sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | Infinity Pool: Alexander Skarsgård e Mia Goth em performances chocantes em um dos filmes mais polêmicos e grotescos de 2023

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Filme assistido durante o Festival de Sundance 2023

Na escuridão de um quarto de hotel, a voz de Cleopatra Coleman surge serena, mas com um leve e intrigante toque inquisitor. Uma confusa pergunta existencial paira no ar, diante de um silêncio estranho, ainda permeado pelo negrume de um ambiente distante da luz natural. E sem sequer percebermos, esses primeiros cinco minutos tão aleatórios se tornam uma pequena fração da insanidade psicológica de Infinity Pool. E ali, na quietude acalentadora de uma confortável cama de hotel, temos o que talvez seja o genuíno único momento de paz do novo filme de Brandon Cronenberg.



Em uma ilha resort isolada chamada Talqoa, somos testemunhas de uma subcultura medonha que ganha vida diante dos nossos olhos de maneira inesperada. Guiados pela sedutora e misteriosa Gaby (Mia Goth), nossos protagonistas James (Alexander Skarsgård) Em (Cleopatra Coleman) se aventuram fora dos perímetros do hotel, apenas para se depararem com uma cultura cheia de violência, hedonismo e horror incalculável. Um trágico acidente ainda os deixa diante de uma política de tolerância zero para o crime: ou você será executado ou – se for rico o suficiente para pagar – poderá assistir à sua própria execução. E é nessa espiral de alucinações, ganância e conflitos morais que Infinity Pool destila uma espécie de misantropia, ao mostrar uma espécie de turismo pervertido, onde poderosos saciam seus desejos mais bárbaros a partir do sangue alheio e outros crimes hediondos.

Honrando o pesado sobrenome que carrega, Brandon Cronenberg evidencia rapidamente o quanto suas raízes criativas foram regadas pelo inegável talento de seu pai, o aclamado cineasta David Cronenberg. E em Infinity Pool, ele entrega seu trabalho mais autoral, em um terror de ficção-científica que mais do que desafiar nossa compreensão humana, nos induz a confrontar a sua natureza em seu estado mais primitivo. Com um roteiro que em sua essência é existencial, o diretor opta por fugir dos modelos formulaicos e despe seus personagens das máscaras e fachadas sociais que todos carregam, para mostrá-los em sua composição mais bruta e brutal, como pessoas detestáveis e perversas que se submetem às coisas mais atrozes em prol do prazer.

Subvertendo os gêneros em que se encontra, o longa derruba todas as barreiras de moralidade, ética e princípios que regem a sociedade há séculos, para nos mostrar o quão perversa é a natureza humana sem os princípios básicos dos 10 Mandamentos. Mas usando um caminho nada ortodoxo, bastante grotesco e de caráter duvidoso, Brandon Cronenberg corre o risco de ver sua mensagem se dissipar, em meio a tanta nudez explícita, orgias e bestialidade que fariam Sodoma e Gorroma se constrangerem. Expondo seu elenco às intempéries físicas e emocionais mais bizarras, Infinity Pool é um ensaio sobre a raça humana em sua mais pura barbárie, assim como também é um estudo de personagem, ao mostrar seu protagonista, James, entre a loucura e a sanidade após se envolver em um incidente que lhe custou uma trágica morte.

E conforme esse belo homem sucumbe aos seus instintos mais animalescos e pavorosos, mais testemunhamos o constante conflito entre sua natureza primata e a sua índole, o seu caráter. Entre o desgaste mental, emocional e a completa sensação de fracasso que lhe assombra – por ser um péssimo escritor que vive às custas do dinheiro da sua esposa rica -, James se dá conta de sua insignificância, com a constante ajuda da intragável Gaby. E assim, Skarsgård e Goth formam a combinação impecável que torna Infinity Pool um espetáculo visual apavorante, que promete ser o filme mais polêmico de 2023. Com atuações espetaculares, que nos fatigam a todo momento, eles são o retrato da perversão humana. Promovendo as sensações mais adversas na audiência, a dupla de protagonista brilha em um filme difícil de digerir.

Tecnicamente bem produzido e dirigido, o longa possui seu próprio conceito e faz uma reflexão poderosa sobre a essência da maldade humana. Mas por ser tão gráfico e sangrento, ele se torna seletivo demais e não é feito para todos. Com cenas grotescas, perversas e perturbadoras, Infinity Pool é um excelente terror para aqueles que possuem estômago forte, mas ainda assim pode ser desconfortável até para eles. Sua violência esmagadora e seus horrores surreais perfuram esta sátira sombria sobre privilégios em um contexto de poder e falta de leis – que é centrada nas performances depravadas de Alexander Skarsgård e Mia Goth. Servindo momentos profundamente desconfortáveis e de enojar qualquer um, o filme é o tipo de experiência cinematográfica que só um Cronenberg seria capaz de nos proporcionar. Mas não é qualquer que daria conta de reassistí-la.

