sexta-feira, abril 26, 2024

Crítica | Keira Knightley rouba a cena no descompensado thriller ‘O Estrangulador de Boston’

Keira Knightley é uma das atrizes mais conhecidas de sua geração e alcançou fama mundial ao estrelar diversas produções de época que lhe renderam considerável aclamação crítica. Dentre seus papéis mais famosos, podemos citar os de Elizabeth Swann na franquia ‘Piratas do Caribe’, Elizabeth Bennet em ‘Orgulho e Preconceito’ e da personagem titular na adaptação de ‘Anna Karenina’. Agora, ela está de volta para o gênero com o suspense cinebiográfico ‘O Estrangular de Boston’, que chegou recentemente ao catálogo do Star+ e que, para o bem ou para o mal, recontou um dos casos mais infames da história dos Estados Unidos.

Aqui, Knightley interpreta uma versão dramatizada de Loretta McLaughlin, que foi responsável por anunciar à nação que um serial killer estava trazendo caos às ruas de sua cidade. Loretta trabalhava em um pequeno jornal conhecido como Boston Record American, confinada ao patriarcado machista que confinava mulheres jornalistas a falaram essencialmente sobre o que o público da época deveria ouvir. Entretanto, apaixonada por investigações criminais e sempre atenta aos acontecimentos da região onde morava, ela começou a notar um padrão de assassinatos que se repetia com constância assustadora: mulheres comuns, a princípio idosas, eram brutalmente empaladas e enforcadas por um homicida que, sem qualquer justificativa, ainda não estava na lista de prioridades da polícia local. Foi a partir daí que, enfrentando uma represália gigantesca, Loretta se aliou à Jean Cole (Carrie Coon) para dar mais visibilidade ao caso e garantir que o criminoso fosse pego.

Como já é de se esperar, Knightley é o principal foco da nossa atenção – reiterando o motivo de ser considerada uma das melhores performers do século. A atriz indicada ao Oscar encarna Loretta através de uma rendição espetacular, recheada de nuances que oscilam desde o modo como digita na máquina de escrever, passando pela forma como segura o cigarro, até a abordagem de testemunhas, detetives associados ao caso e suspeitos em potencial. Em outras palavras, é notável como a artista fez o seu trabalho, transmutando-se em um tour-de-force que inclusive imortaliza um dos símbolos feministas do século passado – ora, Loretta foi trabalhar para o Boston Globe depois de se tornar um expoente do jornalismo, ficando responsável por acompanhar a crescente epidemia de AIDS nos anos 1980.

Em paralelo, o restante do elenco faz um trabalho aplaudível que ofusca, em certas partes, os deslizes técnicos. Coon está deslumbrante ao interpretar Jean, mostrando que ela domina qualquer cômodo em que entra – e que não deixará seus sonhos serem destruídos por uma mentalidade retrógrada que precisa mudar; Alessandro Nivola é uma bem-vinda adição como o Detetive Conley, que inclusive chega a se afastar do caso ao perceber que está num beco sem saída; e temos até a presença de David Dastmalchian como Albert DeSalvo, o principal suspeito que é engolfado em uma trama de gato e rato que nos deixa dúvidas sobre o que é verdade e o que é inventado.

Todavia, é impossível não discorrer sobre os múltiplos equívocos que se erguem na estrutura fílmica. Matt Ruskin foi escalado como diretor e roteirista, garantindo que sua perspectiva fosse utilizada por completo tanto nos diálogos quanto nas construções cênicas. Porém, Ruskin não sabe como navegar por essa história, apressando-se demais em cenas importantes e utilizando de artifícios batidos (como a trilha sonora) para garantir o envolvimento do público. Além disso, a montagem de Anne McCabe soa fragmentada demais, picotando-se em pequenos blocos narrativos que, ou não se completam, ou deixam fios soltos demais para convencer os espectadores de que as cenas foram finalizadas. Este que vos escreve, por exemplo, se viu várias vezes franzindo o cenho por não compreender a necessidade de algumas sequências e a falta de esmero com o espectro imagético da obra.

O maior mérito do longa são as discussões que abre acerca de disparidade de gênero e até mesmo sobre corrupção policial – visto que, prestes a adentrar o terceiro ato, a narrativa toma um lado mais obscuro que não envolve apenas os assassinatos, mas especulações sem fundamento que levam os investigadores a simplesmente conseguir uma confissão, seja de quem for. E, considerando que a atmosfera funciona, é um tanto quanto triste ver que ‘O Estrangulador de Boston’ não atinge seu pleno potencial por se esquecer de detalhes importantes que se aglutinam em uma bola de neve.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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