavorante, que promete ser o filme mais polêmico de 2023. Com atuações espetaculares, que nos fatigam a todo momento, eles são o retrato da perversão humana. Promovendo as sensações mais adversas na audiência, a dupla de protagonista brilha em um filme difícil de digerir.

Assista também: 
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infinity pool2

Tecnicamente bem produzido e dirigido, o longa possui seu próprio conceito e faz uma reflexão poderosa sobre a essência da maldade humana. Mas por ser tão gráfico e sangrento, ele se torna seletivo demais e não é feito para todos. Com cenas grotescas, perversas e perturbadoras, Infinity Pool é um excelente terror para aqueles que possuem estômago forte, mas ainda assim pode ser desconfortável até para eles. Sua violência esmagadora e seus horrores surreais perfuram esta sátira sombria sobre privilégios em um contexto de poder e falta de leis – que é centrada nas performances depravadas de Alexander Skarsgård e Mia Goth. Servindo momentos profundamente desconfortáveis e de enojar qualquer um, o filme é o tipo de experiência cinematográfica que só um Cronenberg seria capaz de nos proporcionar. Mas não é qualquer que daria conta de reassistí-la.


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infinity pool 4

Em uma ilha resort isolada chamada Talqoa, somos testemunhas de uma subcultura medonha que ganha vida diante dos nossos olhos de maneira inesperada. Guiados pela sedutora e misteriosa Gaby (Mia Goth), nossos protagonistas James (Alexander Skarsgård) Em (Cleopatra Coleman) se aventuram fora dos perímetros do hotel, apenas para se depararem com uma cultura cheia de violência, hedonismo e horror incalculável. Um trágico acidente ainda os deixa diante de uma política de tolerância zero para o crime: ou você será executado ou – se for rico o suficiente para pagar – poderá assistir à sua própria execução. E é nessa espiral de alucinações, ganância e conflitos morais que Infinity Pool destila uma espécie de misantropia, ao mostrar uma espécie de turismo pervertido, onde poderosos saciam seus desejos mais bárbaros a partir do sangue alheio e outros crimes hediondos.

Honrando o pesado sobrenome que carrega, Brandon Cronenberg evidencia rapidamente o quanto suas raízes criativas foram regadas pelo inegável talento de seu pai, o aclamado cineasta David Cronenberg. E em Infinity Pool, ele entrega seu trabalho mais autoral, em um terror de ficção-científica que mais do que desafiar nossa compreensão humana, nos induz a confrontar a sua natureza em seu estado mais primitivo. Com um roteiro que em sua essência é existencial, o diretor opta por fugir dos modelos formulaicos e despe seus personagens das máscaras e fachadas sociais que todos carregam, para mostrá-los em sua composição mais bruta e brutal, como pessoas detestáveis e perversas que se submetem às coisas mais atrozes em prol do prazer.

infinity pool3

Subvertendo os gêneros em que se encontra, o longa derruba todas as barreiras de moralidade, ética e princípios que regem a sociedade há séculos, para nos mostrar o quão perversa é a natureza humana sem os princípios básicos dos 10 Mandamentos. Mas usando um caminho nada ortodoxo, bastante grotesco e de caráter duvidoso, Brandon Cronenberg corre o risco de ver sua mensagem se dissipar, em meio a tanta nudez explícita, orgias e bestialidade que fariam Sodoma e Gorroma se constrangerem. Expondo seu elenco às intempéries físicas e emocionais mais bizarras, Infinity Pool é um ensaio sobre a raça humana em sua mais pura barbárie, assim como também é um estudo de personagem, ao mostrar seu protagonista, James, entre a loucura e a sanidade após se envolver em um incidente que lhe custou uma trágica morte.

E conforme esse belo homem sucumbe aos seus instintos mais animalescos e pavorosos, mais testemunhamos o constante conflito entre sua natureza primata e a sua índole, o seu caráter. Entre o desgaste mental, emocional e a completa sensação de fracasso que lhe assombra – por ser um péssimo escritor que vive às custas do dinheiro da sua esposa rica -, James se dá conta de sua insignificância, com a constante ajuda da intragável Gaby. E assim, Skarsgård e Goth formam a combinação impecável que torna Infinity Pool um espetáculo visual apavorante, que promete ser o filme mais polêmico de 2023. Com atuações espetaculares, que nos fatigam a todo momento, eles são o retrato da perversão humana. Promovendo as sensações mais adversas na audiência, a dupla de protagonista brilha em um filme difícil de digerir.

infinity pool2

Tecnicamente bem produzido e dirigido, o longa possui seu próprio conceito e faz uma reflexão poderosa sobre a essência da maldade humana. Mas por ser tão gráfico e sangrento, ele se torna seletivo demais e não é feito para todos. Com cenas grotescas, perversas e perturbadoras, Infinity Pool é um excelente terror para aqueles que possuem estômago forte, mas ainda assim pode ser desconfortável até para eles. Sua violência esmagadora e seus horrores surreais perfuram esta sátira sombria sobre privilégios em um contexto de poder e falta de leis – que é centrada nas performances depravadas de Alexander Skarsgård e Mia Goth. Servindo momentos profundamente desconfortáveis e de enojar qualquer um, o filme é o tipo de experiência cinematográfica que só um Cronenberg seria capaz de nos proporcionar. Mas não é qualquer que daria conta de reassistí-la.

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