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Em uma ilha resort isolada chamada Talqoa, somos testemunhas de uma subcultura medonha que ganha vida diante dos nossos olhos de maneira inesperada. Guiados pela sedutora e misteriosa Gaby (Mia Goth), nossos protagonistas James (Alexander Skarsgård) Em (Cleopatra Coleman) se aventuram fora dos perímetros do hotel, apenas para se depararem com uma cultura cheia de violência, hedonismo e horror incalculável. Um trágico acidente ainda os deixa diante de uma política de tolerância zero para o crime: ou você será executado ou – se for rico o suficiente para pagar – poderá assistir à sua própria execução. E é nessa espiral de alucinações, ganância e conflitos morais que Infinity Pool destila uma espécie de misantropia, ao mostrar uma espécie de turismo pervertido, onde poderosos saciam seus desejos mais bárbaros a partir do sangue alheio e outros crimes hediondos.

Honrando o pesado sobrenome que carrega, Brandon Cronenberg evidencia rapidamente o quanto suas raízes criativas foram regadas pelo inegável talento de seu pai, o aclamado cineasta David Cronenberg. E em Infinity Pool, ele entrega seu trabalho mais autoral, em um terror de ficção-científica que mais do que desafiar nossa compreensão humana, nos induz a confrontar a sua natureza em seu estado mais primitivo. Com um roteiro que em sua essência é existencial, o diretor opta por fugir dos modelos formulaicos e despe seus personagens das máscaras e fachadas sociais que todos carregam, para mostrá-los em sua composição mais bruta e brutal, como pessoas detestáveis e perversas que se submetem às coisas mais atrozes em prol do prazer.

Subvertendo os gêneros em que se encontra, o longa derruba todas as barreiras de moralidade, ética e princípios que regem a sociedade há séculos, para nos mostrar o quão perversa é a natureza humana sem os princípios básicos dos 10 Mandamentos. Mas usando um caminho nada ortodoxo, bastante grotesco e de caráter duvidoso, Brandon Cronenberg corre o risco de ver sua mensagem se dissipar, em meio a tanta nudez explícita, orgias e bestialidade que fariam Sodoma e Gorroma se constrangerem. Expondo seu elenco às intempéries físicas e emocionais mais bizarras, Infinity Pool é um ensaio sobre a raça humana em sua mais pura barbárie, assim como também é um estudo de personagem, ao mostrar seu protagonista, James, entre a loucura e a sanidade após se envolver em um incidente que lhe custou uma trágica morte.

E conforme esse belo homem sucumbe aos seus instintos mais animalescos e pavorosos, mais testemunhamos o constante conflito entre sua natureza primata e a sua índole, o seu caráter. Entre o desgaste mental, emocional e a completa sensação de fracasso que lhe assombra – por ser um péssimo escritor que vive às custas do dinheiro da sua esposa rica -, James se dá conta de sua insignificância, com a constante ajuda da intragável Gaby. E assim, Skarsgård e Goth formam a combinação impecável que torna Infinity Pool um espetáculo visual apavorante, que promete ser o filme mais polêmico de 2023. Com atuações espetaculares, que nos fatigam a todo momento, eles são o retrato da perversão humana. Promovendo as sensações mais adversas na audiência, a dupla de protagonista brilha em um filme difícil de digerir.

Tecnicamente bem produzido e dirigido, o longa possui seu próprio conceito e faz uma reflexão poderosa sobre a essência da maldade humana. Mas por ser tão gráfico e sangrento, ele se torna seletivo demais e não é feito para todos. Com cenas grotescas, perversas e perturbadoras, Infinity Pool é um excelente terror para aqueles que possuem estômago forte, mas ainda assim pode ser desconfortável até para eles. Sua violência esmagadora e seus horrores surreais perfuram esta sátira sombria sobre privilégios em um contexto de poder e falta de leis – que é centrada nas performances depravadas de Alexander Skarsgård e Mia Goth. Servindo momentos profundamente desconfortáveis e de enojar qualquer um, o filme é o tipo de experiência cinematográfica que só um Cronenberg seria capaz de nos proporcionar. Mas não é qualquer que daria conta de reassistí-la.

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