domingo , 24 novembro , 2024

Crítica | Isabela Merced mescla latinidades e sensualidade no EP ‘the better half of me’

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Isabela Merced ganhou notoriedade ao viver a personagem-título de um dos filmes mais adoráveis e divertidos da década passada – ‘Dora e a Cidade Perdida’. Honrando a série animada original e encarnando cada delineação da icônica personagem, Merced provou ser uma atriz com enorme potencial, provado mais uma vez ao estrelar o divertido drama romântico natalino Deixe a Neve Cair como a forte e ácida Julie Reyes. Entretanto, enquanto várias pessoas podem conhecê-la por trabalhos desse tipo, a performer recentemente veio investindo em sua carreira musical, como o dançante e envolvente single “Papi”, lançado no ano passado. Agora, em plena pandemia sanitária, ela resolveu nos presentear com seu primeiro EP oficial intitulado the better half of me, cujas cinco faixas representam um bem-vindo amadurecimento artístico e uma honraria especial para suas raízes peruanas.

O breve álbum é, como já mencionado, é uma homenagem latina protuberante com inúmeros estilos musicais que se fundem em uma intrincada contemporaneidade nostálgica, com resultados difíceis de serem conseguidos. Logo de cara, temos a abertura instantaneamente clássica de “apocalipsis”, uma faixa que passa longe do prospecto caótico que seu título chama. Através dos acordes abafados da guitarra e do baixo (e de um futuro bridge irretocável), o liricismo romântico oscila entre o bachata e o tango com fluidez invejável, discorrendo acerca de um ardente relacionamento guiado pela sensualidade dos graves vocais da cantora. Mais do que isso, Merced cuida para que sua poética composição transforme-se em uma elegia respaldada pelo comedido flerte com o jazz dos anos 1920 e 1930.



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Afastando-se do popular reggatón, que conquistou os ouvidos do público há quase uma década, ela não exatamente deixa as tendências atuais de lado; pelo contrário, a música desconstrói a si mesma em prol de uma amálgama inesperada. O exemplo mais forte disso é “todo esta bien”, uma sutil incursão no trap-pop latino que foge das fórmulas mercadológicas e mostra a superação da artista frente uma decepção amorosa – refletida nos pungentes versos “tudo está bem, aqui você não faz falta”. O idílico cenário pintado por Merced pode dividir seus fãs, mas de fato não perde o brilho acústico de suas inúmeras referências de nicho, procurando revitalizar uma minimalista cumbia colombiana que une-se a podados sintetizadores e batidas repetitivas.

Por mais que a performer passe longe da esfera mainstream, cada canção pela qual fica responsável é uma joia, encantada com aquilo que sabe fazer de melhor. “lovin kind”, nesse escopo, é a track que mais volta-se para o ideário de singles que possuímos com o imperialismo sonoro da indústria norte-americana e inglesa. Em comparação com as ousadas músicas que a precedem, esta iteração tem uma arquitetura previsível, corroborando para a cativante narrativa instrumental que imediatamente traça paralelos com J Balvin, Maluma e Luis Fonsi. Porém, por mais que essas comparações existam, Isabela impede que sua presença única seja ofuscada, pincelando cada trova com sua assinatura.

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“chocolate”, a faixa que premedita a precoce resolução do EP, partiria do mesmo princípio – caso não fosse pela explosiva mudança das progressões ao longo dos pouco mais de dois minutos e meio. Pegando continuidades que soam familiar, a investida em questão é a prova de que Merced consegue colocar, em um mesmo lugar, tudo que faz parte de sua vida, criando uma saborosa trama que a aproxima tanto da circundante presença da lendária Selena quanto dos inúmeros discos que resolvem estender suas influências para o século passado. Dessa forma, o CD caminha para uma conclusão incrível e que fecha o ciclo que Isabela nos apresenta desde o começo: “the chase” exala a tensão sexual de dois amantes carregados pelo novelesco drama de um enlace cujo finale queremos saber desde as primeiras batidas.

O maior sucesso que a cantora e compositora encontra aqui é a capacidade de manter-se rejuvenescida em meio a tantos lançamentos e nomes que surgem esporadicamente no mundo afora – deixando claro quais são os gêneros pelos que tem mais gosto de explorar. Em cada peça fonográfica, o ritmo e a melodia combinam-se em uma ambiência sólida o suficiente para criar afinidade com seus interlocutores, mesclando humor e tragédia com toques do legado da geração millenial (como a forte presença dos anos 1980). No final das contas, the better half of me entrega muito mais do que esperávamos, merecendo muito mais carinho e reconhecimento do que provavelmente terá.

