sexta-feira , 22 novembro , 2024

Crítica | Love + Fear – A jornada psicológica de Marina Diamandis

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Depois de sua declaração de amor às décadas do pop clássico com ‘Froot’, Marina Diamandis resolveu deixar de lado o complemento The Diamonds e deu início a uma nova era, marcada pelo que a cantora sabe fazer de melhor: criar. ‘Love + Fear’ já traz uma simbologia pelo título e nos promete o que vem a ser um de seus melhores trabalhos, criando dois escopos totalmente diferentes e canalizando-as em um proposital maniqueísmo musical cujo respaldo conversa diretamente com o memorável Donnie Darko.

Para Marina, o mundo está dividido em dois. A primeira metade dele fala sobre o amor em suas múltiplas variações, seja no relacionamento não correspondido, seja num entrelace à prima vista que acabou não dando certo, mas jamais será apagado da memória. Isso já é explorado na música de abertura e também single inicial de seu quarto álbum de estúdio: “Handmade Heaven” resgata um pouco de sua identidade primária – vide ‘Family Jewels’ e Electra Heart -, mas entrega uma estrutura mais dialógica para os fãs que a acompanham desde sempre. Não é surpresa que a melódica e sutil construção já busque o melhor de seus vocais, culminando em algo que pode não ser seu trabalho mais ousado, mas abre portas para tentativas interessantes que se concretizam ao longo das dezesseis faixas.



“Superstar”, por sua vez, ganha um patamar mais aplaudível e original por nos transportar com força para uma época quase medieval, ainda sem perder seus traços contemporâneos. Na segunda faixa, fica bem claro que Marina voltou com força e não decepcionou: o que nos envolve sobre a cantora é a sua capacidade de arquitetar surpresas track após track. Esse brilho é o que a mantém em sua consagração, por mais que não tenha a visibilidade de suas conterrâneas. Talvez “Orange Trees” não seja tão bem composta, mas até a obviedade de sua fórmula não é o bastante para impedir que a lead singer dê alguns passos ousados na direção de um zouk desconstruído, uma dançante e campesina balada cuja mensagem é bem simples: nos confortar com uma história de amor que beira as estéticas românticas.

Ela até mesmo arrisca um saturado reggaeton ao lado de Luís Fonsi. “Baby”. É estranho pensar que, dentro do conceito prometido pelo disco, uma canção dessas tenha espaço. Porém, apesar das ressalvar pré-existentes, a música é funcional e prática, com uma harmonização impecável entre as duas vozes que, infelizmente, termina numa abrupta e esquecível conclusão. É a partir daí que outros convencionalismos começam a se materializar, manchando de forma concentrada faixas como “Enjoy Your Life” “True” e, com menos presença, na finalização iniciada por “To Be Human” e completada por “End Of The Earth”.

Mas é ‘Fear’, a segunda metade do mais novo cosmos de Marina, quem nos rouba a atenção já com a belíssima introdução existencial e nostálgica “Believe In Love”. Mesmo quando emula iterações predecessoras do final da década de 1990 e início dos anos 2000, a artista não perde a mão e faz um uso envolvente e emocionante de versos reflexivos. “Eu preciso acreditar no amor” preconiza o restante de suas investidas. “Life Is Strange” rouba nossa atenção por iniciar com um sample interessante com violinos que logo recebe o acompanhamento de sintetizadores e, mais uma vez, reafirma uma personalidade única ao mesmo tempo que serve de análise para o medo que ela sentiu, sente e continuará sentindo até morrer – e talvez para muito além.

‘Fear’ é uma jornada psicológica que, além do supracitado longa-metragem, busca referências em emoções primitivas que nos ajudam a sobreviver. A sensação de medo é responsável pela liberação de uma grande quantidade de adrenalina que cultiva terreno para impressionarmos a nós mesmos. Marina, desde que se lançou na indústria musical por conta própria, é movida por esse sentimento – cujo complexo e trágico ápice é refletido na obra-prima “Valley of the Dolls”, na qual seus fantasmas agora fazem parte de uma montanha-russa identitária e explosiva. A segunda parte de seu novo álbum, pois, entra como uma explicação complementar a todos os âmbitos que já explorou – não é surpresa, dessa forma, que a instrumentalização das tracks fuja do que esperávamos e renda-se a sutis e catárticas melodias.

