O ser humano sempre teve especial curiosidade pelos casos de crime, os mistérios não resolvidos, os porquês não explicados. A recente onda de interesse do público com relação a filmes e séries baseadas em crimes reais apenas comprova esta afirmação: nos últimos anos tem havido um aumento de podcasts, livros, canais especializados em todo tipo de crime, no mundo inteiro. Não demorou muito para que esse interesse crescente se voltasse para o nosso quintal, afinal, em nosso país é também ocorre crimes reais absurdos. Dentre a ficcionalização do real e a abordagem documental, os streamings têm se debruçado com interesse nos casos brasileiros. O mais recente chegou aos assinantes da Netflix através de um filme documental, sobre um dos episódios mais bizarros da era contemporânea brasileira: ‘Isabella: O Caso Nardoni’.
Isabella Nardoni era uma menina de 5 anos, feliz e contente, voltando de carro em um domingo à noite para a casa de seu pai e de sua madrasta. Algo tenebroso aconteceu no intervalo de dez minutos em que a menina subiu com o pai para o apartamento, pois, em seguida, o corpo da menina foi encontrado no jardim do condomínio em São Paulo, quase já sem vida. Entre a hipótese de acidente até a acusação de que o pai biológico, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Ana Paula Jatobá, teriam jogado a criança pela janela, cortando a redinha de proteção antes, muita especulação foi feita, sendo que até hoje há pontos obscuros dessa história, que nem mesmo o filme documental foi capaz de sanar.
O documentário de Cláudio Manoel e Micael Langer é um pouco confuso em seu objetivo. Às uma hora e meia da produção podem ser divididas em duas etapas: a primeira, em que o caso é apresentado, desde a hipótese de acidente, sendo conduzido à interpretação de homicídio; e a segunda, em que basicamente os depoentes usam o espaço para criticar o papel da imprensa na cobertura de casos como o da menina Isabella. Esse segundo ponto é onde o documentário se perde, não tanto por atribuir a responsabilidade aos jornalistas, pela forma como espetacularam o episódio, mas sim por atribuir à imprensa a manipulação indireta da condução do caso pelos investigadores e também do júri com relação à sentença alcançada, focando metade de seu tempo nisso.
O núcleo de pesquisa do documentário ‘Isabella: O Caso Nardoni’ conseguiu entrar em contato e captar depoimentos do promotor do caso, do advogado, da mãe, da avó e da irmã de Isabella e até mesmo de alguns policiais envolvidos, salientados pelas observações da criminóloga Ilana Casoy ( de ‘Bom Dia, Verônica‘). Afora a ausência dos depoimentos dos acusados, por conta da recusa dos próprios, a sensação final ao assistirmos ao documentário é de não entender o objetivo dele, mais parecendo o de tão somente rememorar o episódio – e, nesse sentido, pra que fazê-lo?
Sob a concordância da mãe da menina, o documentário ‘Isabella: O Caso Nardoni’ é vazio de sentido e passa a impressão de tão somente ser uma produção para o resto do mundo conhecer o que aconteceu aqui. Para quem não conhece a história desse crime, serve como porta de entrada pra história, mas fica só nisso.