Nota por faixa:

  • apocalipsis – 5/5
  • todo esta bien – 4/5
  • lovin kind – 4,5/5
  • chocolate – 4,5/5
  • the chase – 5/5
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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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O breve álbum é, como já mencionado, é uma homenagem latina protuberante com inúmeros estilos musicais que se fundem em uma intrincada contemporaneidade nostálgica, com resultados difíceis de serem conseguidos. Logo de cara, temos a abertura instantaneamente clássica de “apocalipsis”, uma faixa que passa longe do prospecto caótico que seu título chama. Através dos acordes abafados da guitarra e do baixo (e de um futuro bridge irretocável), o liricismo romântico oscila entre o bachata e o tango com fluidez invejável, discorrendo acerca de um ardente relacionamento guiado pela sensualidade dos graves vocais da cantora. Mais do que isso, Merced cuida para que sua poética composição transforme-se em uma elegia respaldada pelo comedido flerte com o jazz dos anos 1920 e 1930.

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Afastando-se do popular reggatón, que conquistou os ouvidos do público há quase uma década, ela não exatamente deixa as tendências atuais de lado; pelo contrário, a música desconstrói a si mesma em prol de uma amálgama inesperada. O exemplo mais forte disso é “todo esta bien”, uma sutil incursão no trap-pop latino que foge das fórmulas mercadológicas e mostra a superação da artista frente uma decepção amorosa – refletida nos pungentes versos “tudo está bem, aqui você não faz falta”. O idílico cenário pintado por Merced pode dividir seus fãs, mas de fato não perde o brilho acústico de suas inúmeras referências de nicho, procurando revitalizar uma minimalista cumbia colombiana que une-se a podados sintetizadores e batidas repetitivas.

Por mais que a performer passe longe da esfera mainstream, cada canção pela qual fica responsável é uma joia, encantada com aquilo que sabe fazer de melhor. “lovin kind”, nesse escopo, é a track que mais volta-se para o ideário de singles que possuímos com o imperialismo sonoro da indústria norte-americana e inglesa. Em comparação com as ousadas músicas que a precedem, esta iteração tem uma arquitetura previsível, corroborando para a cativante narrativa instrumental que imediatamente traça paralelos com J Balvin, Maluma e Luis Fonsi. Porém, por mais que essas comparações existam, Isabela impede que sua presença única seja ofuscada, pincelando cada trova com sua assinatura.

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“chocolate”, a faixa que premedita a precoce resolução do EP, partiria do mesmo princípio – caso não fosse pela explosiva mudança das progressões ao longo dos pouco mais de dois minutos e meio. Pegando continuidades que soam familiar, a investida em questão é a prova de que Merced consegue colocar, em um mesmo lugar, tudo que faz parte de sua vida, criando uma saborosa trama que a aproxima tanto da circundante presença da lendária Selena quanto dos inúmeros discos que resolvem estender suas influências para o século passado. Dessa forma, o CD caminha para uma conclusão incrível e que fecha o ciclo que Isabela nos apresenta desde o começo: “the chase” exala a tensão sexual de dois amantes carregados pelo novelesco drama de um enlace cujo finale queremos saber desde as primeiras batidas.

O maior sucesso que a cantora e compositora encontra aqui é a capacidade de manter-se rejuvenescida em meio a tantos lançamentos e nomes que surgem esporadicamente no mundo afora – deixando claro quais são os gêneros pelos que tem mais gosto de explorar. Em cada peça fonográfica, o ritmo e a melodia combinam-se em uma ambiência sólida o suficiente para criar afinidade com seus interlocutores, mesclando humor e tragédia com toques do legado da geração millenial (como a forte presença dos anos 1980). No final das contas, the better half of me entrega muito mais do que esperávamos, merecendo muito mais carinho e reconhecimento do que provavelmente terá.

Nota por faixa:

  • apocalipsis – 5/5
  • todo esta bien – 4/5
  • lovin kind – 4,5/5
  • chocolate – 4,5/5
  • the chase – 5/5
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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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