domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | Kardec – Biografia é uma superprodução do cinema nacional

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Contra Tudo e Contra Todos

Fugindo do radar das comédias populares, uma seara de novas produções nacionais tem apostado nas biografias, sejam elas de figuras da música ou não, como material fonte de suas obras. E o melhor é que o público tem respondido, deixando o saldo muito positivo.

O mais recente tópico usado como mote é a vida do lendário Allan Kardec, fundador da doutrina espírita, que chega aos cinemas do país nesta quinta-feira na forma de uma superprodução brasileira. E sim, Kardec, o filme, tem todos os atributos de um longa fictício imponente: fotografia, direção de arte, figurinos e locações, todos cuidadíssimos (filmado parcialmente em Paris), além do uso de efeitos visuais eficientes.



O que chama atenção logo de cara no drama é a recriação de época. Somos transportados para a França de 1800, de forma indefectível. Kardec relata um período histórico, refletindo costumes sociais de uma época, que se tornam por si só uma experiência atrativa para os estudiosos e entusiastas do tema, independente de crenças e religiões.

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Obviamente, Kardec é impulsionando como ‘filme religioso’, um filão cada vez mais pulsante ao redor do mundo. E aqui temos como figura central a imagem de um homem responsável pela fé e espiritualidade de milhões de pessoas pelo planeta. E quem sabe através de outros planetas e planos. Allan Kardec, independente de qualquer outro fator, é uma personalidade icônica, e retratá-lo da forma correta era imprescindível.

Baseado no livro de Marcel Souto Maior, quem comanda o espetáculo é o cineasta Wagner de Assis, acostumado a lidar com personalidades maiores que a vida, sejam elas rainhas do entretenimento como Xuxa Meneghel (a quem dirigiu em alguns filmes) ou espíritos em uma jornada transcendental para o outro lado. Mas sim, como afirmou o próprio diretor, o segredo está em humanizar tais figuras, as descendo do pedestal e apresentando todas as suas falhas, inseguranças e frustrações.

Vivido por Leonardo Medeiros, León Rivail é um professor colegial, que pede demissão ao não concordar com a obrigação do catolicismo como matéria curricular e a interferência de padres como autoridades num tradicional colégio francês. E daí são traçados fortes paralelos atuais com pautas ainda muito discutidas por aqui, como a escola laica, por exemplo. Cético, o protagonista desdenha da ‘febre’ do momento: invocações espíritas por toda a cidade, resultando nas infames mesas giratórias voadoras.

Até que o fenômeno literalmente o atinge na cabeça e o contato com pessoas próximas faz o homem erudito aos poucos, através de suas intensas pesquisas, se tornar uma sumidade no campo espiritual. Mas a trajetória será turbulenta e a provação ocorre já de início. O roteiro do multifuncional L.G. Bayão (um dos grandes nomes na indústria nacional, tendo escrito textos tão distintos quanto os de Ponte Aérea, Shaolin do Sertão, Motorrad e O Doutrinador) é a liga certa, ao construir a jornada do questionador que se vê dono das respostas; o homem comum que encara a fúria do povo de peito aberto, rebatendo ‘fake news’ do século retrasado.

Além de Medeiros, o elenco principal conta com a presença de peso de Sandra Corveloni, atriz honrada com o prêmio em Cannes (por Linha de Passe, 2008), trazendo relevância para o papel da ‘mulher’, a esposa do protagonista. Muitos momentos chave no longa surgem da interação da dupla. No entanto, causa certo estranhamento a opção por performances quase teatrais, com diálogos coreografados e fisicalidade demasiadamente ensaiadas. Detalhes que não diminuem o resultado, planejado de forma minuciosa pela equipe.

Kardec tem o coração e a alma no lugar certo, e garante com honestidade um discurso altruísta e amoroso, muito necessário – cada vez mais – atualmente. A venda fácil é logo deixada para trás em nome de seus muitos predicados, certos de assimilar o grande público de forma geral, para além de seu alvo (os já ‘convertidos’). A energia é tão positiva que nem mesmo a falta de inovação ou frescor ao tratar o material (bem conservador e antiquado em sua narrativa) se mostram empecilho para o misto de entretenimento e mensagem edificante.