“Karma” dá uma pista por seu próprio título da irônica aula lecionada por Diamandis. A premissa “um ciclo vicioso quando se vive numa doce negação” sintetiza o significado da música e até mesmo a ressignifica ao ser acompanhado com batidas propositalmente repetitivas e a entrada surpreendente de linhas sinfônicas, incluindo violoncelos que quebram nossas expectativas. Porém, o mesmo não acontece “Emotional Machine”, em que o potencial se perde com a chegada de um refrão estranho demais para ser apreciado sem um ouvido mais atento. É inegável que dizer que aqui, a conexão do público com a canção melhora gradativamente.

“No More Suckers” tem um brilho próprio e diferente de tudo que Diamandis apresentou até agora. Todavia, não é o chorus que merece enfoque maior, e sim o escopo musical lúdico cujas forças são canalizadas para o pré-chorus. É através dessa declaração que Marina cansa de todas as sanguessugas que tentaram arrancar sua vontade de continuar em frente, colocando um ponto final de modo teatral e até um pouco caricato, mas que não perde sua praticidade dentro do disco. “Soft To Be Strong”, desse modo, encontra um paralelismo com “To Be Human”, ainda que ganhe ares mais concretos de uma balada confessional.

‘Love + Fear’ prova, através de uma aventuresca crise, que o oposto do amor não é o ódio, e sim o medo. A rejeição de algo não correspondido por nos colocar em um ciclo de pura angústia – nós não nos aceitamos. “Alguém me machucou há muito tempo, e agora eu me escondo” talvez seja o verso que acompanha a breve explicação do álbum. E, mais uma vez, Marina pavimenta seu novo caminho sem abandonar a si mesma no trajeto.

Nota por faixa:

  • Handmade Heaven – 4/5
  • Superstar – 5/5
  • Orange Trees – 3,5/5
  • Baby (feat. Luis Fonsi) – 3/5
  • Enjoy Your Life – 3,5/5
  • True – 3,5/5
  • To Be Human – 4/5
  • End Of The Earth – 4,5/5
  • Believe In Love – 5/5
  • Life Is Strange – 4/5
  • You – 4/5
  • Karma – 4/5
  • Emotional Machine – 3/5
  • Too Afraid – 3,5/5
  • No More Suckers – 4/5
  • Soft To Be Strong – 5/5
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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Para Marina, o mundo está dividido em dois. A primeira metade dele fala sobre o amor em suas múltiplas variações, seja no relacionamento não correspondido, seja num entrelace à prima vista que acabou não dando certo, mas jamais será apagado da memória. Isso já é explorado na música de abertura e também single inicial de seu quarto álbum de estúdio: “Handmade Heaven” resgata um pouco de sua identidade primária – vide ‘Family Jewels’ e Electra Heart -, mas entrega uma estrutura mais dialógica para os fãs que a acompanham desde sempre. Não é surpresa que a melódica e sutil construção já busque o melhor de seus vocais, culminando em algo que pode não ser seu trabalho mais ousado, mas abre portas para tentativas interessantes que se concretizam ao longo das dezesseis faixas.

“Superstar”, por sua vez, ganha um patamar mais aplaudível e original por nos transportar com força para uma época quase medieval, ainda sem perder seus traços contemporâneos. Na segunda faixa, fica bem claro que Marina voltou com força e não decepcionou: o que nos envolve sobre a cantora é a sua capacidade de arquitetar surpresas track após track. Esse brilho é o que a mantém em sua consagração, por mais que não tenha a visibilidade de suas conterrâneas. Talvez “Orange Trees” não seja tão bem composta, mas até a obviedade de sua fórmula não é o bastante para impedir que a lead singer dê alguns passos ousados na direção de um zouk desconstruído, uma dançante e campesina balada cuja mensagem é bem simples: nos confortar com uma história de amor que beira as estéticas românticas.

