sexta-feira, março 29, 2024

Crítica | Jack Ryan – Segunda temporada troca investigação por ação

Lançada em agosto de 2018, Jack Ryan surpreendeu ao oferecer um bom misto entre série investigativa e de ação, além de contar com a ótima presença de um carismático John Krasinski. A produção era meio que um misto entre Homeland e 24 Horas, e contava com uma premissa envolvente e de acordo com o panorama geopolítico em que os Estados Unidos estão envolvidos atualmente. 

Embora ainda conte com alguns bons momentos, a segunda temporada da série deixa um pouco o lado investigativo de escanteio. O foco é praticamente todo na ação. Com isso, o diferencial do primeiro ano foi se esgotando e, a cada novo episódio, a série foi se aproximando de um grande filme de Michael Bay, não por acaso um dos produtores da obra. Se na primeira temporada tínhamos um Jack focado e determinado em obter todas as informações envolvendo as possíveis ameaças terroristas, aqui temos o mesmo personagem chegando a conclusões apressadas após se deparar com algumas fotos isoladas. Em apenas um momento, nos oito episódios, vemos o analista estudando a situação, quase como se a série inserisse a sequência apenas para mostrar que ele ainda é aquela mesma pessoa. Mas a verdade é que o novo Jack Ryan é apressado, afobado e instável. Resumidamente, bem menos confiável daquele sujeito que conhecemos antes. O que acaba segurando o personagem é, mais uma vez, a boa presença de Krasinski.

A nova temporada de Jack Ryan traz o personagem investigando a possível compras de armas da Rússia por parte da Venezuela. Ao chegar no país da América do Sul, Ryan se depara com uma realidade preocupante, em que o autoritário presidente Nicolas Reyes (Jordi Molla) tenta impedir a ascensão da popular Gloria Bonalde (Cristina Umaña), que é uma verdadeira ameaça nas próximas eleições. Na Venezuela, Ryan acaba reencontrando James Greer (Wendell Pierce), que deixa seu posto em Moscou para seguir pistas que apontavam para o país.

Por mais que seja interessante ver uma produção norte-americana do gênero seguindo um caminho diferente, não apresentando a mesma ameaça de sempre no Oriente Médio, há de se observar que a série escorrega bastante na abordagem da Venezuela. Talvez para evitar polêmicas, a produção deixa de apontar o posicionamento político de Reyes, mas dá a entender que ele é um governante de direita ao colocar seus principais adversários no campo da esquerda. Inclusive, Bonalde cita Simón Bolívar em um de seus discursos. Assim, a série “faz O Mecanismo” à inversa e acaba sendo um pouco desonesta com o espectador. É possível argumentar que Reyes é um personagem fictício e que a série poderia inseri-lo em qualquer campo ideológico. No entanto, como a produção tem buscado um tom realista e sempre seguindo o cenário geopolítico mundial soa errado não entrar mais a fundo na questão política na Venezuela, ainda mais que o país é figura central na série na atual temporada.

A abordagem patriótica por parte dos soldados, agentes e políticos norte-americanos também incomoda. São todos paladinos da justiça, quase sem falhas, e dispostos a fazer o correto e consertar os problemas do mundo. O único americano que toma uma atitude errada na série acaba desmascarado pelos próprios compatriotas, que não poderiam aceitar tal atitude. Diante disso, personagens de outras nacionalidades como a espiã Harry Baumann (Noomi Rapace), o político venezuelano Miguel Ubari (Francisco Denis) e o mercenário Max Schenkel (Tom Wlaschiha) acabam sendo bem mais interessante. O elenco conta ainda com a presença de Michael Kelly, em um papel diferente de House of Cards, mas tão eficiente quando.

Dentre as novidades no elenco, Noomi Rapace demonstra mais uma vez talento para as cenas de ação. A personagem, no entanto, parece mal tratada pelo roteiro, uma vez que todas as suas atitudes envolvem um homem. Além disso, a tentativa de criar uma relação maior com Ryan torna tudo ainda mais artificial. Interesse amoroso na primeira temporada, Abbie Cornish não retorna para os novos episódios. 

Ainda que mantenha o clima envolvente e conte com boas cenas de ação, a verdade é que Jack Ryan entregou um segundo ano ordinário. Os criadores e roteiristas Carlton Cuse e Graham Roland claramente optaram por mudar o perfil da produção e acabaram podando a série de toda sua originalidade e sentido de urgência. O espectador pode até se divertir, mas dificilmente irá surtar com o que vê na tela.

O diferencial de Jack sempre foi que ele era mais do que um brutamontes que partia para ação todo momento que podia. Era alguém que pensava meticulosamente todas as alternativas e seguia seu plano. Infelizmente, esse personagem não existe mais. Com um protagonista prejudicado, a série poderia ser ajudada pela presença de um grande vilão. Mas este também não é o caso. Nicolas Reyes é quase sempre instável e desinteressante. 

A série já está renovada para a terceira temporada, que terá uma troca de showrunners. Cuse e Roland serão substituídos por Paul Scheuring, criador de Prison Break. Curiosamente, Prison Break foi outra série que trocou o desenvolvimento pela ação insana com o passar do tempo. Vamos torcer para que Jack Ryan não continue neste caminho.

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