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O mais recente tópico usado como mote é a vida do lendário Allan Kardec, fundador da doutrina espírita, que chega aos cinemas do país nesta quinta-feira na forma de uma superprodução brasileira. E sim, Kardec, o filme, tem todos os atributos de um longa fictício imponente: fotografia, direção de arte, figurinos e locações, todos cuidadíssimos (filmado parcialmente em Paris), além do uso de efeitos visuais eficientes.

O que chama atenção logo de cara no drama é a recriação de época. Somos transportados para a França de 1800, de forma indefectível. Kardec relata um período histórico, refletindo costumes sociais de uma época, que se tornam por si só uma experiência atrativa para os estudiosos e entusiastas do tema, independente de crenças e religiões.

Obviamente, Kardec é impulsionando como ‘filme religioso’, um filão cada vez mais pulsante ao redor do mundo. E aqui temos como figura central a imagem de um homem responsável pela fé e espiritualidade de milhões de pessoas pelo planeta. E quem sabe através de outros planetas e planos. Allan Kardec, independente de qualquer outro fator, é uma personalidade icônica, e retratá-lo da forma correta era imprescindível.

Baseado no livro de Marcel Souto Maior, quem comanda o espetáculo é o cineasta Wagner de Assis, acostumado a lidar com personalidades maiores que a vida, sejam elas rainhas do entretenimento como Xuxa Meneghel (a quem dirigiu em alguns filmes) ou espíritos em uma jornada transcendental para o outro lado. Mas sim, como afirmou o próprio diretor, o segredo está em humanizar tais figuras, as descendo do pedestal e apresentando todas as suas falhas, inseguranças e frustrações.

Vivido por Leonardo Medeiros, León Rivail é um professor colegial, que pede demissão ao não concordar com a obrigação do catolicismo como matéria curricular e a interferência de padres como autoridades num tradicional colégio francês. E daí são traçados fortes paralelos atuais com pautas ainda muito discutidas por aqui, como a escola laica, por exemplo. Cético, o protagonista desdenha da ‘febre’ do momento: invocações espíritas por toda a cidade, resultando nas infames mesas giratórias voadoras.

Até que o fenômeno literalmente o atinge na cabeça e o contato com pessoas próximas faz o homem erudito aos poucos, através de suas intensas pesquisas, se tornar uma sumidade no campo espiritual. Mas a trajetória será turbulenta e a provação ocorre já de início. O roteiro do multifuncional L.G. Bayão (um dos grandes nomes na indústria nacional, tendo escrito textos tão distintos quanto os de Ponte Aérea, Shaolin do Sertão, Motorrad e O Doutrinador) é a liga certa, ao construir a jornada do questionador que se vê dono das respostas; o homem comum que encara a fúria do povo de peito aberto, rebatendo ‘fake news’ do século retrasado.

Além de Medeiros, o elenco principal conta com a presença de peso de Sandra Corveloni, atriz honrada com o prêmio em Cannes (por Linha de Passe, 2008), trazendo relevância para o papel da ‘mulher’, a esposa do protagonista. Muitos momentos chave no longa surgem da interação da dupla. No entanto, causa certo estranhamento a opção por performances quase teatrais, com diálogos coreografados e fisicalidade demasiadamente ensaiadas. Detalhes que não diminuem o resultado, planejado de forma minuciosa pela equipe.

Kardec tem o coração e a alma no lugar certo, e garante com honestidade um discurso altruísta e amoroso, muito necessário – cada vez mais – atualmente. A venda fácil é logo deixada para trás em nome de seus muitos predicados, certos de assimilar o grande público de forma geral, para além de seu alvo (os já ‘convertidos’). A energia é tão positiva que nem mesmo a falta de inovação ou frescor ao tratar o material (bem conservador e antiquado em sua narrativa) se mostram empecilho para o misto de entretenimento e mensagem edificante.

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