Ela até mesmo arrisca um saturado reggaeton ao lado de Luís Fonsi. “Baby”. É estranho pensar que, dentro do conceito prometido pelo disco, uma canção dessas tenha espaço. Porém, apesar das ressalvar pré-existentes, a música é funcional e prática, com uma harmonização impecável entre as duas vozes que, infelizmente, termina numa abrupta e esquecível conclusão. É a partir daí que outros convencionalismos começam a se materializar, manchando de forma concentrada faixas como “Enjoy Your Life” “True” e, com menos presença, na finalização iniciada por “To Be Human” e completada por “End Of The Earth”.

Mas é ‘Fear’, a segunda metade do mais novo cosmos de Marina, quem nos rouba a atenção já com a belíssima introdução existencial e nostálgica “Believe In Love”. Mesmo quando emula iterações predecessoras do final da década de 1990 e início dos anos 2000, a artista não perde a mão e faz um uso envolvente e emocionante de versos reflexivos. “Eu preciso acreditar no amor” preconiza o restante de suas investidas. “Life Is Strange” rouba nossa atenção por iniciar com um sample interessante com violinos que logo recebe o acompanhamento de sintetizadores e, mais uma vez, reafirma uma personalidade única ao mesmo tempo que serve de análise para o medo que ela sentiu, sente e continuará sentindo até morrer – e talvez para muito além.

‘Fear’ é uma jornada psicológica que, além do supracitado longa-metragem, busca referências em emoções primitivas que nos ajudam a sobreviver. A sensação de medo é responsável pela liberação de uma grande quantidade de adrenalina que cultiva terreno para impressionarmos a nós mesmos. Marina, desde que se lançou na indústria musical por conta própria, é movida por esse sentimento – cujo complexo e trágico ápice é refletido na obra-prima “Valley of the Dolls”, na qual seus fantasmas agora fazem parte de uma montanha-russa identitária e explosiva. A segunda parte de seu novo álbum, pois, entra como uma explicação complementar a todos os âmbitos que já explorou – não é surpresa, dessa forma, que a instrumentalização das tracks fuja do que esperávamos e renda-se a sutis e catárticas melodias.

“Karma” dá uma pista por seu próprio título da irônica aula lecionada por Diamandis. A premissa “um ciclo vicioso quando se vive numa doce negação” sintetiza o significado da música e até mesmo a ressignifica ao ser acompanhado com batidas propositalmente repetitivas e a entrada surpreendente de linhas sinfônicas, incluindo violoncelos que quebram nossas expectativas. Porém, o mesmo não acontece “Emotional Machine”, em que o potencial se perde com a chegada de um refrão estranho demais para ser apreciado sem um ouvido mais atento. É inegável que dizer que aqui, a conexão do público com a canção melhora gradativamente.

“No More Suckers” tem um brilho próprio e diferente de tudo que Diamandis apresentou até agora. Todavia, não é o chorus que merece enfoque maior, e sim o escopo musical lúdico cujas forças são canalizadas para o pré-chorus. É através dessa declaração que Marina cansa de todas as sanguessugas que tentaram arrancar sua vontade de continuar em frente, colocando um ponto final de modo teatral e até um pouco caricato, mas que não perde sua praticidade dentro do disco. “Soft To Be Strong”, desse modo, encontra um paralelismo com “To Be Human”, ainda que ganhe ares mais concretos de uma balada confessional.

‘Love + Fear’ prova, através de uma aventuresca crise, que o oposto do amor não é o ódio, e sim o medo. A rejeição de algo não correspondido por nos colocar em um ciclo de pura angústia – nós não nos aceitamos. “Alguém me machucou há muito tempo, e agora eu me escondo” talvez seja o verso que acompanha a breve explicação do álbum. E, mais uma vez, Marina pavimenta seu novo caminho sem abandonar a si mesma no trajeto.

Nota por faixa:

  • Handmade Heaven – 4/5
  • Superstar – 5/5
  • Orange Trees – 3,5/5
  • Baby (feat. Luis Fonsi) – 3/5
  • Enjoy Your Life – 3,5/5
  • True – 3,5/5
  • To Be Human – 4/5
  • End Of The Earth – 4,5/5
  • Believe In Love – 5/5
  • Life Is Strange – 4/5
  • You – 4/5
  • Karma – 4/5
  • Emotional Machine – 3/5
  • Too Afraid – 3,5/5
  • No More Suckers – 4/5
  • Soft To Be Strong – 5/5
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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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